Fanfics Brasil - Capítulo XVII - Parte II Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.

Fanfic: Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.


Capítulo: Capítulo XVII - Parte II

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- É claro que eu sou humano. - Desejando não ser, ele esfregou a mão sobre o rosto, irritado. - Meu Deus, por que todos acham que eu não sou?


- Bem, eu sempre estive inclinado a duvidar que fosse. Quando éramos meninos, os nossos professores sempre faziam comparações entre nós, e era sempre eu que levava a pior, posso lhe garantir. Os seus trabalhos nunca tinham erros. A sua caligrafia era elegante. Você sabia a resposta para todas as perguntas. Era de dar náuseas. Quando eu cheguei aos sete anos, já sabia que nunca poderia me comparar a você, e já nem tentava. Ah, quanto ressentimento eu tinha de você!


          A raiva de Christopher evaporou-se.


- Isso é irônico - disse. - Enquanto você tinha ressentimento de mim, eu me ressentia de você. Quando estávamos crescendo, você podia fazer tudo o que quisesse. Juro, Alfonso, fosse algo perverso, impróprio, proibido ou simplesmente estúpido, você fazia e sempre se safava sem maiores problemas. Eu sempre era pego. Eu sempre era punido. Isso, irmãozinho, é que era de dar náuseas.


- Você era o predileto de papai.


- E você era o queridinho de mamãe.


- Por causa da música. Mamãe e eu tínhamos isso em comum. Você e papai tinham a propriedade, suponho. Você diz que eu conseguia me safar... - Ele fez uma pausa e em seguida disse: - Christopher, existe uma coisa que eu quero há anos lhe dizer. Talvez agora seja a hora. - Ele se sentou na beira da cama de Christopher.


          Curioso, Christopher também se sentou na cadeira ao lado da lareira. Ele sabia, pelo tom de voz de Alfonso, que isso não era uma das brincadeiras dele, e estava contente em desviar a atenção da própria situação.


- Dizer-me o quê?


- Eu tenho zumbido nos ouvidos. Isso quase me deixou louco.


- Como assim?


          A reação dele fez Alfonso balançar a cabeça, pasmado.


- Meu Deus, Christopher, não há nada que te perturbe?


          Christopher olhou para o irmão com um olhar estranho.


- Você quer dizer, além de Dulce Saviñon?


          Alfonso riu.


- Meu irmão tem senso de humor. E até nessas circunstâncias. Que extraordinário! - O riso dele se apagou e ele disse: - Lembra-se daquele acidente que sofri quando estava cavalgando, há alguns anos, quando eu bati a cabeça em uma pedra? Você estava na índia ou no Egito, ou em algum outro lugar remoto.


- Lembro. Era São Petersburgo. - Ele franziu as sobrancelhas, tentando entender. - Então, esse zumbido é resultado da queda? Os médicos não podem curar isso?


- Não. Eu tenho esse barulho na cabeça o tempo todo. É um lamento firme, como um diapasão meio desafinado. Às vezes eu não consigo dormir. Tenho dores de cabeça. Eu tomava ópio e fumava haxixe para ficar entorpecido e sentir menos, mas nunca fiquei livre do zumbido. Durante cinco anos, não consegui compor nada. Ficava publicando peças antigas. Coisas que eu já tinha escrito. Pensei que nunca mais conseguiria compor. Foi um inferno.


          Ele sabia o que a música significava para Alfonso. Era a sua vida. Era tudo.


- Entendo.


- Eu quase me matei. Pus uma pistola debaixo do queixo e armei o cão.


          Christopher se empertigou na cadeira.


- Meu Deus, Alfonso!


- Finalmente consegui perturbar você - ironizou Alfonso. - Mas, falando sério, é verdade.


- O que o deteve?


- Anahí. - Ele sorriu e seu rosto se iluminou, como sempre acontecia quando falava na sua mulher. - Ela me salvou a vida. Literal e figuradamente. Quando eu a vi pela primeira vez, ouvi música, e fiquei surpreso, porque não ouvia música havia anos. Achei que ela era a minha musa. Baixei a pistola e ela a tirou da minha mão, dizendo que eu não tinha nada que me matar. - Ele fez uma pausa. - Acho que eu me apaixonei por ela no momento em que a vi. Deus sabe como eu precisava dela. Ainda preciso. Preciso dela a cada dia que passa.


          Christopher estava começando a saber o que era essa necessidade.


- Então você não pode mais compor por causa desse barulho?


- Eu aprendi a lidar com ele e trabalhar assim mesmo. Isabel me ajuda. Ela tem muito talento, Christopher, mais talento do que eu, na verdade. A música vem a ela com facilidade, como acontecia comigo. Compor nunca mais vai ser fácil para mim, mas pelo menos eu consigo fazê-lo novamente.


- Estou feliz que você tenha me contado isso, que você finalmente tenha se sentido à vontade para fazê-lo. - Ele se reclinou na cadeira. - Bem, isso explica muita coisa. Você sempre foi terrível, sabe Deus, mas o seu comportamento se tornou tão excêntrico que eu achava que havia alguma coisa muito errada com você. Só não sabia o que era. Por que você não me contou antes?


