Fanfics Brasil - Três A Dinastia Do Sol

Fanfic: A Dinastia Do Sol | Tema: Magic Campus


Capítulo: Três

17 visualizações Denunciar



Três


 


A luz do archote tremeluzia solitária quase engolida pelo breu que tomava o interior da biblioteca. Douglas era o único sinal de vida dentro da imensidão fria daquele enorme acervo de livros e manuscritos. A biblioteca permanecia na escuridão para conservar melhor os livros e as antigas relíquias que nela são guardadas. Na mesa redonda, onde o garoto se aprofundava nos conhecimentos místicos, havia uma pilha de grossos livros, provavelmente já lidos, e outra pilha, também de livros, provavelmente por ler. Entre essas duas pilhas, Douglas apoiava os braços num manuscrito aberto já na metade. Estava viajando por entre o passado e os tempos de glória da antiga guarda de Bei Si, os nove lendários guerreiros da antiga dinastia, e ainda mais no passado, na época do guardião Bess e seus seis guardiões sagrados, que fundaram as seis academias. Sim, foi um passado glorioso, mas sombrio. Quando os primeiros demônios invadiram os cinco impérios e as sombras rodeavam os homens.


O manuscrito contava muitas dessas histórias, quase todas reais, embora muitas exageradas. Era difícil dizer se o livro era um romance escrito por autores inspirados ao longo dos séculos, ou se era um documento que guardava a história das antigas dinastias e clãs.


 


No fundo do grande salão de livros, uma porta se abriu, e com ela, um feixe de luz rompeu até alcançar os olhos de Douglas. A forte luz do sol fez a vista do garoto doer, mas logo se adaptou à claridade. Ainda não dava para distinguir as entidades que adentravam a biblioteca, pois estavam contra a luz. Um deles carregava um archote aceso e se aproximou do pequeno leitor.


- mestre Jya está solicitando a presença de todos os alunos – disse uma voz grossa e gravemente séria.


- monitor Lu – disse Douglas enquanto se levantava atrapalhadamente da mesa. Fez uma reverencia e logo se rendeu à curiosidade. – o que está acontecendo? Tropas de lenço preto outra vez?


O homem não respondeu e o garoto o seguiu até a saída. Perto da porta, voltou correndo até o livro e marcou a pagina onde havia parado.


Andaram até o pátio, onde vários alunos estavam em uma formação tradicional, com dez fileiras de vinte. O pátio era uma área enorme, com algumas distrações para os alunos de folga. Era cercado pela enorme Casa Rosa, onde moravam os mestres e monitores da Academia Estrela de Fogo, e seu ancião, Mestre Wu. A casa erguia-se em três andares, com quase cem metros de altura e duzentos metros de comprimento. Realmente, uma magnífica estrutura, modelada a mercê da cultura nortenha das Colinas Vermelhas.


Ao leste, o pátio terminava na varanda do Palácio de Soray, construído há trezentos anos por ordem de Soray, o aprendiz de Wu. Nesse prédio, cuja grandeza pouco se compara a Casa Rosa, moram os professores, os guardas e os soldados. Dentro do pátio, mais ao fundo, havia a cantina. Um restaurante considerável, onde se treinavam quase todos os grandes mestres cucas dos cinco impérios. A maioria ia para Dong Xuen ao terminar o curso de cinco anos. Ao oeste, o pátio dava na biblioteca, o segundo maior complexo de livros de todas as academias, perdendo apenas para a colossal biblioteca de Dong Xuen e a de Liao Yun.


Na extensa varanda do segundo andar da Casa Rosa, estava o mestre Jya e seus dez conselheiros, cinco de cada lado, vestidos de vermelho alaranjado e dourado, uniforme tradicional do Conselho da Estrela de Fogo. Abaixo, no nível do pátio, os vinte monitores enfileiravam-se de acordo com as fileiras dos alunos. Douglas estava surpreso. Toda aquela movimentação no pátio e ele não estava sabendo de nada. Devia ter passado muitas horas afundado nos livros. Não via Uchiha entre os alunos.


Aquele miserável deve estar matando aula, como sempre.


O garoto se posicionou numa das fileiras.


