Fanfic: §§O irmão do noivo§§[Cancelada]

O acesso da imprensa não ajudou. Os flashs das câmaras tinham estado deslumbrando os desde o momento em que saíram da casa de Alfonso, e não tinham deixado de fazê-lo desde então. Pararam quando o motorista da limusine se afastou dali, Anahi estava esgotada, já que o esforço por parecer a noiva feliz a tinha deixado exausta. - Estás bem? perguntou-lhe Alfonso, cobrindo suas mãos geladas. Ela assentiu. - Crês que sairá nossa fotografia em todos os jornais de manhã? O tom de sua voz o dizia tudo. - Isso depende de se ocorre ou não algum desastre entre hoje e a hora do fechamento das edições dos jornais. Nossa fotografia ser-virá para fazer-lhes vender suas tiragens se não surgir nada melhor.

- Como te arrumas para viver constantemente vigiado? perguntou-lhe com um pequeno arrepio. - Não costuma ser assim contestou, e voltou a estremecer-se ao dar-se conta de que, naquela ocasião, a responsabilidade era sua. - Sinto muito, sussurrou. - Por que ias ter que o sentir? exclamou. Não foi culpa tua, Anahi; senão minha. - E de Dereck.

- Então, dos irmãos Herrera corrigiu ele, e pressionou um botão para subir o cristal que os separava do motorista baixa.- Assegure-se de tê-los perdido antes de dirigir-se ao aeroporto. Já tiveram oportunidade suficiente de tirar-lhe partido desta história.
O motorista assentiu e depois de olhar pelo retrovisor, tomou o carril exterior, girou à esquerda no seguinte semáforo e rapidamente à direita, como se dirigissem de novo ao domicílio de Alfonso, e o tempo todo sem deixar de  observar pelo retrovisor. Depois de um instante, uma nova mudança de  direção e tomaram o caminho de Heathrow.
- Só tens tempo de mudar de roupa antes de que embarquemos, lhe disse Alfonso quando estavam já na sala de embarque de primeira classe, e depois de  entregar-lhe uma bolsa, indicou-lhe onde estava o vestuário de senhoras.
Ela assentiu e voltou dez minutos depois vestida com uma camisa de algodão cor creme e umas calças torradas que a senhora Clough devia ter metido naquela bolsa, porque desde depois ela não o tinha feito.
Encontrou Alfonso apoiado na parede a escassos metros da saída do lavabo. Ele não se havia mudado, mas é que seu traje não era tão declaradamente nupcial como o dela. A rosa vermelha havia desa-parecido de sua lapela e em seu rosto havia voltado a aparecer aquela mirada dura e implacável que não havia visto durante toda a manhã.
Seus olhos brilharam de uma forma especial ao vê-la sair, e a sensação de  intimidade que se desprendia daquela mirada a incomodou, simplesmente porque não a compreendia.
Chegamos tarde lhe disse ao mesmo tempo em que lhe tirava a bolsa de  viagem para levá-la ele; a mirada tinha desaparecido.
Tomou-a suavemente por um braço para conduzi-la entre os demais passageiros. Seu passo era muito rápido e Anahi teve que se esforçar para não ficar atrás.
Entraram no avião pelo corredor de embarque. Seus assentos eram os melhores da primeira naquele boeing 747, mas até que o avião não estivesse no ar, não se deu conta de que não tinha a mais remota idéia de para onde se dirigiam.
- Onde vamos?
- Já me tinha perguntado quanto tempo ias demorar em querer sabê-lo - contestou ele com um sorriso tenso. - Muito longe.    - A Hong Kong, para ser exatos.
- Hong Kong?, - piscou ela.
- Quanto tempo demoraremos?  Quinze horas se tivermos um pouco de sorte, e dezessete se não tivermos fez um aceno a uma aero-moça e lhe pediu uns refrigerantes antes de recostar-se em seu assento e tirar algo do bolso de sua jaqueta. Bem, toma-te.
Ela estendeu automaticamente a mão e ele lhe entregou duas pílulas.
- Mas...
- Nada de mas. É um vôo infernal, assim o melhor é de que durmas quanto possas.
A aeromoça lhes serviu os refrigerantes. Tinha um sorriso agradável e traços orientais.
- Toma-te o calmante Anahi, lhe ordenou com um dos copos na mão.
Sem molestar-se em discutir, fez o que lhe  mandava e bebeu para engolilas.
- E talvez seja este um bom momento de adverti-la que esses dois tabletes são os últimos que vou te dar lhe informou quando ela se recostou contra o respaldo do assento com um suspiro. Anahi se voltou a olhá-lo surpresa. Já é hora de que voltes a recuperar o controle de ti mesma lhe explicou ele com suavidade. Tomar cal-mantes só serve para dormir os problemas, não para curá-los.
- Eu não os pedi lhe recordou. Foste tu quem me obrigou a tomá-los.
- Pois vou deixar de fazê-lo. E agora, fala-me de teus pais. Teu pai era um médico libanês, não?
Como o sabia?-, perguntou-se ao tempo de assentir.
- Mas cursou seus estudos aqui em Londres, que é onde conheceu a minha mãe. Ela era enfermeira e eles trabalhavam no mesmo hospital universitário...morreram  murmurou, e inconscientemente roçou com dedos o pequeno coração que pendurava em seu pescoço. Um carro bomba explodiu em Beirut enquanto eles trabalhavam para uma agência de cooperação internacional.
- Quantos anos tinhas?
- Treze  sorriu tristemente. Estava com meus tios quando aconteceu então, assim, simplesmente... segui com eles. Foram muito bons comigo adicionou.
- Mas ainda sentes falta de teus pais. - Sim.
- Sh...  murmurou quando seus olhos escuros se encheram de lágrimas.
Então fez algo estranho. Tomou o pingente com os dedos, acercou-o aos lábios dela como se os acariciasse com ele e voltou a deixá-lo sobre sua garganta.
- Dorme, lhe ordenou suavemente.
Isso foi o último que ela foi capaz de recordar.
O elevador no que viajava caiu inesperadamente dez andares. Abriu os olhos, e aquela horrível sensação de queda lhe deixou o coração no ar. Então olhou a  seu redor, incapaz de reconhecer o meio, e demorou uns minutos em conter a desolação que tinha experimentado para poder interessar-se pelo que ocorria  em torno dela. A cabine estava as escuras, e o longínquo ronco dos motores mal perturbava a quietude que os rodeava. Alguém tinha recostado seu assento, tinha-a coberto com um cobertor fino e tinha colocado um travesseiro junto a sua bochecha. As persianas estavam baixas, mas lhe bastou com jogar uma rápida olhada para comprovar que estava tão escuro fora como dentro.
Girou a cabeça devagar e se encontrou com o rosto adormecido de Poncho. Sua inesperada proximidade a obrigou a conter a respiração. Não tinha esperado encontrá-lo dormindo. Durante os últimos dias sempre o tinha visto alerta, e lhe resultou bastante desconcertante vê-lo assim.

Como o seu, assento estava reclinado, e seu rosto moreno girado para ela. Tinha-se tirado o terno, e a gravata também tinha desaparecido. Os botões superiores da camisa estavam desabo-toados e tinha subido as mangas, de maneira que deixavam a descoberto o pêlo escuro que cobria seus antebraços. Tinha as mãos entrelaçadas sobre o estômago, e a aliança de ouro que ele tinha feito questão de que lhe pusesse brilhava delicadamente em sua mão esquerda.
Então olhou suas próprias mãos, enlaçadas da mesma maneira, e estudou aquela outra aliança igual a dele.

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