Fanfic: •■•Um Reino de Sonhos•■• D&C
Na manhã seguinte, Dul, envolta em um suave batina de lã, contemplou através da diminuta janela de seu dormitório as montanhas rochosas que se elevavam além dos muros do castelo. Dirigiu depois a atenção para o pátio de abaixo e esquadrinhou lentamente os grossos muros que o rodeavam, em busca de alguma forma de escapar, de alguma porta oculta. Não encontrou nenhuma. Merrick dispunha de uma no muro, oculta por trás de arbustos; por isso sabia que todos os castelos dispunham de uma porta assim a fim de que os residentes pudessem escapar no caso do inimigo vencer as defesas do castelo. Mesmo que estava certa de que essa porta devia existir, não descobriu o menor sinal dela, nem sequer uma fresta no muro de três metros de grossura pela qual ela e Angel pudessem sair. Levantou a vista para os guardas, que caminhavam pela alta passarela do muro, vigiando o caminho e as montanhas dos arredores. O pessoal do castelo provavelmente fosse sujo e estivesse necessitando de formação e direção, mas o conde não tinha ignorado as defesas do castelo, pensou sobriamente. Cada guarda permanecia alerta, e se achavam postados em intervalos de vinte passos.
Conforme o conde tinha comentado, seu pai já tinha sido informado de que ela e Angel se encontravam em seu poder, como prisioneiras. Em tal caso, o conde de Merrick não teria nenhum problema para reunir um exército de cinco mil homens e partir sobre Hardin. Se tinha a intenção de resgatá-las, o castelo não estava a mais de dois dias a cavalo, ou cinco a pé, desde Merrick. Mas não conseguia imaginar como seu pai conseguiria resgatá-las de um castelo tão incrivelmente bem fortificado. E isso a deixava diante do mesmo e confuso problema que se via obrigada a confrontar: a ela correspondia encontrar uma maneira de escapar.
Notava que seu estômago estava reclamando, o que a lembrava que não comia nada desde o almoço do dia anterior. Afastou-se da janela para se vestir e descer ao salão. Morrer de fome não era a solução para seu problema, decidiu enquanto se aproximava das arcas de roupa que tinham levado essa manhã para seu dormitório. Além disso, se não descesse, não restava a menor duvida de que o conde terminaria por subir para procurá-la, embora para isso tivesse que derrubar a porta.
Pela manhã pôde desfrutar de uma banheira de madeira cheia de água quente, e experimentava ao menos o prazer de se sentir limpa da cabeça aos pés. Ao pensar nas últimas semanas, chegou à conclusão de que dar um mergulho de cabeça em um riacho gelado não podia comparar-se com a água quente e um bom sabão.
A primeira arca estava cheia de vestidos que tinha pertencido à senhora anterior do castelo e a suas filhas. Muitos deles lembraram o estilo encantador e caprichoso que a sua tia Elinor tanto gostava, com altos tocados cônicos e véus que chegavam até o chão. Embora se tratasse de vestidos que já não estavam na moda, não tinham regulado gastos em sua confecção, pois havia ali ricos cetins, veludos e sedas.
Bordados e como todos eles eram muito elegantes para a ocasião e para a posição que ela ocupava naquela casa, Dul abriu a arca seguinte. Não pôde evitar deixar escapar uma exclamação de prazer ao tomar cuidadosamente um vestido da mais suave casimira.
Acabava de se pentear quando uma serva bateu na porta e, sem poder esconder seu nervosismo, disse com voz aguda:
-Milady, sua senhoria me pediu que lhe dissessem que se não descer ao salão dentro de cinco minutos para tomar seu desjejum, ele mesmo subirá para buscá-la.
Disposta a não permitir que o conde pensasse que se dobrava por temor a sua ameaça, Dul replicou:
-Pode dizer a sua senhoria que tenho a intenção de descer, e que o farei dentro de poucos minutos.
Dul esperou durante o que lhe pareceram uns «poucos» minutos e finalmente abandonou sua habitação. A escada que conduzia dos dormitórios até o grande salão era de degraus altos e estreitos, como a do castelo de Merrick, desenhada para que, no caso dos atacantes conseguissem entrar no salão, tivessem que subir escada acima com o braço armado bloqueado pela parede de pedra, enquanto os defensores não experimentariam virtualmente nenhum impedimento. A diferença da escada de Merrick, entretanto, estava nas paredes e nos tetos que nesta estavam cheias de teias de aranhas. Ao pensar nisso, Dul estremeceu e apressou o passo.