- meus alunos, exímios e pródigos, eu vos reúno para uma triste noticia. – soou a voz rouca de Jya. – um dos nossos foi acusado de bruxaria.


Os alunos inquietaram-se. O vice grão-mestre subiu ao lado de Jya e começou a explicar a situação.


- na manhã de ontem, o bar Ou Yang foi destruído e houve muitos mortos. Não se tem noticia do mestre Ou Yang e o único suspeito é um aluno de nossa academia. Nossa honra milenar foi jogada aos porcos com essa atitude. E como condiz nosso código, uma conduta má é resultado de uma má educação. O responsável pelo aluno, cujo nome não merece ser pronunciado em publico, será punido.


Um dos sentinelas na varanda fez um sinal para os guardas do palácio de Soray, ao fundo. Segundos depois, surgiram sete homens, seis guardas e um coitado encapuzado e acorrentado, trajando apenas uma calça rasgada nos joelhos. Um poste de madeira erguia-se no centro do pátio. Levaram o homem e o amarraram na coluna de madeira.


Um oitavo homem surgiu por entre a mesma porta de onde vieram os outros, com um capuz e roupas negras, segurando um chicote de couro e ossos com ponta metálica.


- o que verão hoje – entoou a voz de Jya – servirá de exemplo aos professores de nossa academia. Esse homem falhou na missão de discipliná-los. – disse friamente.


O carrasco se aproximou do homem e tirou seu capuz. Douglas estremeceu.


Professor Heilin!


O homem chorava silenciosamente. Estava envergonhado.


- os tempos sombrios se aproximam. Isso é um sinal. Os demônios estão voltando e com eles virão os antigos monstros. – disse um dos ajudantes da biblioteca, que estava ao lado de Douglas.


O encapuzado esperava a ordem de Jya.


- vinte chibatadas. – disse sem cerimônia. O carrasco assentiu com a cabeça e ergueu a mão do chicote. Muitos alunos viraram o rosto, alguns até choravam. Heilin sempre foi um bom homem, um bom profissional. Por que ele? Ele não merecia nada disso, não era justo. E então veio o horrendo som do metal e do couro rasgando as costas do homem. Seu grito de dor apertou o coração de Douglas. Ele também virou o rosto, antes da segunda chibatada.


 


Ao fim da tarde, o pátio estava vazio e os últimos raios de sol queimavam as costas abertas do professor Heilin, meio jogado ao chão, com as mãos presas ao poste de madeira. Havia alguns guardas espalhados por ai, vigiando o homem. Douglas invadiu o pátio sem autorização e foi vê-lo. O professor tremia, babava de dor e ainda chorava de vergonha. Havia sido humilhado e sua faixa amarela de mentor havia sido arrancada. Foi destituído do cargo.


O garoto não sabia o que dizer. Era uma imagem forte e triste. As feridas estavam começando a feder.


E então Heilin começou a murmurar algo.


- D...Doug...


- estou aqui mestre – disse a beira das lagrimas, ajoelhado perante o corpo do homem, e a pequena poça de sangue que o rodeava.


- O que... O que está acontecendo?


O Mestre dos Livros adentrou o pátio. Esse homem sempre sabia de tudo o que acontecia, mas sempre se mantinha fechado em seu mundo particular. Sua mente é um mistério. Em passos jeitosos, se aproximou dos dois, ali no centro do pátio. Mantinha uma expressão distraída, como se fosse um pássaro de asa quebrada ao invés de um homem com as costas rasgadas e sangrando.


- esses demônios... – disse em tom descontraído – só trazem sofrimento.


- o que você disse? – Douglas fazia força para erguer o rosto e afastar o olhar do homem no chão.


- os demônios estão chegando garoto. Sempre começa assim. Um pequeno atentado aqui e ali, e alguns punidos. Depois os mestres desaparecem... E ai, chegam incontáveis hordas de demônios que transformam o mundo como conhecemos num inferno. A diferença é que, dessa vez, não teremos Bess ou Bei Si para nos salvar. Você passou o dia na biblioteca garoto. E o livro que estava lendo é um tanto interessante. Venha comigo.


- não posso deixá-lo aqui. Não posso. – disse o garoto, referindo-se ao ex-professor.


