Fanfic: História de um Grande Amor - adaptada. (vondy) | Tema: Rebelde

Capítulo X

As semanas seguintes foram horríveis. Ucker habituou-se a pedir as refeições em seu escritório. Não podia suportar a idéia de ficar sentado diante de Dulce como um estranho. Estava convencido de que a perdera e imagi­nava a agonia que seria fitar os olhos da esposa, desprovidos de emoção.

Se Dulce nada mais sentia, para ele sobravam emoções.

Estava furioso por ela havê-lo deixado em situação difícil e por obrigá-lo a admitir sentimentos que não tinha certeza de possuir.

Enraivecia-o o fato de Dulce ter abandonado o casa­mento depois de decidir que ele não passara no teste por ela elaborado.

Sentia-se culpado pela infelicidade da esposa. Estava con­fuso e não sabia como tratá-la. Apavorava-o a impossibi­lidade de fazê-la retornar ao leito conjugal.

Tinha raiva de si mesmo por ser incapaz de dizer que a amava e sentia-se constrangido por não saber se estava ou não apaixonado.

Mais do que tudo, experimentava solidão. Dulce lhe fazia falta, assim como seus comentários engraçados e sua inteligência viva. Toda vez que passava pelo salão e a olhava de relance, tinha a impressão de que a mulher com quem se casara não existia mais. Ou pelo menos que tinha se trans­formado. Ela se tornara uma pessoa diferente que não se importava com mais nada.

Lady Casillas, que havia se disponibilizado para ficar até o nascimento do bebê, avisara-o que Dulce mal tocava na comida. Ucker proferira uma imprecação. Ela deveria en­tender que tais atitudes comprometiam sua saúde, mas não chegava a expressar seu desagrado.

Chegou a pedir a alguns criados para que a vigiassem. Eles faziam relatórios diários, geralmente trazidos no come­ço da noite, quando Ucker se encontrava em seu gabinete, onde bebia e refletia sobre os efeitos do álcool. Naquela noite, não foi diferente. Já estava no terceiro conhaque, quando ouviu uma batida na porta.

— Entre.

Para sua surpresa, foi sua mãe que entrou.

— A senhora veio para me repreender? Lady Casillas cruzou os braços.

— O que o faz pensar que precisa de repreensão? Ucker deu um sorriso fraco.

— Por que não fala logo, mamãe? Tenho certeza de que a senhora trouxe uma extensa lista de motivos.

— Por acaso esteve com sua esposa na semana passada?

— Creio que não... Ah, espere um pouco. — Ucker tomou um gole de conhaque. — Eu a vi no salão há poucos dias. Deve ter sido na terça-feira.

— Dulce está no nono mês de gravidez, Christopher.

— Sei perfeitamente disso, mamãe.

— Somente um homem desprezível abandona a esposa em tal estado, quando ela precisa muito do apoio do marido.

Em silêncio, ele tomou mais um gole e fez uma pausa breve.

— Apenas para deixar claro, foi ela quem me abandonou. E, por favor, não me chame de Christopher.

— Eu o chamo como bem entender, sou sua mãe!

Ucker estranhou o tom de lady Casillas, que sempre usava tons corteses.

— Meus parabéns. Finalmente a senhora chegou ao meu nível.

— Dê-me isso! — Lady Casillas adiantou-se e tirou o cá­lice das mãos dele. O conhaque espalhou-se sobre a mesa. — Estou decepcionada, Christopher. Seu comportamento tem sido tão horrível como nos tempos de Alice. Grosseiro, rude e...

Ucker segurou-a pelo pulso.

— Nunca mais cometa o engano de comparar Dulce com Alice — advertiu-a em tom ameaçador

— Eu jamais sonharia com uma coisa dessas — respondeu ela, com os olhos arregalados de espanto.

— Ainda bem. — Ucker soltou-a e foi até a janela. A paisagem árida combinava com seu humor.

Lady Casillas permaneceu em silêncio por algum tempo, antes de decidir falar:

— Como pretende salvar o seu casamento, filho? Ele inspirou fundo.

— Por que a senhora tem tanta certeza de que sou eu quem precisa providenciar o salvamento?

— Pelo amor de Deus, será que não consegue enxergar Dulce? É evidente que ela está apaixonada.

Ucker agarrou o peitoril da janela como se quisesse ex­trair maior apoio emocional dali.

— Ultimamente não tenho visto nenhuma indicação de tal fato.

— Como pode dizer isso se nem mesmo a olha há semanas? Para o seu próprio bem, desejo que não tenha matado ne­nhum sentimento de Dulce a seu respeito.

Ucker não respondeu. Não via a hora de aquela conversa terminar.

— Dulce não parece mais a mesma pessoa de meses atrás — lady Casillas continuou. — Ela estava muito feliz e teria feito qualquer coisa por sua causa.

— As coisas mudam, mamãe — respondeu, não esconden­do a irritação.

— E mudanças podem ser revertidas — lady Rudland afirmou. — Venha jantar conosco esta noite. É muito desa­gradável ficar sem a sua companhia.

— Eu lhe asseguro que será muito pior com a minha pre­sença.

— Permita-me julgar os fatos por mim mesma. Ucker endireitou-se e deu um longo suspiro. Sua mãe estaria correta?

— Alice ainda não abandonou esta casa — lady Casilas falou com suavidade. — Deixe que ela permaneça em paz na eternidade e permita que Dulce cure a sua alma, filho. Sabe muito bem que ela poderá fazê-lo se você lhe der uma chance.

Ucker sentiu a mão da mãe em seu ombro, mas não se virou. Orgulhoso demais, não permitiria que lady Casillas visse o sofrimento em seu olhar.