Acomodado em seu lugar Christopher olhava em direção à escada com um gesto de resolução, até que decidiu que tinha acabado o tempo da rebelde Dulce. O salão estava vazio à exceção de uns poucos cavalheiros, que bebiam tranqüilamente cerveja, e dos servos, que retiravam os restos do café da manhã.
Sim, tinha acabado o tempo, decidiu Christopher com fúria. Empurrou a cadeira para trás com uma força que fez chiar as pernas da cadeira sobre as lajes. Mas imediatamente permaneceu muito quieto. Dulce Merrick descia pela escada vestindo um lindo vestido de cintura alta, amarelo como o sol. Mas não se tratava da ninfa encantada que se acostumou a ver. Depois de experimentar uma transformação que o enervava e o atraía ao mesmo tempo, a mulher que avançava para ele era uma condessa que teria ocupado um lugar destacado nas cortes mais brilhantes do país. Usava o cabelo partido ao meio, e caía sobre os ombros e as costas como uma cascata reluzente e avermelhada que na altura da cintura formava densas mechas.
O decote do vestido destacava a beleza de seus seios, e o talhe marcava suavemente os quadris; as mangas longas agitavam-se em torno dos braços.
Christopher experimentou a estranha sensação de que sua prisioneira se transformou em outra pessoa, mas quando se aproximou não lhe restou a menor duvida de que os olhos, brilhantes e azuis, eram os mesmos, assim como o rosto tão encantador como sempre.
Dul se deteve diante dele e a decisão de Christopher de possuí-la, por mais resistência que ela pusesse, se transformou em uma resolução irrevogável. Um lento sorriso de admiração se estendeu sobre o rosto de Christopher.
-É como um camaleão! -exclamou, e ao sentir o olhar de indignação de Dul, acrescentou: - Ou um lagarto, provavelmente? -Fez um esforço para conter a risada, e afastar o olhar da suave carne que o decote deixava descoberto, e para esconder o quanto se sentia atraído por ela. Com voz tranqüila, acrescentou: - Quero dizer que muda com muita rapidez.
A Dul não passou despercebida sua expressão de desejo que fazia brilhar seus olhos quando a olhou de cima abaixo, mas se inquietou ainda mais ao ver como ele estava atraente e elegante com aquela túnica de lã azul que destacava seus ombros musculosos com as mangas longas e bordadas com fio prateado. Em torno dos quadris brilhava um cinturão de prata da qual pendia uma espada curta com uma grande safira no punho. Dul se negou a olhar mais abaixo.
Finalmente se deu conta de que ele olhava seu cabelo, foi então que ela caiu em si e viu que estava com a cabeça descoberta. Jogou a mão para trás e pegou o largo capuz amarelo e, levanto-o, deixou-o cair em elegantes dobras sobre seus ombros, que era para o que estava destinado.
-Está encantadora - disse Christopher sem deixar de observá-la, - mas preferiria vê-la com a cabeça descoberta.
Dul sentiu com desgosto que o conde parecia estar com humor para mostrar-se agradável; era mais fácil tratá-lo quando se comportava de modo abertamente hostil. Decidida a confrontar um problema depois de outro, Dul se concentrou em sua sugestão de que tirasse o capuz da cabeça.
-Como certamente sabe, é imprópria uma mulher usá-lo descoberto, exceto quando se trata de uma menina ou uma noiva - replicou com fria educação, enquanto ele lhe oferecia uma cadeira. -A uma mulher é exigido que esconda seus...
-Encantos? -insinuou Christopher, cujo olhar apreciativo desceu sobre o cabelo, o rosto e os seios de Dul.
-Sim.
-Porque foi Eva que tentou Adão? -perguntou Christopher, expressando o que sabia era uma convicção religiosa.
-Sim.
-Sempre acreditei que o que lhe tentou foi uma maçã - comentou ele em tom zombador, - de forma que o que provocou sua queda não foi a luxúria e sim a gulodice.
Consciente de que tinha estado por duas vezes em seus braços depois de uma conversa tão superficial como a que estavam sustentando, Dul se negou a se deixar impressionar ou a mostrar-se divertida diante daquela heresia, e tampouco se aventurou em uma resposta. Em vez disso, iniciou outro assunto com um tom de voz cuidadosamente educado.