- você não pode fazer mais nada por ele.


Heilin estava sussurrando algo. Não dava para entender o que dizia, mas quando Douglas se preparava para levantar, o homem segurou seu braço.


- Doug...


Na outra mão do professor, uma fumaça azul revelou uma chave.


- Pegue-a Doug...


A chave do quarto dele.


- Existem... Existem coisas que... Que não ensinamos aos alunos...


O professor desmaiou. Perdeu muito sangue. Agora o sol já não queimava suas costas.


- para onde vamos, Mestre Mattos?


- para a Sala do Silencio. Evite mais perguntas.


A sala do silencio era onde guardavam as relíquias da Dinastia do Sol. Apenas ao mestre dos livros, aos monitores superiores e ao Grão Mestre é permitida a entrada. É como uma biblioteca dentro da biblioteca. Douglas não era ninguém em especial para ser permitido a entrar nessa sala, mas o fato de gostar de livros chamava a atenção do Mestre Mattos.


 


Depois de caminharem calados até a Sala do Silencio, Douglas disse algo, esquecendo a recomendação do Mestre.


- o que será que ele quis dizer?


O mestre o olhou de soslaio.


- como assim?


- coisas que não se ensinam aos alunos. O que poderia ser? – o garoto não se agüentava de curiosidade. Também estava preocupado. Uchiha não aparecia desde a manhã de sábado. O Mestre Dos Livros se ajoelhou e pôs uma das mãos no ombro do pequeno.


- vocês crescem treinados para matar monstros e demônios. Passamos nossa história, nossos conhecimentos e tudo mais de geração em geração, tudo para que possamos manter o mundo livre dessas criaturas.


Douglas não compreendia onde ele queria chegar. Mestre Mattos prosseguiu:


- mas existem magias para matar homens.


- magias para matar homens? Mas homens se matam o tempo todo.


O mestre deu um risinho. A inocência do aluno em relação a matar e a morrer não iria deixar que alcançasse o ponto de vista do membro do conselho.


- estive lendo sobre a antiga guarda – Douglas puxou assunto, mesmo sabendo que o mestre preferia o silencio. Ainda sim, era o tipo certo de conversa que o homem gostava de ter com alguém. – o que aconteceu com todos?


Os dois chegaram à porta, que se distinguia dentre as várias portas de metal negro naquele corredor, e de dentro das largas mangas de sua toga alaranjada retirou um molho de chaves. Enquanto separava a chave certa, respondeu:


- uma hora, a natureza de um mortal nos indica que já não agüentamos mais todo esse esforço. Nosso corpo cansa. E então, reconhecemos que já basta.


- todos estão aposentados?


- os que sobreviveram, acredito que sim. Os nove guardiões de Bei Si... – suspirou – três morreram em combate, essa é a verdade. Um deles se aposentou, o outro desertou, e ainda há um que vive exilado numa floresta de bambus. E há também o fantoche do nosso querido capitão de proteção.


- e os outros dois, mestre?


- esses dois são um mistério – franziu a palavra mistério, como quem está sendo irônico – ainda hoje, são grandes nomes da Dinastia do Sol. Devem estar no sul, na guerra contra a Dinastia de Lenço Preto.


Os olhos do garoto brilharam. Então eles existem mesmo.


Depois disso, não falou mais. Mestre Mattos abriu a porta e uma aura alaranjada os engoliu, enchendo a escuridão da biblioteca de vida e revelando que, o lugar era ainda maior do que imaginavam.


- pela graça de Bess, o que é isso? – Douglas não acreditou no que viu dentro da sala.


                                                                              


                                                                               * * *


 


O navio cortava as densas nevoas da costa com seu casco prateado. Velas negras se içavam pelos três mastros, em sinal de luto. Era um navio mercador, mas pela aparência e tamanho monstruoso, provavelmente foi um galeão de guerra que está sendo reaproveitado. O cais aos poucos foi surgindo através da nevoa, que foi ficando mais fina até ser completamente deixada para trás. E então, novamente, contemplaram a magnífica cidade de neve. Ficava ainda mais esplendida quando vista do mar. O palácio colossal tinha uma torre à altura de seu cume e outra torre, separada, mas vizinha ao edifício, também gigante e linda, com uma arquitetura típica do povo das ilhas de neve. Tinha um jardim de plantas que não existem no oeste, onde ficam os grandes impérios. Ao fundo, um conjunto de modestas feiras e mercados e numa pequena ilha ligada a cidade por uma ponte estavam as habitações. Era uma cidade populosa, pois terreno da ilha visto ao longe, era um aglomerado de telhados azuis e cinzas.


