Fanfics Brasil - Capítulo II - Parte I Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.

Fanfic: Muito Mais Que Uma Princesa. [Vondy] / Terminada.


Capítulo: Capítulo II - Parte I

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                                      Capítulo II




          Ele não era nem um pouco como ela havia imaginado. Enquanto descia a escada, Dulce pensou em Christopher Uckermann como um sujeitinho melífluo com cara de doninha, do tipo que se derretia em charme e dizia frases meladas com o objetivo de acalmar o interlocutor, mas que não significavam nada. Ao ver o diplomata britânico de pé ao lado da estante, porém, ela parou abruptamente. Não era melífluo e não tinha nada de pequeno. Dulce era mais alta que muitos homens, mas não que aquele. Os ombros e o peito largos destacavam o caimento impecável do colete listrado e do paletó bege. Calças azul-escuras de talhe exato cobriam seus quadris magros e as longas pernas. A camisa de linho e o lenço de seda no pescoço eram de um branco impecável. Olhando para ele, Dulce teve um ímpeto quase irresistível de desarrumar o seu cabelo escuro perfeitamente penteado e desfazer o nó perfeito da gravata.
 
          Ele provavelmente não gostaria de nada disso, pensou ela ao entrar na sala. O traço duro no queixo sinalizava resolução e disciplina. Ele não teria paciência com esse tipo de brincadeira, o que tornava ainda mais tentador o impulso de desarrumá-lo. Ela teve que admitir que ele era bem bonito para um inglês, e o seu ardente coração italiano não podia deixar de aprovar aquela esplêndida masculinidade. Mas ao olhar nos olhos dele, a aprovação feminina momentânea se evaporou imediatamente.


          Apesar de os cílios serem espessos e longos, os olhos em si eram uma tragédia. Olhos frios, de um cinza impessoal, que falavam de uma natureza frígida - olhos que a estudavam com uma impassibilidade que era quase um insulto. O que era ela, um espécime em um microscópio? Era uma grande pena que um homem assim tivesse olhos nos quais não se via um lampejo de paixão.


- Christopher Uckermann - disse ele com o sotaque da elite inglesa. - Como tem passado, Miss Saviñon?


          A menção ao nome dela - o nome que o pai finalmente fora forçado a lhe dar - era um lembrete do objetivo daquela visita. Ele se inclinou, e ela respondeu com uma mesura que não passava de um leve dobrar de joelhos. Dulce se dirigiu para um sofá de sarja azul e marfim, sentou-se e fez um gesto para que ele se sentasse na cadeira à sua frente.


- Sei que o senhor veio ver minha mãe, mas ela não pode recebê-lo neste momento. O senhor terá que se contentar comigo.


- Eu não descreveria a sua companhia como algo com que tenho que me contentar - disse ele, com a polidez do cargo. - Mas lamento que sua mãe não possa me receber. Tinham me informado que ela estaria aguardando a minha chegada.


- Ela se esqueceu do senhor - Dulce teve o prazer de informá-lo. - A modista está ajustando ao corpo dela um novo traje de montaria, e qualquer pensamento sobre o senhor lhe fugiu da cabeça.


- Perfeitamente compreensível quando uma mulher está com sua modista - disse ele com um sorriso encantador, mas que não chegou aos olhos frios. - Podemos esperar que ela se junte a nós?


- Humm... - Dulce inclinou a cabeça, fazendo de conta que estava pensando no assunto. - Difícil saber. A modista está costurando as partes diretamente sobre o corpo dela. Essa é a única forma de fazer com que o traje fique suficientemente justo de forma a causar sensação, o senhor compreende.


          Um canto da boca dele se curvou para baixo só um pouquinho, em uma sugestão mínima da opinião que ele tinha sobre isso.


- Entendo.


          Aquela censura à sua mamma, ainda que muito leve, deu a Dulce mais desejo ainda de alfinetá-lo.


