Fanfic: Não Conte a Ninguém...(Vondy) | Tema: Vondy

Capítulo I

Setembro de 1077, Londres, Inglaterra

Dulce Maria sentava-se numa banqueta no vasto salão de baile do rei, o rico vestido de veludo verde ondulando-se a seus pés. Os cabelos negros, num pentea­do elaborado, prendiam do alto da cabeça e os olhos ver­des observavam os outros convidados com mau-disfarçado desdém.

Era a terceira e última noite das comemorações do ani­versário do rei e Dulce se sentia aliviada. Terminada essa festa, ela não seria mais o alvo de olhares curiosos e murmúrios que lhe eram dirigidos pelos lordes e ladies maldosos que infestavam a corte inglesa.

Irritada, ela forçou um sorriso quando um nobre flácido a cumprimentou com um aceno de cabeça.

O tolo tenta ser sedutor, mas não sabe que entendi cada palavra que sua companheira disse sobre mim, Dulce refletiu.

— Ele é gordo demais, mana, e a esmagaria se fosse seu marido — Didier murmurou em francês, a língua pá­tria de ambos.

Com a cabeça virada para ninguém notar que falava, ela o repreendeu:

— Quieto, Didier. Você ainda é muito criança para tal comentário sobre marido e esposa. Devia ter ficado em nossos aposentos como pedi. Temo que você ainda me cau­se problemas esta noite.

Didier apenas deu de ombros, aliás, esqueléticos. Os traços infantis eram uma réplica dos de Dulce, os mes­mos olhos verdes e a cabeleira negra.

— Detesto ficar sozinho e ninguém me notou ainda.

— Mesmo assim, você não pode falar comigo aqui tão livremente. Isso chamará a atenção que não desejo — Dulce avisou.

A música terminou e o lorde flácido, de meia-idade, que lhe tinha acenado, separou-se da parceira. A túnica, debruada com pele, balançava pelas costas largas enquanto ele abria caminho em sua direção. Pelo menos tem expres­são bondosa, ela admitiu.

— Por falar em atenção indesejável, aí vem o gorducho — Didier resmungou.

— Lady Dulce, não me parece certo que alguém de sua beleza se encontre sozinha numa festa como esta. Seu pai me deu permissão para ser meu par na próxima dança.

E claro que deu. O senhor é um velho rico e meu dever é expor-lhe a mercadoria, Dulce pensou, mas, em voz alta, disse:

— O prazer é meu, monsieur Halbrook.

Então, com um arrepio, pôs os dedos na palma úmida da mão dele.

Se fosse seu marido, ele a esmagaria.

Quando Halbrook a levou ao centro do salão e as pri­meiras notas da dança seguinte soaram, ela teve de lutar contra a vontade de fugir correndo para seus aposentos alugados.

No momento em que as damas se curvavam diante dos parceiros, Armand du Roche prendeu o olhar de Dulce. Num gesto sutil, inclinou a cabeça, os cabelos castanhos caindo sobre a cicatriz feia na testa, para indicar seu par­ceiro. Arqueou as sobrancelhas na indagação muda:

— Ele serve, non?

— Oui, papa — ela assentiu com um gesto de cabeça. Não importava mais a Dulce quem o pai escolhesse para seu marido. Os dois, e até Didier, eram exilados nes­se país e alvo da maledicência dos ingleses. Sua vida in­teira era uma mentira.

Dançava de maneira mecânica e sentia a verdade como se fosse um manto gelado.

— Você está atrasado, irmão. E também um tanto em­briagado — Tristan criticou ao ver Cristopher chegar e qua­se derrubar um vaso.

Comentem!!