Na beira da proa, a garota suspirou e murmurou para si mesma.


- Xian Duo... Já estava ficando com saudades. – disse logo depois de inspirar o gelado ar da manhã.


 


Não tardou muito até que o navio aportasse no ancoradouro. Os marujos jogaram as cordas e começaram a descer. Logo, vieram os ajudantes do cais e encaixaram a ponte móvel na lateral do navio, para que sejam descidas as cargas. A garota ruiva foi a primeira a descer, mas sem a necessidade das cordas. Saltou da proa de quase quinze metros de altura e aterrissou de pé, perfeitamente bem. Outras duas garotas a acompanharam, saltando da mesma forma para fora da embarcação. Dois homens, um jovem com cabelos completamente brancos e picotados e outro mais velho e mais baixo, ambos de terno, esperavam pelas garotas, próximos ao gigante armazém do porto.


A ruiva os avistou ao longe, e logo abandonou sua postura valente, correndo para os braços do homem de cabelo branco. A garota tinha um espírito guerreiro, uma alma valente, isso era notório. Mas naquele momento, era apenas uma criança. E não devia ter mais de 15 ou 16 anos. Seus cabelos ruivos e lisos estendiam-se até quase a cintura. Olhos verdes, corpo esbelto e postura ereta, características que chamam a atenção de muitos “pretendentes”, e acima de tudo, estupradores. Mas o que distinguia a pequena ruiva de uma criança, eram a espada, menor que uma montante e maior que uma katana, e uma espécie de garrucha, trabalhada em madeira e metal, ambos oriundos das espécies mais nobres.


- não agüento mais. Não agüento... – disse, abraçando o rapaz.


- velas negras foram içadas. Por quê? – ele perguntou, com delicadeza na voz.


- Wu Lia está morto. Ele... Salvou-nos em Meilin... Foi levado por monstros da neve – disse, já soluçando e com lagrimas prestes a escorrer dos olhos. – significa que Mah é a nova capitã.


As outras duas garotas aproximaram-se calmamente. A mais velha, alta e de cabelos castanhos, olhou para o homem mais baixo e disse:


- perdemos homens importantes em Meilin. Espero que nos reembolse por isso.


- e quanto à carga?


- trouxemos toneladas de materiais raros. Também trouxemos especiarias, algumas que nem mesmo eu havia experimentando antes.


- algo mais? – o homem estava bastante calmo.


- trouxe algumas crias de monstros de neve. Faça bom proveito delas. Mas antes lhe digo que pagará a mais por isso. Mascotes não faziam parte do nosso acordo.


- que seja. Me mostre essas crias, Mah, não tenho o dia todo.


A garota de cabelos castanhos sorriu para o homem.


- é Senhorita Mah para você.


A outra garota se intrometeu.


- vou levar a Nyhal para casa. Se cuida, Mah. – olhou para Kolt, o homem dos cabelos brancos. – vamos. Foi uma longa viagem, preciso descansar.


 


Era noite e a Senhorita Mah ainda não havia retornado. Nyhal dormia e Mile olhava para o mar, da sacada da casa.


- não consegue dormir? – disse uma voz vinda de dentro do quarto.


- não é isso. Gosto de ficar acordada... Tenho mais paz aqui...


- no que está pensando? – Kolt surgiu na sacada.


- não quero mais essa vida. Nunca quis e nunca tive escolha. Não entendo... Porque temos que fazer o que fazemos... Sinto vergonha. As pessoas nos vêem como bandidas. Todos querem um pedaço da Mah... E a Nyhal... Esses riscos, ela.. Ela...


- ela não é mais uma criança, Mile. Já sabe se virar. – Kolt a abraçou por trás e beijou seu pescoço.


