Fanfic: a marca de um cristal [Finalizada] | Tema: vondy

Poncho!  

Era ele. Era ELE! E queria falar com ela. Pedira segredo e que ela o encontrasse em meia hora no parque de diversões. Seria melhor assim, pois, se ele viesse à sua casa, sua mãe ocuparia todos os espaços, ofereceria lanches, não os deixaria conversar a sós. A sós! Por que a sós? 

O que haveria para segredar? Será... será que ele tinha conseguido ler nas entrelinhas das cartas que Anny entregava?

Será que ele pudera descobrir... Não! E se ele e Anny tivessem brigado e ele afinal descobrira que Dulce era o seu verdadeiro amor?

Bem, isso até que seria de se esperar porque... Que nada! Impossível! Como o amor dele por Anny poderia diminuir depois de todas aquelas cartas e poemas? E Anny não lhe tinha dito que era impossível encontrá-lo sem alguma cartinha?

Que "Onde está a cartinha?" era a primeira frase que Poncho dizia logo ao se encontrarem? Depois, mesmo que os dois tivessem brigado, porque haveria Poncho de lembrar-se dela?

Nunca mais haviam se falado desde aquele maldito encontro no laboratório..."Não. É melhor esquecer as esperanças. Mesmo que ele desista de Anny, por que haveria de olhar para mim? Por que para a feiosa? Para a gorducha? Você não vai desistir da Anny, Poncho. Eu não vou deixar. Eu vou continuar te amando, Poncho. E você vai me amar cada vez mais através das minhas cartas. Mesmo que você nunca venha a saber disso, meu amor..."

                                ***

Num dia de meio de semana como aquele, o parque de diversões estava quase deserto. Uma babá uniformizada trocava sorrisinhos como sorveteiro enquanto a criança de quem ela deveria estar cuidando aproveitava para verificar de que cor ficaria seu sapatinho branco depois de mergulhados na lama até os tornozelos.

Ele chegou lindo como nunca. Ou como sempre. Como sempre chegava e nunca saía do pensamento de Dulce.

- Oi, priminha!

- Oi, Poncho...

Lá vieram os beijos estalados e lá ficou Dulce recordando, num breve momento em que se permitiu fechar os olhos, aquela noite, aquele jardim e aquele beijo tão diferente destes estalos reservados à priminha...

Naquela noite, no escuro, ela não fora a priminha para Poncho. Fora mulher. Depois... bem, depois era agora.

- Priminha...

Dulce ficou ouvindo, quase sem prestar atenção, as palavras que pareciam um discurso de introdução a algo mais importante. Poncho falava da sua adaptação à cidade, de todas as cidades onde estudara por causa das viagens do pai, da turma boa que já conseguira formar, tudo entremeado por risadas e "priminhas queridas".

- Quer um cachorro-quente, priminha querida?

- Não, eu... estou de regime.

Atrás da montanha-russa, vazia e parada, parecia um bom lugar para conversar. Ali, os dois estariam protegidos dos poucos olhares indiscretos que aparecessem.Um ventinho frio começou a soprar e a enorme estrutura de ferro rangeu enferrujada mente.

Poncho tinha acabado de devorar o cachorro-quente e de limpar com as costas da mão um bigode de mostarda.

- Priminha, como da outra vez, eu quero lhe falar de Anahí...

Dulce sentiu-se arrepiar como vento e com o rangido irritante dos ferros.

- Sabe? Nunca encontrei alguém como ela. Nunca pensei que eu pudesse apaixonar-me desse jeito. Não ria prima, com você eu me sinto tranqüilo. Não tenho vergonha de confessar o que sinto. Anny é linda, mas é muito mais...

As palavras de Poncho tornavam-se cada vez mais claras para Dulce, e a menina encolheu-se como a proteger-se de algo mais assustador que parecia estar por vir.

- Eu não esperava que ela tivesse tanta sensibilidade, priminha. Além da beleza. Engraçado... você a conhece há tempos, e deve saber disso melhor do que eu:  Anny é tímida como um coelhinho. Quando estamos juntos, ela quase não fala. Apenas sorri. É muito carinhosa, é claro, mas pessoalmente quase não dá pra notar a cabecinha maravilhosa que ela tem. Só que, quando ela escreve...

- Quando ela escreve? O que é que tem?

- O mundo todo se enche de luz, priminha! Você nem pode imaginar. Todo o dia Anny chega com uma carta, com um poema, com uma prova de amor que me tira o fôlego. Bem, eu nunca fui muito ligado em literatura, sabe? Mas Anny abriu para mim um mundo diferente. Um mundo de pensamentos, de palavras, de emoções... Um mundo que eu desconhecia.

- Verdade? Você está gostando deste novo mundo?

- Você deveria ler o que ela me escreve, priminha. Eu leio e releio cada carta cem vezes e não me canso. Acho que nunca li coisas tão lindas em toda a minha vida...

- Ora, que exagero...

- Exagero? Se você diz isso é porque não sabe do que Anahí é capaz. Ela é muito mais linda escrevendo do que pessoalmente!

- Oh, você acha mesmo?

- Anny e você são amigas há muito tempo. Na certa você já deve ter lido algum poema dela, não?

- Bem... alguns...

- E o que acha deles?

- Hum... não são maus...

- Não são maus?! São maravilhosos! São as palavras mais puras e verdadeiras que eu jamais li!

- Ah, Poncho, você acha isso mesmo?

