Fanfics Brasil - Capítulo V - Parte II Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.

Fanfic: Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.


Capítulo: Capítulo V - Parte II

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- A senhorita não quer saber nada do caráter deles?


          Ela descartou o caráter com um aceno de mão.


- Não tenho nada a temer quanto a isso. O senhor nunca escolheria para mim um homem que não tivesse bom caráter.


          Christopher balançou a cabeça.


- Miss Saviñon, a senhorita me deixa confuso. A senhorita afirma insistentemente que o que lhe interessa é ter felicidade no casamento.


- E daí?


          Ele voltou a atenção para o tabuleiro.


- Como a felicidade em um casamento não é determinada pela aparência física, não há motivo para discutir se os possíveis candidatos são ou não bonitos.


          Mãe de Deus! Ela olhou para Christopher, horrorizada. Então todos eles deviam ser feios.


          Enquanto o homem à sua frente se concentrava no jogo de xadrez, Dulce começou a imaginar uma vida amarrada a um marido que lhe chegasse ao queixo. E se ele fosse velho? Ou barrigudo? Ou tivesse dentes podres? Era insuportável pensar em todas essas possibilidades terríveis, especialmente em relação ao lado físico do casamento. Ela queria muitos filhos, e não iria fazê-los com um homem que tivesse dentes podres. Era imprescindível que pudesse escolher o próprio parceiro. Estava na hora, decidiu ela com determinação renovada, de pôr em ação a artilharia pesada.


          Enquanto eles jogavam xadrez, ela conseguiu tirar alguns dos grampos do cabelo sem que ele notasse. Colocou-os no bolso. Depois que ele fez o movimento seguinte, ela se levantou com um bocejo delicado e refinado. Sempre o cavalheiro perfeito, Christopher também se levantou.


- A senhorita deseja se retirar e continuar com o nosso jogo uma outra hora?


- Oh, não - garantiu-lhe ela. - Eu só quero andar um pouco pela sala e esticar as pernas.


          E, para reforçar esse ato aparentemente inocente, Dulce abriu os braços e arqueou as costas, mantendo o alongamento o máximo de tempo possível, e em seguida dando um pequeno gemido de alívio e abaixando os braços. Com mais um bocejo, ela balançou a cabeça e, graças aos grampos que tinham sido retirados, alguns cachos do cabelo lhe caíram no rosto. Tirando o cabelo do rosto, ela deu um sorriso sonolento para Christopher, virou-se e se afastou. Certa de que estava sendo observada, balançou os quadris de forma sutil, porém deliberada, enquanto andava em direção ao frasco de vinho rodeado de taças que estava sobre uma mesa do lado oposto da sala.


- O senhor gostaria de um cálice de porto? - perguntou ela.


- Gostaria sim, obrigado.


          Ela encheu um cálice para cada um. Ao se virar com os copos nas mãos, percebeu que ele também deixara a mesa e tinha ido para o outro lado da sala. Estava de pé de costas para ela, estudando uma das pinturas da parede. Ela tinha exibido para ele o seu melhor andar e ele estava olhando para uma pintura? 
         


          Com um suspiro, ela levou os dois copos para onde ele estava. Christopher olhou para ela só o tempo suficiente para pegar o copo da sua mão, voltando em seguida a atenção para a pintura à sua frente. Dulce também olhou para ela. Para sua irritação, viu que a pintura na qual ele mostrava tanto interesse era um retrato escuro e sombrio de uma velha enrugada, com um vestido preto e um gorro medonho.


          Accidenti! Ele olhava para aquilo quando deveria estar olhando para ela? Dulce levantou os olhos para os céus, balançou a cabeça e se afastou. O que uma mulher poderia fazer com um homem daqueles?


          Ela andou de um lado para outro pela sala de estar por vários minutos, observando-o pelo canto dos olhos, mas ele se manteve de costas para ela o tempo todo, e não deu nem uma olhadinha na sua direção. Finalmente, ela desistiu e retomou o seu assento à mesa de xadrez.