- Não sei. Suponho... - Ele fez uma pausa, franzindo as sobrancelhas. - Suponho que pensei que você não entenderia. Você é uma pessoa tão disciplinada que eu temia que você me dissesse para apenas superar isso e parar de sentir pena de mim mesmo. É claro que era isso que eu estava fazendo, mas tinha horror de ouvir alguém dizer isso, especialmente se viesse de você.


- Eu não teria dito isso. - O olhar incrédulo de Alfonso o estimulou a acrescentar: - Eu poderia ter pensado isso, mas não teria dito. Eu sou um diplomata, afinal de contas. O homem de tato e discrição que sempre diz e faz o que é certo. - Ele riu um riso sem humor.


          Alfonso se inclinou para a frente, apoiando os antebaços sobre os joelhos.


- O que vai acontecer agora? Você vai ter que se casar com a moça, obviamente.


- Obviamente.


- Você vai perder a sua posição por causa disso?


          Christopher apertou a testa. Ele não queria acreditar que tudo o que havia construído estava arruinado, mas não podia negar a verdade.


- Naturalmente. O primeiro-ministro não aceita escândalos. Esta é a Idade da Reforma, como você sabe.


- Sinto muito, Christopher. Sei que o seu trabalho significa tanto para você quanto o meu para mim, e sei o que é perdê-lo.


          Christopher abaixou a mão e se levantou.


- Só posso culpar a mim mesmo - disse ele, sentindo na boca o gosto amargo da desonra. - Conhecendo o príncipe Fernando, terei sorte se ele não mandar os carbinieri atrás de mim para me matarem.



          Anahí providenciou que Christopher fosse se encontrar com Dulce naquela tarde em uma saleta pouco usada que dava para a frente da casa. Enquanto esperava, ela ficou de pé perto das janelas, observando os hóspedes subirem nas carruagens e partirem. Felizmente, a maioria deles tinha decidido ir embora naquela tarde mesmo, para não prolongar o constrangimento.


          Dulce os observava irem embora enquanto bebericava um madeira que Anahí lhe havia dado para acalmar os nervos. Não estava adiantando muito, mas quando Christopher entrou na sala, ela olhou rapidamente para o rosto dele e virou toda a bebida doce de um só trago. Pois para o que tinha a dizer, ela precisava de toda a força que pudesse conseguir.


- Nós nos casaremos dentro de três semanas - disse ele antes de ela poder dizer alguma coisa. As palavras dele foram bruscas, e o rosto estava indecifrável. - Anahí me disse que você está disposta a se tornar anglicana, o que simplifica as coisas. Depois que eu conversar com seu pai, os proclamas serão feitos. O casamento será na capela ducal aqui em Tremore.


          Apesar de não haver nenhuma ternura na voz dele, o alívio a inundou ao ouvir as palavras de Christopher, um alívio tão enorme que ela sentiu os joelhos fraquejarem. Ela conhecia bem o senso de honra dele, e Anahí lhe havia garantido que aquelas eram as suas intenções, mas ela ficou muito contente de ouvi-lo dele mesmo.


- Obrigada.


- Vou para Londres hoje. Você fica aqui.


- Sim. Anahí me disse.


- Seu pai chega em dois dias, e eu tenho que lhe contar o que aconteceu. Pelo seu bem e, devo confessar, pelo meu, eu preferiria evitar isso. - O rosto dele se contorceu, revelando um pouco do seu constrangimento. - Já enfrentei muitas reuniões difíceis na vida, mas, para dizer a verdade, não sei como olhar um homem nos olhos e lhe dizer que eu violei a filha dele.


- Não faça isso! - gritou ela. - Não se censure dessa forma!


- Por que não? - O diplomata estava de volta, grave, frio e distante. - Não é nem mais nem menos do que eu mereço. Mas - prosseguiu ele antes que ela continuasse a protestar - as exigências do príncipe Fernando para um homem se casar com você fazem de mim um candidato totalmente inadequado. E a sua renúncia à fé católica o deixará furioso. A não ser que ele seja informado das exatas circunstâncias, ele nunca dará o seu consentimento.


- Sim - disse ela com um toque de ironia que, sabia, ele não entenderia. - Sei disso.


- Ótimo. - Ele se virou para sair. - A minha carruagem me espera.


- Não vá ainda, por favor - disse ela, e essas palavras o detiveram. - Antes de você ir, há uma coisa que eu tenho que lhe dizer. Algo que você deve saber sobre... sobre o que aconteceu entre nós.


- Acho que tenho uma lembrança muito clara do que aconteceu entre nós, obrigado.


- Christopher, o que eu tenho para lhe dizer é muito difícil. Por favor, não dificulte ainda mais as coisas para mim.


          O rosto dele ficou tenso.


- O que você quer me dizer?


