Fanfics Brasil - Capítulo IX - Parte I Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.

Fanfic: Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.


Capítulo: Capítulo IX - Parte I

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            Capítulo IX



          Era apenas um jogo de xadrez, Christopher repetiu para si mesmo, talvez pela centésima vez. Bobagem se deixar incomodar pela idéia de que Miss Saviñon havia perdido de propósito, em uma tentativa calculista de obter os seus favores. Ela era uma hábil e experiente jogadora, mas excessivamente descuidada. Christopher se perguntava se ela não estava brincando com ele o tempo todo. Que idéia irritante, pensar que alguém poderia tê-lo manobrado e levado a melhor sobre ele! E justo uma mulher inoportuna, provocante e temperamental. Mais irritante ainda era a idéia de algum pretendente idiota lhe ensinar sinuca, e o fato de essa imagem lhe afastar a cabeça do trabalho.


          Nos últimos três dias, ele havia deixado Miss Saviñon nas mãos capazes de Anahí e da duquesa de Tremore, e tinha enchido a sua própria agenda com questões internacionais, inclusive os preparativos para a visita de estado do príncipe Fernando, mas, na melhor das hipóteses, conseguira apenas manter parte da atenção nessas tarefas. Participou de reuniões em Whitehall, sede do Ministério Britânico das Relações Exteriores, e jantou com os enviados italianos e os embaixadores prussianos, mas, enquanto isso, sua cabeça o insultava com imagens de Lorde Haye ou Lorde Montrose mostrando a Miss Saviñon como segurar um taco de sinuca, tocando a mão dela, inclinando-se de encontro ao seu corpo. Christopher sabia o que eles estariam pensando, sentindo, querendo. Ah, sim, sabia muitíssimo bem.


          Tinha tentado manter-se ocupado com seus deveres, mas naquela noite deu por si com uma noite livre. O ministro espanhol estava resfriado. Cancelados os planos para o jantar, Christopher voltou cedo para Portman Square, mas a casa estava vazia. Alfonso, Anahí e Miss Saviñon tinham ido para a festa aquática de Tremore no Tâmisa. Christopher entregou o casaco e o chapéu ao criado, subiu para a biblioteca e tentou trabalhar. Um diplomata sempre tem pilhas de correspondência para pôr em dia, e nas horas seguintes ele tentou cuidar disso, mas fez pouco progresso. Seu olhar se voltava a toda hora para a mesa de sinuca do outro lado da sala. A única razão que a motivava a querer que ele lhe ensinasse sinuca era a sua recusa em fazê-lo. E também porque ela era uma garota inoportuna e provocante, que usava aquele corpo perfeito para atormentar os homens, só para se divertir. Christopher forçou-se a voltar a atenção para o trabalho, mas assim que conseguiu concentrar-se na carta que escrevia, foi interrompido exatamente pela pessoa que tinha passado os últimos dias tentando esquecer.


- Alguém já lhe disse que o senhor trabalha demais?


          Ele não levantou os olhos.


- Boa noite, Miss Saviñon - disse, continuando a escrever. - A senhorita gostou da festa aquática da duquesa?


- Sim, gosto de iatismo.


- Fico contente em saber disso. Alfonso e Anahí voltaram com a senhorita?


- Sim, mas apenas para me trazerem para casa. - Ela entrou na biblioteca e fechou a porta atrás de si. - Eles foram para outra festa.


- A senhorita não quis acompanhá-los?


- Não. Lady Belinda também foi convidada, e eu não gosto dela.


- Lady Belinda é convidada para muitas festas. Mesmo que a senhorita não deseje se casar com Lorde Blair, não conseguirá evitar a prima dele o tempo todo.


- Sei disso. - Ela fez uma pausa e então disse: - As irmãs de Lorde Haye foram com ele para a festa aquática hoje. O senhor estava certo sobre ele, Christopher. Ele é um bom homem, muito agradável.


          Christopher parou de escrever à menção de Haye, e sua mão apertou a pena.


- Excelente! - disse ele, tentando continuar a carta, mas sem conseguir lembrar onde tinha parado. Leu rapidamente o último parágrafo. - "E, portanto, Sir Gervase" - murmurou ele, retomando a escrita.


