Fanfic: História de um Grande Amor - adaptada. (vondy) | Tema: Rebelde
Capítulo I
Christopher Uckermann, mais conhecido como Ucker pelos que não pretendiam desagradá-lo, era esperto e inteligente.
Lia latim e grego e seduzia mulheres em francês e italiano. Cavalgando, acertava num alvo móvel e, em geral, bebia a quantidade exata sem abalar a própria dignidade.
Podia acertar um soco ou lutar esgrima com maestria, e fazia as duas coisas declamando Shakespeare ou Donne.
Em resumo, sabia tudo o que era imprescindível a um cavaleiro digno do título que possuía e destacava-se em todas as áreas. Era um homem admirado e respeitado.
Mas nada em sua vida privilegiada o havia preparado para aquele momento. Ele nunca sentira o peso de tantos olhares atentos como naquela hora em que jogava uma mancheia de terra no caixão de sua esposa.
“Sinto muito. Minhas condolências. Sentimos muitíssimo.”
As palavras continuavam a ser repetidas em monocórdio.
Durante todo o tempo, Ucker só pensava que Deus poderia castigá-lo por não sentir nada.
Ah, Alice! Na verdade, teria de lhe agradecer, se pudesse.
Era preciso voltar ao princípio, à perda de sua reputação.
Só o demônio poderia dizer quantas pessoas estavam cientes de que fora enganado. E por repetidas vezes.
O pior tinha sido o desmoronamento da ingenuidade. Era difícil lembrar, mas já havia concedido à humanidade o benefício da dúvida. Já acreditara no melhor das pessoas. Se as tratasse com honra e respeito, receberia o mesmo em troca.
Em seguida, fora a ruína de sua alma.
Ucker recuou com as mãos apertadas às costas e escutou o sacerdote encomendar a alma de Alice a Deus. Admitiu que desejara o fato. Quisera se ver livre dela, por isso não a prantearia.
— Que lástima — alguém sussurrou às suas costas.
Ucker cerrou os dentes. Não se tratava de pesar, mas sim de uma farsa. E teria de passar um ano usando luto pela mulher com quem havia se casado, e que estava grávida de outro. Ela o havia enfeitiçado e provocado, até deixá-lo com a idéia fixa de possuí-la. Alice tinha dito que o amava e sorrira com inocência, quando o havia escutado declarar sua devoção.
Ela fora seu sonho e seu pesadelo. Havia perdido o bebê que os levara ao casamento. O pai tinha sido um conde italiano, ou pelo menos era o que ela dizia. Ucker se preparara para perdoá-la, pois, afinal, todos cometiam erros. Ele mesmo não havia tentado seduzi-la antes da noite de núpcias?
Alice não desejava seu amor, e Ucker nunca descobriu o que ela pretendia: poder ou a satisfação de ter outro homem a seus pés.
Ele se perguntou o que ela sentira ao vê-lo sucumbir a seus encantos, quem sabe não fosse alívio. Ela estava grávida de três meses quando se casaram. Não havia muito tempo a perder.
E ali estava ela. Ou melhor, ali jazia seu corpo.
Não importava. Ucker só lamentava que o corpo daquela mulher fosse descansar eternamente no sepulcro dos Uckermann. A lápide levaria o nome de sua família e, dali a cem anos, alguém olharia a inscrição no granito e pensaria em Alice como uma dama refinada, e na tragédia de uma morte prematura.
Ucker observou o sacerdote. Era um rapaz novo na comunidade, ainda convencido de que podia tornar o mundo um lugar melhor para se viver.
— Cinzas às cinzas — o religioso falou e fitou quem deveria ser um viúvo consternado.
“Ah, sim, ele deve estar falando comigo.”
— Ao pó voltarás.
Uma pessoa assoprou para Ucker.
— E para a vida eterna — continuou o sacerdote com um brilho intenso de simpatia nos olhos azuis —, na esperança da Ressurreição.
O padre olhou para Ucker e estremeceu. Na certa não gostou do que via.
Depois do coro de améns, o serviço religioso terminou. A platéia fitou o sacerdote, Ucker e depois novamente o sacerdote, que apertava as mãos do viúvo.
— Ela será lembrada com saudade.
— Não por mim — Ucker respondeu.
“Não acredito que ele tenha dito isso.”
Dulce olhou as palavras que acabava de escrever. Estava na página quarenta e dois do décimo terceiro diário. Mas aquela era a primeira vez, depois de nove anos, que não tinha idéia do que anotar. Mesmo nos dias enfadonhos, e a maioria deles era, conseguia uma idéia para começar, ora contando sobre as refeições, ora sobre algum encontro com as amigas.
Contudo, naquela altura, quando havia ocorrido um fato muito grave, nada encontrara para dizer, exceto:
“Não acredito que ele tenha dito isso.”
— Tem de admitir, Dulce — ela murmurou, observando a tinta secar na ponta da pena —, que jamais vai alcançar a fama como memorialista.
— O que foi que disse?
Dulce fechou o diário. Não havia percebido a entrada de Anahí, que pisou suavemente no tapete e jogou-se na cama.
— Não falei nada.
— Que dia horrível! — exclamou a amiga com uma das mãos na testa e o olhar preso no teto.
