Fanfics Brasil - CAPITULO IV •■•Um Reino de Sonhos•■• D&C

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Capítulo: CAPITULO IV

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As fogueiras que havia, no vale delatavam a presença dos homens do Lobo. De pé diante da abertura de sua tenda, com as mãos amarradas às costas, Dul estudava pensativamente a atividade que se desenvolvia no acampamento.

-Se formos escapar Angel... - começou a dizer,

-Escapar? -repetiu sua meia-irmã com a respiração entrecortada. -Como?

-Ainda não estou certa, mas o que temos que fazer, terá que ser feito muito em breve. Pois ouvi dizer que alguns dos homens do Lobo, nos utilizarão para obrigar nosso pai a se render.

- Ele se atreverá a fazer isso?

Dul mordeu o lábio.

-Não sei. Houve um tempo, antes que Alexander chegasse a Merrick, em que o povo de meu clã teria deposto as armas antes de permitir que, alguém me causasse dano. Agora, por outro lado, já não se importam.

Angel percebeu o tom de recriminação na voz de sua irmã, e embora desejasse consolá-la, sabia que as artimanhas do Alexander tinham posto os homens do clã de Merrick contra sua senhora até o ponto de que já não se importavam com o que lhe ocorresse.

-Entretanto gostam de você, de forma que é difícil saber o que farão ou quanta influência poderá ter nosso pai sobre eles. Além disso, se pudéssemos escapar logo, talvez conseguíssemos chegar ao castelo de Merrick antes que fosse tomada alguma decisão, é isso o que temos que fazer.

De todos os obstáculos que se interpunha em seu caminho, o que mais preocupava Dul era precisamente o percurso de volta ao castelo, que segundo seus cálculos seria de mais ou menos dois dias a cavalo de onde se encontravam. Cada hora que se vissem obrigadas a passar no caminho constituía um verdadeiro risco, os bandidos estavam por toda parte, e duas mulheres sozinhas eram uma presa encantadora, até para homens honestos. Os caminhos não eram seguros. Tampouco as pousadas. O único alojamento seguro que podiam encontrar seriam às abadias e priorados, que eram precisamente os escolhidos por todos os viajantes respeitáveis.

-O problema é que com as mãos amarradas às costas não temos a menor possibilidade de escapar - continuou Dul sem deixar de observar a atividade do acampamento. -O que significa que teremos que convencê-los a nos desamarrem ou nos preparar para escapar para o bosque quando nos desamarrem para que possamos comer. Mas se fizermos assim descobrirão nossa ausência assim que recolherem os pratos, de forma que não conseguiríamos chegar muito longe. Mesmo assim se essa for à única oportunidade que teremos nos próximos dois dias, acredito que devemos aproveitá-la.

-Uma vez que entremos no bosque, o que faremos? -pergunto Angel, que tratava de dominar o terror que se produzia a mera idéia de se encontrasse sozinha no bosque, em plena noite.

-Não estou certa - respondeu Dul. -Suponho que o melhor será nos escondermos em algum lugar, até que deixem de nos procurar. Ou provavelmente consigamos enganá-los e fazê-los pensar que fomos para leste, e não norte. Se pudéssemos roubar dois de seus cavalos, isso aumentaria nossas possibilidades de evitar que nos alcançasse, embora também fosse mais difícil nos escondermos. O truque consiste em encontrar uma forma de fazer ambas as coisas. Teremos que nos esconder e de uma vez só tirar muita vantagem.

-Como conseguiremos?- perguntou Angel com um gesto de preocupação.

-Não sei, mas temos que tentar fazer algo. -Perdida em seus pensamentos, Dul olhou sem ver na sua frente o homem alto e barbudo que se deteve para conversar com um de seus cavalheiros e que a estudava intensamente.

O esplendor das fogueiras diminuiu e os guardiões retiraram os pratos e voltaram a lhe amarrar, os braços. A nenhuma das duas tinha ocorrido nenhum plano aceitável, apesar de que tinham discutido vários dos mais extravagantes.

-Não podemos permanecer aqui à espera que nos utilize em seu benefício - exclamou Dul mais tarde, deitada ao lado de Angel. -Temos que escapar.

-Dul te ocorreu pensar o que fará quando... se nos encontrar? -perguntou Brenha, corrigindo-se na metade da frase.

