Fanfic: O NÃO amor da minha vida

- Fala logo!

- O pai do Bernardo morreu.

 O celular deslizou pela minha mão caiu no chão. Eu não sabia por que, mas ouvir aquela notícia me afetou de uma forma inexplicável. Sentei na cama incrédula e preocupada com o estado dele. Apesar de tudo, ele ainda era importante. E saber que ele estava sofrendo, me fazia mal.

 Engoli o choro, que por um momento, quase me convenceu que deveria acontecer.

 Decidi que tinha que falar com ele. E que não podia esperar nem mais um minuto por isso.

 Peguei o carro do meu pai, sem avisar e nem dar satisfações, e me dirigi até a casa dele (se é que aquela ainda era a casa dele). Toquei o interfone e logo soube que estava no lugar certo quando a voz dele berrou dizendo: “Eu não quero visitas!”.

  “Achei que já era de casa” – retruquei.

 O portão abriu sozinho e eu entrei, a casa estava completamente sem ninguém, subi as escadas e procurei por ele no quarto dele, ele não estava. Mas, a mudança que o quarto dele havia sofrido me chamou atenção, estava com um ar mais maduro. Tudo em preto e branco, o vídeo game não estava lá e o computador também não, apenas um notebook jogado por cima dos lençóis bagunçados da cama dele. Estranho, pensei, a cama era a mesma. E aquilo me trazia lembranças. Entrei no closet dele, roupas jogadas por toda a parte, mas ao fim tinha um espelho e ao lado desse espelho tinha uma foto. Era eu e ele. Olhei para o espelho e depois para a foto, eu não era mais aquela garota. Olhei novamente para o espelho e reparei atrás de mim, um cara forte e reparei que fazia meses que ele não fazia a barba, estranhamente, isso tinha um charme. Me virei pra ele, que apesar de mais velho, ainda era o Bernardo.

- Então você voltou? – seus olhos exalavam esperança.

- Eu vim ver como você tá, soube do que aconteceu. Sinto muito.

- Então você não veio por mim, veio pelo que aconteceu?

- Já disse, vim ver como você tá.

- Eu pareço bem? – respirou fundo e não esperou eu responder – pois é, não estou.

- Como foi que aconteceu? – não queria tocar profundamente no assunto, mas precisava saber.

- Quer mesmo saber?

- Eu sei que você precisa de alguém pra desabafar.

- Eu não quero alguém pra desabafar! Eu quero alguém pra me dar um beijo e dizer que veio aqui porque sente minha falta e não me esqueceu, apesar de tudo!

- Eu não posso, estou... Namorando.

- Você vem aqui em casa, ver o quanto eu estou mal e me fazer ficar pior ainda? Vai embora daqui porra.

- Eu não vou te deixar aqui sozinho nessa situação...

- Me deixa!

- Não!

- Quer saber o que aconteceu? Então eu vou te falar o que aconteceu. Eu sai do seu quarto naquele dia e fiquei aqui nessa merda desse quarto esperando pelo dia em que você iria me perdoar e ficar junto comigo. E aquele velho imbecil que nunca me deu atenção acabou sendo praticamente a única pessoa que me consolou durante esses dois anos. Ai, um filha da puta, bêbado desgraçado, leva embora o pai que eu só tive durante dois anos! E você aparece aqui e me faz ter esperanças de que veio por mim, mas a verdade é que você só está aqui pra prestar seu luto. Porra! Faz um favor... Me deixa me fuder sozinho.

 Apesar de tudo o que ele disse, de que eu devia deixar ele, eu não conseguia fazer isso. Eu tinha vontade de abraçar aquele idiota que chorava desesperadamente como se fosse uma criança.

 E quanto mais ele pedia pra eu deixá-lo mais eu me aproximava e logo o senti chorar no meu ombro, quando finalmente o abracei.

 Não sei quanto tempo durou aquele abraço. Mas, foi por um longo tempo, porém, fui incapaz de sentir o tempo passar.

- Obrigado por ter vindo. Eu precisava de você... – seus olhos azuis cansados de chorar me encararam quando as lágrimas cessaram.

- Eu sei que precisava...

- Eu sei que não devia pedir por isso, mas o enterro é amanhã e eu não quero ficar sozinho aqui. E eu sinto que temos muito o que conversar... Só quero que fique.

- Eu quero ficar.