Fanfic: Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.
Capítulo XVIII
O casamento de Christopher Uckermann e Miss Dulce Maria Saviñon se realizou cedo em uma manhã chuvosa de setembro, na capela ducal de Tremore Hall. A noiva usava um vestido de seda rosa-pálido, bordado com pequenas pérolas rosadas e brancas. Seguindo a tradição do seu país de origem, um véu lhe cobria a face. O noivo vestia um impecável terno azul-escuro. A mãe da noiva não estava presente, o que era apropriado. O pai da noiva também estava ausente, o que era compreensível. O duque de Tremore conduziu a noiva até o altar. Quanto à própria noiva, ela fazia o possível para não vomitar. Em três semanas a disposição de Christopher para perdoá-la não tinha melhorado - ou, se isso tivesse acontecido, Dulce não sabia, pois não tivera notícias dele. Anahí recebera uma breve carta confirmando o pior: apesar de não ter perdido a condição de cavaleiro, Christopher perdera a de embaixador. Ele tinha ido para Plumfield, sua propriedade em Devonshire, para preparar as coisas, e voltaria a Tremore tarde da noite anterior ao casamento. Naquele momento, ao começar a andar pela nave da igreja pelo braço do duque, Dulce viu o rosto de Christopher pela primeira vez em três semanas, e o achou exatamente tão duro e implacável quanto no dia em que ele partira.
Não conseguia decifrar nada do rosto dele. Quando os dois fizeram os votos, a voz dele estava grave e comedida. Quando ele levantou o véu da noiva, ela lhe sorriu, mas ele não retribuiu o sorriso.
Já marido e mulher, deixaram juntos a capela e lideraram o cortejo até a sala de jantar de Tremore, onde foi servida uma refeição matutina para os convidados. Enquanto andavam um ao lado do outro, Christopher não disse uma palavra, e Dulce tentou se encorajar com frases que vinha repetindo havia dias. Tudo iria dar certo. Ele acabaria entendendo os motivos por que ela tinha feito aquilo. Seria uma boa esposa para ele. Ele ficaria satisfeito e não lamentaria a perda da carreira. Ele aprenderia a amá-la. Ela o amava. Isso, pelo menos, era verdade. O resto parecia um arrazoado fundamentado apenas nos seus desejos e não na realidade.
A viagem até Plumfield levaria dez horas, porque Christopher não queria fazer uma escala para pernoitar, o que levou os recém-casados a partirem imediatamente depois da comemoração. Dulce ficou satisfeita com isso, porque a refeição foi uma cerimônia muito complicada. O brinde de praxe pela saúde dos noivos foi feito pelo padrinho de Christopher, um certo Lorde Stanton. Ele a examinava minuciosamente toda vez que ela por acaso olhava para ele, o que era enervante. Os hóspedes somavam não mais do que uma dúzia e, apesar de Maite ser uma anfitriã soberba, a conversa foi formal, na melhor das hipóteses. Afinal de contas, o que havia para se dizer?
Seu marido parecia ser dessa mesma opinião.
Enquanto a carruagem que os levaria para Devonshire atravessava a zona rural, o silêncio era como um muro entre eles. Dulce sabia que teria que encontrar uma forma de romper aquele muro, e resolveu começar a tentar.
- Então, a nossa casa se chama Plumfield... campo de ameixas. Nós cultivamos ameixas?
- Sim. Ameixas, peras, maçãs. E há agricultores arrendatários, naturalmente.
Ele se inclinou, tirou uma pasta de viagem que guardara debaixo do banco, puxou um jornal e pôs a pasta de volta no mesmo lugar. Abriu o jornal diante do rosto - uma evidência visível do muro. Como se ela precisasse de evidências.
Ela tentou novamente:
- Como é Devonshire? - Olhou para o campo molhado de chuva. - É assim? Tudo verde e bonito?
- Uma parte, sim.
- Como é a nossa casa?
- Você verá quando chegarmos.
O silêncio se instalou novamente, e os minutos foram se passando sem nenhuma palavra. Não havia dúvida de que a conversação não estava funcionando. Ela mudou de tática.
-Christopher?
- Sim, Dulce?
Ela bocejou.
- Estou com muito sono.
Ele virou uma página.
- Dê uma cochilada.
- Não tenho travesseiro.
Ouviu-se um suspiro fundo do outro lado do Times. Ele baixou o jornal e olhou para ela. Ela olhou para ele, aguardando, esperando que ele entendesse a sugestão.
Ele entendeu, mas não parecia nem um pouco feliz com ela. Levantou-se rigidamente do banco em que estava e se sentou ao lado dela, oferecendo-lhe o ombro.
- Obrigada - disse ela, enrolando um braço ao redor da cintura dele, e ficou em silêncio.
Enquanto eles viajavam para Devonshire, ele leu o jornal, e ela não fez novas tentativas de conversar. Experimentou com prazer a sólida força do ombro dele sob o seu rosto, dizendo a si mesma que nem mesmo os muros de pedra são impenetráveis e podem ser lascados, pedacinho por pedacinho.
