Fanfic: DayDream - Niley

- Sabe, se você vive assim, se você sofre assim, é porque você quer Miley, você deixa. Você cede e olha só o seu estado. Isso vale a pena?
- Ellen me reprendia enquanto estávamos sentadas numa mesa no lado de
fora da escola.
- Não, não vale... - Eu fechei meus olhos enquanto
bebia um grande gole d`água e em seguida os abri. - Eu só pensei que se
eu fosse como as outras garotas com que ele fica, ele fosse gostar mais
de mim e...Ah, eu sou o ser mais patético da face da Terra. - Eu disse
colocandoas mãos no rosto.
- Bom, é mesmo. - Ela olhou para mim e
ambas rimos. - Olha Cyrus, você é a minha melhor amiga há muito
tempo, tipo assim, muito tempo mesmo e desde que eu te conheço você
gosta do Nick. Você sempre foi atrás dele enquanto ele meio que... -
Ela encarou a comida em sua bandeija.
- Meio que...? - Perguntei, receosa.
-
Ele meio que te usa. Você sempre ajuda com as coisas da banda e sempre
que ele precisa você está lá, sem ele nem mesmo te pedir. Vocês ficam e
no dia seguinte ele está com outra garota. Não sei, não sei como você
consegue agüentar. - Ela deu uma garfada em seu macarrão.
- Eu nunca
tinha pensado assim... - E era verdade. Era como se eu sempre aceitasse
qualquer coisa só para ficar perto dele, para chamar a atenção dele,
para fazer com que ele me notasse. Puxa, garotas desesperadas se apegam
a qualquer coisa.
Se bem que eu gostava de ajudar a banda, de
verdade. Sou apaixonada por violão e piano desde criança e modéstia
parte, acho que toco bastante bem. Então sempre dei idéias para as
melodias, e até para algumas letras. Além do mais, me divertia bastante
com Kevin e Joe, quando fazíamos paródias toscas da Madonna e da
Britney Spears.

Podia ser meio difícil também, ouvir as músicas que Nick escreveu para
outra garota, vê-lo cantar com seu coração para todas, menos para mim,
mas aquilo já não me afetava tanto. Minha mente me ajudava algumas
vezes, eu fingia que eram músicas feitas para mim, escritas e cantadas
para mim.
- Cara, que dia lindo. - Joe comentou sentando-se ao
lado de Kevin, que sentou-se ao lado de Ellen, e Nick sentou-se entre
nós duas. Eu estava tão distraída que nem havia percebido que eles se
aproximavam.
- É mesmo. - Kevin disse olhando para o céu e depois depositando um beijo na testa de Ellen.
Não sentia muita fome, então só fiquei revirando minha comida enquanto ouvia os outros conversando animadamente.
- Não vai comer, Miley? - Nick me cutucou delicadamente. Eu olhei para minha bandeija e corei.
-
Ah, estou sem fome... - Eu disse sem graça. Ele me conhecia bem o
suficiente para saber que minha fome variava com o meu humor.
- Sobre aquilo mais cedo... - Ele começou.
- Deixa para lá. - O cortei e me levantei com a minha bandeija.


- Dia difícil, Miley? - Perguntou Ryan, um dos funcionários da loja de equipamentos esportivos onde eu trabalhava.
- Você não faz idéia. - Disse colocando meu avental por cima do uniforme e indo em sua direção, atrás do balcão.
Eu
havia começado a trabalhar na K&K no verão, era só um emprego
temporário, para as férias. Mas eu havia percebido que quando estava na
loja, me distraia bastante e o tempo acabava passando rápido. Então,
resolvi continuar lá. E cá entre nós, o salário também não era nada mal.
Abri
o frigobar que Kay, a nossa chefe havia mandado colocar perto do balcão
para nós não termos que ficar nos deslocando caso houvesse clientes na
loja e estivéssemos com sede - o que devido ao clima de Cottonwood,
acontecia muito. Peguei uma garrafinha de água e bebi todo seu
conteúdo, em um gole só.
- Pelo visto foi difícil mesmo.