-Não acredito que nos mate - tranqüilizo-a Dul depois de pensar por um momento. -Mortas não lhe serviríamos como reféns. Nosso pai insistiria em nos ver antes de render-se, e o conde teria que nos mostrar são e salvas. De outro modo, nosso pai o faria pedaços - disse Dul.

Tinha dito que era melhor referir-se a ele como o conde de Claymore, o que ficava menos aterrorizador que chamá-lo o Lobo.

-Têm razão - assentiu Angel, e depois disso não demorou a adormecer.

Mas transcorreram várias horas antes que Dul pudesse relaxar o suficiente para fazer o mesmo, pois apesar de sua demonstração de coragem e segurança em si mesma, a verdade era que se sentia mais assustada do que jamais tinha estado em sua vida. Assustada pela Angel, por ela mesma e por seu clã, e não tinha nem a menor idéia de como escapar. Mas tinha que tentar.

Quanto à afirmação de que seu seqüestrador não as mataria se as encontrasse, nisso provavelmente tinha razão; além disso, também havia outras alternativas de assassinato, possibilidades quase inimagináveis. Em sua mente surgiu a imagem de seu rosto escuro, oculto depois de uma espessa barba negra de quinze dias, e estremeceu diante da lembrança daqueles estranhos olhos prateados que na noite anterior a olharam com as chamas das fogueiras refletindo-se neles.

Hoje, por outro lado seus olhos tinham sido como o de um dia cinza e cheio de tormentas, mas houve um momento em que o olhar se deslocou para sua boca e a expressão daqueles olhos intensos mudou completamente... e essa mudança fez com que lhe parecesse mais ameaçadora ainda. Tratando de animar-se, disse a si mesma que era a barba negra o que lhe dava um aspecto tão aterrorizador, pois escondia seus traços. Sem aquela barba negra teria sem dúvida o aspecto de qualquer homem amadurecido de... trinta e cinco, quarenta anos? Desde que era menina tinha ouvido falar dele, era como uma lenda viva, de forma que era somente a barba o que lhe dava um aspecto tão alarmante. A barba e sua enorme altura e constituição e... sim, também aqueles estranhos olhos que pareciam duas brasas.                    

Chegou à manhã e ainda não tinha lhe ocorrido nenhum plano viável que pudesse satisfazer ao mesmo tempo sua necessidade de fugir a toda velocidade e esconde-se dos bandidos ou provavelmente de algo pior.

-Se dispusemos ao menos de roupas de homem - disse Dul, não pela primeira vez, - estaríamos em melhores condições tanto de escapar como de chegar ao nosso destino.

-Não podemos pedir a nosso guardião que nos ofereça - comentou Angel com desespero, novamente aflita pelo temor que se apoderava dela. -Desejaria tanto ter minhas agulhas de costurar - acrescentou com um suspiro contido. -Sinto-me tão aflita que quase não consigo permanecer quieta. Além disso, sempre penso com maior clareza quando tenho nas mãos minhas agulhas. Acha que nosso guardião nos proporcionará uma agulha se pedisse amavelmente?

-Não acredito - respondeu Dul colocando as mãos no bolso do habito enquanto observava os homens, que vestiam roupas muito desgastadas. Se alguém necessitava de agulha e fio eram aqueles homens. -Além disso, O que costuraria com...? -Guardou silêncio de repente, mas se animou e voltando-se para sua irmã lhe disse com um sorriso: - Angel tem razão em pedir ao nosso guardião fio e agulha. Parece bastante amável, e sei que se encantou por você. Por que não o chama e lhe pede que nos tragam duas agulhas?

Dul esperou, sem deixar de rir intimamente enquanto sua meia-irmã se aproximava da entrada da tenda e fazia gestos ao guarda. Depois lhe comunicaria seu plano, mas ainda não. Angel não sabia mentir e se delataria.

-É um guardião diferente... Este eu não conheço - sussurrou Angel em tom de decepção enquanto o homem se aproximava. -Devo lhe pedir que procure o outro guardião amável?

-Certamente - respondeu Dul com um sorriso zombador.

Quando o guardião informou a sir Eustace que as prisioneiras desejavam vê-lo, este se encontrava com Christopher e Diego revisando alguns mapas da região.