Ela o amava. Esse amor e um lugar que pudesse chamar de lar eram o suficiente para ela, mas sabia que não eram suficientes para ele. Estava determinada a encontrar uma forma de mudar isso.
Implacável - Christopher a tinha chamado de implacável uma vez. Ela achava que devia ser mesmo, porque tentaria implacavelmente compensá-lo pelo que lhe tinha feito. E havia muito a compensar. Ela havia arruinado a carreira dele, a coisa que mais lhe importava no mundo. Pior ainda, tinha feito com que ele - o mais honrado e discreto dos homens - fosse vítima de desgraça e humilhação públicas. Não o fizera com essa intenção, mas isso acontecera por causa dela.
Dulce sabia o que devia ter custado a Christopher enfrentar o pai dela, agüentar as fofocas, abrir mão do seu trabalho. Poderia levar o resto da vida, mas ela jurou que o faria feliz. Ia fazer com que ele ficasse contente de ter se casado com ela. Aquela noite, decidiu ela enquanto adormecia contra o ombro dele, seria uma perfeita ocasião para começar.
Sua esposa. Uma esposa, ele lembrou a si mesmo, que tinha lhe custado caro. Christopher fechou os olhos e descansou a cabeça no encosto estofado da carruagem. A fúria de Fernando tinha sido digna de se ver. Se houvesse uma pistola ou uma faca perto do príncipe quando o ouviu explicar a situação comprometedora que se havia criado, Christopher sabia que estaria morto naquele momento. O príncipe, que antes o considerava um amigo de confiança, olhara para ele com desprezo e o chamara de animal. E tinha razão. Exigira que o governo britânico revogasse a posição de embaixador de Christopher. Isso fora feito. Agora ele estava totalmente sem chão. Privado da única coisa que tinha dado significado à sua vida, Christopher não sabia o que iria fazer a partir de então. Ao contemplar a vida que se estendia diante dele, o coração lhe pesava feito chumbo. Depois de mais de uma década no corpo diplomático, Christopher não podia deixar de considerar a vida de um proprietário rural como uma existência vazia e sem propósito, cheia de infindáveis corridas de cavalo e caças à raposa, bailes do condado e temporadas em Londres. Ele abriu os olhos e passou o dedo na beira do jornal dobrado. Costumava ler os principais jornais ingleses e europeus todos os dias, estivesse onde estivesse. Não fazer isso era tão impensável para ele quanto usar camisas sem engomar ou ir a um jantar sem se barbear. Mesmo então, quando o seu mundo havia se estreitado e estava reduzido a uma pequena fatia da zona rural de Devonshire, Christopher ainda se importava com as questões mundiais. Não conseguia aceitar que não fazia mais parte delas. Dulce se mexeu durante o sono, e ele olhou rapidamente para ela. Ela estava enrolada no banco da forma mais desajeitada, com a cabeça comprimida contra o ombro dele. Se ficasse naquela posição teria um torcicolo, os músculos ficariam doloridos e provavelmente acordaria com dor de cabeça. Christopher suspirou e jogou o Times no banco à sua frente. Com cuidado para não acordá-la, ele a puxou para o seu colo e pôs um braço ao redor dos ombros dela, para lhe sustentar as costas. Ela suspirou, esticou as pernas no banco e aconchegou o rosto contra a cavidade do ombro dele. Enquanto ela dormia, Christopher olhou pela janela para um trecho da campina inglesa. Inalou o cheiro de flor de macieira do cabelo de sua mulher e tentou não se importar com o que estava acontecendo em Constantinopla. Parecia que ela ia passar a noite de núpcias sozinha. Dulce ficou parada de pé no seu quarto, surpresa, desanimada e muito magoada. O casamento deles começara mal, mas durante as três semanas anteriores, a única coisa sobre a qual ela não tinha dúvida era sobre o desejo de Christopher por ela. Ficou olhando a porta de ligação entre os quartos, e sentiu-se tentada a atravessá-la resolutamente, jogá-lo na cama e beijá-lo até que ele não pudesse mais lhe resistir. Depois de bater levemente na porta, uma criada entrou com uma chaleira de água fumegante, toalhas frescas e sabonetes. - Com licença, senhora - disse com uma mesura a mulher, que tinha mais ou menos a idade dela -, o amo me mandou para atendê-la. Meu nome é Nan Jones. A criada cruzou o quarto e despejou a água em uma tigela de porcelana que estava sobre a penteadeira, colocou os sabonetes ao lado e se voltou para ela. - Espero que a senhora goste do seu quarto - disse ela timidamente. - Mrs. Wells, a governanta - a senhora a conheceu hoje, madame -, escolheu todos os tecidos e os objetos. Nós é que arrumamos o quarto. Dulce olhou ao redor. As lâmpadas tinham sido acesas e lançavam uma luz fraca sobre as paredes, pintadas de amarelo-claro. Uma cama de carvalho entalhado, com roupas de cama e travesseiros cor de marfim, era coberta por um dossel em formato de coroa em veludo amarelo-dourado e flanqueada por dois criados-mudos. As cortinas da cama estavam amarradas aos quatro pilares de apoio do dossel com fitas de seda cor de marfim. Em frente da cama havia uma chaise longue com listras douradas e brancas. O quarto era grande e tinha não apenas um closet, mas também um par de imensos guarda-roupas com painéis pintados em estilo italiano. Duas poltronas confortáveis e estofadas em chintz estampado ficavam em frente à lareira de mármore-de-siena. O chão era coberto por um tapete de tons marrom-claros, ouro-claro e vermelho - escuros. - É adorável - disse ela, sorrindo. - Eu não mudaria nada. - Oh, Mrs. Wells vai ficar tão contente! O amo nos disse que ia se casar quando veio para cá há três semanas, e ficamos tão surpresos que mal podíamos acreditar. Como ele passa muito tempo no exterior, já tínhamos desistido de ter uma patroa aqui em Plumfield. O amo disse que amarelo é a sua cor favorita, e que ele queria que o seu quarto fosse decorado assim antes de trazê-la para casa. - Lorde Christopher redecorou o quarto para mim? - perguntou ela, e a esperança lhe aqueceu o coração. - Sim senhora. Era azul antes. - Ela foi até um dos guarda-roupas e abriu uma das portas. - A senhora gostaria de pôr as roupas da noite e se lavar antes de ir para a cama? - Sim, obrigada, Nan. - A criada a ajudou a tirar as roupas e a vestir uma das camisolas macias e rendadas do seu enxoval. Enquanto ela fechava os botões, Dulce perguntou: - Você vai ser a minha criada permanente? A pergunta deixou a moça agitada. - Oh, madame, eu sou apenas a primeira-copeira. Nunca fui criada de uma senhora. Essa função não existe em Plumfield desde a morte da mãe do amo, e isso aconteceu muito antes do meu tempo. O amo mandou me buscar para servi-la, mas ele achou que mais tarde a senhora iria querer escolher a sua própria criada. Dulce a estudou por um momento. - Você gostaria de me servir definitivamente, Nan? - Ah, gostaria sim! Obrigada, madame. Gostaria muito. - O rosto dela brilhou com tanto prazer que Dulce riu. Enquanto Nan juntava as suas roupas de viagem para levar para a lavanderia, Dulce foi até a penteadeira. Molhou o rosto e, ao ensaboá-lo, sentiu o cheiro de botões de macieira. Seu perfume favorito. - Meu marido também deu instruções sobre o sabonete? -perguntou. - Sim, madame. - Nan riu. - Nós fazemos sabonete de botões de macieira aqui, de forma que há bastante. Também fazemos sabonete de óleo de pêra, mas ele disse que nada de pêra, só maçã no seu quarto. Ele foi muito firme quanto a isso. Com essas palavras, Dulce se animou mais um pouquinho. Através do espelho, ficou olhando o reflexo das portas fechadas entre o quarto dela e o de Christopher e desistiu do seu plano anterior. Apesar de não ter planejado passar a noite de núpcias sozinha, essa circunstância poderia vir a lhe ser útil. Nada incentivava mais o apetite do que a expectativa e a imaginação. Dulce decidiu que a primeira coisa que ia fazer no dia seguinte seria começar a estimular o apetite do seu marido por ela.
Era intolerável. Não havia como um homem poder ler um jornal em paz quando sua mulher estava usando o seu ombro como travesseiro e o braço dela estava ao redor da sua cintura. Era algo que desviava demais a atenção. Mesmo agora, depois que tudo tinha acontecido, o toque dela conseguia deixá-lo excitado em um instante.
Dulce esperava que a noite de núpcias lhe desse a oportunidade de fazer Christopher feliz, mas seu plano se frustrou logo de começo. Eles chegaram a Plumfield por volta das onze da noite. Depois de uma apresentação rápida aos criados mais graduados e de uma ceia tardia, Christopher a levou para o quarto dela. Comentou que ela deveria estar muito cansada depois da viagem, disse que a veria pela manhã, deu-lhe um beijo de boa-noite - na testa - e foi dormir nos aposentos ao lado, em seu próprio quarto.
Autor(a): raaayp
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Christopher era por natureza uma pessoa que se levantava cedo. Tinha estabelecido uma rotina para si mesmo e para sua casa quando se encontrava em Plumfield: levantava-se às sete, fazia uma cavalgada, tomava café-da-manhã às nove e lia o jornal da manhã. ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 592
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minhavidavondy Postado em 25/07/2016 - 14:19:52
Maravilhosa,já li bastante.
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stellabarcelos Postado em 27/11/2015 - 01:04:41
Muito linda essa web! Já li duas vezes! Amooo
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maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06
A web foi perfeita, vou sentir saudades dela...posta maissssssssssssss:)
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maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06
A web foi perfeita, vou sentir saudades dela...posta maissssssssssssss:)
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maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:05
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maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:04
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