Fanfics Brasil - Capítulo XIII - Parte I Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.

Fanfic: Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.


Capítulo: Capítulo XIII - Parte I

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                                                                 Capítulo XIII



          A única vez que Christopher tinha roubado alguma coisa na vida fora aos cinco anos, e as conseqüências de comer todo o pudim de ameixa da cozinheira dois dias antes do Natal tinham sido quatro dias de dor de barriga e um mês de castigo no quarto. Aos doze anos, foi pego beijando Mary Welton, filha de um empregado da fazenda, e aprendeu pela mão de seu pai quanto doía um chicotinho de montaria. Houve aquele problema em Cambridge, naturalmente, e Fuzz. O primeiro problema tinha lhe custado um ano de esforços intensos para se recuperar nos estudos, e o segundo, três anos para superar a dor de um amor perdido. Essas experiências, juntamente com vários eventos semelhantes de sua vida, haviam-lhe ensinado uma importante lição.


          Toda vez que ele fazia alguma besteira, tinha que pagar.


          Esse fato ficou claro para ele mais uma vez na manhã seguinte à bebedeira com Dulce. Quando acordou, o feixe de luz do sol que se infiltrava entre as duas cortinas fechadas o atingiu diretamente nos olhos, causando uma dor de rachar por todo o crânio. Ele estava pagando agora. E pagando caro.


          Christopher gemeu e se virou na cama com uma imprecação digna de um marinheiro de Portsmouth. A cabeça lhe doía como se fosse se partir ao meio, o estômago parecia de chumbo e ele tinha certeza que, durante a noite, alguém tinha enfiado um chumaço de algodão na sua boca. Concluindo que o melhor plano seria decidir o que fazer durante o dia ainda na cama, Christopher voltou a dormir.


          Algum tempo depois, o barulho de louça o acordou novamente. Ele abriu cuidadosamente um olho e encontrou Harper de pé ao lado do criado mudo, enchendo uma xícara de chá para ele. Depois de misturar o açúcar com a colherinha, o criado pôs a xícara na bandeja e se voltou para a janela. Antes que a mente entorpecida de Christopher percebesse o que ele pretendia, Harper fez uma coisa impensável: abriu as cortinas.


- Pelas trombetas do inferno, feche essas malditas cortinas! -Christopher cobriu o rosto com o travesseiro, impedindo a passagem da luz.


- Sentindo-se um pouco indisposto hoje, senhor?


          Ele se sentia como um morto. Respondeu com um grunhido vindo de baixo do travesseiro.


          Harper pareceu entender que a resposta era afirmativa.


- Miss Dulce disse que o senhor poderia não estar se sentindo muito bem hoje de manhã, mas que ela gostaria de vê-lo logo que o senhor estiver em condições de descer. Ela disse que é importante.


- A não ser que a guerra tenha estourado entre Bolgheri e a Inglaterra - resmungou ele -, nada pode ser tão importante.


          Christopher pensou na noite anterior, em quanto havia bebido. Dulce havia consumido muito mais conhaque do que ele, e, se ele se sentia mal assim, ela deveria estar em condições lastimáveis. Aquele pensamento o animou um pouco.


          Era mesmo para ela se sentir mal, que inferno! Ele se lembrava claramente de como ela o havia atormentado com aquele sorriso embriagado e aquela camisola entreaberta, de como ela se sentara ali, contando para ele todos os beijos que havia dado na vida, como se ele fosse o maldito do seu confessor. Pensou nela deitada naquela cama, toda jogada e tentadora, com aquela camisola subindo pelas pernas. Pensou em como ele havia sido honrado indo-se embora. Isso quase o havia matado. Esperava que ela estivesse se sentindo muito mal naquela manhã. Seria muito bem-feito para ela.


          Na verdade, ver Dulce no estado miserável provocado pela ressaca era uma idéia tão atraente que Christopher achou que valia a pena sair da cama. Ele respirou fundo, jogou o travesseiro para o lado e empurrou as roupas de cama. Devagar e com cuidado, levantou-se.


          Com a ajuda de Harper, conseguiu se barbear e se vestir. Quando desceu, encontrou Dulce só na sala de jantar, tomando o café-da-manhã. Quando ele entrou, ela levantou os olhos, radiante e sorridente em um vestido amarelo-claro, parecendo excessivamente animada para alguém que merecia estar sofrendo tanto quanto ele.


          Ele se sentou do outro lado da mesa.


- Onde estão todos esta manhã?


