Fanfic: Completamente parecidos! (TERMINADA)
Capítulo 3.
Roubo.
Sandrieli atravessou a
rua, e abriu a porta do velho Cadillac amarelo que conquistara há dois dias.
Irritada, entrou no veículo, pôs o cinto de segurança e tirou o carro da vaga.
Sem olhar para os lados, não reparou que Dean acabara de sair do pub com a
camisa xadrez imunda de vômito. Ele repetiu palavrões de todas as espécies e
línguas que conhecia. E, ao descobrir que Samuel fora embora com o Fusca, disse
mais um que nem sabia se existia.
Ele fechou o zíper do
casaco para esconder a sujeira e decidiu caminhar até achar um táxi. Foi
andando, chutando tampas de garrafa. Dobrou na esquina e de repente foi forçado
a parar.
Dois homens altos e
musculosos o cercaram, um prendera seu braço e curvava o tronco dele para a
frente, o outro imobilizara seu pescoço com a lâmina de um canivete.
- Passa tudo, passa tudo,
irmão! - e lhe aplicou um murro na cabeça.
- M-Meu celular f-ficou no
carro...
- Que carro, retardado,
você está a pé!
- No c-carro do meu amigo.
- Ok, dinheiro, passa o
dinheiro!
- Tá no meu b-bol...
Dean felizmente não
terminou a frase, porque um carro iluminara a esquina com os faróis e seu
passageiro saíra do veículo e vinha em direção à eles.
O motorista socara o nariz
do homem que imobilizara o braço de Dean, e aplicou spray de pimenta nos olhos
do assaltante que prendera o pescoço do rapaz. O socado cambaleou, o motorista
deu uma joelhada nas partes íntimas do homem, em seguida chutou o abdômen do
segundo.
Dean encostara-se na
parede da loja de cosméticos da esquina, assistindo a cena com os olhos
apertados por conta das luzes do farol. O motorista ainda socou e chutou os
dois homens que agora estavam caídos, e aplicou spray de pimenta nos olhos do
assaltante que ainda não tinha experimentado a ardência. Os dois homens se
levantaram e fugiram com os olhos fechados.
Dean fechara os olhos e
massageava a parte da cabeça atingida.
- Você está bem? - o
motorista perguntou, a voz rouca. E Dean percebeu pela voz que não era um
motorista, era uma motorista. Ele abriu os olhos lentamente, se apoiou na
calçada e se levantou.
- Ah, eu não acredito! - a
motorista disse.
- Nem eu! - Dean retrucou,
arregalando os olhos e recobrando a consciência. O galo em sua cabeça parecia
crescer na velocidade de um balão. Sandrieli cruzara os braços e assistia o
rapaz massagear a cabeça.
- Qual é! - os dois
disseram em uníssono. Sandrieli entrou no Cadillac e pôs o cinto de segurança.
Passou a marcha quando Dean protestou, apoiando as mãos na porta do carro.
- Qual é, Sandrieli, você
vai me deixar sozinho?!
- E o que você quer que eu
faça?
- Sei lá, você podia... Me
dar uma carona, pelo menos? Levei uma pancada bruta, olha só - ele pegou a mão
de Sandrieli do volante e forçou a ponta dos dedos dela contra o galo em sua
cabeça. Ela o olhou, e riu pelo nariz.
- Deve ter afetado seu
cérebro. Não que ele já não seja afetado de fábrica.
- Vai me dar carona ou
não?
- Entra aí, imbecil.
- Obrigado – ele contornou
o carro e entrou no Cadillac sem abrir a porta. Ela deu a partida e perguntou:
- Nós precisamos...
Conversar?
- Não.
- Ok, mas vou conversar do
mesmo jeito. Você sabe que acabou de ser salvo por mim, que sou mulher, mais
baixa, mais magra e mais nova? E além de tudo, nos odiamos?
- Quando você fala parece
bem pior.
- Quando você analisar
direito a situação vai me entender.
- Ok, depois eu faço isso,
mas onde você aprendeu a lutar? - ela acabara de tirar um soco inglês dos
dedos.
- Faço boxe.
- Estranho você nunca ter
usado isso contra mim.
- Nunca é tarde demais.
- Fiquei com medo agora.
- Isso é bom. Quem sabe
assim você não decide parar de me perseguir.
- Eu não te persigo, mas a
gente decide sempre aparecer nos mesmos horários e lugares.
- A-ha, se eu pudesse decidir
essas coincidências, com certeza faria o oposto. Faria tudo para nunca mais ter
que olhar na sua cara.
- Dobre à direita... -
Dean fez uma longa pausa - Isso é muito estranho.