-Será que sua arrogância não conhece limites? -exclamou Christopher referindo-se a Dul. -Até se permite enviar seu guarda para trazer recados e, o que é pior, este se apressa em obedecê-la. -Com esforço para controlar sua irritação acrescentou com aspereza: - Suponho que foi a mulher dos olhos azuis que te enviou não é verdade?

Sir Lionel deixou escapar uma risada e negou com a cabeça.

-Vi dois rostos limpos, Christopher, mas a que falou comigo não tinha os olhos azuis e sim esverdeados.

-Ah, compreendo - observou Christopher com sarcasmo. -Não foi à arrogância que te induziu a se afastar de seu posto, e sim a beleza. O que quer?

-Só disse que desejava ver Sir Eustace.

-Volta para seu posto e fique ali, e diga que espere.

-Christopher não são mais que duas mulheres indefesas - lembrou-lhe o cavalheiro, - e, além disso, muito jovens. Por outro lado não confia em ninguém para vigiá-las, exceto Arik ou um de nós - acrescentou referindo-se aos cavalheiros que formavam a guarda pessoal de elite de Christopher, que eram também os homens em quem tinha depositada sua confiança. -Mantêm-nas amarradas e sob vigilância como se fossem soldados perigosos capazes de seduzir o guarda e escapar.

-Não posso confiar em ninguém mais para vigiá-las - disse Christopher com expressão reflexiva ao mesmo tempo em que esfregava a nuca com uma mão. De repente, levanto-se da cadeira. -Começo a me cansar de ficar metido nesta tenda. O acompanharei e verei o que querem.

-Eu também vou - disse Diego.

Dul viu o conde chegar, avançando a grandes passadas em direção à tenda acompanhado por dois guardas um a direita, e por seu irmão à esquerda.

-E então? -perguntou Christopher ao entrar na tenda seguido dos três homens, mirou Dul, e acrescentou: - O que ocorre agora?

Angel fez um esforço para controlar seu pânico e com expressão de inocência e culpa, fez um gesto em direção de Sir Eustace e disse:

-Fui... eu quem pediu para vê-lo.

Com um suspiro de impaciência, Christopher afastou o olhar de Dul e olhou para sua estúpida irmã.

-Se importaria de me dizer por quê?

-Sim... - foi tudo o que conseguiu articular.

-Então diga logo - disse Christopher, impaciente.

-Eu... nós...-dirigiu um olhar de sofrimento para sua irmã e finalmente lançou:

- Nós..., queremos dispor de agulhas e fio.

Christopher, receoso, desviou o olhar para a pessoa que talvez tivesse concebido uma forma de utilizar as agulhas contra ele, mas Lady Dulce Merrick, devolveu-lhe o olhar sem alterar-se, com expressão de total de desinteresse, ele experimentou uma estranha sensação de decepção ao observar que a bravura da moça parecia ter desaparecido.

-Agulhas? -repetiu, olhando-a com cenho franzido.

-Sim - respondeu Dul com um tom que não era desafiante nem submisso, e sim serenamente amável, como se tivesse aceitado tranqüilamente seu destino. -Os dias se tornam longos e temos pouco o que fazer. Minha irmã, Angel, sugeriu que podíamos nos dedicar a costurar.

-A costurar? - repetiu Christopher, enojado consigo mesmo por mantê-las amarradas e sob vigilância.

Lionel tinha razão; Dul não era mais que uma descarada e teimosa, com mais bravura que perigosa, tinha-a superestimado, porque nunca um prisioneiro se atreveu a lhe dar um golpe.

-O que acham que é isto, o salão de costura da rainha? -falou. -Aqui não temos nenhuma dessas...

Deteve-se na metade da frase e fez um esforço para lembrar o nome daqueles artefatos que as mulheres da corte utilizavam e com o qual passavam muitas horas costurando com fio de bordar.

-Bastidores de bordado? -perguntou Dul.

Christopher lhe dirigiu um olhar de desprezo e respondeu:

-Temo que não tenhamos essas coisas.

-Provavelmente um pequeno bastidor para começar? -insistiu ela em tom de inocência enquanto fazia esforços para conter a risada.

-Não!

-Tem que haver algo em que possamos usar fio e agulha - apressou-se a acrescentar Dul no momento em que ele se dispôs a partir. -Ficaremos loucas sem nada o que fazer, dia após dia. Não importa o que costuremos. Certamente terão algo que precise ser costurado...