- Prima, eu estou cada vez mais gamado pela Anny. No começo, foi aquele rostinho que me atraiu, mas o rostinho era pouco perto do espírito que Anny escondia dentro dele. Agora, nem penso mais na beleza de Anny. As cartas dela me emocionam até mais do que quando eu a beijo. Quase que prefiro estar no meu quarto, relendo as cartas, do que junto dela...

- Oh, Poncho, não fale assim...

- Ah, priminha, eu vou amar Anny enquanto viver! Não me importa se ela é linda ou se ela é feia. Importa que...

- Você a amaria, mesmo se ela fosse feia?

- É claro que sim!

Freneticamente, Dulce agarrou os dois braços de Poncho.

- Diga: você a amaria? Mesmo se ela. Fosse gorda? Diga-me: mesmo se...

- Mesmo se eu fosse cego! Bastaria que alguém lesse para mim o que ela escreve! Aos poucos, Dulce afrouxou a força dos dedos nos braços de Poncho.

- Você... você não sabe o que está dizendo, Poncho...

Uma garoa fina e gelada começou a se fazer sentir. Os rangidos dos ferros da montanha-russa percorriam a espinha de Dulce de alto a baixo. Atrás do sorriso que ela conseguiu representar a custo, seu rosto estava branco.

- E você... me trouxe aqui só para dizer isso, Poncho?

O rapaz baixou os olhos. Num momento, toda aquela paixão, todo aquele entusiasmo, deu lugar a certo desânimo.

- Não... na verdade eu fico até contente ao lhe contar tudo isso. Eu quero que você saiba da minha felicidade. Afinal, foi você que me abriu um novo mundo ao trazer Anny  à minha festa, não foi? E, depois, ajudou nosso primeiro encontro. Eu lhe devo muito, priminha.

A garoa estava gelada e, caindo vagarosamente, já tinha encharcado os dois.

- Você prometeu nos ajudar, lembra-se? Eu lhe pedi, naquela manhã, no laboratório...

- Sim, eu me lembro...

- Você é a madrinha deste amor maravilhoso, prima...

- O que você quer que eu faça? Que os abençoe?

- Eu agora preciso de um pouco mais. Sabe? Eu nunca fui um bom aluno. Eu só sei jogar futebol...

- Como? Mas a tia Adelaide disse...

  - Isso são coisas de mãe. Ela vive fazendo uma propaganda maluca, onde eu apareço como ela gostaria que eu fosse não como eu sou. Eu sempre passei raspando, prima. Principalmente em português e literatura. E me sinto um pouco humilhado diante do talento de Anny. O que ela há de pensar de mim?

- Ela te ama, Poncho...

- Disso eu sei. Só quem ama muito pode escrever o que ela escreve. Mas, e eu? Eu não sei mexer com as palavras. Não sei responder a ela com a mesma... a mesma...

- Ternura...

- É. Ternura. Eu sinto essa ternura, mas não sei como demonstrar. Eu quero me mostrar a ela, sem qualquer vergonha, Dulce. Mas na hora acho que falta... falta aquela...

- Paixão...

- Isso. A paixão está por dentro, é tão grande quanto à dela. Mas...

Dulce sugeria cada palavra, cada sentimento, como se fosse um jogador a descartar sobre um pano verde. E o rapaz comprava todas as cartas.

- Será que não falta amor, Poncho?

- Não. Isso não falta. Eu quero aquela menina como ninguém há de querer. Tenho certeza. Mas, quando estou com ela, só consigo contar piadas...

- Pode ser um novo estilo de namoro. Piadas de amor...

- Não brinque, prima. Eu não posso parecer ridículo diante daquela garota maravilhosa...

- Fique tranqüilo, então. Tenho certeza de que ela o ama como você é.

- Mas eu queria poder amar Anahí do jeito que ela me ama. Eu queria poder escrever para ela com a mesma ternura, com a mesma paixão com que ela me escreve. Mas eu não tenho jeito, priminha...

- Ah, Poncho... você tem tantos jeitos...

O rapaz tomou nas suas as mãos de Dulce e trouxe-as ao peito. Olhou profundamente amenina.

- Dulce, me disseram que você é ótima em redação. Foi por isso que eu lhe pedi esta conversa. Preciso de mais um favor.

Dulce deixou as mãos apoiadas sobre o peito do rapaz. Sentiu pulsar-lhe o coração, num dueto com o seu.

- Prima, você poderia escrever alguma coisa para eu dar a Anny?

A ferragem rangeu de novo, quase abafando a surpresa de Dulce.

- Como?!

- Só de vez em quando, priminha. Ajude-me! Uma cartinha ou um verso, para que Anny  não se decepcione comigo...

- Mas como é que eu posso...

- Escrever uma carta de amor para outra garota? Você pode tentar, não pode? Talvez escrevendo como se fosse para o seu namorado. Depois eu copio, passando tudo para o feminino. Você tem namorado, não tem?

- Eu? Tenho... é claro...

- Como é o nome dele?

- O nome dele? É... Chris... Christopher!

Droga! Foi o primeiro nome de que ela se lembrou. Se Chris soubesse...

- Então escreva uma carta de amor bem bonita para Anny como se fosse para o Christopher. Vai dar certo, você vai ver. Será o nosso segredo!

- Poncho, eu...

- Ah, você prometeu, priminha! Ajude-me!

-... Sim, eu prometi...

- Pois prometa de novo!

Segurando-lhe os ombros, o rapaz a olhava fixamente nos olhos. Dulce deixou que um arrepio lhe percorresse todo o corpo molhado e murmurou:

- Eu... eu prometo, Poncho...

Oi amores  obrigada por comentar desculpa por não poder postar todos os dias vc`s são lindos.

dedicado ao Lucas

bjim da Meg