          Ela juntou as mãos, levou-as à boca e rezou, pedindo serenidade. Isso era a coisa mais difícil que tinha feito na vida, porque sabia que ele a odiaria, mas tinha que lhe contar. Ela baixou as mãos, levantou a cabeça e olhou para ele.


- Eu tinha que fazer uma escolha - disse ela simplesmente. - E eu a fiz. Foi isso que aconteceu.


- O que você quer dizer? Você não tinha escolha. Eu tirei a escolha de você.


- Não, Christopher. Não tirou.


- Dulce, você não entende, até agora, o que eu fiz? Eu não consegui parar. - Ele expirou o ar com força. - Deus me ajude, eu não consegui me controlar.


- Compreendo perfeitamente. - A voz dela tremeu e ela se forçou a firmá-la. - Como eu disse, eu fiz a minha escolha. Eu escolhi você. Eu disse as coisas que disse na estufa porque sabia o que ia acontecer. Eu sabia que você me queria, e eu sabia que podia... - Ela parou e engoliu em seco. - Eu sabia que podia quebrar a sua resistência, Christopher. Foi o que eu fiz.


          Ele ficou olhando fixamente para ela, começando a compreender.


- Você queria que eu fizesse aquilo? Em nome de Deus, por quê?


- Para você se casar comigo. Eu sabia... - Ela fez uma pausa, lutando para não se encolher diante da condenação que endurecia os traços do rosto dele. Pelo menos agora ele a responsabilizaria totalmente e não condenaria a si mesmo. - Eu sabia que você insistiria em se casar comigo, e que quando meu pai ficasse sabendo o que você fez, ele não teria opção a não ser dar o seu consentimento. Então, como você vê, eu escolhi você.


          O silêncio era terrível. Parecia interminável. Quando ele falou, a voz dele era baixa, calma e mortal.


- Você me instigou de propósito, na esperança de que eu... - Um músculo saltou na mandíbula dele. - Você planejou esse resultado?


- Sim.


- Imagino que não lhe tenha ocorrido consultar-me sobre a questão antes para descobrir quais poderiam ser os meus desejos sobre me casar com você...


- Não. - Ela observou os olhos dele se cobrirem com o gelo dos lagos árticos. Eles estavam tão frios que ela tremeu por dentro. - Tive medo que você se recusasse. Apesar de o rubi ter sinalizado que você poderia ter... alguma estima por mim, eu sei que você não quer se casar. E mesmo que você... - A voz dela falhou e ela tentou de novo. - Mesmo que você gostasse de mim o suficiente para concordar, meu pai nunca consentiria, porque você não é católico e porque você não tem título de nobreza. Portanto, eu o incitei até o extremo, o estimulei a fazer o que fez. Agora meu pai tem que aceitar você como minha escolha porque estou arruinada e posso estar esperando um filho. Um... filho seu.


- Você me manipulou.


          A acusação em voz baixa era como uma chicotada, mas ela não recuou.


- Sim.


- Eu vou perder o cargo de embaixador.


- Eu não sabia que isso ia acontecer. - As emoções represadas a dominaram, e ela começou a tremer. - Sinto muito.


          Os olhos dele se apertaram.


- E Lady Belinda e Lorde Blair? Eles estavam ali para serem testemunhas?


          Ela olhou fixamente para ele à medida que entendia a implicação da pergunta.


- Ma insomma! - sussurrou. - Você acha que eu... que eu fiz com que eles fossem... você acha que eu tomei as providências para que eles nos vissem?


          Os olhos cinzentos e sem emoção a avaliavam.


- Tomou?


          Ela cobriu a boca com a mão trêmula, desanimada. Não lhe tinha ocorrido que ele pudesse pensar uma coisa dessas, mas não podia culpá-lo por isso.


- Não - respondeu, percebendo imediatamente que ele não acreditava nela. Por que ele acreditaria? As lágrimas que tinham ameaçado cair o dia todo começaram a jorrar e a rolar pelo rosto dela, e Dulce desejou ter nem que fosse uma fração do sangue frio dele.


          Christopher apertou os lábios até que se tornassem uma linha fina. Deu-lhe as costas e pegou o chapéu.


- Meu dever está claro. Serei seu noivo, como você queria. - Ele bateu com força o chapéu contra a mão aberta. - Mas você sempre consegue o que quer no final, não é mesmo?


          A amargura da voz dele era inequívoca. Ele se virou e saiu da sala, fechando a porta atrás de si. Dulce correu para a janela e, em meio às lágrimas, o viu subir na carruagem.


- Sinto muito, Christopher - sussurrou ela, finalmente dizendo a parte mais importante. - Sinto muito mesmo. Mas eu não poderia escolher nenhum outro. Eu não agüentaria dar a qualquer outro homem o direito de me tocar da forma como você me tocou.



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Autor(a): raaayp

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 592



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  • minhavidavondy Postado em 25/07/2016 - 14:19:52

    Maravilhosa,já li bastante.

  • stellabarcelos Postado em 27/11/2015 - 01:04:41

    Muito linda essa web! Já li duas vezes! Amooo

  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:05

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:04

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