- eu sei. Mas... Isso tudo perdeu o sentido. Quero ir para Dong Xuen. Lá podemos recomeçar, podemos fazer fortuna...


- ficou maluca? O oeste é cheio desses demônios. Dizem que estão voltando. E lá é um inferno de quente. Não veremos mais a neve lá.


- podemos nos acostumar com isso. – ela se virou e ficou de frente para ele.


- imagina o que a Mah vai achar dessa idéia. – ele aproximou seu rosto do rosto dela. Seus lábios estavam prestes a se tocar.


- nós vamos embora, prima?


O beijo foi interrompido. Mile olhou para Kolt e em seguida para a pequena Nyhal. Foi até a garota e afagou seus cabelos. Em seguida, voltou a olhar para o mar. Seus olhos brilharam e ela deu um suspiro.


- sim, Nyhal. Nós vamos embora.


 


- ISSO É UM ABSURDO. NÃO PAGO 500 MIL PRATAS NISSO NEM QUE AFUNDEM MEU NAVIO.


- olhe para eles, Bartel. São legítimos e estão saudáveis. Quando crescerem, serão os mascotes mais fortes de Xian Duo. Nunca antes alguém havia capturado um monstro de neve. Estou lhe vendendo os cinco únicos. Qualquer outro aceitaria. Se recusar, consigo um comprador em minutos.


Bartel, o homem baixo, olhou para Mah com infelicidade e uma notável raiva.


- você me quebra Mah.


- você compra porque quer. Eu só estou de dando escolhas. Quem as faz é você, somente você.


O homem abriu uma gaveta de sua escrivaninha. Era uma chave, meio verde, de metal.


- divido meus números nessa quantia exata e então separo cada pacote de prata em um cofre. A senha desse é tormenta. – jogou a chave para Mah, que em reflexo rápido, pegou. A garota sorriu para o homem e disse já de costas em direção a saída:


- é um homem esperto, Bartel. Por isso adoro negociar com você.


Do lado de fora, já era noite. A garota perdeu a noção do tempo. Olhou para o céu, inspirou o confortável cheiro das Sementes de Gelo, arvores que, segundo o povo da neve, atendem às preces dos homens. Seguiu seu caminho para o guarda-volumes. Antes dela, havia um homem lá, que entregou a chave para um senhor meio gordo, e sussurrou algo em seu ouvido. O gordo pegou a chave e abriu a porta, que revelou uma sala enorme, cheia dos mais variados objetos. O homem entrou e foi breve, saindo com algumas tralhas de cozinha.


Mah chegou perto do homem gordo, entregou-lhe a chave e sussurrou “tormenta” em seu ouvido. O homem pegou a chave, abriu a porta, e agora, a sala que estava por trás do portal de madeira era completamente diferente, com objetos diferentes. Na verdade, havia apenas sacos e mais sacos, carregados com moedinhas de prata. A moça adorou aquilo.


 


Eram quatro horas da manhã quando a Senhorita voltou para casa.


- Nyhal, Mile, acordem, temos que... – olhou para Kolt deitado na mesma cama que Mile. – o que ele faz aqui?


- está dormindo, não vê? – respondeu Mile, irritada.


- ele é do Palácio Real e nós somos contrabandistas. Quer ser presa? Vamos, não o acorde, apenas deixei-o ai. Estamos indo para Duo-La.


- a viagem para Duo-La custa mais de 20 mil pratas. Como pretende ir? – Mile estava meio sonolenta.


- consegui o dinheiro. Agora vamos, temos contas por acertar.


Mah foi para seu quarto e fez uma pequena mala às pressas. Depois acordou Nyhal e saíram da casa. Estava nevando lá fora, mas era uma neve fina e suave, nada demais. Mile ficou por ultimo na casa e antes de sair com sua mala já pronta, voltou para o quarto e deu um beijo na testa de Kolt, que ainda dormia.


- o navio já está pronto. – disse, já do lado de fora.


- por que decidiu sair assim, tão repentinamente?


- temos que resolver isso o quanto antes. Essa é nossa oportunidade.


- e a Nyhal? Devemos deixá-la com Kolt.