- Christopher?


- Pois não, Miss Saviñon? - respondeu ele sem se virar.


- O senhor está pronto para continuar?


          Houve uma longa pausa. Ele então bebericou o porto, deu um puxão brusco na bainha do colete com a mão livre e se virou.


- Sim, acredito que sim. - Eles retomaram o jogo.


           Dulce recusou-se a se considerar derrotada pelo fato de ele não ter apreciado seus atributos físicos, e, depois de considerar a situação por alguns minutos, mudou de tática.


- Christopher - começou ela -, estive pensando.


- Ih - murmurou ele. - Isso é perigoso.


          Ela ignorou o comentário.


- Se bem me lembro da nossa primeira conversa sobre o meu casamento, o senhor disse que meu pai tinha exigências muito rigorosas em relação ao meu futuro marido, mas não deu qualquer detalhe sobre quais seriam elas. Posso lhe perguntar quais são essas exigências?


          Ele moveu a sua torre diretamente para o caminho do bispo dela e levantou os olhos.


- O príncipe Fernando quer um cavalheiro britânico. Oferece um grande dote, mas apenas para um homem que já tenha uma riqueza considerável, porque não tem a menor intenção de sustentar algum sujeito sem recursos e endividado.


          Ela fez que sim com a cabeça, sinalizando que aprovava a condição, pois não queria nenhum caça-fortuna para marido.


- Então ele tem que ser rico. E que mais?


- Tem que ser católico, naturalmente. E deve ser da aristocracia da terra, com grandes propriedades. Em outras palavras, um homem com um título de nobreza ou o filho primogênito de um homem nobre. E quanto mais alto o grau do título, melhor.


- Compreensível. Meu pai é muito orgulhoso. - Ela fez uma pausa suficiente para capturar a torre de Christopher.


          Pondo a peça do lado do tabuleiro, acrescentou:


- Confesso que gosto do que estou ouvindo. Com título de nobreza, muitas propriedades e rico. Magnífico! Eu realmente adoro fazer compras.


- Acredito que também haja alguma menção a um homem de vontade forte, que faça a senhorita se comportar. Se a senhorita gastar demais, esse homem não lhe daria mais dinheiro cegamente.


          Ela riu, fazendo com que ele levantasse uma sobrancelha.


- A senhorita acha isso é divertido, Miss Saviñon?


- Acho ótimo. Já lhe disse, adoro homens fortes. Eu pisaria em um fraco.


          Ele lhe lançou um olhar enviesado, mas ela não conseguiu compreender o significado da sua expressão facial.


- Não tenho qualquer dúvida quanto a isso - retrucou ele em voz suave.


- O senhor é um homem forte - murmurou ela com um suspiro sonhador. - Que pena que eu não possa me casar com o senhor.


          A expressão implacável dele se manteve.


- Miss Saviñon, casar-se comigo estaria fora de questão. Eu não tenho título de nobreza, sou apenas um cavaleiro. Só tenho uma propriedade e, apesar de ela ser próspera, dificilmente é digna de menção. Seu pai nunca consentiria um casamento assim.


          "Per Diana!", pensou ela quase entrando em desespero, "este homem é incorrigível."


- Eu sei. O senhor está certo, naturalmente. - Ela estendeu a mão e a pôs sobre a dele. - Sinto-me tranqüila por ter um homem como o senhor para me guiar, um homem em que eu posso confiar.


          Ele desviou a atenção do tabuleiro de xadrez para a mão dela sobre a dele, e então levantou a cabeça e a olhou nos olhos. Seus olhos eram como aço polido. Com uma lentidão deliberada, ele retirou a mão.


- Exatamente.


          Dulce sabia que uma abordagem direta era tudo o que lhe restava. Explicado da forma mais eficiente possível, naturalmente.