Christopher voltou o olhar para ela com expressão um tanto surpreendida, complacente e receosa.

-Pretendem se dedicar voluntariamente a cerzir nossa roupa?

Angel parecia verdadeiramente impressionada diante de semelhante sugestão. Dul tratou de imitar sua atitude.

-Bom não tinha pensado exatamente em cerzir roupa...

-Caso se trate disso, aqui há trabalho mais que suficiente para manter ocupadas cem costureiras durante um ano - disse Christopher com decisão, convencido nesse instante de que não seria mal que ganhassem à cama e a comida que dava a elas e cerzir roupa era uma boa forma de pagar. Voltou-se para Godfrey e acrescentou: - Se ocupe disso.

Angel pareceu decepciona de que sua sugestão tivesse como resultado trabalhar para o inimigo.

Dul fez um esforço para não revelar emoção alguma, mas assim que os quatro homens se afastaram da tenda, deu a sua irmã um abraço efusivo.

-Acabamos de superar dois dos três obstáculos que se interpõem em nossa fuga - disse-lhe. -Teremos as mãos desamarradas e poderemos confeccionar disfarces, Angel.

-Disfarces? -perguntou Angel, mas antes que Dul pudesse responder, compreendeu ao que esta se referia e pôs-se a rir suavemente. -Roupas de homens e foi ele quem nos ofereceu.

Ao término de uma hora havia na tenda dois montes de roupas e um terceiro monte de mantas e capas pertencentes aos soldados do Lobo. Um dos montes de roupas pertencia exclusivamente a Christopher e Diego Westmoreland, e o outro dos cavalheiros da guarda pessoal deles. Dul observou aliviada que dois deles eram de média compleição.

Dul e Angel trabalharam até a chegada da noite, apesar da escassa luz de uma vela que as obrigava a forçar a vista. Uma vez cerzidas os objetos que escolheram para escapar, os esconderam.

A seguir começaram a trabalhar diligentemente com o monte de objetos pertencentes à Christopher.

-Que hora acha que deve ser? -perguntou Dul enquanto costurava cuidadosamente o punho de uma camisa, fechando-o completamente dos dois lados.

Ao seu lado havia outros objetos que tinham sofrido alterações igualmente criativas, incluídos vários pares de calças habilmente costuradas à altura do joelho para evitar que uma perna pudesse descer além desse ponto.

-Devem ser dez ou mais - respondeu Angel e rompeu o fio com o dente. Tinha razão - acrescentou com um sorriso enquanto sustentava no alto uma das camisas do conde, que agora tinha uma caveira e duas espadas cruzadas, bordadas em negro sobre as costas. -Nem sequer se dará conta quando a colocar.

Dul pôs se a rir, mas Angel, repentinamente calada em seus pensamentos disse:

-Estive refletindo a respeito do MacPherson.

Dul prestou atenção, pois quando não se sentia afetada pelo temor, sua irmã era realmente inteligente.

-Acredito que, depois de tudo, não terá que se casar com ele - concluiu Angel.

-E por quê?

-Porque, indubitavelmente, nosso pai informará ao rei Jacob, e até é possível que ao papa, que fomos raptadas de uma abadia, e isso pode armar tanto alvoroço que o rei se verá obrigado a enviar suas forças ao castelo de Merrick. Uma abadia é um lugar inviolável, e nos estávamos sob seu amparo.

-Assim, se o rei Jacob for em nossa ajuda, não necessitaremos dos clãs do MacPherson, não é verdade?

Uma chama de esperança se acendeu nos olhos de Dul, mas imediatamente desprezou a idéia com um gesto.

-Não acredito que estivéssemos realmente no terreno da abadia.

-Nosso pai não saberá, e suporá que estávamos. E acredito que os outros também.

Com o cenho franzido em um gesto de estranheza, Christopher estava de pé fora de sua tenda, olhando fixamente para a menor tenda situada na borda do acampamento, ocupada pelas duas reféns. Eustance acabada de revelar que Lionel montava a guarda.

O fraco brilho da luz das fogueiras, que oscilava entre a lona e o chão, indicaram-lhe que as duas mulheres estavam acordadas, Agora, na calma relativa da noite iluminada pela lua, admitiu que parte da razão para que tivesse ido ao seu chamado foi à curiosidade. Assim que soube que Dulce estava com o rosto limpo, experimentou uma inegável curiosidade de vê-la. De repente descobriu que se sentia ridiculamente curioso em saber a cor de seu cabelo. A julgar por suas arqueadas sobrancelhas, o cabelo devia ser ruivo, enquanto que o de sua irmã era definitivamente loiro, mas Angel Merrick não lhe interessava.