- Eu poderia secar um rio se pudesse. - Respondi, enquanto guardava a
garrafinha de água para ser reabastecida depois e colocava meu boné
azul marinho, com K&K estampados em branco. Olhei para Ryan que
fazia uma careta engraçada e não resisti, ri.
Ryan era só um ano
mais velho do que eu, mas ao contrário de mim, estava trabalhando lá
porque havia sido obrigado. Há sete meses ele havia saído bêbado de uma
festa, pegou o carro de seus pais e bateu. Ele ficou alguns dias no
hospital, nada muito sério. Já o carro...
Como forma de castigo, seus pais estabeleceram que ele trabalharia durante um ano na loja, que por acaso, era deles.
Não
era porque era filho dos donos que Ryan tinha privilégios ou coisas do
tipo. Pelo contrário, de todos os funcionários, ele era quem trabalhava
mais. Ele sempre resmungava ou reclamava um pouco, mas eu desconfiava
que no fundo, ele amava aquele lugar.
- Puxa. O que ele fez dessa
vez? - Ryan perguntou sentando-se numa cadeira giratória que ficava
atrás do balcão. Durante os dias de semana a loja sempre ficava vazia,
principalmente no nosso turno, o que nos deixava bastante tempo para
conversar. Querendo ou não, Ryan acabava sabendo de tudo que acontecia
na minha vida e eu tudo que acontecia na dele. Diria que somos bons
amigos até. O que a convivência não faz...
- O de sempre, outra
garota. - Eu dei de ombros olhando para meus pés. Ele deve ter reparado
que eu estava meio magoada, então permaneceu em silêncio.
Em momentos como esse, que aconteciam freqüentemente, eu preferia permanecer quieta, no meu canto. Só eu e meus pensamentos.
Ryan
abriu o frigobar e tirou um potinho de sorvete, da parte do congelador.
Ele sorriu e me entregou o potinho pegando duas colheres.
- Aposto
que você acabou não almoçando. - Ele retirou a tampa e olhou para mim.
Sorri e enfiei a colher dentro do pote, retirando uma grande quantidade
de sorvete, que quando colocada na boca, me sujou toda. Ryan olhou para
mim e nós começamos a rir. Com certeza, eu não era normal.

- E ai, como foi o seu dia na escola hoje? - Perguntei, por fim.
-
Nada de novo. Só professores nos enxendo de deveres, achando que nós
vamos mesmo fazer. Qual é, Princeton já me aceitou, com o que devo me
preocupar? - Ele disse rolando os olhos. Apesar de ser meio rebelde,
Ryan sempre foi um excelente aluno, recebendo a carta de admissão da
universidade dois meses antes do que os alunos normais.
- Mal
posso esperar para chegar a minha vez, no ano que vem. - Eu disse
limpando minha boca com alguns guardanapos. - E a Kate? - Kate era a
garota com quem Ryan estava saindo. Ela havia se mudado para Cottonwood
no começo do ano e ele logo se apaixonou por ela. Não demorou muito
para que ela se rendesse aos encantos dele e os dois começassem a sair.

Ele sorriu quando eu disse o nome dela.
- Ah, está tudo ótimo.
Eu acho que dessa vez eu acertei, Miley. Estou pensando em pedi-la em
namoro. - Ele disse mordendo o lábio inferior, mostrando nervosismo.
- Sério, Ry? Estou tão feliz por você. Finalmente está crescendo. - Eu o abracei e ele riu.
- Assim eu fico me sentindo a irmã mais nova. - Ele disse fazendo uma voz meio suspeita.


Cheguei em casa e subi as escadas correndo, estava desesperada para deitar na minha cama.
Abri a porta do meu quarto e a bati num estrondo, jogando meu corpo com todas as forças - que eu nem tinha - em minha cama.
Fechei
meus olhos e fiquei ali, deitada de barriga para cima, abraçada com o
meu travesseiro. Aquele era o meu horário favorito do dia.
Estava começando a escurecer e aquela luz forte do Sol que estava em meu quarto, se tornou numa brisa fresca e relaxante.
Em
menos de cinco minutos, meu quarto inteiro estava escuro, e eu não
estava a fim de fazer o esforço de levantar da minha cama para acender
a luz.
Uma musiquinha extremamente irritante acabou com o silêncio
do meu quarto. Abri meus olhos, tentando identificar daonde vinha tal
som. Fui até minha bolsa, e coloquei minha mão lá dentro, até alcançar
meu celular. Retirei este e olhei no visor: Nick.

Me segurei na minha escrivaninha, e quase deixei meu celular cair. Me
senti meio tonta, mas apertei o botão verde, enquanto sentava-me em
minha cama.
- Alô? - Eu disse, tentando parecer o mais segura possível. Em vão, é claro.
- Miley! Sou eu Nick. - Fechei os olhos ao ouvir sua voz. Como aquele som
podia me deixar tão perturbada e tão calma ao mesmo tempo?
- Ei. - Eu sorri. Não podia evitar, quero dizer, ele estava me ligando. Isso era muito raro.
- Tudo bom? - Perguntou.
- Tudo e aí? - Menti.
- Hum, também. O que está fazendo?
- Meditando. - Pude ouvir uma risada dele no outro lado da linha. Ah, aquela risada.
Engraçado
era o fato de que quando me esforçava para fazê-lo rir, o máximo que
conseguia era um sorriso amarelo e fraco do tipo "você tentou". E
quando a última coisa que eu queria era ser engraçada, bom, ele ria.
-
Que tal meditar no parque, comigo daqui a uns...40 minutos? - Gelei.
Nada que me surpreendesse, é claro, isso sempre acontecia, só de
lembrar seu nome.
- Só se essa meditação incluir um milkshake...
- De chocolate, de preferência, eu sei. - Ele completou. - Pode deixar. Nos vemos lá?
- Nos vemos lá. - Disse então, desligando o telefone.
Aquela
ligação foi o suficiente para que eu me esquecesse de tudo e de todos.
Exceto ele, é claro. Se eu fechasse os olhos, se eu os deixasse
abertos, mesmo quando sozinha, ainda assim, era ele quem eu via.
Acendi
a luz do meu quarto e o analisei por um segundo: estava tudo em
perfeita ordem, como eu adorava manter. Por mais que tentasse, nunca
consegui deixar de ser perfeccionista. Não importava se houvesse um ou
vinte pratos sujos, se houvesse sujeira, eu ia lá e limpava. É, eu sei,
sou estranha.
Abri meu pequeno - correção: minúsculo - closet e
pus-me a pensar em qual seria a escolha perfeita. Resolvi pular a parte
de provar várias roupas sem sucesso, e pegar logo meu jeans.