- O que é estranho?
- Se você analisar
direito, parece que gostamos das mesmas coisas.
- Cala a boca, idiota - e
riu.
- O motivo da risada é...
- Pode ser que eu ache uma
hipótese ridícula ou pode ser que eu ache que realmente faz sentido e estou
feliz por isso.
- A primeira combina mais.
- Mas a segunda faz mais
sentido, se fosse a primeira eu diria na sua cara.
- Você está feliz em
descobrir que eu gosto das coisas que você gosta?
- Vou começar a gostar de
cortar os pulsos, então.
- Você é patética.
- Cale a boca, você sabe
que isso é algo que você diria.
- Pode ser que sim, pode
ser que não.
- Nós dois sabemos a
verdade.
- Você é definitivamente
patética.
- Dois a zero, Dean.
- Absolutamente patética.
- Três.
Os dois silenciaram e
ficaram fitando o sinal vermelho. Depois de algum tempo Sandrieli ligou o som,
que começou a tocar Matinée, do Franz Ferdinand. E por um segundo os dois
perceberam que aquela música combinava um pouco com os dois, mas essa impressão
foi quebrada antes que se tornasse algo relevante.
- Ah, e agora você vai
dizer que gosta de Franz Ferdinand - retrucou Dean.
- Eu não só gosto, eu amo.
- Ah, e agora você vai
dizer que tem coração!
- Você é patético.
- Franz Ferdinand é muito
nobre para uma pessoa que sai batendo em todo mundo que vem pela frente.
- Franz Ferdinand é muito
nobre para uma pessoa que deixa ser defendido por uma garota que é sua inimiga.
- Olha só, eu nem sabia
que era mulher, quanto mais você!
- Olha só, eu nem recebi
um “Obrigado” sequer!
- OBRIGADO! OBRIGADO,
MUITO obrigado.
- Olha aqui, cara, não
fica usando seu sarcasmo irritante comigo não, tá. EU te poupei de uma boa
surra, mas acho que se eu me arrepender eu não me importaria em completar o
serviço daqueles caras.
- Ok. Ah, quer saber, se
você quiser me matar aqui de pancada e me deixar numa lata de lixo, por favor
não se acanhe.
- Você duvida?
- Claro que não. Mas
podia, por favor, parar ali logo, eu quero sair.
- Ah, isso seria genial.
Seria realmente maravilhoso! - Sandrieli deu uma guinada na direção e apertou a
buzina com o cotovelo, sem querer. A buzina ecoou no instante, porém o som
agudo continuou enquanto Sandrieli parava o Cadillac próximo à calçada.
Estavam em uma rua
deserta, em frente a uma fábrica abandonada e o comércio fechado.
- Dá pra parar? - pediu
Dean.
- Dá sim, estou fazendo de
propósito! - ironizou Sandrieli.
- Ah, Deus, que diabos é
que estou fazendo aqui... -Dean pulou para fora do veículo e abriu o capô.
Sandrieli saiu e se postou
ao lado dele usando o celular como lanterna.
Dean pôs a mão em um
cantinho apertado do motor e puxou um fiozinho vermelho, fazendo a buzina calar
instantaneamente.
- Obrigada - ela murmurou,
fechando o capô.
- Por nada - ele respondeu
em voz baixa. Apanhou o casaco do banco e começou a andar, enquanto Sandrieli
ligava o carro.
- Você não vai querer
carona? - ela perguntou, andando lentamente com o carro, acompanhando os passos
de Dean.
- Não.
- Mas é que...
- Não!
- Sério...
- Não, Sandrieli, NÃO! Eu
não quero mais brigar! CHEGA disso, eu detesto isso, chega dessas brigas
idiotas, CHEGA! Eu NÃO gosto de você e você não gosta de mim, estamos bem
assim, CHEGA!
Ela desceu do veículo e
ficou na frente dele, com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu também não gosto de
brigar. Mas se você pensar um pouco, talvez você nunca encontre um motivo
convincente dessas brigas. E só te ofereci uma carona, não precisa dizer que me
odeia por causa disso. Me desculpe se eu estraguei sua noite.
Ela
tornou a entrar no carro e partiu.
Autor(a): Sandrieli Ribeiro
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Capítulo 4. Drama. Na manhã de segunda-feira, Sandrieli acordou com bom-humor, mas muito silenciosa. Se arrumou com calma, até trocou de blusa três vezes, tomou uma boa xícara de cappuccino, juntou todos os materiais, penteou o cabelo, escovou os dentes conforme o dentista manda, e conseguiu chegar limpa e seca ao colé ...
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