Dulce anuiu e virou a cadeira, ficando de frente para Anahí.
— Fico contente que esteja aqui — Anahí confessou. — Obrigada por ter ficado para dormir.
— Não há de quê. — Ela não pensaria em recusar um pedido da amiga.
— O que está escrevendo?
Dulce fitou o diário que protegia com as mãos espalmadas.
— Nada.
— Isso não pode ser verdade. — Intrigada pelo mistério, Anahí sentou-se na cama e encarou a amiga.
— Mas é, por mais triste que seja.
— O que é triste?
Dulce piscou. Anahí sempre fazia perguntas óbvias que pediam respostas nunca evidentes.
— Bem... — Hesitou, não exatamente procurando ganhar tempo. Passou a mão na capa do diário como se as palavras pudessem brotar dali num passe de mágica. — Isto é tudo o que eu tenho e tudo o que eu sou.
— Mas é um livro. — Anahí fitou-a, desconfiada.
— É o livro da minha vida.
— E é a mim que as pessoas chamam de dramática!
— Não estou dizendo que ele é a minha vida. — Dulce impacientou-se — Apenas que a contém. Venho escrevendo o que me acontece dia a dia, desde os dez anos de idade.
— Tudo mesmo?
— Tudo. — Dulce pensou nos muitos dias em que anotava desde o que comera até outros detalhes minuciosos.
— Eu jamais poderia escrever um diário — Anahí comentou.
— Não.
Anahí rolou para o lado, apoiando a cabeça na mão.
— Não precisava ter concordado tão depressa. Dulce limitou-se a sorrir e a outra deitou novamente.
— Suponho que pretende escrever que sou uma pessoa dispersiva.
— Já escrevi — ela respondeu com sinceridade.
— Verdade?
— Creio ter dito que uma das facetas da sua personalidade é entediar-se com facilidade.
— Bem, isso é verdade — Anahí concordou sem nenhum instante de reflexão.
Dulce fitou a escrivaninha. A vela fazia um jogo de luz e sombra no mata-borrão. Sentiu cansaço, mas, infelizmente, não tinha a menor vontade de dormir, embora estivesse fatigada e inquieta.
— Estou exausta. — Anahí levantou-se.
A criada deixara as roupas de dormir aos pés da cama, e Dulce, respeitosamente, virou a cabeça enquanto a amiga trocava de roupa.
—Quanto tempo acha que Ucker permanecerá aqui no campo? — perguntou, tentando não morder a língua.
Odiava o fato de ainda conservar o desespero para vê-lo, nem que fosse por alguns instantes. Quando Ucker se casara, ela havia se sentado no banco da igreja e observado a maneira apaixonada com que ele fitava a esposa. Com idênticos amor e devoção que ela, Dulce, dedicava a ele.
E mesmo depois de tantos anos, ela continuava a observar e a amá-lo. Tinha a impressão que assim seria até o fim da vida. Ucker fizera com que ela desenvolvesse o amor-próprio e certamente nem imaginava o benefício que lhe concedera. E muito menos que fosse apaixonada por ele.
— Vai demorar muito para dormir? — Anahí perguntou com voz sonolenta e voltou a deitar-se, depois de vestir a camisola.
— Não muito...
Anahí não conseguia adormecer com a proximidade da vela acesa. Dulce viu a amiga virar-se de um lado para outro sem parar e admitiu que o "não muito" havia sido uma pequena mentira. Ainda com a mente a todo vapor, assoprou a vela.
— Levarei isto para outro lugar — avisou, com o diário debaixo do braço.
— Fico eternamente agradecida.
Dulce vestiu um roupão e foi para o corredor. Prendeu o caderno com o queixo para soltar as mãos e amarrar a faixa na cintura. Estava acostumada a dormir com freqüência em Haverbreaks. Mesmo assim, não era adequado perambular pelos corredores da casa dos outros, vestindo traje de dormir.
Apenas os raios do luar que penetravam pelas janelas iluminavam a escuridão, mas ela poderia fazer de olhos fechados o trajeto do quarto até a biblioteca. Anahí, que a criticava pelo excesso de idéias concomitantes, sempre adormecia antes e, por isso, ela saía com o diário para anotar os acontecimentos do dia. Na verdade, poderia ter pedido um quarto só para ela, mas a mãe de Anahí não acreditava em extravagâncias inúteis. Se podia aquecer um aposento, por que teria de acender a lareira de dois?
Dulce não se importava. De fato, agradecia a companhia. Sua própria casa era muito silenciosa. A mãe, a quem adorava, morrera havia quase um ano e ela tinha ficado sozinha com o pai.
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Autor(a): LorenaLemos
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 4110
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stellabarcelos Postado em 18/04/2016 - 02:24:20
Apaixonada por essa história! Amor lindo e puro! Amei
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alwaysvondy Postado em 15/07/2013 - 14:36:10
omG q web perfeita...amei demais o final<3
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:27
2ª vez que estou lendo essa web, ela é tão linda, tão encantadora.... que no final não sei se choro que emoção pela história ou por ela ter terminado. Ela é PERFEITA!!
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:27
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:27
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:27
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:27
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:26
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:26
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anevondy Postado em 27/06/2012 - 00:13:26
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