- Christopher, serei franca com o senhor.


- Isso seria uma mudança muito animadora. - Ele moveu uma peça.


- Eu desejo escolher o meu próprio marido.


- Isso vai contra as ordens específicas do seu pai. Sou eu quem escolhe.


- Tudo bem, então. Eu gostaria de escolher os meus próprios pretendentes. Fazer a minha própria lista, a partir dos homens que eu conhecer. O senhor pode então abordá-los.


- Isso não seria sensato - disse ele, com a atenção ainda no jogo. - A senhorita tem predileção por ferreiros.


- O senhor não escolheria um ferreiro para mim, nem Fernando permitira que eu me casasse com um. Depois de estar um pouco na sociedade inglesa, eu vou conhecer jovens e começar a ter as minhas preferências. Qual seria o mal de permitir que eu fizesse a minha própria lista? Seriam homens que o senhor achasse adequados, claro. Homens que meu pai aprovaria. Mas também homens que eu achasse atraentes.


- Como eu disse, não seria sensato.


          Dulce fez um som de exasperação e passou os dedos pelo cabelo, espalhando os grampos que haviam sobrado. O resto do cabelo lhe caiu em desordem ao redor do rosto e dos ombros. Como, perguntou-se ela tirando o cabelo do rosto, como poderia fazê-lo entender?


- Christopher, eu sou italiana - disse ela em uma voz baixa e provo cante. - Sou jovem e sou ardente.


          Isso funcionou. Ele levantou os olhos. Ela olhou para ele sem piscar e escolheu as palavras com cuidado, palavras que iam contra todas as convenções sociais britânicas dele.


- Quero um marido forte, bonito e viril que possa me amar com uma paixão igual à minha. - Ela afastou o cabelo do rosto com um gesto de cabeça, fumegando diante da recusa pouco razoável daquele homem em lhe fazer concessões. - Esse homem - disse ela - nunca terá necessidade de procurar cortesãs. Esse homem não vai dormir em nenhuma cama que não seja a minha. Esse homem será tratado por mim como um rei, e eu serei a luz que iluminará o seu dia. Esse homem vai me dar muitos filhos. Esse homem vai acordar nos meus braços todas as manhãs com um sorriso no rosto e vai estar apaixonado por mim todos os dias da sua vida, até ser enterrado. Não posso deixar que o senhor ou meu pai decidam quem será esse homem.


          Christopher não disse nada. Ele simplesmente olhou para ela, e Dulce não conseguiu entender o que o rosto dele dizia. Absolutamente nada. Depois de um longo momento de silêncio, ela disse:


- Quero fazer a minha própria lista.


- Não. - Era como se as feições dele tivessem sido esculpidas em granito.


-Mas...


- Não. - Ele fez um gesto em direção ao tabuleiro. - É a sua vez.


          Ela teve vontade de gritar de frustração. Era impossível argumentar com esse homem, e ele realmente não devia ter coração. Não havia nenhum fogo nele. Nenhuma compreensão do que era a paixão. Malditos fossem todos os ingleses. Se se casasse com um homem tão frio como esse, ela enlouqueceria.


          Dizer tudo isso a ele, porém, não contribuiria para que ela conseguisse que as coisas corressem do seu jeito. Nem insistir mais sobre esse assunto naquele momento. Incorrigivelmente otimista, Dulce concluiu que seria melhor fazer um recuo estratégico e ter esperança de que haveria melhores oportunidades mais tarde. Ela baixou os olhos para o tabuleiro e tentou voltar a atenção para o xadrez.


          Ele havia movido o seu cavalo. Dulce sabia que o tinha encurralado em um canto havia algum tempo, e o jogo dele desde então não tinha conseguido libertá-lo. Só faltava mais um movimento para ela conseguir que ele caísse na armadilha.


