Fanfic: Memórias... | Tema: Quase Anjos

Nicolás acordara com o irritante barulho do seu despertador. E se não bastasse, percebeu que tinha colocado para despertar uma hora mais cedo. Talvez ele não passasse de uma criança desorganizada em um corpo de adulto. Apesar da sua tamanha preguiça, ele tinha pique o suficiente para pegar um porta-retrato que tanto gostava. O qual tinha uma foto que olhava todos os dias. Passou levemente o seu dedo sobre ela e olhou intensamente.

— Onde você está, Ângela? — perguntou. — Sinto saudades.

Essa foto tinha um forte valor sentimental. Era onde estava presente ele acompanhado de Ângela em um baile.

No verão passado, Nicolás passou todo o verão em uma casa de praia. E na casa ao lado estava sempre Ângela dançando lentamente com seu longo vestido rosa. E era inevitável Nicolás não olhar. Todo dia checava se Ângela estava dançando e foi quando ela percebeu que ele estava a espiando. Foi logo tirar satisfações em sua porta.

— Por que você fica me espiando? — berrava Ângela. — Você tinha que tomar vergonha na sua cara.

— Qual o problema de olhar uma mulher tão bonita dançando?

Pronto. Nicolás havia domado a fera. Logo os berros se transformaram em uma voz baixa e doce. E quando Ângela dançava ela não se incomodava com Nico - como ela gostava de chamá-lo - espionando. Esboçava até um sorriso. Eles se encontravam em outras ocasiões também e Nicolás estava começando a gostar de Ângela. Foi quando tomou coragem para pedir para sair com ela. Uma só noite pelo menos. Ângela ficou na dúvida, mas topou.

— Que horas? — perguntou.

— Às 20h00. — respondeu Nico entusiasmado.

E ela logo se aprontou. Colocou um vestido preto bem brilhoso com um salto alto. Nicolás tratou de estar a altura e colocou uma linda blusa listrada. Mas não tinha jeito. Ângela estava muito mais linda e ele não se aguentava mais. A noite se passava e conversar com ela não estava sendo o suficiente.

— Eu não quero parecer... um... abusado. É. Mas você gostaria de dançar comigo?

Ela estendeu sua mão para que ele segurasse.

— Mas é claro, cavalheiro. — brincou.

Seus corpos grudaram e lentamente foram se movimentando com o ritmo da música bem romântica. Essa dança deixava Ângela um pouco desconfortável. Essa proximidade toda incomodava, mas deixou-se transparecer bem natural. E Nicolás não aguentou.

— Desculpe. Mil desculpas. — pediu. — Mas eu tenho que fazer isso.

E Nico grudou seus lábios com os de Ângela. Ela tentou resistir, mas não conseguiu. Aquilo tinha que acontecer. Era algo bem especial.

Foi bem culposo para ambos. Ângela saiu correndo apressadamente deixando um salto para trás. Nicolás se culpou a noite inteira. Segurou o pequeno salto e dormiu junto com ele. Ele estava perdidamente apaixonado por Ângela. E havia falhado. Por que diabos tinha que beijá-la? Idiota.

Mas no dia seguinte fez questão de pedir desculpas em sua porta. E junto com ele estava seu salto.

— Nico, me deixe em paz.

— Eu não posso te deixar em paz. — dizia. — Ângela, eu estou apaixonado por você.

— Mas era só o que me faltava. — disse Ângela. — Me diz por quantas você se apaixonou?

— Você é a primeira.

Silêncio. Ela tinha perdido as palavras.

— Er... — dizia constrangida. — Obrigada por me devolver o salto. E se me der licença...

Fechou educadamente a porta na cara de Nicolás. E ao anoitecer teve uma surpresa. Dez homens com chapéis mexicanos parados em sua porta tocando vários instrumentos musicais. E um playback cobria seus sons com Nico cantando enquanto Ângela observava.

Quero te convidar para conhecer

A vida que imaginei

Onde não existe a dor

E Ângela tratou de descer e ficou frente a frente com ele.

— Você joga baixo. — disse a Nico.

— Não estou jogando. Só demonstrando meu amor.

E Ângela o agarrou com força lhe dando um beijo. Um beijo bem culposo e tratou rapidamente de voltar para sua casa. Nicolás estava super feliz com aquele beijo. Passou a noite sem grudar os olhos. O sorriso não saia de seu rosto. Estava muito apaixonado. Não parava de pensar um segundo sequer em Ângela.

Na manhã seguinte bateu na porta de Ângela. Bateu uma vez. Duas. Três. Ela não atendia. Entrou pelo corredor do quintal e a casa estava vazia. Foi quando soube por outros vizinhos que ela tinha ido embora de madrugada. Ele ficou chocado. Devastado.

— Eu vou atrás de você, Ângela. — prometeu Nicolás. — Um dia irei te encontrar.

Dizia recordando. Tudo estava fresco em sua memória. Inclusive a dor de sua partida.

— Um dia vamos nos voltar a ver.