Fanfics Brasil - CAPITULO XII •■•Um Reino de Sonhos•■• D&C

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Capítulo: CAPITULO XII

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-Temos visita - anunciou Godfrey ao entrar no salão, e a seguir mirou com gesto carrancudo os cavalheiros que sentados à mesa comiam. Doze pares de mãos se detiveram imediatamente, e os rostos se voltaram para ele com expressão de alerta. -Um grande grupo que trás o estandarte do rei se dirige para cá. São muitos para tratar-se de simples mensageiros. Lionel os viu no caminho. Diz que acredita ter reconhecido Graverley. -Olhou para a galeria e perguntou: - Onde está Christopher?

-Saiu para passear com nossa refém - respondeu Eustace com aspereza. -Não estou certo de saber para onde foram.

-Eu sei. Irei avisar - interveio Arik, e depois de ficar de pé abandonou a estadia a grandes passadas, seguro de si mesmo. Mas a expressão pétrea e distante que o caracterizava se viu escurecida por um olhar de preocupação que tornou mais profundas as rugas que sulcavam seu bronzeado rosto.

A risada musical de Dul se espalhou como sinos agitados por uma repentina rajada de vento, e Christopher sorriu enquanto ela se apoiava contra o tronco situado junto a ele, com os ombros trêmulos pela risada e as bochechas ligeiramente afogueadas.

-Não..., não acredito - disse ao mesmo tempo em que enxugava algumas lágrimas de riso. -Isso não é mais que uma mentira que acaba de inventar.

-É possível - admitiu ele.

Estendeu as pernas para frente e não pôde evitar sorrir diante do contagioso som da risada dela. Essa manhã quando os servos entraram no dormitório e descobriram Dul no leito de seu senhor, quase foi doloroso sentir a expressão de angústia da moça ao se ver descoberta daquele modo com ele. Transformou-se em sua amante, e tinha a certeza de que todo o castelo estaria falando disso. Ainda assim, naturalmente, era certo. Depois de considerar a alternativa de mentir ou de tentar seduzi-la para que esquecesse suas preocupações, Christopher decidiu que o melhor que podia fazer era afastá-la do castelo durante algumas horas a fim de que relaxasse um pouco. Tinha sido uma decisão prudente, decidiu ao observar agora os olhos cintilantes e a tez brilhante de seu rosto.

-Deve acreditar que sou estúpida se pensa em me enganar com uma mentira como essa - disse Dul, que tratou de o olhar-lho com severidade, sem conseguir.

Christopher sorriu, mas negou com a cabeça.

-Não, está completamente enganada.

-Completamente? -repetiu Dul. -O que quer dizer?

-Que o que quer que você pense não era mentira - explicou Christopher com um sorriso. -E tampouco acredito que alguém possa lhe enganar facilmente. - Fez uma pausa, à espera que ela respondesse. Ao sentir que não iria, acrescentou: - Isso foi um cumprimento.

-OH! -exclamou Dul, assombrada, e em tom vacilante, acrescentou: - Obrigada.

-Além disso, longe de considerá-la estúpida, acredito que é uma mulher extraordinariamente inteligente.

-Obrigada de novo! -apressou-se a responder Dul.

-Isso, por outro lado não foi um cumprimento - disse Christopher.

Dul lhe dirigiu um olhar de pretensa indignação, exigindo em silêncio uma explicação. Christopher a ofereceu ao mesmo tempo em que estendia a mão e lhe acariciava sua face.

-Se fosse menos inteligente, não dedicaria tanto tempo em considerar todas as possíveis conseqüências de pertencer a mim e se limitaria a aceitar sua situação, assim como os benefícios de que ela lhe traria. -Christopher desviou significativamente o olhar para o colar de pérolas que nessa mesma manhã tinha insistido em lhe colocar ao redor do pescoço, depois de lhe entregar todo o estojo de jóias.

Dul não pôde reprimir um gesto de indignação, mas Christopher continuou com uma imperturbável lógica masculina.

-Se fosse uma mulher de pouca inteligência, só se preocuparia com as questões que interessam a uma mulher, como moda, dirigir uma casa e o cuidado das crianças. Não se torturaria com temas como lealdade e patriotismo.

Dul o olhou fixamente.

-Aceitar minha situação? -disse em tom de incredulidade. -E eu não estou em uma situação, como tratou de insinuar tão agradavelmente. Vivo no pecado com um homem, desafiando assim os desejos de minha família, de meu país e de meu Deus todo-poderoso. E, além disso - acrescentou, deixando entrever seu temperamento, - me pareceu muito claro que me recomendou pensar somente em questões de mulheres, como o dirigir uma casa e cuidar das crianças, mas foi precisamente você quem me roubou o direito dessas coisas. Será sua esposa quem irá dirigir seu lar, e não me resta a menor duvida de que fará todo o possível para transformar minha vida em um verdadeiro inferno, e...

-Dulce - interrompeu-a ele contendo a risada, - como sabe muito bem, não sou casado.

Christopher compreendia que boa parte do que ela dizia era certo, mas oferecia um aspecto tão encantador, com aqueles chamejantes olhos de cor safira e aquela boca tão desejável, que ficava difícil se concentrar. A única coisa que desejava na realidade era tomá-la em seus braços e embalá-la como uma gatinha zangada.

-Ainda não está - argumentou Dul com amargura. -Mas algum dia escolherá uma esposa, provavelmente logo..., e será uma inglesa! Uma inglesa, com água gelada nas veias, com o cabelo da cor de um camundongo e um nariz pequeno e bicudo que com os anos ficará vermelho e começará a gotejar...