Dulce por outro lado, sim.

Era para ele como um quebra-cabeça cujas peças tinha que esperar para ver uma atrás da outra, e cada uma delas lhe parecia mais surpreendente que a anterior.

Evidentemente, ela estava ciente das histórias que corriam sobre suas supostas atrocidades, apesar de não demonstrar em sua presença nem a metade do temor que a maioria dos homens. Essa era a primeira e a mais intrigante peça, do quebra-cabeça..., a moça completa. Sua coragem e sua ausência de temor.

Depois estavam seus olhos, enormes cativantes e profundos, de um suave tom azulado que lembrava o veludo. Olhos extraordinários. Cândidos e expressivos, com longas pestanas de cor avermelhada. Aqueles olhos o fizeram desejar ver seu rosto limpo, e horas antes, ao contemplá-lo, mal pôde acreditar nos rumores segundo os quais aquela jovem não se caracterizava por sua beleza.

Não é que fosse precisamente linda, nem sequer era adequado defini-la como bonita, mas ao olhá-la na tenda. Ficou assombrado. Suas maçãs do rosto eram altas e delicadamente moldadas, a pele parecia tão suave como o alabastro, com um ligeiro tom rosa pálido. O nariz era pequeno. Em contraste com aqueles traços delicados, o pequeno queixo mostrava o quanto era decidida e teimosa, entretanto, quando sorriu, juraria que tinha visto duas covinhas diminutivas.

No conjunto, decidiu, era um rosto intrigante e atraente. Sim definitivamente atraente. E isso foi até permitir-se lembrar de seus lábios sensuais e generosos.

Afastou não sem esforço os pensamentos dos lábios de Dulce Merrick e levantou a cabeça para olhar interrogativamente para Eustace, de pé diante da tenda das mulheres. Ao compreender a pergunta não exposta, Eustace se voltou ligeiramente para a fogueira para que o fogo iluminasse seus traços. Levantou a mão direita, como se sustentasse delicadamente uma agulha entre os dedos, e depois moveu o braço imitando a ação de costurar.

Sim, as jovens estavam costurando. Para Christopher pareceu bastante difícil de compreender, sobretudo tendo em conta o avançado da hora. Segundo sua experiência, as mulheres ricas estavam acostumadas a costurar objetos especiais para suas famílias, mas deixavam o cerzido nas mãos das servas. Enquanto tentava distinguir sem êxito a difusa forma de Dulce contra a lona da tenda, imaginou que as mulheres ricas provavelmente também se dedicassem a costurar para de manterem ocupadas quando se sentiam aborrecidas. Mas estava certo de que não o faziam até tão tarde, e muito menos à luz de velas.

Que atenciosas eram as moças Merrick, pensou com sarcasmo e incredulidade. Que amável de sua parte desejar ajudar a quem as tinha seqüestrado, dedicando-se a cerzir suas roupas. Que gesto de generosidade.

E altamente improvável.

Sobretudo no caso de Lady Dulce Merrick, cuja hostilidade já tinha comprovado em sua própria pele.

Christopher se afastou lentamente de sua tenda andando entre seus esgotados e curtidos homens, que dormiam sobre o chão, envoltos em suas capas. Ao se aproximar da tenda ocupada pelas duas mulheres, lhe ocorreu de repente o motivo pelo qual elas desejavam dispor de agulhas e tesouras, e conteve uma maldição ao mesmo tempo em que acelerava o passo. Sem dúvida, disse a si mesmo, encolerizado, dedicavam-se a destruir os objetos que lhe tinham entregado.

Angel abafou um grito de surpresa e terror quando o Lobo irrompeu de repente na tenda. Dul, por outro lado, limitou-se a dar um ligeiro pulo e logo ficou de pé, com uma expressão amável no rosto.

-Vejamos o que estiveram fazendo - disse Christopher olhando para Angel, que levou a mão ao pescoço e para Dul. -Mostrem-me.

-Muito bem - sussurro Dul com fingida inocência. -Agora mesmo estava começando a trabalhar nesta camisa - disse, tentando ganhar tempo e deixando cuidadosamente de lado à camisa cujas mangas estavam costuradas.