- Oh, meu Deus, creio que o cavalheiro desaprova - murmurou ela, afetando o sotaque britânico. Ela virou a cabeça para um lado, como se estivesse falando com uma terceira pessoa, e continuou: - Totalmente inadequado que uma mulher use um traje desses em público. Ela tem corpo para isso, garanto-lhe, e isso faz com que fique ainda mais indecente. O senhor acha que ela está com roupa de baixo?


          Virando-se para o outro lado, ela continuou, como que respondendo:


- Não é possível. Nua por baixo como no dia em que nasceu, aposto. Que combinação ou anágua caberia debaixo daquilo? - Diante da falta de reação de Christopher a essa zombaria, ela decidiu abandonar sua companhia imaginária e voltou a atenção para ele. - Por que o senhor desejava ver minha mãe? O motivo de praxe pelo qual os homens a visitam, suponho?


- Eu vim ver as duas.


- Nós duas? Ao mesmo tempo? - Ela deu o sorriso mais provocante possível. - Nenhum homem jamais quis isso antes. Que homem mais pervertido é o senhor, Christopher, para fazer essa sugestão tão interessante...


          Ele ficou tenso, e os ombros largos se curvaram quase imperceptivelmente.


- Espero que a senhorita ache a minha sugestão interessante quando parar de fazer suposições e se inteirar sobre o assunto que me traz aqui.


          Dulce fez uma careta.


- Julgando pelo seu semblante, duvido muito. Diga-me, o senhor é sempre assim tão arrogante?


- E a senhorita é sempre assim tão impudente?


- Temo que sim - disse ela sem se desculpar. - Especialmente com homens arrogantes. Como o senhor não vai me contar por que veio aqui, terei que adivinhar. - Ela pôs a mão no bolso da saia e tirou o cartão dele. - Christopher Uckermaan - leu -, G. C. M. G. Embaixador de... - Ela parou e olhou para ele. - O que significam essas letras?


- Sua Majestade, o rei, teve a benevolência de me conceder o título de cavaleiro, a Grande Cruz da Ordem de São Miguel e São Jorge.


- Isso parece majestoso. Para justificar um visitante assim, devo ser mais importante para o meu pai do que eu pensava. - Ela levantou o cartão novamente e continuou: - Embaixador de Sua Majestade Britânica, o rei Guilherme IV Providenciador de alianças matrimoniais que não são da conta dele, destruidor da felicidade de princesas e pessoa que resolve os problemas inconvenientes dos príncipes.


          Ela piscou para ele e lhe deu um sorriso travesso.


- Não tenho dúvida - continuou ela, enfiando o cartão dele entre os seios - de que eu sou o problema mais inconveniente do príncipe Fernando. Pelo menos, espero que sim. - Deixando apenas um cantinho de nada do cartão aparecendo, ela se recostou no sofá, observando a reação dele.


          Não houve nenhuma reação. A fisionomia impassível do diplomata não mudou, mas a desaprovação pelas maneiras ousadas dela em relação a ele estava bem clara. Christopher Uckermann, concluiu ela, não tinha senso de humor.


- Pelos títulos fictícios que a senhorita me conferiu, só posso concluir que a senhorita sabe que o propósito da minha visita aqui para a sua mãe não é o "motivo de praxe" - disse ele. Antes de ela poder responder, ele continuou: - Mas a senhorita está certa ao supor que vim aqui a pedido do seu pai, o príncipe Fernando. E também por ordem do meu governo.


          Tinham final chegado ao centro da questão. Estava na hora de falar a sério.


- Ah, os ingleses também se intrometeram neste caso.


- O seu pai ordenou que a senhorita se case e pediu a assistência do meu governo para encontrar um marido britânico para a senhorita. Fui designado para a tarefa de fazer isso e de negociar os termos do acordo do seu casamento.


          Dulce pensou em todas as vezes em que fora jogada de um lugar para outro.


- Sì - disse ela com um gesto de cabeça. - Agora que eu não posso mais ser escondida em alguma escola, convento ou palácio, ele tem que se livrar de mim por meio de um casamento.