-Está disposto a reconsiderar sua ordem de que minha irmã e eu permaneçamos separadas?
Christopher arqueou uma sobrancelha e perguntou por sua vez: - melhorou sua disposição?
A arrogância e a calma do conde fez com que Dul sentisse que lhe faltava o ar. Depois de um prolongado silêncio, esta conseguiu responder.
-Sim.
Satisfeito, Christopher se voltou para o servo que estava a seu lado e ordenou:
-Diga a Lady Angel que sua irmã a espera aqui. -Olhou a seguir para Dulce, contemplando seu delicado perfil, e acrescentou: - Vamos, já pode comer.
-Esperava que você começasse. -Não tenho fome.
Apenas uma hora antes, Christopher se sentia esfomeado; agora, por outro lado, só sentia apetite por ela.
Faminta por causa do jejum que havia se auto imposto, Dul fez o que lhe sugeria e tomou uma colherada de papa. O expressivo olhar de Christopher, entretanto, não demorou em enervá-la. No momento em que aproximava a colher de seus lábios, observou-o com a extremidade do olho.
-Por que me olha dessa forma? -perguntou receosa.
A resposta que ele iria lhe dar se viu interrompida pelo servo, que se aproximou com toda pressa de Dulce e alarmado, disse:
-É... sua irmã, milady. Deseja lhe ver. Está tossindo muito!
Dul empalideceu.
-Santo Deus, não! -sussurrou ao mesmo tempo em que ficava de pé. -Agora não... aqui não.
-O que quer dizer? -perguntou Christopher. Acostumado a enfrentar qualquer tipo de emergência em um campo de batalha, pego-a pelo braço para retê-la.
-Angel tem uma doença no peito - explicou Dul com desespero. -Por Deus os ataques começam com uma forte tosse, e depois não consegue mais respirar.
Tratou de liberar a mão com um puxão, mas Christopher se levantou e a acompanhou.
-Tem que haver alguma forma de aliviá-la.
-Aqui não! -falou Dul, assustada. -Minha tia Elinor lhe prepara uma infusão de ervas. Ninguém na Escócia sabe tanto de ervas como ela. Na abadia sempre tínhamos disponíveis.
-Do que é composta a infusão? Provavelmente...
-Não sei! -exclamou Dul, quase o arrastando escada acima. -A única coisa que sei é que o líquido tem que ser esquentado e vapor que sobe Angel o respira e isso a alivia.
Christopher abriu a porta do dormitório de Angel e Dul depois de entrar precipitadamente, observou com horror o rosto cinzento de sua irmã.
-Dul? -sussurrou Angel. Apertou à mão que sua irmã lhe estendia, e um forte ataque de tosse sacudiu seu corpo com violentos espasmos que a obrigou a levantar as costas da cama. -Estou... doente outra vez - ofegou fracamente.
-Não se preocupe - tranqüilizou-a Dul, que se inclinou sobre sua irmã até que suas mechas avermelhadas lhe roçaram a face. -Não se preocupe.
Os olhos angustiados de Angel se desviaram para a ameaçadora figura do conde que se erguia no vão da porta.
-Precisamos retornar para casa - disse-lhe. -Necessito da... -Outro arrepiante acesso de tosse se apoderou dela. -Necessito da poção.
Dul se voltou para Christopher com uma expressão de temor nos olhos azuis.
-Deixe que retorne para casa, peço-lhe.
-Não, acredito...
Fora de si, Dul soltou a mão de Angel, aproximou-se rapidamente de Christopher e fez gestos de que a seguisse para fora do quarto. Fechou a porta para que suas palavras não angustiassem ainda mais Angel, e - enfrentou seu seqüestrador com expressão desesperada.
-Angel corre o risco de morrer se não inalar as ervas de minha tia. Da última vez seu coração deixou de bater.
Christopher não acreditava que a jovem loira corresse realmente perigo de morte, mas era evidente que Dul achava como também era certo que Angel não fingia aquela tosse.
Dul detectou um pouco de indecisão nos duros traços de Christopher e, convencida de que ele estava a ponto de recusar seu pedido, tratou de aplacá-lo se mostrando de liberadamente total.
-Disseram que sou muito orgulhosa e... sou - disse-lhe, apoiando uma mão sobre seu peito, com um gesto de súplica. -Se deixar Angel partir, farei qualquer tarefa que me ordenar, por mais humilde que seja. Esfregarei o chão... cozinharei para você. Juro que o recompensarei de alguma forma.
Christopher olhou a pequena e delicada mão esticada sobre seu peito; começava a notar seu calor através da túnica e isso bastou para que o desejo começasse a manifestar-se em seu corpo. Não compreendia como era possível que ela exercesse um efeito tão forte sobre ele, mas sim compreendia que desejava tê-la entre os braços. E para conseguir, estava disposto a tomar a decisão mais irracional de sua vida: deixar que partisse sua refém mais valiosa, pois, apesar da convicção de Dulce de que Lorde Merrick era um pai carinhoso, embora duro, algo do que tinha lhe contado o fazia duvidar de que aquele homem abrigasse sentimentos profundos para sua com «problemática» filha mais velha.
-Por favor - sussurrou Dul com expressão de temor nos olhos ao tomar erroneamente seu silêncio como uma negativa. -Farei qualquer coisa. Ajoelharei-me diante de você. Só têm que me dizer o que deseja.
Christopher falou finalmente, enquanto Dul, ofegante, estava muito exausta para detectar o estranho e significativo tom que imprimiu em sua voz.
-Qualquer coisa?
Ela assentiu com um vigoroso gesto de cabeça.
-Qualquer coisa... Farei que em poucas semanas que este castelo fique limpo e preparado para receber um rei. Rezarei por cada um de...
-Não é prece o que desejo - interrompeu-a ele.
Desesperada por chegar a um acordo antes que ele mudasse de opinião, Dul acrescentou:
-Me digam então o que é que deseja.
-Você - respondeu ele implacavelmente. A mão de Dulce se separou de sua túnica, enquanto ele continuava falando sem emoção alguma. -Não desejo que se ponha de joelhos. Desejo-a em minha cama. Por vontade própria.
O alívio de saber que ele estava disposto a deixar Angel partir se viu temporalmente superado pela abrasadora animosidade diante do que lhe exigia em troca.
Ele não sacrificava nada ao libertar Angel, pois ainda conservava Dul como refém e, entretanto, exigia a esta que sacrificasse tudo. Ao ceder voluntariamente sua honra, ela se transformaria em uma rameira, em uma desgraça para si mesma, sua família e tudo aquilo que lhe era mais querido. Certo que quase já tinha cedido em uma ocasião, ou que quase esteve a ponto de ceder, mas o que tinha lhe pedido em troca teria salvado centenas de vidas, provavelmente milhares. Pessoas que amava.
Além disso, quando lhe fez aquela oferta velada se sentia meio atordoada por seus beijos e suas carícias apaixonadas. Agora, por outro lado, compreendia claramente quais seriam os resultados deste trato.
Atrás dela, a tosse espasmódica de Angel fez com que Dul desse um pulo, alarmada tanto por sua irmã como por si mesma.
-Temos um trato? -perguntou ele com tranqüilidade.
Dul ergueu a cabeça com o aspecto de uma jovem rainha orgulhosa que acabasse de ser apunhalada pela pessoa em quem mais confiava.
-Julguei-lhe erroneamente, milorde - disse amargamente. -Achava que tinha honra quando há dois dias se negou a me aceitar, pois teria tomado o que eu lhe oferecia em troca de não atacar o castelo de Merrick. Agora compreendo que não foi honra e sim arrogância. Um bárbaro como você não tem honra.
Apesar de saber que estava vencida, sua atitude era esplêndida, pensou Christopher, que conteve um sorriso de admiração enquanto observava aqueles atormentados olhos azuis.
-Parece-lhe tão detestável o acordo que lhe ofereço? -perguntou sereno, e apoiou as mãos sobre os rígidos braços dela. -Na verdade, não tenho necessidade de fazer acordo algum com você, Dulce, e sabe disso. Nestes últimos dias poderia tê-la possuído pela força no momento em que tivesse desejado.
Dulce sabia que ele estava certo, e embora seu rancor não se aplacasse, teve que lutar para não cair sob o feitiço da profunda voz do conde.
-Eu te desejo -continuou Christopher, - e se isso me transforma em um bárbaro diante de seus olhos, que assim seja, embora não tem por que ser dessa forma. Se me permitir, farei com que as coisas entre nós sejam melhores. Em minha cama não terá que sofrer nenhuma vergonha ou dor, exceto da primeira vez, depois disso, tudo será prazer.
Se tivessem vindo de outro cavalheiro, aquelas palavras teriam bastado para convencer à cortesã mais refinada. Mas dirigidas pelo guerreiro mais temido da Inglaterra a uma moça escocesa que virtualmente tinha sido criada em um convento, o efeito que exerceu foi devastador. Dulce sentiu que o sangue subia ao seu rosto e que uma fraca e tremula sensação descia da boca do estômago até os pés, pois se viu repentinamente assaltada pela lembrança de seus ardorosos beijos e carícias.
-Temos um acordo? -insistiu Christopher ao mesmo tempo em que acariciava os braços de Dul com seus longos dedos e pensava que acabava de pronunciar as palavras mais ternas que jamais havia dito a uma mulher.
Dul vacilou por um instante que pareceu interminável, consciente de que não restava outra alternativa. Depois, assentiu imperceptivelmente.
-Manterá sua palavra? -perguntou Christopher.
Dul se deu conta de que se referia ao tema de sua boa vontade, e voltou a vacilar. Desejava odiá-lo, mas uma voz em seu interior a lembrava que nas mãos de qualquer outro seqüestrador já teria sofrido um destino muito pior que o que Christopher lhe propunha. Um destino brutal e inconcebível.
Olhou fixamente o bronzeado rosto do Lobo em busca de um sinal que lhe indicasse que mais tarde ele talvez tivesse piedade dela, mas em vez de encontrar uma resposta ficou repentinamente consciente do quanto tinha que inclinar a cabeça para trás para olhá-lo, e de quanto era pequena em comparação com sua estatura e corpulência. Enfrentar seu tamanho, a sua fortaleza e a sua vontade indomável, não era possível e não restava outra alternativa, e ela sabia. Compreender aquilo fez com que sua derrota parecesse menos dolorosa, pois se via totalmente superada por uma força muito superior à sua.
Saiu ao encontro de seu olhar sem se acovardar, orgulhosa inclusive em sua rendição.
-Cumprirei com minha parte do trato.
-Queria que me desse sua palavra - insistiu ele.
Nesse momento, outro violento ataque de tosse atraiu sua atenção para o quarto de Angel. Dul o olhou com expressão de surpresa. A última vez que tinha lhe dado sua palavra, ele tinha agido como se isso não significasse nada para ele, o que não era nada surpreendente. Os homens, incluído seu próprio pai, não davam valor algum à palavra de uma mulher. Evidentemente, Lorde Westmoreland tinha mudado de opinião, e isso não deixou de ser estranho. Com uma sensação extremamente incômoda e ligeiramente orgulhosa diante da pergunta, que era sua primeira oportunidade de que se cumprisse com seu pedido, sussurrou:
-Dou-lhe minha palavra.
Christopher assentiu, satisfeito.
-Em tal caso, pode dizer a sua irmã que será conduzida de volta à abadia. Depois disso, não é permitido que você fique a sós com ela.
-Por quê? -perguntou Dul, sobressaltada.
-Porque duvido muito que sua irmã tenha prestado atenção nas defesas do castelo de Hardin para contar algo a seu pai. Você, entretanto - acrescentou em tom irônico, - não deixou de calcular a grossura de seus muros, e de contar os sentinelas enquanto cruzava a ponte elevadiça.
-Não! -exclamou Angel pouco depois ao ficar sabendo de que a levariam de volta à abadia. -Não partirei sem você, Dul! -Voltou o olhar para Lorde Westmoreland e acrescentou: - Tem que vir comigo!
Por um instante Dul quase poderia ter jurado que Angel parecia mais desiludida que assustada ou doente.
Uma hora mais tarde, cem cavalheiros das tropas do Lobo Negro, dirigidos por seu irmão Diego, estavam montados no pátio, preparados para partir.
-Se cuide - disse Dulce a Angel, que se achava em uma carroça, perfeitamente acomodada sobre um monte de almofadões e coberta com várias mantas.
-Achava que ele permitiria você vir comigo - sussurrou Angel dirigindo um olhar acusador ao conde.
-Não esgote suas forças com palavras - disse Dul ao mesmo tempo em que tentava colocar os almofadões de pluma debaixo de sua cabeça e de seus ombros.
Christopher se voltou, deu a ordem e no meio do ruído das selas e o ranger das vigas a ponte elevadiça desceu lentamente sobre o fosso. Os cavalheiros esporearam suas montarias, Dulce retrocedeu alguns passos, e a caravana começou a cruzar a ponte. Estandartes azuis, com a cabeça de um lobo negro em atitude de grunhir, ondulavam sob a brisa, sustentados pelos homens situados na vanguarda e na retaguarda do grupo.
Dul os observou. A insígnia do Lobo protegeria Angel até que chegassem à fronteira; depois, se os homens de Lorde Westmoreland fossem atacados, só o nome de Angel seria seu amparo.
A ponte elevadiça começou a levanta-se de novo e bloqueou a visão de Dul. Christopher a tomou pelo cotovelo e a conduziu de volta ao salão. Dul o seguiu, mas não podia afastar de sua mente aqueles sinistros estandartes com a imagem deliberadamente malévola de um lobo que mostrava as presas brancas. Até esse dia os homens tinham levado os estandartes em que aparecia o brasão do rei da Inglaterra, composto de leões dourados e trevos.
-Se estiver preocupada que eu possa exigir o cumprimento imediato de sua parte do trato, pode se tranqüilizar - disse Christopher asperamente ao observar a expressão carrancuda de Dul. -Tenho deveres a cumprir, que me ocuparão até a hora de jantar.
Dul não sentia o menor desejo de pensar no compromisso que tinha assumido, e muito menos falar dele.
-Perguntava-me - disse rapidamente - por que os cavalheiros que acabam de partir não levavam o estandarte do rei e sim o seu.
-Porque não são cavalheiros do Henrique e sim meus - respondeu ele. -E é para mim que devem fidelidade.
Dul se deteve de repente, ainda no pátio. Conforme se dizia, Henrique VII tinha declarado ilegal que seus nobres mantiveram exércitos próprios.
-Mas achava que era ilegal que os nobres ingleses tivessem seu próprio exército de cavalheiros.
-Em meu caso, Henrique decidiu fazer uma exceção.
-Por quê?
Christopher arqueou as sobrancelhas e a olhou com ironia. -Provavelmente porque confia em mim? -disse, sem incomodar-se sequer em lhe dar mais informação.
Autor(a): nathyneves
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Depois do jantar, sentado ao lado de Dulce, com o braço ao redor das costas dela, Christopher contemplou com expressão pensativa como Dulce deslumbrava deliberadamente os quatro cavalheiros que ainda permaneciam sentados à mesa. Parecia-lhe surpreendente que Eustace, Godfrey e Lionel permanecessem durante tanto tempo após a sobremesa. Por um lado, ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 26
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beel Postado em 22/02/2009 - 15:49:56
VOLTA A POSTAAAAAAAAAAR
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beel Postado em 13/02/2009 - 18:25:00
Voltaa aa postaar !!
Se vc voltar postar eu comentoo todos os dias,várias vezes !!
Por favoooooor !!
Continuaaaaaaaaaaaaaa -
nathyneves Postado em 13/02/2008 - 17:26:18
Eu irei parar de postar aquii
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=48488462&tid=25782030367557 67535&start=1
ai em cima ta o link da web no orkut
Beijooos -
dull Postado em 07/02/2008 - 00:36:45
Por favor não para de poxtar eu amo sua Web...
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nathyneves Postado em 31/01/2008 - 00:05:54
Vou viajar e só volto depois do carnaval... Beijoos
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mirian Postado em 28/01/2008 - 18:47:35
eu tbm ADORO a sua web..e vou comentar
todo cap para vc nao parar + de postar, OK?
BJOS... -
deborah Postado em 27/01/2008 - 10:11:40
leitora nova!!!!
essa web é lindah, eu to amando de vdd!
To muito curiosa...
Besitos e posta quando der... -
avinha Postado em 26/01/2008 - 00:06:56
nhaaa naum para de postarrr! sua web eh lindaa... *-*
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nathyneves Postado em 24/01/2008 - 01:49:49
Okeey então amanhã eu volto a postaar
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avinha Postado em 23/01/2008 - 21:16:43
ahhh pleaseee naum para de postar mais naum
eh taum linda sua web