Christopher não pôde evitar soltar uma gargalhada. Levantou a mão em um gesto zombador de defesa e disse:

-Cabelo da cor de um camundongo? Acha que isso é o melhor que posso conseguir? E eu que esperava ter uma esposa loira, com uns grandes olhos verdes e...!

-E grandes lábios rosados, e grandes... - Dul levou as mãos aos seios e quando caiu em si do que estava a ponto de dizer, deteve-se na metade da frase.

-Sim - animou-a Christopher em tom zombador. -E grandes o que?

-Orelhas! -respondeu ela, enfurecida. -Mas seja qual for o aspecto que tenha, a questão é que transformará minha vida em um verdadeiro inferno.

Incapaz de conter-se por mais tempo, Christopher se inclinou para ela e lhe roçou o pescoço com os lábios.

-Farei um trato com você - sussurrou, beijando-a na orelha. -Escolheremos uma esposa que agrade a nos dois.

E nesse mesmo instante, Christopher sentiu que sua obsessão por Dulce nublava seu pensamento. Não podia se casar e conservar ao mesmo tempo Dulce, e sabia. Apesar de suas brincadeiras, não era tão cruel para contrair matrimônio com Mary Hammel, ou com qualquer outra mulher, e depois obrigar Dulce a sofrer a indignidade de permanecer como sua amante. Na noite anterior provavelmente tivesse considerado essa possibilidade, mas não agora, não depois que se deu conta do quanto ela tinha tido que suportar em sua breve e jovem vida.

Christopher se perguntou com preocupação como a tratariam os "queridos" homens de seu clã quando retornasse para seu lado, depois de ter compartilhado a cama com seu inimigo.

A alternativa de permanecer solteiro, de não ter filhos e herdeiros, parecia-lhe pouco atraente e, de fato, inaceitável. De forma que só restava se casar, e isso também era impossível. Não podia contrair matrimônio com ela e ficar parentes dos seus inimigos jurados; inimigos, por outro lado, que sua esposa devia lealdade. Um matrimônio dessas características, só faria transformar em campo de batalha seu próprio salão quando ele tentasse procurar paz e harmonia. O simples feito de que a inocente paixão e a abnegada entrega de Dul na cama produziu nele um prazer tão delicioso, mas essa não era razão suficiente para submeter-se a uma vida de lutas contínuas. Por outro lado, ela era a única mulher que tinha feito amor com ele, não com a lenda em que ele se transformou. E o fazia rir como nenhuma outra mulher tinha feito; possuía coragem e sabedoria, e um rosto encantador. Finalmente, por último embora não por isso não menos importante, era uma mulher direta e honesta, e isso o desarmava completamente.

Christopher não podia esquecer a sensação que experimentou na noite anterior quando ela colocou a honestidade, por cima do orgulho, e admitiu que, uma vez na cama, não teve o desejo de abandoná-la. Uma honestidade assim era algo muito raro de encontrar, especialmente em uma mulher. Significava que podia confiar em sua palavra.

Naturalmente, todas essas coisas não eram razões suficientes para destruir os planos que tão cuidadosamente ele tinha esboçado para seu futuro.

Por outro lado, tampouco constituíam um incentivo para oferecer a ela.

Christopher levantou o olhar quando os guardas do castelo fizeram soar uma só vez seus trompetes, para indicar que visitantes não hostis se aproximavam.

-O que significa isso? -perguntou Dul, sobressaltada.

-Suponho que é o correio do Henrique - respondeu Christopher ao mesmo tempo em que voltava o olhar para o caminho que conduzia ao castelo. Se fossem, estavam chegando muito antes do que tinha esperado. -De qualquer forma, são amigos.

-Seu rei sabe que sou sua refém?

-Sim. -Embora não gostasse do rumo que tomava a conversa, o conde compreendeu a preocupação que ela devia sentir por seu próprio destino, e acrescentou: - Enviei-lhe uma mensagem faz uns dias, depois de terem chegado ao meu acampamento, junto com minhas mensais pessoais.

-Serei enviada para alguma parte, uma masmorra ou...? -perguntou com voz tremula.

-Não - apressou-se a responder o Lobo. -Permanecerá sob meu amparo. Pelo menos no momento - acrescentou vagamente.

-Mas e se o rei ordenar outra coisa?

Christopher voltou à cabeça para ela e respondeu em tom determinante:

-Não fará. Ao Henrique não importa como obtenho as vitórias para ele. Se o fato de que seja minha refém faça com que seu pai deponha as armas e se renda, a vitória seria ainda melhor, visto que não terá existido derramamento de sangue. - Ao sentir que o tema fazia com que Dul ficasse tensa, deixou-o de lado com uma pergunta que vinha rondado sua mente durante toda a manhã. -Quando seus meio-irmãos começaram a voltar para clã contra você, por que não expôs o problema a seu pai, em vez de tentar escapar imaginando um reino de sonho? Seu pai é poderoso e teria podido resolver o problema tal como eu teria feito.

-E como você teria feito? -perguntou Dul com o mesmo sorriso involuntariamente provocador que sempre o fazia experimentar a necessidade de tomá-la entre seus braços e beijá-la nos lábios.

-Teria ordenado que desistissem de suas suspeitas - respondeu Christopher com maior veemência do que tivesse desejado.

-Não fala como um senhor, mas sim como um guerreiro - observou. -Não pode controlar os pensamentos das pessoas, porque dessa forma só conseguirá aterrorizá-la, mas nem por isso pode fazer com que mudem de opinião.

-O que seu pai fez? -perguntou Christopher desafiando as observações de Dul.

-No momento em que Becky se afogou, lembro que meu pai estava fora, participando de alguma batalha.

-E quando retornou da lutar contra mim -acrescentou Christopher com um sorriso irônico, - o que fez?