          Naturalmente, ela tinha que se sentar sobre a mesa de trabalho mais uma vez. Isso já estava se tornando um hábito - um hábito enlouquecedor, diga-se de passagem. Era impossível trabalhar com aquele cheiro de flor de macieira flutuando no ar.


- Miss Saviñon - disse ele sem interromper a sua tarefa -, a senhorita se incomodaria de sair da minha mesa? Preciso consultar a carta sobre a qual a senhorita está sentada.


          Ela não fez o que lhe era pedido. Pelo contrário, inclinou-se sobre um dos quadris, erguendo ligeiramente o outro, como que a lhe indicar que puxasse o documento. Christopher levantou os olhos rapidamente, na expectativa de que ela estivesse caçoando dele novamente, mas estava enganado. Ela olhava fixamente o espaço, sem lhe dar atenção, os pensamentos sem dúvida em outra parte. Christopher estendeu a mão para a carta que Sir Gervase lhe enviara da Anatólia. Tomou cuidado para não tocar nela, mas as costas de sua mão roçaram o tecido do seu vestido, e um calor intenso lhe tomou o corpo de assalto. Ele puxou a carta com um gesto brusco, como se tivesse sido queimado.


          O som do papel roçando o tecido aparentemente chamou a atenção dela de volta para ele.


- O que o senhor está escrevendo? - perguntou ela. - Ou é segredo?


          O trabalho dele parecia um assunto suficientemente neutro.


- Estou escrevendo uma carta para Sir Gervase Humphrey. É o embaixador que foi enviado para Constantinopla no meu lugar, para que eu pudesse vir para cá. Ele me escreveu dizendo que os turcos estão causando problemas. Como eu já trabalhei naquela região, ele me pede conselhos.


- E que conselho o senhor lhe dá?


- Estou lhe dizendo que intimidar os turcos não funciona. Sugeri que ele tente outra coisa.


- O quê?


- Diplomacia.


          Ela riu.


- O senhor não gosta de Sir Gervase, não é?


- Não. - Christopher assinou seu nome e estendeu a mão para pegar o mata-borrão. - Ele é um tolo.


          Ela se manteve em silêncio enquanto ele dobrava e selava a carta. Quando ele pôs a carta de lado e estendeu a mão para pegar outra folha de papel, ela voltou a falar:


- Não seja severo demais com ele. Ele está tentando se mostrar tão capaz quanto o senhor, e isso é difícil para qualquer pessoa.


- Bobagem.


- Não é bobagem. O seu irmão sente isso, acho, pois é mais jovem que o senhor. O senhor é o bom filho, ele é o travesso. É por isso que o senhor e ele nem sempre se dão bem.


          Christopher mergulhou a pena no tinteiro.


- Alfonso é um compositor. Ele tem um temperamento artístico. Ele e eu vemos a vida de formas muito diferentes. - Ele começou a endereçar uma carta para o príncipe da Suécia.


          A reserva dele não a desencorajou nem um pouco.


- É verdade que os dois são como óleo e água - concordou ela. - Ele é divertido. O senhor é insípido. O senhor sempre foi assim?


- Não sou insípido - protestou ele. - Quanto a Alfonso, ele sempre foi rebelde, sempre fez o que quis e, de alguma forma, sempre conseguiu se safar. Eu nunca pude me dar a esse luxo.


- Seu pai esperava mais do senhor, sem dúvida, já que era o filho mais velho. Isso é uma carga, a expectativa dos outros.


          Uma memória muito antiga lhe brotou na mente, espontaneamente, e ele parou de escrever. "Como você pôde envergonhar a família com esse fracasso? Onde está o seu orgulho? Onde está a sua honra em relação ao nome da sua família? Meu Deus, Christopher, você me desanima. Realmente, estou desanimado."


- Pode ser uma carga - admitiu ele, com a voz do pai ecoando nos ouvidos.


          Pousou a pena e se recostou na cadeira.


- Lembro-me de um ano em Cambridge em que fui reprovado nos exames - ele deu por si dizendo -, e meu pai ficou tão decepcionado comigo e tão enfurecido com a minha falta de atenção aos estudos que não falou comigo nem me escreveu por um ano.


- Um ano? É uma punição cruel.


- Foi o tempo que levou para eu fazer os meus exames novamente.