- Isabel está lá em cima com a governante fazendo as lições. Anahí está na sala de estar com a duquesa de Tremore, e Alfonso acaba de sair para o Covent Garden, onde vai supervisionar os testes dos cantores para a nova ópera dele.


          Christopher fez que sim com a cabeça. Esquecendo-se de toda uma vida de modos escrupulosamente corretos, ele jogou um cotovelo sobre a mesa e esfregou os olhos cansados. Depois de algum tempo, levantou a cabeça e deu com ela observando-o.


          O sorriso havia sumido, e ela o estudava com uma expressão séria.


- Você deveria comer alguma coisa - recomendou ela, empurrando um prato na direção dele e fazendo um gesto para um lacaio. - Você vai se sentir melhor.


          Ele sentiu o cheiro de torrada com manteiga e imediatamente apoiou a cabeça na cadeira. O mero pensamento de voltar a comer alguma coisa na vida lhe causava repugnância.


- Sobre o que a senhorita precisava me ver? - perguntou ele sucintamente.


          Antes de ela poder responder, o lacaio colocou um prato na frente dele. Christopher fechou os olhos e engoliu em seco.


- Jarvis - disse ele em voz muito baixa -, se você não tirar a droga desse prato de rins da minha vista neste instante, eu o mato.


          Jarvis apressadamente retirou o prato.


- Espantoso! - Dulce balançou a cabeça e enfiou um garfada de ovos mexidos na boca. - Você bebeu menos do que eu, e eu me sinto maravilhosamente bem.


          Aquele fato óbvio não contribuiu em nada para melhorar o humor dele. Ele olhou bravo para ela. Nem um pouco intimidada, ela retribuiu o olhar, apertando os lábios, como que tentando sorrir. Depois de um momento, disse:


- Alfonso me contou que você nunca conseguiu beber muito sem se sentir indisposto no dia seguinte.


          Ele estava certo, acho.


- Você contou a Alfonso sobre a noite passada?


- Não. Ele notou os decantadores vazios na biblioteca hoje de manhã, e chegou à conclusão de que você tinha tomado uma bebedeira. Parecia bem preocupado com isso. Disse que isso nem parece coisa sua.


- E não é. - Christopher fechou os olhos. - Estou ficando louco. É isso que está acontecendo. Devo estar ficando louco.


          Dulce parecia não ter ouvido essa declaração referente à sanidade dele.


- Seu irmão me perguntou se havia alguma coisa de errado com você, mas eu lhe garanti que não havia nada. Todos fazemos coisas imprevisíveis de vez em quando.


- Eu não. - Ele abriu os olhos. - Eu nunca faço coisas imprevisíveis. Nunca.


          Dulce se absteve de lembrar-lhe que duas garrafas vazias de conhaque provavam que ele estava errado, e fez um gesto em direção a um copo alto colocado ao lado do lugar dele.


- Seu irmão deixou um remédio para você. É uma maravilha, ele disse. Foi ele mesmo quem o inventou.


- Alfonso seria incapaz de inventar uma coisa dessas. - Ele olhou o líquido vermelho-amarronzado, em dúvida. - O que tem aí dentro?


- Suco de tomate - disse ela, mastigando uma fatia de torrada. - Suco de limão, condimentos, uma tintura de casca de salgueiro e algum tipo de bebida russa... vodca, acho que foi o que ele disse.


          O estômago de Christopher se torceu dolorosamente.


- Parece repulsivo.


- Tem algum outro ingrediente que eu estou esquecendo. -Ela fez uma pausa e uma careta ao tentar lembrar o que era. - Ah! - gritou ela, com um olhar triunfal -, suco de marisco!


          Christopher se levantou.


- Vou voltar para a cama.


          Ele voltou ao seu quarto, ainda todo arrepiado de pensar em suco de marisco. Fechou as cortinas e tirou a roupa, e então se enfiou entre os lençóis frios de algodão, jurando que nunca mais faria nenhuma besteira na vida. Simplesmente não valia a pena.



- Acho que é um anjo. - Dulce estudou a nuvem que Isabel apontava e balançou a cabeça. Folhas de grama pinicavam seu pescoço. - Não, é um elefante.


- Não, é um anjo. Tem asas. Você vê as asas? - Isabel desenhava com o dedo no ar, com um movimento amplo. - Ali e ali. E até tem um halo.


- Ainda não consigo ver. - Dulce bocejou, começando a sentir sono ao sol da tarde. - Eu vejo um elefante.


- Você não tem jeito para formas de nuvens - disse a garota, levantando-se. - Vou ver o que Mrs. March pôs na nossa cesta de piquenique. Você também vem?


          Dulce balançou a cabeça.