-Então já circulavam todo tipo de rumores sobre mim, mas meu pai acreditou que eu exagerava e que todo aquele falatório terminaria por desaparecer. Como ve -acrescentou diante da expressão de desaprovação de Christopher, - meu pai não dar muita importância ao que chama "questões de mulheres". Gosta muito de mim - afirmou, mas para Christopher pareceu mais lealdade que sentimentos sobre tudo tendo em conta que tinha elegido ao Balder como marido para sua filha, - mas para ele as mulheres são..., bom, menos importantes que os homens. Casou-se com minha madrasta porque éramos parentes e porque ela tinha três filhos saudáveis.

-E preferiu ver seu título nas mãos de parentes longínquos antes de oferecer a você e, provavelmente, a seus próprios netos? -disse Christopher com um tom de desaprovação que apenas se incomodou em esconder.

-O clã significa tudo para ele, e é assim como deve ser - replicou Dulce, cuja lealdade a impulsionava a falar com veemência. -Não acreditava que eu, como mulher, fosse capaz de ganhar sua lealdade e guiá-los..., embora o rei Jacob lhe tivesse permitido me passar o título, o que de qualquer forma teria constituído um problema.

-Ele tomou a iniciativa de expor o problema ao Jacob?

-Não, não fez. Mas, como já lhe havia dito, meu pai não duvidava de mim como pessoa. Tratava-se, simplesmente, porque sou mulher e, como tal, estou destinada a outras coisas.

Ou a outros, pensou Christopher sem poder dissimular seu aborrecimento.

-Não compreende meu pai porque não o conhecem. É um grande homem e todos sentem por ele o mesmo eu. Nós..., todos daríamos a vida por ele se... -Por um instante, Dul acreditou ter se tornado louca ou cega, pois de pé no interior do bosque, olhando-a, com um dedo apertado sobre os lábios em sinal de que guardasse silêncio, viu seu meio-irmão Christian. -Se nos pedisse isso.

Christopher não sentiu a mudança repentina de seu tom de voz. Estava ocupado tentando reprimir uma irracional onda de ciúmes ao comprovar que o pai de Dul despertava nela essa devoção cega e absoluta.

Dul fechou os olhos com força e voltou a abri-los para olhar com maior atenção. Christian havia tornado a se esconder entre as sombras do bosque, mas ainda podia ver a beirada de seu casaco verde. Christian estava ali! Tinha vindo para libertá-la. Ao se dar conta disso, ficou feliz e uma alegria e um alívio imenso saiu de seu peito.

-Dulce...

A voz serena e grave de Christopher Westmoreland fez com que Dul afastasse o olhar do lugar onde Christian já tinha desaparecido.

-Sim? -falou. Quase esperava que o exército de seu pai surgisse a qualquer momento do bosque e algum de seus homens matasse Christopher ali mesmo. Matá-lo! A simples idéia fez com que se formasse um nó na garganta. Dul ficou de pé, obcecada pela necessidade de afastá-lo o do bosque ao mesmo tempo em que ela planejava se introduzir no bosque.

Christopher franziu o cenho ao observar que a moça empalidecia.

-O que ocorre...? Parece...

-Inquieta! -interrompeu-o ela. -Sinto necessidade de caminhar um pouco. Eu...

Christopher se levantou e abriu a boca para perguntar qual era a razão de sua inquietação quando viu Arik subindo a colina.

-Antes que Arik chegue ao nosso lado - disse-lhe, - quero que saiba algo.

Dul se voltou, e sentiu que o sangue gelava ao ver Arik, ao mesmo tempo em que uma insensata sensação de alívio se apoderava dela. A presença de Arik, significava que Christopher contaria com a ajuda de alguém para enfrentar seus atacantes. Mas nesse caso seu pai, ou Christian ou qualquer dos de seu clã podiam ser mortos.

-Dulce... - disse Christopher, exigindo sua atenção.

Dul se voltou para ele e o olhou atentamente.

-Sim?

Se os homens de seu pai se dispunham a atacar Christopher, já deveriam estar avançando entre as árvores do bosque; ele nunca seria mais vulnerável que nesse momento. O que significava, pensou Dul precipitadamente, que Christian devia estar sozinho e tinha visto Arik. E se isso era certo, como ela esperava só teria que conservar a calma e encontrar uma maneira de retornar ao bosque assim que fosse possível.

-Ninguém vai trancá-la em uma masmorra - disse Christopher com suave firmeza.

Ao contemplar aqueles olhos abrasadores, ocorreu a Dul pensar que logo, teria que se afastar dele, provavelmente ao término de uma hora, e uma dor inesperada pareceu rasgar seu peito. Certo que ele era o responsável por seu cativeiro, mas em nenhum momento a tinha submetido às atrocidades que qualquer outro teria lhe causado. Além disso, era o único homem que não a condenava por sua bravura e admirava sua coragem. Tendo em conta que ela tinha sido a causadora da morte de seu cavalo, tinha-lhe esfaqueado o rosto e o tinha ridicularizado ao escapar, teve que admitir, até para seu pesar, que a tinha tentado com algo mais que simples galanteria, embora fosse ao seu próprio estilo. De fato, se as coisas tivessem sido diferentes entre suas famílias e seus países respectivos, Christopher Westmoreland e ela teriam poderiam ter sido amigos. Amigos? Eram muito mais que isso. Eram amantes.

-Eu... sinto - disse Dul com voz sufocada. -Estava distraída. O que acaba de me dizer?

-Eu disse que não quero que pense que corre perigo - respondeu ele, que não podia evitar se sentir preocupado diante da expressão de pânico de Dul. -E quanto chegar o momento de enviá-la de volta para casa, estará sob meu amparo.