Dessa vez, a saia, numa tentativa de parecer mais...misteriosa. Ou
diferente do que o normal. Claro que seria em vão, mas meu coração
estava tão acelerado que deixei meus pensamentos neuróticos de lado e
separei a saia, junto com uma camiseta branca, com os dizeres "Love is
a battlefield" - o que era a mais pura verdade no meu caso. O amor é um
campo de batalha, talvez fosse por isso que era tão difícil
sobreviver...ainda mais naquela situação.
Liguei meu som em uma
estação de rádio qualquer e entrei na ducha fria, fechando os olhos
quando a água começou a descer, numa tentativa frustrada de relaxar.


Dessa
vez meu iPod não foi meu companheiro durante o caminho até o parque.
Parecia que eu estava em um filme, cuja trilha sonora era uma música
clássica que somente eu podia ouvir. Brega, eu sei.
Quando cheguei
no parque, fui até um velho banco sem pensar. Era o meu lugar preferido
daquele parque, depois dos balanços de madeira. Dali eu tinha a vista
perfeita: crianças pequenas escorregando com a ajuda de seus pais,
algumas crianças brincando na caixa de areia, outras de esconde-esconde
no meio das árvores...risadas e sorrisos. Mal conseguia me lembrar de
quando a vida era tão fácil.
Eu sempre fui uma criança com a
imaginação fértil. Já fui uma foca, uma astronauta, uma bailarina, uma
bruxa, uma princesa, uma professora, uma modelo...tudo sem sair de
casa. Me divertia tanto. Não me importava se estivesse sozinha, no meu
mundo, eu tinha vários amigos. No meu mundo, não haviam problemas.
Houve
uma época, em torno dos meus nove, dez anos, em que eu queria ser
adolescente. Sabe como é, ir para festas, ter namorados, e podia jurar
que o ensino médio era muito mais divertido do que o primário. O tempo
passou tão rápido, tudo mudou tão rápido. E nós só percebemos, quando
já acabou.
Vi dois dedos se estalando bem em frente aos meus olhos,
me dando um susto que fez com que eu "acordasse". Ele estava bem ao meu
lado. Sorri.
- Estava pensando no que? - Ele deu um sorrisinho de canto.

- No milkshake que você vai me pagar. - Disse virando-me para ele.
- Mas já? - Ele levantou as sombrancelhas numa expressão de espanto que fez com que eu desse uma gargalhada.
- É, oras. Está calor.
- Você viveu no Arizona durante sua vida inteira, Miley. Deveria estar acostumada a essa altura do campeonato.
-
É diferente para você, Nick. Você vive na piscina. Eu vivo atrás de um
balcão. - Nick era da equipe de natação de um clube local. Ele nadava
desde criança e era incrivelmente bom. Era o vice-campeão no estilo
livre do campeonato estadual, suas notas nunca eram abaixo de B+ e cá
entre nós, apesar de tudo, ele era um verdadeiro cavalheiro. E seus
irmãos não eram diferentes, apenas competiam em outros esportes. E
adivinha? Eles eram os melhores também. É, a Sra. Jonas tinha do que se
orgulhar.
- Faz sentido. - Ele assentiu. - Como andam as coisas na loja?
-
O mesmo de sempre. Nenhum movimento, a chefe sai durante o dia inteiro
e deixa a loja para eu e o Ry tomarmos conta, com sorvete no frigobar.
Não posso me queixar. - Dei uma risadinha pelo nariz.
- Ah, esse
Brian ainda trabalha lá? - Nick disse com um certo desprezo. Ele nunca
havia ido com a cara de Ryan. Nunca entendi bem o por quê. Eles nunca
haviam sequer se falado.
- É Ryan, Nicholas. Trabalha sim, os pais dele são os donos da loja, lembra?
- Ah. - Ele disse, sem interesse, desviando o olhar para onde as crianças estavam.
- Uau, quanto entusiasmo. - Eu disse ironicamente.
- Não sou muito fã desse Ryan. - Ele enfatizou o nome de Ryan, mostrando que havia dito o nome certo.
- Isso é ridículo! Você nem o conhece.
- E por que eu deveria conhecê-lo? Ah é, você ainda não me apresentou seu namorado.
- Isso é ciúmes, Nicholas? - Sorri sem querer. Quem gosta tem ciúmes, não é?
Ele me olhou e depois olhou para o céu.
- Não é isso...é que...é que...é, ciúmes.