Mah virou-se para Mile. Ambas estavam irritadas.


- quantas vezes tenho que repetir que ela não é uma criança? Em Meilin, Nyhal matou mais monstros do que os nossos homens. Ela vai ficar bem.


Foram a pé para o porto e chegaram dez minutos depois. Boa parte dos homens nem havia saído do navio. Mah acordou a tripulação e manobraram com o galeão para fora do ancoradouro.


Aos poucos, a cidade foi ficando para trás. Agora só se podia ver a ponta do Palácio Azul. Iriam navegar sem se afastar muito da costa. Duo-La Neve era no mesmo continente, que nada mais era alem de um arquipélago. As ilhas eram gigantes, colossais e muito próximas. Por isso, mais parecia um só pedaço de terra do que vários.


 


No mar, perde-se a noção do tempo. No leste, o Sol emergiu das infinitas águas do Mar Gelado. A tripulação foi saudada por sua luz, que revelou as montanhas de gelo a Oeste. Avistaram a costa de Duo-La e ancoraram ali perto. Desceram três pequenos botes a remo e remaram até a praia de gelo. Andaram por horas até encontrar uma escadaria que levava a um castelo que lembra muito a arquitetura do Oeste, mais precisamente nas províncias do Sul. Era um castelo todo de vidro, algo que não se via comumente. Uma construção perfeita e enorme. O castelo aparentava ser ainda maior que o Palácio Azul. Mah sacou sua garrucha metálica.


- esse será o acerto de contas. – disse desafiadoramente.


 


                    


                                                                               * * *


 


Do outro lado da porta, o chão acabava em um abismo, alguns passos à frente.  Desse abismo, o Mestre dos Livros e Douglas tinham vista para uma Dong Xuen muito mais bela e gloriosa do que a atual metrópole. Viram palácios e castelos que hoje não existem, e no céu alaranjado, dragões voavam mansos. O Sol jazia nas montanhas, no mesmo tom em que estava o céu.


- estamos vendo o futuro? – perguntou Douglas, inocente. – essa Dong é muito mais avançada.


O mestre sorriu.


- estamos olhando para o passado. Antes da chegada dos primeiros demônios. Mas agora, basta disso.


Bateu com as palmas da mão, uma na outra, e toda aquela visão virou uma fumaça azul que entrou pelas mangas do mestre.


Naquela sala, o mestre sacou uma pedra perfeitamente circular e plana.


- isto é uma pedra quebrada da sabedoria. Não é das melhores, mas vai servir.


- por que está fazendo isso? Você mesmo disse que não sou ninguém.


- o garoto que foi preso em Dong Xuen. Você o conhecia? – perguntou o mestre, após uma breve pausa.


- não faço idéia de quem seja.


- ao menos ouviu o nome?


Douglas não respondeu e o Mestre Dos Livros prosseguiu:


- os sussurros apontam para Uchiha Lucas.


Douglas tremeu. Uchiha. Não podia ser. Uchiha associado com magia negra? Algo estava errado.


O mestre continuou:


- não vá para Dong Xuen. Sei que é isso o que está pensando. Em breve, esta academia será atacada. Mas não pelas tropas da Dinastia de Lenço Preto. Estou falando de monstros e demônios. Não teremos tempo de avisar a todos os alunos, e você deu sorte de conhecer o único que deve saber algo a respeito dos ataques. Sei de muitas coisas garoto, não me olhe assim. Na hora certa, você deverá partir para Loras. Ouviu?


- sim, mestre... – Douglas estava perdido. Não entendia nada, aquilo não fazia sentido.


- não conte isso a ninguém.