Dul assentiu com um gesto e, emocionada, sussurrou:

-Sim. Obrigada.

Ao acreditar, incorretamente, que ela o agradecia, Christopher sorriu.

-Se importaria de expressar sua gratidão com um beijo?

Para seu próprio assombro, Dul não necessitou que ele insistisse. Jogou os braços em seu pescoço e lhe deu um beijo nos lábios que era em parte de despedida e em parte de temor, enquanto deslizava as mãos pelos poderosos músculos de suas costas como se tentasse assim memorizar seus contornos.

Quando deixaram de se beija, Christopher a olhou, sem deixar de abraçá-la.

-Meu Deus - sussurrou. Começava a inclinar de novo a cabeça, quando se deteve ao ver que Arik chegava. -Maldição, Arik já está aqui.

A tomou pelo braço e a conduziu para o gigante, mas quando chegaram ao seu lado, ele levou seu senhor à parte e falou com rapidez.

Christopher voltou o olhar para Dulce, preocupado pela desagradável noticia da chegada de Graverley.

-Temos que retornar - disse-lhe, comovido pela expressão de angústia da moça. Essa mesma manhã, ela tinha se alegrado como uma menina quando lhe ofereceu sair do castelo para dar um passeio. "Estive confinada em uma tenda ou vigiada durante tanto tempo, havia dito ela, que a só idéia de passear pelo bosque faz que me sinta renascer".

Evidentemente, pensou Christopher, o passeio ao ar livre tinha lhe feito muito bem. Lembrou o ardor de seu último beijo e se perguntou se não seria uma loucura lhe oferecer o direito de permanecer ali sem companhia de ninguém. Estava a pé, não tinha forma de conseguir um cavalo, e era bastante inteligente para saber que se tentasse escapar os cinco mil homens acampados ao redor do castelo a achariam em menos de uma hora. Além disso, podia ordenar aos guardas das torres do castelo que a vigiassem das ameia.

Com o sabor de seu último beijo ainda nos lábios e a lembrança da decisão de Dul de não tentar escapar do acampamento, tal como lhe assegurou várias noites antes, dirigiu-se para ela.

-Dulce - disse-lhe em tom severo por causa de suas próprias reservas sobre a prudência do que se dispunha a lhe comunicar, - se lhe permitir ficar aqui posso confiar que não tentará escapar?

A expressão de incredulidade que apareceu em seu rosto foi à recompensa mais do que suficiente para sua generosidade.

-Sim! -exclamou Dul, incapaz de acreditar nesse golpe de sorte.

O indolente sorriso que se desenhou no bronzeado rosto de Christopher fez com que lhe parecesse elegante e quase juvenil.

-Não demorarei muito - prometeu-lhe.

Viu-o se afastar em companhia de Arik e memorizou inconscientemente o aspecto que tinha: usava um casaco marrom que cobria seus largos ombros, um cinturão marrom solto ao redor da estreita cintura, usava grossas calças que destacavam os fortes músculos das coxas. A meio caminho, ele se deteve e se voltou para ela. Christopher levantou a cabeça e esquadrinhou o bosque, como se percebesse a ameaça que ali se escondia. Aterrorizada diante da perspectiva de que ele tivesse visto ou escutado algo e decidisse retornar, Dul fez a primeira coisa que lhe ocorreu: saudou-o com a mão para chamar sua atenção e sorriu para depois levar os dedos aos lábios. Foi um gesto não premeditado, um impulso imprevisto cuja única intenção era cobri a boca para evitar um grito de pânico. Christopher, entretanto, teve a impressão de que lhe lançava um beijo. Com um sorriso zombador que indicava sua complacência, levantou a mão e dirigiu a Dulce um gesto de despedida. A seu lado, Arik disse algo, e Christopher afastou sua atenção de Dulce e do bosque. Voltou-se e desceu rapidamente pela colina sem poder separar de seus pensamentos o ardente beijo que Dulce tinha lhe dado, e a resposta igualmente entusiasmada de seu próprio corpo.

-Dulce!

A voz de Christian, que surgiu da penumbra do bosque atrás dela, fez com que Dul se sentisse tensa diante da perspectiva da iminente fuga, mas cuidou de não se voltar instintivamente para as árvores, ao menos até que o conde tivesse atravessado a porta oculta que se abria no grosso muro de pedra que rodeava o castelo de Hardin. Depois girou sobre seus pés e percorreu com toda pressa à curta distância que a separava do bosque. Procurou ansiosamente seus libertadores.

-Christian, onde...? -começou a perguntar. Mas abafou um grito quando fortes braços a seguraram pela cintura, por trás, e a levaram para o mais profundo esconderijo de um pé de carvalho.

-Dulce! -sussurrou Christian com um tom de voz que refletia a pena e a ansiedade que sentia por ela. -Minha pobre moça... - Olhou fixamente para Dul e em seguida, lembrando os beijos dos que acabava de ser testemunha, disse com expressão sombria: - Ele a obrigou a se transformar em sua amante, não é verdade?

-Eu..., explicarei mais tarde. Temos que ter pressa - implorou-lhe, obcecada em convencer os homens de seu clã para que partissem dali sem derramamento de sangue. -Angel já empreendeu o caminho de volta para casa. Onde está nosso pai e seu povo? -perguntou.

-Nosso pai está em Merrick, e aqui somos só seis.

-Seis! -exclamou Dul ao mesmo tempo em que começava a correr ao lado de seu meio-irmão.

-Pensei que teríamos mais possibilidades de libertá-la, se em vez da força utilizássemos à astúcia.