Inclinou-se para o monte de roupas, e pegou um par de grossas calças de lã, que lhe estendeu para que inspecionasse ao mesmo tempo em que assinalava um rasgão de uns cinco centímetros que agora aparecia costurado.

Completamente desconcertado, Christopher olhou a costura, quase invisível e perfeitamente costurado. Por mais orgulhosa, altiva, rebelde e teimosa que fosse Dul teve que admitir que também era uma costureira muito boa.

-Basta isso para passar em sua inspeção, milorde? -perguntou ela em tom zombador. -Podemos continuar com nosso trabalho?

Se não fosse sua prisioneira e a altiva filha de seu inimigo, Christopher a teria tomado em seus braços e teria lhe dado um sonoro beijo por aquela ajuda que tanto necessitavam.

-Estão fazendo um trabalho excelente - admitiu. Começou a ir embora, mas antes de ir, acrescentou: - Meus homens teriam sentido frio com roupas rasgadas e inadequadas para o duro tempo que está fazendo. Se sentirão felizes em saber que disporão ao menos de roupa decente enquanto não chegam as de inverno.

Dul tinha previsto que ele talvez se desse conta de quão perigosas ela e Angel podiam ser com um par de tesouras na mão, e que provavelmente decidisse ir inspecionar seu trabalho, de forma que se ocupou em ter disponível aquelas calças para não despertar suspeitas. De modo algum esperava, entretanto, que lhe fizesse uma inspeção completa como aquela, e por algum motivo se sentiu inquieta e traída, pois o Lobo tinha demonstrado possuir ao menos uma gota de humanidade em seu corpo.

Uma vez que ele se foi, as duas mulheres se deixaram caírem aliviadas sobre os tapetes.

-OH, querida - exclamou Angel receosa, olhando o monte de mantas que se encarregariam de cortar em tiras. -Nem por um instante me ocorreu que os homens que estão aqui pudessem ser... pessoas.

Dul se negou a admitir que lhe ocorresse o mesmo.

 -São nossos inimigos - lembrou para ambas. -Nossos inimigos e de nosso pai. E inimigos do rei Jacob.

Apesar dessa convicção, Dul vacilou ao estender a mão para a tesoura, mas fez um esforço para pegá-la e, com expressão impassível, começou a cortar em tiras outra capa, enquanto tentava decidir qual seria o melhor plano para escapar na manhã seguinte.

Muito tempo depois de Angel ter adormecido vencida pelo esgotamento, Dul ainda permanecia acordada, sem deixar de pensar em todas as coisas que podiam sair bem... e não muito bem.



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Autor(a): nathyneves

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 26



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • beel Postado em 22/02/2009 - 15:49:56

    VOLTA A POSTAAAAAAAAAAR

  • beel Postado em 13/02/2009 - 18:25:00

    Voltaa aa postaar !!
    Se vc voltar postar eu comentoo todos os dias,várias vezes !!
    Por favoooooor !!
    Continuaaaaaaaaaaaaaa

  • nathyneves Postado em 13/02/2008 - 17:26:18

    Eu irei parar de postar aquii
    http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=48488462&tid=25782030367557 67535&start=1

    ai em cima ta o link da web no orkut
    Beijooos

  • dull Postado em 07/02/2008 - 00:36:45

    Por favor não para de poxtar eu amo sua Web...

  • nathyneves Postado em 31/01/2008 - 00:05:54

    Vou viajar e só volto depois do carnaval... Beijoos

  • mirian Postado em 28/01/2008 - 18:47:35

    eu tbm ADORO a sua web..e vou comentar
    todo cap para vc nao parar + de postar, OK?
    BJOS...

  • deborah Postado em 27/01/2008 - 10:11:40

    leitora nova!!!!
    essa web é lindah, eu to amando de vdd!
    To muito curiosa...
    Besitos e posta quando der...

  • avinha Postado em 26/01/2008 - 00:06:56

    nhaaa naum para de postarrr! sua web eh lindaa... *-*

  • nathyneves Postado em 24/01/2008 - 01:49:49

    Okeey então amanhã eu volto a postaar

  • avinha Postado em 23/01/2008 - 21:16:43

    ahhh pleaseee naum para de postar mais naum
    eh taum linda sua web


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