 


Douglas passou um tempo em algum lugar do pátio, pensando na vida. Depois se lembrou da chave de Heilin. Então, no fim da tarde, foi até o Palácio de Soray, que é restrito aos alunos. No portão, foi barrado por dois guardas. Deu meia volta e foi para a lateral do palácio. A primeira janela estava a três metros. Não era um desafio para o garoto. Saltou e andou sobre a parede e então, estava no fim do corredor vazio. A maior parte dos professores ainda está lecionando á essa hora. Douglas estava sem aula, pois a época de formatura paralisa todos os cursos intermediários. Subiu mais um andar e chegou ao quarto de Heilin. A chave entrou na fechadura, superando o receio do garoto. Abriu a porta e estava tudo perfeitamente normal. Vasculhou o quarto todo e enfim encontrou um baú de madeira embaixo da cama. A chave verde também abria esse baú. Parecia, na verdade, uma espécie de chave mestra. E então deparou-se com o conteúdo da coisa. Era um pequeno cajado, de madeira nobre e aço Loraniano Dourado. Um pequeno pergaminho enrolava-se sobre o bastão. Douglas retirou o pergaminho com cuidado e leu um pequeno trecho:


Potras Ventra - atormenta a mente por alguns momentos, revelando suas sombras e pesadelos. Não há homem que seja imune a essa magia. Precisa apenas apontar para o lugar certo. Nunca esteja perto de algum material metálico ou algum espelho.” Potras Ventra significa tormenta da mente no antigo Dialeto Loraniano. Terminou de ler e pegou o cajado. E então sentiu uma vibração em seus ossos e quando abriu suas mãos, o bastão não se soltou. Parecia estar colado. Pôs a outra mão para uma nova investida contra o objeto que desafiava a gravidade e esta também colou. Encostou a coisa no chão e pousou o pé sobre ela, e ao fazer força, finalmente se livrou do cajado. Olhou para a palma das mãos e ao virar para ver as costas das mesmas, notou que suas unhas estavam ficando azuis. Assustou-se, e correu para o banheiro. Derrabou um pequeno balde de água para lavá-las, mas não parecia ser tinta. Ouviu passos no corredor. Alguém deve ter ouvido a barulheira que causou. Rasgou a roupa de cama que estava dobrada ali perto, cobriu o cajado e pegou o pergaminho. Ia saltar pela janela com os objetos, mas um monitor rompeu quarto adentro.


- o que está fazendo? – perguntou desconfiado.


Douglas ficou sem reação. Já estava com um pé do lado de fora. Então, voltou para dentro do quarto e escondeu as mãos.


- o que você tem aí, moleque? – o monitor ia descobrir o cajado. Provavelmente iria tocar nele e sua mão também ficaria grudada. O garoto seria açoitado, e assim que descobrirem que a arma era de Heilin, este seria açoitado também. Pensou numa saída. Não poderia usar técnicas de fuga contra um monitor. Eles são treinados contra todas elas.


Douglas ergueu o dedo apontando para a cabeça do rapaz e gritou no mesmo momento:


- Potras Ventra! – e de seu dedo saiu um raio de luz negro com reflexos quase rosados que correram contra a cabeça do monitor, atirando-o ao chão e adentrando sua mente. O garoto aproximou-se do homem caído e viu que parecia dormir, mas de olhos abertos.


- coisas que não se ensinam aos alunosdisse para si mesmo.


 


Pulou da janela. Pouco depois, desceu até uma vila no Planalto do Sol Nascente, único lugar fora da academia permitido aos alunos. Douglas tinha uma incrível facilidade para escalar prédios e casas. Vivia sobre o telhado delas, quase sempre acompanhado de Uchiha. Agora estava sozinho, sentado na beira de um telhado, não muito alto, admirando o pequeno lago ao fundo. Havia uma casinha no centro de uma ilha dentro desse lago. Era onde morava Jia Lao Shi, um renegado do antigo conselho da Academia Estrela de Fogo.


Estava pensando a respeito de Heilin. Foi açoitado por que um aluno havia sido acusado de usar magia negra. Talvez Uchiha seja inocente. Mas Douglas realmente usou magia negra. Aquilo era bruxaria, fácil de identificar. Quando descobrirem, o garoto seria condenado e expulso.


- pois é Heilin. E agora? – disse baixinho.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): Selenium

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

Quatro   A estrada de terra cortava o grande vale LingLan. A passagem era acidentada e a via estava em péssimas condições. Os buracos, uns grandes o suficiente para quebrar as rodas de carroças mais humildes, eram a maior inconveniência na viagem de Shanks. - estamos muito longe, mestre? – perguntou o garoto, com desanimo. - ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • selenium Postado em 24/09/2011 - 16:30:14

    comentem :D


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais