Fanfic: UM ADORÁVEL TIRANO - AyA ( Adaptada) { FINALIZADA} | Tema: Anahi e Alfonso

Annie tentou de todos os modos esquecer o que Thalia Van Deen dissera sobre a terrível morte de Inez Holden, mas não conseguiu. Agora tudo parecia estragado. Quando olhava para o rosto de Alfonso, franzido em uma risada, ou animado em uma conversa, não ligava mais para o orgulho que sentia por ele ser tão atraente. Não pensava mais: "Este homem que todos se viram para olhar é meu marido."

Quando, em alguma festa, ele ficava entre um grupo de gente de cinema e ela o via sacudir impacientemente as cinzas do charuto, sua cabeça arrogante atirada para trás, sua boca cinzelada desdenhosa, via-o quase como um estranho.

Mesmo quando ele a beijava, ela ficava rememorando. Ficava pensando. "Uma vez ele beijou Inez Holden. Uma vez ele a teve em seus braços. Mas ele a deixou - e vai me deixar."

E nesse estado de desilusão e perplexidade ela se encontrou com Robert Partison outra vez.

Foi na praia. Ela ia quase sempre, apesar de um pouco triste por se lembrar das horas agradáveis que passara ali com Dulce e o pequeno Eric.

Annie estava sentada pensando em Dulce e nas várias vezes em que trouxera Eric emprestado quando Dulce precisara viajar para Pasadena para ver uma tia doente.

Suspirou e deixou escorrer a areia brilhante por entre os dedos, olhos melancólicos fixos no oceano incrivelmente azul, salpicado de banhistas, rapazes em pranchas de surfe e moças que jogavam enormes bolas coloridas umas para as outras. Nem deixava de perceber que nessa praia cheia de deuses e deusas douradas pelo sol, e ruidosa com o falatório e o riso, ela chamava a atenção pela solidão e pelo ar triste. Uma figura solitária com um maiô verde-claro que mal revelava um busto pequeno, pernas esguias e tornozelos tão delicados que davam a impressão de que iriam quebrar se ela corresse muito depressa.

- Será que posso ficar com você? Você parece estar precisando de companhia.

Ela quase pulou de susto, virando um rosto espantado para quem falava. Reconheceu Robert imediatamente. Seu cabelo crespo estava grudado na cabeça, pois estivera na água, e seus olhos amendoados, com pestanas escuras tão compridas como as de uma moça, estavam sorridentes.

Jogou-se ao lado dela na areia, esticando o corpo magro e moreno. - Rapaz, que dia! Se esse céu de fogo se abrisse e despejasse uma boa carga de chuva! - Recostou-se no cotovelo, sorrindo feliz. - Que é que está fazendo tão sozinha em uma tarde de sábado?

- Estou sempre sozinha aos sábados à tarde - sorriu ela de leve – Alfonso joga golfe.

- Não vou esquecer disso! - Seus olhos percorreram o rosto dela, quentes e amigos. - Diga-me que não se incomoda de eu vir chegando desse jeito.

Não ligo. - E era verdade, ela não se incomodava. Até gostava bastante, descobriu. Gostava da forma sólida e independente dos ombros dele, a amizade franca em seus olhos.

- Você parecia tão triste, não pude resistir! Sempre achei que ficar sozinho numa praia era quase tão ruim como ficar sozinho numa barraca de cachorro-quente. - Fez uma careta. Tinha um sorriso muito atraente, que mostrava dentes pequenos e quadrados - Hollywood pode ser um lugar muito solitário para um estranho.

- Parece uma selva - disse ela, movida por um impulso de franqueza pelo jeito amigo com que ele a tratava. Apesar de ser um perfeito estranho, não parecia. Tinha uma maneira tão natural que a deixava perfeitamente à vontade; e um olhar confiante que ganhou a confiança dela sem qualquer esforço. - É tão quente e abafado, cheio de ruídos estranhos e atraentes, e perigosas criaturas que pulam - sorriu. - Eu sei que parece tolo deixar que me assuste, mas me assusta mesmo.

- Você não tem uma ambição louca de entrar para o cinema, então?

Ela sacudiu a cabeça e duas covinhas apareceram em seu rosto dando-lhe um ar maroto que Robert achou muito atraente. - Alfonso provavelmente me jogaria pela janela se eu aparecesse com essa febre de artista - disse e Robert riu.

- Isso seria um remédio muito drástico. Por que você acha que ele faria isso? - Ele olhava para ela, a curva delicada do rosto, a boca como uma flor, o pescoço tão suave como de uma criança.

- Ora, eu arranjaria um temperamento para combinar com a minha ambição louca, não é verdade? Alfonso me prefere sem um temperamento violento. Ele diz que recebe sua cota de nervosismo o dia inteiro nos estúdios. De qualquer modo, não sou do tipo artista de cinema.

- Isso é verdade - concordou Robert! - Você me parece mais... aposentada, como direi?

- Isso não significa plácida e medíocre, não é? - Seu sorriso era triste. Na verdade, nessas poucas semanas de Hollywood, ela tinha começado a achar que era aquilo mesmo. Todo mundo parecia possuir um enorme talento, ou uma tremenda vitalidade ou uma extraordinária boa aparência. As pessoas ainda ficavam de boca aberta ao verem ela com Alfonso e serem informadas de que era esposa dele, e Annie estava aos poucos começando a se sentir superior à incredulidade dessas pessoas.

- Eu acho - disse Robert com um elogio na ponta da língua - que você é uma pausa refrescante na correnteza de luxo ofuscante que se vê por aqui, cada vez que se vira a cabeça. Você é como a chuva fresca, não percebe?

Fresca como uma pancada de chuva, ele pensou, e doce como um ramalhete de mimosas. Uma garota tímida e gentil, que atiçava um sentimento de proteção. Que fazia também surgir uma emoção como choque, quando pensava nela presa nos braços poderosos de Alfonso Herrera, à mercê daquela boca-dura e insolente. - Você nada?

- Não muito bem - admitiu ela. Sabia, só de olhar para ele, que deveria ser muito eficiente na água. Ele tinha o corpo bem proporcionado de excelente nadador e, quando ficou de pé puxando-a também, moveu-se com a graça de um dançarino.

- Então vamos nadar - sugeriu. - Esta areia está quente como brasa. - Ele a segurou pela mão e correu com ela para a água, rindo com o abandono de um menino, seus cabelos molhados batendo na testa.