Fanfics Brasil - Capítulo XVI - Parte I Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.

Fanfic: Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.


Capítulo: Capítulo XVI - Parte I

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                                                             Capítulo XVI



          Tremore Hall era uma propriedade rural enorme que não ficava nada a dever ao palácio do príncipe Fernando em Bolgheri em termos de grandeza. O terreno e os jardins eram maravilhosos, o interior da imensa casa, ricamente decorado, e a estufa do duque, cheia de plantas exóticas de todo o mundo. O duque e a duquesa eram anfitriões atenciosos e agradáveis e faziam todo o possível para deixar Dulce à vontade. A comida era excelente, havia muitas coisas agradáveis para fazer, e os ministros de Fernando tinham enviado um grande número de costureiras de Londres para começarem a preparar o enxoval da noiva.


          Nessas circunstâncias, a maioria das mulheres estaria na maior felicidade. Dulce, entretanto, se sentia profundamente infeliz. Não era da sua natureza ficar triste por muito tempo, mas não conseguia se livrar da melancolia que tinha tomado conta de si. Ela tentava se apresentar bem, pois não queria magoar os sentimentos do duque e da duquesa, nem que eles a julgassem uma ingrata. Dulce ajudou a planejar os espetáculos e atividades de entretenimento para a festa, para a qual mais de cem pessoas haviam sido convidadas. Aprendeu a jogar croquet, a manobrar o arco-e-flecha e a jogar uíste. Quando os convidados começaram a chegar, ela foi igualmente cortês com cada um dos seus três pretendentes. Todos retribuíram como perfeitos cavalheiros, chegando até a ser delicados uns com os outros. Dulce sorria e fingia estar feliz. Por dentro, porém, sentia-se morrer.


          Pensou em fugir. Não seria a primeira vez. Se conseguisse chegar até a mãe, Blanca lhe daria dinheiro. Ela poderia fugir e se esconder. Mas o pai acabaria por encontrá-la. Ele sempre a encontrava. Ela havia fugido de várias situações adversas na vida. Isso alguma vez tinha resolvido alguma coisa?


          Outra opção era escolher um dos homens, ir para o altar e gritar "Não!" no momento adequado, em frente de todos os convidados. Essa idéia era um pouco mais atraente do que fugir, porque seria uma grande humilhação para o seu pai. Mas ela também humilharia o pobre noivo, que não tinha feito nada para merecer um tratamento desse. Além disso, Fernando provavelmente a mandaria de volta para um convento, faria com que ela fosse trancada em uma cela para não poder fugir e a deixaria apodrecer lá.


          Durante a semana da festa, ela perguntou todos os dias à duquesa se Christopher havia chegado, mas a resposta era sempre negativa. Seu tempo foi dividido entre os três pretendentes, de modo que ela pudesse dar a cada um deles uma atenção especial. Ela caminhou, conversou e dançou com cada um deles. Tentava esquecer o homem que não a amava e reconhecer as qualidades dos três homens que a queriam por esposa. Tentou avaliar cada pretendente por seus próprios méritos, tentou ver a si mesma casada com ele, tendo filhos com ele, ficando satisfeita com ele. As mulheres se casavam com homens a quem não amavam todos os dias, disse ela a si mesma muitas vezes, e muitas dessas mulheres conseguiam ser felizes.


          Na noite do baile, Christopher ainda não tinha chegado a Tremore, mas isso não importava. O único motivo pelo qual ele iria era para saber qual o homem escolhido por ela - e ela ainda não se decidira. Como poderia fazê-lo?


          Dulce ficou em frente ao espelho do seu quarto enquanto uma criada abotoava cada um dos minúsculos botões cobertos de tecido que desciam pelas costas do seu vestido de baile de seda rosa, e outra lhe arrumava o cabelo com botões de rosa do mesmo tom, recém-colhidos. Durante toda essa operação, ela se estudava no espelho com um estranho desinteresse e afastamento, como se estivesse olhando para outra pessoa, e percebeu que era isso mesmo o que estava acontecendo. O que ela via no espelho era uma alma penada, uma sombra de si mesma. Já não sabia mais quem era. Ela se sentia como se estivesse perdida em um nevoeiro, tentando encontrar o caminho de casa. Mas ela não tinha casa e, sem amor, nunca teria.


          Quando estava vestida e pronta, Dulce dispensou as criadas e caminhou até a janela. Olhou para a grande extensão de canteiros dos Tremore, do lado de fora, onde lanternas haviam sido acesas e as carruagens da pequena nobreza local que fora convidada lotavam a entrada de veículos.


          O tempo estava se esgotando. Ela tinha que escolher. Blair, Montrose, Walford. Qual deles? Um soluço lhe escapou do peito, e ela tocou a boca com os dedos enluvados. Era uma escolha impossível, pois não conseguia suportar o pensamento de ser beijada por nenhum daqueles homens. Não conseguia suportar ser tocada por nenhum deles. Nem agora nem nunca. Não depois de Christopher. Só de pensar nisso já se sentia enjoada.


- Com licença, senhorita.


          Dulce se virou e viu que uma das criadas havia voltado para o quarto.


- Christopher Uckermann chegou e deseja ver a senhorita antes do baile.


          O coração dela deu um salto, retorcendo-se no peito com um prazer ao mesmo tempo doce e dolorido. Christopher tinha vindo.


- Onde está ele?


- Ele disse que esperaria pela senhorita na estufa de Sua Alteza. A senhorita sabe onde fica?


- Sim, sei, obrigada. - Dulce pegou o leque e seguiu a criada para fora do quarto. Desceu os três lances de escada até o térreo, cheia de uma esperança impossível. E se ele tivesse vindo para levá-la embora? A esperança apressava os seus passos, e ela acabou correndo pelo longo corredor atapetado de vermelho que levava à estufa. E se ele tivesse chegado à conclusão de que a amava?


          O valete de Christopher, Harper, de pé ao lado das portas duplas que davam para a estufa, abriu uma delas para Dulce. Ela o cumprimentou com um movimento de cabeça, ao passar. Entrou, e Harper fechou a porta.


          A famosa estufa do duque de Tremore era um salão com teto de vidro, maior que o salão de baile do palácio do pai dela. Era cheia de árvores e plantas de todo o mundo, decorada com estátuas, fontes, vasos e urnas. Suportes de ferro no alto de colunas romanas sustentavam lâmpadas a gás que iluminavam o salão. Sem fôlego, ela parou, tentando encontrar Christopher no meio da densa folhagem, mas não o via.


- Christopher? - chamou.


          Ele deu um passo, saindo de trás de uma treliça de videira densamente coberta. Olhar para ele lhe deu uma alegria tão intensa que ela não conseguia falar. Só conseguia ficar olhando, como que absorvendo a visão dele, na esperança de não estar sonhando.


          Ele estava vestido formalmente para o baile. Uma bela casaca de lã preta cobria os largos ombros, e calças pretas combinando revestiam-lhe as longas pernas. Nem uma única ruga ousava arruinar o seu colete de seda adornado de dourado e preto. A camisa de um branco de neve estava imaculada, naturalmente, e passada à perfeição. Ele não tinha nem um fio de cabelo fora do lugar, nem a sombra de qualquer fiozinho nas roupas. Até o olho roxo, que lhe tinha dado um certo ar alegre e dissoluto, estava mais claro, tornando-se quase imperceptível. Ela nunca tinha visto nada tão esplêndido na vida. A alegria a dominava, e Dulce começou a rir.


- Seu valete é incrível - disse ela, ainda sem fôlego devido à longa corrida. - Quando você está com essa aparência, eu sempre tenho vontade de despentear o seu cabelo e entortar a sua roupa.


          Ele não riu com ela. A expressão dele era composta, grave, inescrutável - aquela feição diplomática habitual. Dulce sentiu o seu riso se desvanecer.


- Quando você chegou? - perguntou ela.


- Há algumas horas. Eu trouxe um presente do seu pai para você. - Ele se virou, acenando para ela. - Venha comigo.


          Ela o seguiu para trás da treliça de videira e viu uma longa mesa de mármore entalhado onde estava exposta uma grande variedade de orquídeas. Algumas das orquídeas tinham sido empurradas para o lado, dando espaço para uma arca dourada de cerca de quarenta e cinco centímetros de cada lado e quinze centímetros de altura.


          Ele abriu a arca, revelando uma coleção pequena, porém deslumbrante, de jóias.


- Seu pai decidiu que você pode ficar com essas jóias. Elas são parte do seu dote.


          Dulce olhou de relance para os diamantes e pérolas sobre o interior de veludo vermelho e em seguida olhou para ele. Nem uma centelha de emoção aparecia nos olhos de Christopher.


          Nenhum lampejo de fogo. Seus olhos eram frios e impessoais, fazendo-a lembrar a primeira vez em que o tinha visto.


- Isso é só uma parte - ele disse. - Ainda há uma baixela de ouro, prata e cristal. Serviço para trinta pessoas, creio. Pensei que você poderia querer usar algumas dessas jóias hoje à noite, por isso as trouxe comigo. Tudo o mais está em Londres.


          Ela estudou a arca e seu conteúdo.


- Uma baixela com serviço para trinta pessoas, e também jóias. Muito generoso da parte de Fernando. Nada de rubis, porém, naturalmente.


          Ela se forçou a rir, mas o riso soou vazio aos seus próprios ouvidos.


- Suponho que seja bom que Fernando não tenha me dado rubis. Eles não combinariam com o meu vestido. - Dulce deixou o leque de lado e pôs a mão dentro da arca. Tirou uma tiara e a pôs na cabeça, em um ângulo absurdamente torto. Virou-se para ele, com um sorriso caprichoso, na esperança de fazê-lo rir. - O que você acha?


          Ele não retribuiu o sorriso. Não arrumou a tiara para ela. Pelo contrário, deu um passo para trás.


- Você tem que me dizer quem escolheu - disse ele com as mãos atrás das costas, cerimonioso e formal. - Já recebi a aprovação por escrito do seu pai para qualquer um dos três, de forma que poderei chamar de lado o homem da sua escolha durante a noite e lhe dar o meu consentimento formal. Em seguida farei o anúncio oficial.


          Essas palavras feriram o coração dela como uma flecha, matando todas as esperanças desenfreadas e loucas que ela tinha tido enquanto descia a escadaria. Ela virou a cabeça para esconder a expressão do rosto. O orgulho não deixava que ela mostrasse a ele como se sentia. Com a cabeça curvada, Dulce brincou com as jóias.


- Eu ainda não fiz a minha escolha.


- Entendo. - Houve uma longa pausa, e então ele suspirou fundo. - Você tem que escolher hoje à noite, Dulce.


- Sim, eu sei. - Ela puxou um colar de diamantes da arca e o examinou. - Eu nunca lhe concedi aquele novo jogo de xadrez, para tirar as dúvidas.


- Esqueça-se disso.


- Você não quer saber se...


          A voz dela falhou e ela levantou o colar, forçando mais um sorriso.


- Quero usar isto, mas não consigo apertar o fecho com as mãos enluvadas.


          Ele fez um som, talvez de impaciência, e arrancou o colar das mãos dela.


- Vire-se.


          Dulce se virou e sentiu a frieza da platina contra a clavícula, enquanto ele colocava a jóia ao redor do pescoço dela. Os nós dos dedos dele roçaram-lhe a nuca quando ele enganchou um lado do fecho no outro, mas ao terminar ele não as tirou.


- Estou ouvindo os músicos afinando os instrumentos - disse ele. - O baile está para começar.


- Sim. - Ela não se mexeu. - Christopher...


- É melhor eu a levar para lá. - As mãos dele se afastaram, deslizando sobre a pele dela, e Dulce sentiu-se como se ele tivesse acabado de enterrar uma flecha no coração dela.


- Naturalmente - murmurou ela, pegando o leque e virando-se para dar o braço a ele. Christopher pegou a arca com a mão livre, e os dois saíram da estufa. O valete ainda estava parado no corredor.


- Leve isso, Harper - Christopher disse, entregando a arca e escoltando Dulce para o salão de baile, que ficava no outro extremo do longo corredor. Nenhum dos dois disse nada.


          A música ia ficando mais alta à medida que eles se aproximavam do salão. As imensas portas duplas tinham sido escancaradas, e alguns casais se dirigiam para a pista de dança. De pé no corredor, bem perto das portas, estava Lorde Blair. Dulce havia lhe prometido a primeira dança, e ele a esperava para cobrar a promessa.


          Christopher também o viu e parou.


- Aproveite a sua noite - murmurou ele para Dulce. - Estarei na estufa. Quando você tiver se decidido, diga ao escolhido para ir me encontrar lá, para que eu lhe dê o meu consentimento formal. Então eu voltarei para cá com ele e farei o anúncio.


          Ela ficou olhando enquanto ele se virava para ir embora.


- Você não vai participar do baile?


          Ele se deteve.


- Não - disse ele sobre o ombro, sem olhar para ela. Em segui da recomeçou a andar pelo corredor.


          Dulce ficou olhando enquanto ele se afastava, e pensou na oração que tinha feito naquele dia no jardim de Lady Kettering. O pedido dela tinha se realizado, palavra por palavra. Ela havia encontrado o homem com quem queria se casar. Ela tinha encontrado o homem que fazia seu coração disparar e lhe tirava o fôlego. Ela tinha encontrado o homem com quem podia conversar e rir e que podia amar por toda a vida. O problema era que esse homem não retribuía o seu amor - e ela percebeu que tinha se esquecido de pedir isso a Deus. Dulce cruzou os dedos, fechou os olhos e fez mais uma oração. Mas, ao abrir os olhos, Christopher continuava se afastando.




          O dia estava rompendo. Christopher se recostou contra a parede de pedra da estufa de Tremore, olhando fixamente para o lugar ao lado da mesa de orquídeas onde ele tinha dado a Dulce as jóias enviadas pelo pai dela. Ele se perguntou quando ela acharia o rubi. Por ordem sua, um joalheiro de Londres tinha retirado um dos pequenos diamantes baguetes da tiara e o substituíra por um rubi. Ele o tinha colocado em uma das extremidades do diadema, onde ficaria escondido dentro do cabelo dela, e o príncipe Fernando não poderia vê-lo se ela o usasse no casamento. Mas com quem ela ia se casar?


          Christopher abaixou os olhos e viu a sua casaca de gala, o colete e a gravata. Estava tudo amontoado onde ele os havia deixado havia horas, numa pilha desleixada sobre o chão que teria deixado Harper horrorizado. Christopher olhou fixamente para suas roupas. Ele inicialmente tivera a intenção de participar do baile. Existia a expectativa de que ele fosse, era mesmo uma exigência. Era uma terrível indelicadeza não aparecer. A polidez que fosse para o inferno.


          Pela centésima vez ele se perguntou quem ela teria escolhido e se forçou a parar com aquilo. Não era assunto dele. Ficaria sabendo o que ela decidira quando o escolhido chegasse para falar com ele.


          Apenas mais algumas horas e poderia ir embora. Apenas mais uns poucos dias, depois de ele se encontrar com o pai dela, e o caso todo seria encerrado. Poderia voltar a ser ele mesmo novamente. Esse anseio, essa necessidade, essa loucura que ameaçava engoli-lo e arruinar a sua vida passaria. Iria embora, poderia deixar tudo para trás e continuar com as suas coisas. Coisas importantes.


          Os gregos e os turcos estavam à beira da guerra, e uma guerra seria catastrófrica para os interesses britânicos naquela região. Dentro de uma semana ele estaria em um navio com destino a Constantinopla, para tentar encontrar uma solução diplomática para a situação. Era esse o seu trabalho. Era isso o que ele deveria fazer. Estranho que a tarefa trivial de encontrar um marido para uma mulher bela, caprichosa, impossível, imprevisível e namoradeira fosse a missão mais difícil que ele recebera na vida.


          À distância, a música cessou. O baile havia terminado. Ele esperou, mas ninguém apareceu. Ficou ouvindo, na expectativa da batida dos saltos de sapato de algum homem sobre o chão de pedra da estufa, mas nada aconteceu.



 




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Autor(a): raaayp

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          Enquanto esperava, Christopher fechou os olhos e tentou se concentrar em como iria evitar uma guerra na Anatólia, mas, em vez disso, deu por si pensando na nuca de Dulce, de onde alguns cachos ruivos de cabelo tinham se soltado do intrincado coque baixo. Eram como cachos de fios sedosos contra os dedos dele quando ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 592



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  • minhavidavondy Postado em 25/07/2016 - 14:19:52

    Maravilhosa,já li bastante.

  • stellabarcelos Postado em 27/11/2015 - 01:04:41

    Muito linda essa web! Já li duas vezes! Amooo

  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

    A web foi perfeita, vou sentir saudades dela...posta maissssssssssssss:)

  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:05

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:04

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