Quando Christopher entrou no salão, Graverley já se encontrava lá, observando o interior do castelo de Hardin com expressão de ressentimento de mal dissimulada avidez. Como conselheiro particular do rei e membro mais influente da poderosa corte da Câmara da Estrela, Graverley desfrutava de uma tremenda influência, mas sua mesma posição o impedia de ter acesso a um título e às propriedades que sem dúvida cobiçava.

Desde que Henrique se apoderou do trono, tinha começado a tomar medidas necessárias para evitar o mesmo destino que seus predecessores: a derrotar os nobres poderosos que juravam fidelidade a seu rei, mas que logo depois, quando se sentiam descontentes, levantavam armas contra ele. Para impedir que isso voltasse a acontecer, reinstalou a corte da Câmara da Estrela, em que incluiu ministros e conselheiros que não tomavam parte da nobreza, homens como o próprio Graverley, que se dedicava a julgar os nobres e impor fortes multas por qualquer maldade que cometessem que, ao mesmo tempo em que engrossava as arcas do Henrique, privava os nobres da riqueza necessária para rebelar-se.

De todos os conselheiros particulares, Graverley era o mais influente e rancoroso; ao contar com a plena confiança de Henrique, tinha conseguido empobrecer ou levar a ruína todos os nobres poderosos da Inglaterra, com exceção do conde de Claymore que, diante de sua fúria mal dissimulada, continuou prosperando e fazendo-se mais poderoso e rico com cada nova batalha que ganhava para o rei.

O ódio que Graverley sentia por Christopher Westmoreland era conhecido por todos os membros da corte, da mesma forma que o conde desprezava o conselheiro.

Christopher se aproximou do recém-chegado sem dar amostra alguma de desprezo, mas nem por isso deixou de registrar todos os sinais sutis de que por algum motivo estava a ponto de ter um confronto extremamente desagradável. Em primeiro lugar, observou o zombador sorriso de satisfação no rosto de Graverley; a seguir viu que atrás dele havia trinta e cinco homens armados de Henrique, que permaneciam imóveis, em atitude militar. Os próprios homens de Christopher, dirigidos por Godfrey e Eustace, tinham formado duas fileiras no lado extremo do salão, perto do estrado, e permaneciam alerta, como se eles também percebessem algo grave nesta inesperada visita de Graverley, que não tinha precedente. Christopher passou diante dos últimos de seus homens, estes avançaram atrás dele, para formar um guarda de honra.

-Bem, Graverley -disse Christopher, que se deteve diante de seu adversário, - o que o fez sair de trás do trono de Henrique, onde se escondia?

O conselheiro lhe dirigiu um olhar carregado de fúria, mas com voz suave e um pouco mais profunda que a do próprio Christopher, disse:

-Felizmente para a civilização, Claymore, a maioria de nós não compartilha do prazer que você experimenta a vista do sangue e do fedor dos cadáveres.

-Bem, agora que já nos cumprimentamos - falou Christopher. -O que deseja?

-As suas reféns.

Assumido um gélido silêncio, Christopher escutou o resto do mordaz discurso de Graverley, mas, aturdido como estava, as palavras pareciam chegar a seus ouvidos de muito longe.

-O rei ouviu meu conselho - prosseguiu Graverley, - e que consertar a paz com o rei Jacob. Em meio dessas delicadas negociações, raptou às filhas de um dos senhores mais poderosos da Escócia e, com isso, fez com que a paz fosse impossível. -Sua voz adquiriu um tom de autoridade ao anunciar: - Caso não tenha esquartejado suas prisioneiras, um muito típico de um bárbaro como você, transmito-lhe a ordem de nosso soberano o rei de que ponha imediatamente sob minha custódia Lady Dulce Merrick e a sua meia-irmã, que depois serão devolvidas a sua família.

-Não.

Christopher pronunciou aquela única palavra, que constituía uma traiçoeira negativa em obedecer uma ordem real, quase sem perceber, e pareceu sacudir o salão com a força explosiva de uma gigantesca rocha lançada por uma catapulta invisível. Automaticamente, os homens do rei levaram a mão ao punho de sua espada e olharam sombriamente para Christopher, cujos próprios homens, sobressaltados, também se voltaram para Christopher. Arik foi o único que não deixou transparecer nenhuma emoção, e seu olhar pétreo permaneceu fixo e sobre Graverley.

O próprio Graverley se sentiu muito surpreso para esconder. Olhou para Christopher com os olhos cerrados, e disse em um tom de voz que revelava incredulidade:

-Desafia a exatidão com que lhe transmito a mensagem do rei, ou por acaso ousam se negar a obedecer à ordem?

-A única coisa que faço é desafiar sua acusação de que sou um bárbaro que esquarteja suas reféns - improvisou Christopher.

-Não achava que fossem tão sensível a respeito desse tema, Claymore - mentiu Graverley.

-Como sem dúvida deve saber - disse Christopher, que tentava ganhar tempo, - os prisioneiros são levados diante dos ministros do rei, e é ali onde é decidido seu destino.

-Já basta de dissimulações - falou Graverley. -Cumprirá ou não com a ordem do rei?

Acuado pelo perverso destino e a atitude de um rei imprevisível, Christopher considerou rapidamente as inúmeras razões pelas quais seria uma loucura se casar com Dulce Merrick, e as diversas e impulsivas razões pelas quais se dispunha a fazê-lo.

Depois de tantas vitórias nos campos de batalha de todo o continente, era evidente que tinha sido derrotado em seu próprio leito por uma encantadora jovem de dezessete anos, com mais coragem e engenhosidade que as dezenas de mulheres que tinha conhecido. Por mais que tentasse, não se decidia a enviá-la de retorno a sua casa.