          Dulce se reclinou para trás sobre a mesa de trabalho dele, as palmas das mãos contra a superfície, o peso sobre os braços.


- O que provocou a sua falta de atenção aos estudos? Jogo? Bebidas?


- Uma arrumadeira muito bonita.


- O que faz exatamente uma arrumadeira?


          Christopher balançou a cabeça, voltando ao presente.


- Isso não é assunto próprio para conversas. Eu não deveria ter dito nada sobre isso. - Ele pegou a pena e retomou o trabalho.


          Mas Dulce não pretendia deixar o assunto morrer assim tão facilmente.


- O senhor disse que ela era bonita. Ela era sua amante? - Diante da falta de resposta dele, ela se inclinou para a frente, virando-se de lado sobre a mesa até ficar praticamente sentada sobre a carta que ele escrevia para o príncipe sueco. - Pode me contar.


          Ele se mexeu desconfortavelmente na cadeira.


- Não seria apropriado.


          Dulce se inclinou para a frente, aproximando o rosto do dele.


- Não vou contar para ninguém - prometeu ela, com um sussurro provocador, inclinando a cabeça e tentando olhar nos olhos dele. - Será o nosso segredo. Ela era sua amante?


- Não. Em Cambridge há muitas arrumadeiras trabalhando nos dormitórios masculinos. Ela fazem as camas.


- E às vezes as desfazem, não? - Ela não esperou a resposta e imediatamente fez outra pergunta: - O senhor estava apaixonado por ela?


          Um par de olhos cor de avelã e um sorriso radiante passaram rapidamente pela mente de Christopher.


- Não é da sua conta.


- O senhor queria se casar com ela?


          Ele respirou fundo, pensando em Fuzz e nos sonhos impossíveis de dezesseis anos atrás.


- Eu sou um cavalheiro, Fuzz era uma criada. Não daria certo.


- Isso não responde à minha pergunta. O senhor queria se casar com ela?


- Meu pai nunca me deu essa oportunidade. Ele pagou uma boa soma para se livrar dela, e ela se casou com outra pessoa. Ela ficou bem contente com o arranjo. - Com uma certa raiva na voz, ele perguntou: - Isso satisfaz a sua curiosidade?


- É como eu com o meu ferreiro - disse ela gentilmente. - O senhor amava muito essa Fuzz, acho.


          Mulher infernal! Ela conseguia desencavar os segredos até de uma pedra.


- Tenho que terminar essa carta, e a senhorita está sentada sobre ela - disse ele. - Por favor, afaste-se.


          Ela pulou da mesa e se afastou, mas, se Christopher pensava que tinha encerrado o assunto do seu passado, estava enganado. Do outro lado da sala, ela voltou a falar:


- Essa moça, Fuzz, é o motivo real por que o senhor nunca se casou?


          A pena escorregou dos dedos dele e a tinta escorreu por sobre a carta, estragando-a. Ele teria que começar de novo. Completamente frustrado, Christopher jogou a pena de escrever e se levantou.


- Meu Deus, a senhorita faz as perguntas mais impróprias! Em todo o tempo que passou nas escolas de etiqueta francesas, nunca lhe ensinaram boas maneiras? 
         


          Ela olhou para ele de olhos muito abertos e cheios de surpresa diante daquela explosão. Depois de um momento, comentou:


- O senhor é impressionante quando está com raiva. Sabia disso? - Sem esperar por uma resposta, continuou: - O senhor deveria ficar com raiva com mais freqüência. O senhor seria menos insípido se... - Ela se interrompeu, abanando uma mão no ar, como que se em busca das palavras certas: - Se desabafasse um pouco.



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Autor(a): raaayp

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

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- Não preciso desabafar e não sou insípido. Eu meramente observo os modos da sociedade, o que significa que não investigo a vida particular das outras pessoas. - Ele lhe deu uma olhada rápida e severa. - Ao contrário de algumas pessoas. - Insípido e seco como um galho - continuou ela, avaliando o caráter dele com tota ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 592



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  • minhavidavondy Postado em 25/07/2016 - 14:19:52

    Maravilhosa,já li bastante.

  • stellabarcelos Postado em 27/11/2015 - 01:04:41

    Muito linda essa web! Já li duas vezes! Amooo

  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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