Fanfic: Paixão do Outro Mundo *Adaptada AyA* (Cancelada) | Tema: Ponny

— É tudo uma questão de manter o ritmo certo. Eu não precisei me esforçar tanto quanto você imagina. As ondas nos empurraram para a praia.

— Mas nós não afundamos — Anahí persistiu, cética.

— Eu enchi os pulmões de ar. Foi isso que nos fez flutuar.

Anahí não estava nem um pouco convencida com as justificativas dele.

— Qualquer um, na nossa situação, teria morrido!

Lentamente, Alfonso virou-se para fitá-la.

Nós não morremos, seus olhos verdes disseram. É isso que conta. Depois, em voz alta, ele mudou de assunto:

— Quer tomar um caldo quente?

Ela estava por demais absorta na "eloqüência" do olhar dele para assimilar a pergunta de imediato. Após alguns instantes, volveu os olhos para o fogão e viu uma panela fumegante.

— Tomei a liberdade de cozinhar algo para você — Alfonso desculpou-se. — Não sei se vai gostar. Encontrei ingredientes muito estranhos no armário da cozinha.

Anahí sorriu, sabendo perfeitamente a que ele se referia. Chás medicinais eram sua especialidade, daí ela guardar "ingredientes estranhos" em seu armário: cascas de árvores, ervas, sementes, pó de gravetos. A ironia era que, agora que mais precisava de seus dons curativos, estava impossibilitada de preparar uma infusão que lhe restaurasse as forças. Alfonso foi até o fogão e encheu uma xícara com um líquido amarelado. Voltou para junto dela e ajudou-a a sentar-se. Depois ofereceu-lhe a xícara. Anahí aceitou-a, mas, antes de provar seu conteúdo, aspirou o aroma dos ingredientes, a fim de identificar o que Alfonso havia usado. Uma combinação errada de ervas poderia surtir efeitos desastrosos.

Ao que tudo indicava, contudo, ele misturara os ingredientes certos.

— Que tal? Acertei? — Alfonso perguntou. De novo, parecia adivinhar seus pensamentos.

Constrangida por ter evidenciado suas suspeitas, Anahí apressou-se em assentir com um sorriso.

O olhar dele provocou-lhe uma inusitada sensação de calor.

— Beba antes que esfrie — ele instou, e voltou a contemplar o fogo.

Anahí notou que os olhos dele eram fascinantes, assim como seu rosto de feições nobres e o corpo bem proporcionado. Pegou-se imaginando como seria o beijo dele e ficou espantada consigo mesma, porque nunca desejara nenhum homem. Isso era perturbador.

O que mais a abalava era o fato de que ele parecia disposto a passar a noite ali. Estreitando os olhos, Anahí perguntou à queima-roupa:

— Você é médico?

— Não.

— Qual é o seu ramo de atividade, então?

— Sou cientista. Faço pesquisas.

— Onde?

— No Norte.

— Você tem família?

— Não.

Ela desejou que Alfonso fosse mais específico. Seus modos evasivos faziam-na pensar que estava lhe escondendo algo. Queria expulsá-lo dali, mas estava debilitada demais para poder enfrentá-lo.

— Eu… quero ir para o sótão — pediu, trêmula. Respirando fundo, sentou-se com dificuldade e esperou alguns segundos antes de levantar-se.

— Você estará mais aquecida aqui embaixo.

— Eu… preciso subir — Anahí suplicou.

Algo na voz dela fez com que Alfonso cedesse. Passando o braço de Anahí por seu ombro, ajudou-a a subir a escada até o sótão, onde ficava o quarto. Deitou-a na cama e cobriu-a com uma colcha rústica.

— Tem certeza de que vai ficar bem aqui? —Alfonso sorriu-lhe, afastando as mechas de cabelo loiro que lhe caíam sobre o rosto.

— Tenho, sim.

Alfonso desejou-lhe boa noite e desceu as escadas. Tão logo se viu a sós, Anahí procurou o pequeno revólver que sempre guardava sob o travesseiro. Ao encontrá-lo, suspirou com alívio. Apertou-o contra o peito e não demorou a mergulhar em um sono sem sonhos.