Dul o tinha enfrentado como uma leoa, apesar do que mais tarde se rendeu como um anjo. Tentou matá-lo, mas beijou suas cicatrizes; destroçou as mantas de seus homens e tornou suas roupas imprestáveis, mas fazia apenas alguns minutos o tinha beijado com um ardor doce e desesperado que fez com que a desejasse com desespero; possuía um sorriso que iluminava as escuras curvas de seu coração e uma risada tão contagiosa que o fazia sorrir. Também era honesta, e ele a valorizava acima de tudo.

Todas essas coisas surgiam agora no fundo de sua mente, apesar de que se negava a se concentrar nelas ou inclusive considerar a palavra "amor". Pensar em algo assim teria significado que se sentia mais que atraído fisicamente por ela, e isso era algo que se negava a aceitar. Com a mesma lógica rápida e imparcial que empregava para tomar decisões na batalha, Christopher considerou que, tendo em conta a forma como seu pai e seu clã se comportaria com ela, quando retornasse ao castelo de Merrick não a tratariam como uma vítima, mas sim como uma traidora. Deitou-se com seu inimigo e, tanto faz se estivesse grávida ou não, passaria o resto de sua vida enterrada em um convento, sem outra coisa a fazer a não ser imaginar seu reino de sonho onde a aceitassem e quisessem reino esse, que nunca se transformariam em realidade.

Antes de tomar uma decisão, Christopher considerou todos os fatos, e ficou somente com a certeza de que nunca tinha feito nem faria amor com uma mulher como aquela. E uma vez tendo tomado sua decisão, agiu com sua típica resolução. Consciente que precisaria se encontrar alguns minutos a sós com Dulce, a fim de fazê-la compreender seu raciocínio antes que ela recusasse cegamente a oferta de Graverley, fez um esforço por esboçar um sorriso irônico.

-Enquanto um de meus homens conduz Lady Dulce até o salão, podemos deixar de lado o antagonismo por um instante e desfrutar de uma cerveja?

Com um movimento de mão, assinalou para a mesa que os servos já se apressavam a encher com as bebidas e comidas que tinham podido reunir em tão pouco tempo.

Graverley arqueou as sobrancelhas com expressão de receio, e Christopher se voltou para os soldados do Henrique, alguns dos quais tinham combatido ao seu lado em batalhas passadas, ao mesmo tempo em que se perguntava se por acaso não demoraria em entrar em um combate mortal contra eles. Voltou-se novamente para o Graverley e disse:

-E então? -Depois, consciente de que mesmo se Dulce se mostrasse de acordo em ficar com ele teria que convencer Graverley de que não tentasse levá-la dali pela força, Christopher imprimiu um tom agradável a sua voz ao acrescentar: - Lady Angel já está a caminho de sua casa, com uma escolta dirigida por meu irmão. -Crédulo em despertar a inata debilidade de Graverley pelas fofocas, acrescentou quase com cordialidade: - Trata-se de uma história que indubitavelmente lhe agradará escutar enquanto comemos...

A curiosidade de Graverley foi com certeza maior que seus receios. Depois de um instante de vacilação, assentiu com um gesto e se dirigiu para a mesa. Christopher o acompanhou, mas no meio caminho se deteve e disse:

-Me permita que envie alguém para procurar Lady Dulce. -Voltou-se para Arik e em voz baixa lhe ordenou: - Leve Godfrey com você e a procurem. Depois a traga aqui. -O gigante assentiu e Christopher acrescentou: - Diga que não aceite a oferta do Graverley até que tenha falado com ela a sós. Procure que fique bem claro.

Na opinião de Christopher, a possibilidade de que depois de escutar sua oferta Dul insistisse em partir, era impensável. Até desprezando a idéia de que sua decisão de se casar com ela pudesse estar motivada por algo mais que o prazer ou a compaixão, em cada batalha em que participava, sempre procurava não perder de vista às motivações de seu oponente. Neste caso, estava consciente de que os sentimentos de Dulce para com ele eram muito mais profundos dos que inclusive ela mesma se atrevia a reconhecer. Caso contrário não teria se entregado a ele como tinha feito, nem teria admitido tão honestamente que desejava permanecer no leito. E, certamente, não lhe teria dado aquele beijo na colina, há apenas alguns minutos. Era muito doce, sincera e inocente para fingir aquelas emoções.

Convencido de que a vitória estava ao alcance de sua mão, depois de uma pequena escaramuça, primeiro com Dulce e depois com Graverley, Christopher se dirigiu para a mesa em que o conselheiro do Henrique acabava de sentar-se.

-De forma que deixou partir a jovem mais linda e reteve a mais orgulhosa? -disse Graverley mais tarde, depois de Christopher ter lhe transmitido os pormenores da partida de Angel e acrescentasse todos os detalhes possíveis por intranscendentes que fossem com o propósito de ganhar tempo. -Me desculpe se lhe disser que isso é algo que é difícil de imaginar - acrescentou Graverley enquanto mordiscava delicadamente um pedaço de pão.

Christopher apenas escutou o que ele lhe dizia. Considerava as alternativas que restavam no caso de Graverley se negar em aceitar a decisão de Dulce de permanecer com Christopher, exigiria-lhe o direito de escutar a ordem de Henrique dos próprios lábios de deste.

Negar-se a "acreditar" na palavra do Graverley não era exatamente uma traição, e embora não lhe restasse a menor duvida de que o rei se zangaria, não era provável que ordenasse enforcá-lo por isso. Uma vez que Henrique escutasse dos doces lábios da própria Dulce que desejava se casar com Christopher, certamente daria sua aprovação. Enfim, o rei gostava de arrumar situações políticas potencialmente perigosas mediante o matrimônio, incluindo o seu próprio.