- Lamento que a senhorita veja a questão sob uma luz tão desfavorável.


- Mas de que outra forma eu poderia vê-la? - Antes que ele pudesse responder, ela continuou: - E incompreensível, eu sei, mas não vejo necessidade de me casar simplesmente para poupar meu pai de qualquer constrangimento.


- A maior parte das jovens está ansiosa para se casar.


- É verdade - concordou ela. - E a maioria de nós tem a estranha idéia de que deveríamos escolher os nossos próprios cônjuges e não aceitar que eles sejam selecionados para nós por diplomatas.


- A senhorita é filha de um príncipe. Ilegítima e, portanto, sem o título, mas, não obstante, de sangue real. O seu pai a reconheceu publicamente como filha...


- Apenas porque, ao me dar o seu nome, ele pode me usar como um peão na política internacional. Agora, parece que eu sou suficientemente importante para ter o meu próprio casamenteiro.


- E esse reconhecimento - continuou ele, como se ela não tivesse dito nada - implica que a senhorita tem determinados deveres. Um desses deveres é se casar bem e adequadamente.


          Dulce ficou de pelo em pé ao ouvir isso.


- E os deveres do meu pai em relação a mim? Fernando me escondeu como a um segredo sórdido, terminando por me pôr em um convento. As freiras me batiam. O meu quarto não tinha janelas. - Ela tremeu. - Havia ratos.


- O seu pai lamenta profundamente essa ação.


- Aposto que sim. Agora que eu estou fora do alcance dele.


          Alguma coisa se agitou naqueles olhos frios, talvez impaciência.


- Minha jovem, a senhorita não estará nunca fora do alcance dele. O fato de eu estar aqui é prova disso. Se o príncipe Fernando pedisse que o meu governo entregasse a senhorita a ele, nós o faríamos imediatamente, e os homens da Guarda Escocesa estariam aqui para escoltá-la até o próximo navio. Mas seu pai decidiu que arranjar um casamento para a senhorita é o melhor caminho, e, no interesse da aliança, prefere um cavalheiro britânico.


- E se eu não tiver a mesma preferência?


- Lamento que as ordens que recebi de lhe encontrar um marido não incluam levar em consideração as suas preferências, Miss Saviñon. Mas a senhorita tem a garantia de que será um católico.


          A religião dele não a preocupava. Se o pai dela e esse diplomata achavam que ela ia se casar com um homem escolhido por eles e não por ela mesma, estavam redondamente enganados. Ela não era Zoraida, e não aceitava intimidação.


- Que alívio saber que um homem está encarregado do meu futuro - murmurou ela, pressionando a mão contra a testa. - A pressão de escolher o meu próprio parceiro de casamento poderia se provar um esforço grande demais para a minha pobre e confusa mente feminina. Quem é o feliz noivo?


- Não tenho em mente ninguém específico por enquanto, mas ele será um nobre, um cavalheiro de boa linhagem, com histórico e conexões impecáveis. Além disso...


- E o amor?


          Ele nem piscou.


- A minha mais sincera esperança é que a senhorita desenvolva uma afeição por qualquer cavalheiro que seja escolhido para a senhorita.


          Era uma resposta tão absurda que ela sentiu vontade de rir, mas a conduta séria do homem que estava à sua frente deixou claro que não se tratava de uma piada.


- Eu não perguntei sobre afeição - disse ela. - Eu perguntei sobre amor.


- O amor de verdade leva tempo para se desenvolver, e nós não podemos nos dar a esse luxo. Já estamos em meados de junho, e o seu pai chegará a Londres para uma visita estatal em agosto. As minhas ordens são para ter um parceiro para se casar com a senhorita até a chegada dele, um parceiro adequado e que deseje se casar com a senhorita.


          Chocada, Dulce só conseguia olhar fixamente para ele.


- Seis semanas? Como posso encontrar um homem e me comprometer a me casar com ele nas próximas seis semanas?


- Dada a sua situação, o tempo é essencial. Os desejos do seu pai são claros. Além disso, tenho deveres em outros lugares, e a senhorita...


- Eu devo ser empurrada às pressas para o matrimônio de forma a não interferir com a programação do meu pai e os deveres do senhor?


          Ele a encarou com olhos frios e duros como o aço.


- Não, a senhorita está sendo empurrada às pressas para o matrimônio devido ao seu próprio comportamento indiscreto, que poderia ter arruinado não apenas a senhorita, mas também a sua meia-irmã.


          Aquilo doeu, principalmente porque ela não poderia negar. Dulce apertou os lábios e não disse nada.


- A notícia da sua façanha com a princesa Zoraida já apareceu em um jornal italiano especializado em escândalos - continuou ele. - É inevitável que a notícia acabe chegando aqui. Esperamos que as suas imprudências passadas, inclusive a sua ligação com um ferreiro francês, não venham à luz.


          Era inútil explicar para aquele homem que ela havia amado Armand. Ele não entenderia. Ela apostava que ele nunca tinha se apaixonado em toda a vida.


- Aonde o senhor quer chegar?


- Os rumores têm a infeliz tendência de crescer e se alimentar até não sobrar nem sombra de verdade. A única forma de isso não ter importância é a senhorita se casar o mais rapidamente possível, e se casar bem. Seu pai está oferecendo um generoso dote e uma renda anual para a senhorita e seus filhos, o que ajuda. Além disso, estamos em plena temporada de verão em Londres, o que quer dizer que há muitos cavalheiros convenientes na cidade que poderão ter a oportunidade de conhecê-la.


          A cada palavra que ele dizia impassivelmente, Dulce sentia a sua ira crescer.


- Não estou para ser exibida diante de uma platéia de homens enquanto o senhor escolhe um suficientemente desesperado e ganancioso o bastante para me tomar das mãos do meu pai pelo preço de um dote e uma renda! Eu... - Ela se interrompeu, sufocada pela raiva e pela humilhação. Engoliu com dificuldade, tentando recuperar a compostura, mas era impossível. - Eu não estou para ser vendida, nem mesmo doada. Nenhum homem tem que ser pago para me levar embora. Não é de admirar que o senhor só precise de seis semanas.


          Nem um músculo se moveu no rosto do homem. Dulce concluiu que ele não era exatamente humano. Feito de mármore, talvez, mas, definitivamente, não era humano.


- Percebo o seu ressentimento, e ele é compreensível - disse ele. - Entretanto, a senhorita será exibida em qualquer lugar. Antes de aceitar uma aliança, qualquer homem vai querer passar algum tempo com a senhora e conhecê-la. Não é raro que uma jovem leve um dote e uma renda para o casamento. E, quanto à questão do tempo, nós já discutimos isso. As exigências do seu pai são claras...


- Fernando nunca se importou comigo. Vi meu pai umas seis vezes em toda a minha vida. Quem é ele para dizer que eu devo me casar? E quem é o senhor para ser o seu ministro da aliança? O que dá a qualquer um dos senhores o direito de me dar ordens ou de controlar a minha vida?


          Christopher olhou para ela com a expressão paciente de um adulto que tolera um acesso de raiva de uma criança petulante, o que só serviu para enfurecê-la ainda mais.



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Autor(a): raaayp

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- Enquanto a senhorita trava conhecimento com um cavalheiro adequado - disse ele com uma calma enfurecedora -, eu farei o que puder para conter o dano e evitar que a sua reputação seja maculada aqui na Grã-Bretanha. Entretanto, de agora em diante, a senhorita deve ter um comportamento impecável. Dada a sua ilegitimidade, a sua mãe e o seu p ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 592



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  • minhavidavondy Postado em 25/07/2016 - 14:19:52

    Maravilhosa,já li bastante.

  • stellabarcelos Postado em 27/11/2015 - 01:04:41

    Muito linda essa web! Já li duas vezes! Amooo

  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:06

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:05

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  • maby Postado em 27/10/2011 - 22:51:04

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