- Daqui a pouco.


          Isabel se afastou e Dulce fechou os olhos. Ela inalou o cheiro da grama e saboreou a sensação do sol no rosto. Apesar de todo o conhaque da noite anterior, ela se sentia maravilhosamente bem.


          Christopher não. Pobrezinho! Ela queria lhe contar que era o seu aniversário, na esperança de induzi-lo a permitir que fizesse uma visita à mamma, mas foi só dar uma olhadinha no rosto dele para que mudasse de idéia. Sorriu, pensando na aparência dele - tão pouco respeitável, com aquele olho roxo, tão miseravelmente indisposto e tão adorável quando olhara bravo para ela, que ela simplesmente queria beijá-lo e fazê-lo sentir-se melhor. Se os criados não estivessem na sala, ela teria feito exatamente isso.


          Pensou naquele beijo que ele lhe dera duas noites antes, e apenas a lembrança fez todo o seu corpo começar a formigar. Se ele podia fazer isso com ela com um beijinho curto, como seria um beijo mais demorado dele?


          Era isso que Dulce queria descobrir. A idéia de simplesmente jogar os braços ao redor do pescoço dele, cravar a boca sobre a boca dele e mandar todo o seu decoro inglês para o inferno era muito tentadora. Ele provavelmente ficaria bravo. Ele a chamaria de coquete, namoradeira e a acusaria de brincar com ele. A cólera dele era quente o suficiente para chamuscar uma mulher, mas ela apostava que o beijo dele valia a pena.


          Dulce se aconchegou melhor na grama, pensando na noite anterior, na sensação dos braços dele ao redor dela quando ele a carregara escada acima. Não deveria ter sido fácil, pois ela não era pequena. Dois lances de escada, e ele nem tinha ficado sem fôlego. Ela se lembrou de como ele havia atirado o copo do outro lado da sala, dizendo que não concordava com a opinião de Haye sobre ela. Aquelas palavras e a fúria impetuosa com que foram ditas tinham atravessado o coração dela como um raio de luz do sol, fazendo-a arder de dentro para fora. Uma mulher poderia se apaixonar por um homem que a fazia sentir-se assim.


- Dulce? - A voz de Anahí a chamava do outro lado do canteiro.


          Ela se virou, rolando sobre a grama, e apoiou o peso nos antebraços. Olhou para Anahí, que estava sentada com Maite em um banco a uns vinte metros de distância. Isabel estava com elas, remexendo na cesta de piquenique.


- Sim?


- Você tem certeza de que não quer ir a algum lugar? - Anahí lhe perguntou. - Devíamos fazer alguma coisa especial hoje. Afinal de contas, é o seu aniversário.


          Dulce sorriu e balançou a cabeça, recusando mais uma vez a oferta das duas mulheres de a levarem a algum lugar.


- Não, estou satisfeita em ficar aqui.


          Maite, que carregava a filhinha nos braços, levantou os olhos e empurrou os óculos para o alto do nariz.


- Que tal levarmos o nosso piquenique para o Hyde Park? -perguntou ela a Dulce. - Isso seria mais divertido para você do que este parque de Portman Square, não acha?


- Sim, sim! - gritou Isabel.


          Ela veio correndo e caiu de joelhos ao lado de Dulce na grama.


- Vamos ao Hyde Park. A brisa está boa, e poderíamos soltar pipas. Ou poderíamos alugar um barco e passear pelo lago Serpentine.


          Ainda sorrindo, Dulce rolou novamente sobre as costas e olhou fixamente para o céu.


- Ainda não.


- Poderíamos pelo menos andar até a confeitaria da próxima esquina e comprar frutas cristalizadas para o seu aniversário, não poderíamos? Ou chocolates. Ou balas de leite. Ou bastões de hortelã.


          Dulce não se deixou convencer com essas gostosuras.


- Não, vou ficar aqui. Estou esperando.


- Esperando o quê?


- O meu presente de aniversário.



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Autor(a): raaayp

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- Quem vai lhe mandar um presente? Lorde Haye? - Não Lorde Haye. É a minha mamma que vai mandá-lo. - Dulce sorriu diante da expectativa. - Mamma sempre me manda alguma coisa maravilhosa de aniversário, e eu não vou sair até o presente chegar.           Isabel soltou um suspiro, desistind ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 592



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  • minhavidavondy Postado em 25/07/2016 - 14:19:52

    Maravilhosa,já li bastante.

  • stellabarcelos Postado em 27/11/2015 - 01:04:41

    Muito linda essa web! Já li duas vezes! Amooo

  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:05

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:04

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