A imagem agradável do Henrique que aceitava com atitude benigna que um de seus súditos lhe desobedecesse para depois se apressar em aprovar seu matrimônio, não contava com muitas possibilidades de se transforma em realidade, mas Christopher preferiu apegar-se a ela e não considerar as possibilidades restantes, como a forca, ser arrastado e esquartejado, ou se ver privado das terras e propriedades que tinha ganhado com o risco de sua vida.

 Havia dúzias de outras possibilidades, igualmente desagradáveis, e de combinações iguais, e Christopher as considerou uma depois da outra enquanto permanecia sentado ao lado de seu inimigo. Mas nem por um instante pensou na possibilidade de que Dulce o tivesse beijado pondo nisso seu coração e seu corpo, ao mesmo tempo em que abrigava a intenção de escapar assim que lhe desse as costas.

-Por que a deixou partir se era uma jovem tão linda?

-Como já lhe havia dito, estava doente - respondeu Christopher com brutalidade, e com intenção de evitar continuar falando com Graverley, fingiu ter muito apetite. Inclinou-se para aproximar a bandeja de pão e levou a boca uma grande parte do pato gordurento, o que o fez sentir náuseas.

Meia hora mais tarde, Christopher já tinha que fazer um verdadeiro esforço físico para dissimular seu nervosismo. Arik e Godfrey já deveriam ter transmitido a Dulce sua mensagem, e parecia evidente que ela o recusava; em conseqüência disso, provavelmente estivessem discutindo com ela e por isso demoravam tanto em trazê-la ao salão. Mas, ela o recusaria? E se o fizesse como reagiria Arik? Por um momento Christopher imaginou com horror seu leal cavalheiro empregando força física com Dulce para lhe obrigar a cumprir com seus desejos. Arik era capaz de partir em dois os braços de Dulce sem nenhum esforço, da mesma forma que qualquer outro homem necessitaria para quebrar um pequeno galho entre os dedos. Essa idéia fez com que a mão de Christopher, tremesse alarmado.

Enquanto isso, Graverley olhava ao redor e a cada minuto que passava seu receio ante um possível estratagema, aumentava. De repente, ficou de pé, olhou para Christopher com expressão de fúria e exclamou:

-Já basta de esperas! Por acaso me toma por estúpido, Westmoreland? É evidente que não enviou seus homens para procurá-la. Se ela estiver aqui, esconderam-na, e nesse caso devo lhe dizer que é mais estúpido do que imaginava. -Voltou-se para seu oficial assinalando para Christopher, e ordenou: - Capturem este homem e revistem o castelo até que encontrem a Merrick. Se for necessário, desmontem este lugar pedra a pedra, mas a encontrem. Ou muito me equivoco, ou as duas mulheres foram assassinadas há dias. -Interroguem seus homens. Utilizem à força se for necessário. Obedeçam!

Dois dos soldados do Henrique se adiantaram convencidos de que, como homens do rei, capturariam Christopher sem encontrar oposição. Mas, no instante em que se moveram, os homens do Lobo fecharam filas imediatamente em torno de seu senhor, dispostos a lutar e desembainhar as espadas.

A última coisa que Christopher desejava nesse momento era um combate entre seus homens e os de Henrique.

-Se contenham! -falou com voz brusca, consciente de que seus cavalheiros cometiam um ato de traição ao impedir o passo dos homens do rei.

Os noventa homens que havia no grande salão ficaram imóveis depois de ouvir a ordem e se voltaram para seus respectivos chefes à espera da ordem seguinte.

Christopher dirigiu um olhar de profundo desprezo a Graverley, e disse:

-Estão agindo estupidamente, inclusive você, que tanto detesta parecer. A dama a quem acham que assassinei e que mantenho escondida saiu para dar um agradável passeio, sem segurança alguma, pela colina que se eleva atrás do castelo. Além disso, longe de ser uma prisioneira, Lady Dulce desfruta da mais completa liberdade, e lhe proporcionamos todo tipo de comodidades. De fato, quando a virem irão comprovar que usa as elegantes roupas que pertenceram à antiga senhora deste castelo, e que usa no pescoço o mais valioso colar de pérolas, propriedade também da mesma mulher.

-Deu de presente a ela jóias? -falou o conselheiro boquiaberto. -O desumano Lobo Negro, o Grande Guerreiro da Escócia, esbanjou suas propriedades tão mal obtidas com sua própria prisioneira?

-Um cofre cheio - limitou-se a dizer Christopher.

A expressão de estranheza que apareceu no rosto de Graverley foi tão cômica que Christopher se sentiu apanhado entre a necessidade de sorrir e a que ele achava muito mais atraente de proporcionar um murro em seu inimigo. Nesse momento, entretanto, sua principal preocupação consistia em impedir que os dois lados opostos começassem uma briga e evitar assim as incalculáveis conseqüências que semelhante ato teria. E para conseguir tal objetivo estava disposto a dizer o que fosse e a confessar qualquer tolice até que Arik aparecesse seguido de Dulce.

-Além disso - acrescentou ao mesmo tempo em que se apoiava sobre a mesa e fingia uma segurança absoluta em si mesmo, - se espera que Lady Dul caia a seus pés chorando de alegria porque foi em seu resgate, terá uma grande decepção, porque ela deseja ficar comigo...

-Por que iria querer ficar com você? -perguntou Graverley que, longe de se sentir encolerizado, no momento achava a situação muito divertida.

Igual a Christopher Westmoreland, Graverley conhecia bem o valor das alternativas e que resultariam de todas aquelas tolices sobre a vontade de Lady Dulce Merrick e a amabilidade e ternura com que Christopher a tinha tratado, e se ele conseguisse convencer Henrique para que não o considerasse culpado por isso, Westmoreland se transformaria no bobo da corte inglesa durante anos.

