Fanfic: DayDream - Niley

Bati em meu despertador dois segundos depois de este ter começado a
tocar. A verdade é que eu odiava ser acordada por alguém, ou por algo,
ainda mais tão cedo. Minha vontade era de inventar uma desculpa
qualquer para mamãe e pedir para faltar na escola, e voltar a dormir.
Mas como em todos os dias, a imagem dele veio a minha mente antes que
eu conseguisse bolar uma desculpa legal. Ah, droga. Odiava a mim mesma
por não odiar quando isto acontecia. Odiava a maneira como só de me
lembrar dele, levantava-me da cama rapidamente, como se estivesse
desesperada para vê-lo.
Se bem que...era mais ou menos isso.
Tomei
um rápido banho para me livrar do calor que já fazia cedo naquela época
do ano. Nunca fui uma grande fã do verão, mas essa parecia ser a única
estação do ano na cidade de Cottonwood.
Tentei experimentar vários
estilos diferentes de roupas, e até algumas saias curtas, como as que
eu sabia que as meninas legais do colégio usavam, mas acabei desistindo
e me rendendo ao meu bom e velho par de calças jeans. Optei por uma
camiseta simples, com uma estampa do Ringo Starr, o baterista dos
Beatles, minha banda favorita. E meu tênis Converse preto, o mais
antigo e o mais confortável também. Prendi meus cabelos num coque
frouxo e peguei minha mochila.
Olhei pela última vez meu reflexo
no espelho. Me senti patética, como em todas as outras vezes. Minhas
tentativas frustradas de ficar bonita sempre passavam despercebidas por
ele, essa não seria diferente. Mas se um gênio me concedesse três
desejos, eu pediria que ele reparasse em mim, e que gostasse de mim
pelo que eu sou, não pelo que eu tento ser. Pediria isso nos três
desejos, só para garantir, caso um não desse certo. É, eu realmente era
patética.
Todo aquele meu dialógo comigo mesma só servia para me
deixar mais paranóica que o normal. Como se a existência dele não fosse
o suficiente para fazer isso comigo.

Como sempre, papai me ofereceu uma carona e mamãe perguntou se eu não gostaria que ela preparasse meu almoço.

Recusei ambos, agradecendo mesmo assim, pela preocupação dos dois. Me
senti meio culpada, por deixar meus pais preocupados, mas eu queria
sair logo de casa. Fazia com que o caminho até a escola fosse o mais
longo o possível enquanto ouvia meu iPod, me imaginando numa vida que
nunca seria minha.
Essas minhas "viagens" mentais aconteciam com
freqüência, antes mesmo que eu pudesse perceber, já havia me deixado
levar pelas fantasias criadas pela minha mente. A culpa não era minha,
a fantasia simplesmente era muito melhor do que a realidade.

- Bom dia, Cyrus! - Ouvi uma voz feminina e alguns segundos depois, Ellen, minha melhor amiga me acompanhava.
Cyrus,
o sobrenome mais esquisito da face da Terra, se você quer saber a minha
opinião. Apesar de tudo, tinha orgulho dele, pois minha tataravó,
Amelia Mary Earhart, foi a primeira mulher a voar sozinha sobre o
oceano Atlântico, além de ter sido autora e defensora das mulheres no
século vinte. E claro, sempre fiz questão de que todo mundo soubesse
disso.
- Bom dia, Johnson. - Eu disse, enquanto desligava e guardava
meu iPod. Ellen sempre acabava com os meus desvaneios matinais. E o
pior: ela sabia e adorava fazer isso. Vivia me dando broncas, dizendo
que aquilo era perda de tempo, que eu só me machucaria. Fácil para ela
dizer, ela tinha o namorado mais fofo de todo o mundo. - Como vai?
- Muito bem e você? - Ela respondeu animadamente.
- Normal. - Essa havia se tornado a minha resposta desde que o conheci. Era a única alternativa entre péssima e muito ruim.
-
Hum... - Ela olhou para mim, com aquele olhar de "pode ir contando
tudo, mocinha" que ela sempre me dava, mas eu não iria contar. Porque
bem, não havia o que contar.
- Bom dia, meus amores! - Senti
aquele cheiro inconfundível, mistura de melhor amigo que é namorado da
minha melhor amiga com praticamente irmão mais velho.
- Oi meu amor! - Ellen sorriu e o beijou assim que ele a abraçou por trás.

Kevin e Ellen eram tão lindos juntos, não me arrependi de há um ano e
alguns meses atrás ter contado para Ellen que Kevin era apaixonado por
ela e vice-versa. Eles não eram um casal normal, isso todos podiam ver.
Depois de um ano de namoro, qualquer casal cai na rotina ou começa a
brigar por qualquer coisa, eles não. A impressão que eu tinha era que a
cada dia que se passava os dois se apaixonavam mais ainda.
Ficava
feliz pelos dois serem tão genuinamente felizes juntos. Não sentia
inveja, ou ciúme, apenas queria encontrar alguém e ter o amor, como os
dois tinham. O alguém e o amor, eu já tinha, só que ele não sentia nem
um terço do modo com o qual eu sentia.
Suspirei ao sentir seu cheiro, aquele perfume inconfundível passado exageradamente antes de sair de casa.
Meu
coração parou, ou estava batendo rápido demais? Não conseguia processar
essa informação ao vê-lo se aproximar. O modo como ele andava, tão
confiante de si mesmo, tão certo de que tudo daria certo, como sua vida
fosse perfeita...ah, como eu queria ser assim. Me perguntava se ele
fazia idéia de como várias garotas paravam só para vê-lo, se ele sabia
que era sobre ele que todos falavam no corredor e se ele sabia, se ele
tinha alguma noção de que eu daria qualquer coisa para tê-lo só para
mim, nem que fosse por só um dia.