          Ela começou a estender a mão, e então hesitou e recuou. Passou-lhe pela cabeça o pensamento de que não era tarde demais para perder de propósito. Poderia ajudar a causa dela. Por outro lado, deixar um homem ganhar em jogos nunca fora uma tática que a atraísse. Além disso, os modos concisos e determinados dele e a futilidade de todos os seus esforços para fazê-lo ver a razão a irritavam além do suportável. Ela fez a sua jogada.


- Xeque-mate.


          Ele se inclinou para a frente imediatamente e fez a sua própria jogada.


- Xeque-mate.


          Os lábios dela se abriram, atônitos. Ela estudou as peças restantes no tabuleiro e percebeu que ele havia, na verdade, dado o xeque-mate nela, de uma forma que ela não havia previsto.


          As últimas horas de jogo repassaram como um relâmpago pela cabeça de Dulce, e só então ela compreendeu a estratégia em que se baseava o jogo aparentemente previsível dele e a genialidade dos movimentos ao acaso que ele fizera. Mais uma vez, ele tinha montado uma armadilha para ela, e ela havia caído. Uma armadilha brilhante, ela tinha que admitir. Vendo depois do acontecido, era claro como a água. Por que ela não percebera antes?


- Ninguém ganha de mim no xadrez - murmurou ela, ainda incapaz de acreditar. - Ninguém.


- Não faça uma carranca tão feia. Eu aprendi a jogar xadrez quando tinha oito anos. Jogo este jogo há mais tempo do que você está viva.


          Ela não achava nenhum conforto nisso.


- A senhorita é uma excelente jogadora - ele lhe disse -, e tem imaginação para derrotar qualquer um, mesmo os jogadores com maior habilidade que a senhorita. Entretanto, se me permite dar-lhe um conselho, seu excesso de confiança a faz pensar que a vitória está garantida cedo demais.


- O senhor me distraiu no meio do jogo ao falar naquela maldita lista sua.


          Ele sorriu, balançando a cabeça.


- Desculpa esfarrapada.


- É a verdade. - Mas havia uma outra verdade, e ela tinha senso de justiça suficiente para admiti-lo. - Mesmo assim, a culpa é toda minha. Fiquei preocupada tentando seduzi-lo a ver as coisas do meu jeito, e parei de me concentrar no xadrez.


- Foi isso mesmo.


           Dulce afundou na cadeira, desencorajada. Descansando o cotovelo na mesa e com o rosto na mão, ela olhou fixamente para o tabuleiro e observou as mãos dele porem as peças de volta nos seus lugares.


- E nem funcionou - acrescentou ela desanimada, com o orgulho feminino ferido. - É um desperdício gastar os meus encantos com o senhor.


          As mãos dele pararam.


- Eu não diria isso.


          A súbita intensidade da voz dele a surpreendeu. Ela levantou os olhos e viu que ele a observava. A luz da lâmpada, o rosto dele estava tão plácido e impassível como sempre, mas havia alguma coisa naqueles olhos cinzentos, alguma coisa mais para prata derretida do que para aço polido e frio, e ela prendeu a respiração.


- O senhor é humano, afinal de contas - sussurrou ela, atônita.


- Carne e osso, como qualquer outro homem. - Ele retomou a arrumação das peças de xadrez. - E, ao que parece, tão suscetível quanto qualquer homem aos encantos de uma mulher bonita.


          Ela se animou com aquelas palavras. Inclinou-se para a frente na cadeira, rápida em aproveitar o momento.


- Então, isso quer dizer que eu posso fazer a minha própria lista?


          Ele nem mesmo hesitou.


- Não há chance alguma.



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Autor(a): raaayp

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 592



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  • minhavidavondy Postado em 25/07/2016 - 14:19:52

    Maravilhosa,já li bastante.

  • stellabarcelos Postado em 27/11/2015 - 01:04:41

    Muito linda essa web! Já li duas vezes! Amooo

  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:05

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:04

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