-Por sua atitude de posse, julgo que Lady Dulce esteve esquentando a sua cama. Evidentemente, agora pensa que devido a isso está disposta a trair a sua família e o seu país. Parece-me - acrescentou Graverley com certo regozijo - que começa a acreditar em todas as fofocas que contam na corte a respeito de sua suposta capacidade amorosa. Ou por acaso ela é tão boa que perdeu a cabeça? Em tal caso, terei que convidá-la para que se deite comigo. Não se importará, não é verdade?

-Na medida em que tenho a intenção de me casar com ela - replicou Christopher entre dentes, - me dará uma boa desculpa para lhe cortar a língua, algo que farei encantado.

Christopher se dispunha a sair, mas o olhar de Graverley se deslocou de repente para um ponto situado a suas costas.

-Aqui está o fiel Arik - disse Graverley, - mas onde está a ávida noiva?

Christopher se voltou e se alarmou diante da expressão sombria do gigante.

-Onde ela está? -perguntou.

-Escapou.

Depois de um instante de gélido silêncio, Godfrey acrescentou:

-A julgar pelos rastros encontrados no bosque, havia seis homens e sete cavalos. Ela partiu sem deixar o menor rastro de luta. Um dos homens deve ter permanecido escondido no bosque, a poucos metros de onde esteve hoje sentado com ela.

A poucos metros de onde ela o tinha beijado como se jamais quisesse se afastar de seu lado, pensou Christopher, furioso. A poucos metros de onde ela utilizou seus lábios, seu corpo e seu sorriso para enrolá-lo e convencê-lo de que a deixasse a sós...

Graverley, entretanto, não se deixou apanhar pela incredulidade. Começou a dar ordens imediatamente, a primeira delas dirigida a Godfrey.

-Mostre a meus soldados onde diz que isso aconteceu. -Voltou-se para um de seus próprios homens e acrescentou: - Acompanhe Sir Godfrey, e se tiverem a impressão de que a mulher fugiu que doze de vocês partam em busca do grupo do clã Merrick. Quando o avistarem, nada de armas; transmitam em troca as saudações do Henrique da Inglaterra e os acompanhem até a fronteira escocesa. Ficou claro?

Sem esperar resposta, Graverley se voltou para Christopher, e sua voz ressonou com retoques sinistros no cavernoso salão.

-Christopher Westmoreland, pela autoridade que me foi conferida pelo Henrique, rei da Inglaterra, ordeno-lhe que me acompanhe a Londres, onde respondera pelo seqüestro das mulheres Merrick. Também terá que responder ao fato de ter tentado obstruir deliberadamente minha missão de cumprir com as ordens de meu soberano em relação às mulheres do clã Merrick, algo que pode ser considerado como um ato de traição, como sem dúvida se determinará. Se coloque sob a custódia de meus homens, ou deve ser pela força?

Os homens de Christopher, que superavam em número os de Graverley, ficaram em alerta; compreensivelmente sua lealdade se achava dividida entre seus votos de fidelidade a Christopher, seu senhor, e seus votos de fidelidade ao rei. Apesar de que se sentia tremendamente confuso, Christopher se deu conta da complicada situação de seus homens e, com um brusco gesto de cabeça ordenou que depusessem as armas.

Ao compreender que os cavalheiros do conde já não oporiam resistência, um dos homens de Graverley tomou Christopher por ambos os braços, jogaram para trás e lhe amararam rapidamente os braços com tiras de couro. O prisioneiro apenas se precaveu disso, a pesar da dor que lhe produziam as fortes tiras de couro, estava consumido por tal estado de cólera que sua mente estava transformada em um feroz vulcão de raiva. Não podia separar de seus pensamentos aquela embromadora jovem escocesa: Dulce em seus braços..., Dulce rindo dele..., Dulce lhe enviando um beijo...

Agora, por ter cometido a estupidez de confiar nela, enfrentava uma acusação de traição. No melhor dos casos, perderia suas terras e seus títulos; no pior, perderia a vida.

Mas nesse momento estava muito furioso para que se importasse.



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Autor(a): nathyneves

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 26



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  • beel Postado em 22/02/2009 - 15:49:56

    VOLTA A POSTAAAAAAAAAAR

  • beel Postado em 13/02/2009 - 18:25:00

    Voltaa aa postaar !!
    Se vc voltar postar eu comentoo todos os dias,várias vezes !!
    Por favoooooor !!
    Continuaaaaaaaaaaaaaa

  • nathyneves Postado em 13/02/2008 - 17:26:18

    Eu irei parar de postar aquii
    http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=48488462&tid=25782030367557 67535&start=1

    ai em cima ta o link da web no orkut
    Beijooos

  • dull Postado em 07/02/2008 - 00:36:45

    Por favor não para de poxtar eu amo sua Web...

  • nathyneves Postado em 31/01/2008 - 00:05:54

    Vou viajar e só volto depois do carnaval... Beijoos

  • mirian Postado em 28/01/2008 - 18:47:35

    eu tbm ADORO a sua web..e vou comentar
    todo cap para vc nao parar + de postar, OK?
    BJOS...

  • deborah Postado em 27/01/2008 - 10:11:40

    leitora nova!!!!
    essa web é lindah, eu to amando de vdd!
    To muito curiosa...
    Besitos e posta quando der...

  • avinha Postado em 26/01/2008 - 00:06:56

    nhaaa naum para de postarrr! sua web eh lindaa... *-*

  • nathyneves Postado em 24/01/2008 - 01:49:49

    Okeey então amanhã eu volto a postaar

  • avinha Postado em 23/01/2008 - 21:16:43

    ahhh pleaseee naum para de postar mais naum
    eh taum linda sua web


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