Fanfics Brasil - Paixão que ressuscita - Eu sei que ele me ama... a marca de um cristal [Finalizada]

Fanfic: a marca de um cristal [Finalizada] | Tema: vondy


Capítulo: Paixão que ressuscita - Eu sei que ele me ama...

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Dulce estava muito fraca por fora, mas tinha a primavera por dentro, como todos os seus pássaros e borboletas azuis. A batalha dos médicos tinha sido terrível. Inconsciente, ela não percebera aquela batalha. Ela só vivera aquela batalha. E, por fim, sobrevivera a ela. Sobrevivera como se tivesse acabado de nascer, com o humor e a alegria de alguém que, a custo, foi arrancado da morte. De alguém que, à frente, só vê felicidade sem barreiras.


O pai veio e, dessa vez, trouxe Helena (Ou seria Lúcia? Ou Cristina?).


A mãe, agora que Dulce estava fora de perigo, tinha deixado o hospital para buscar algumas roupas, sempre com a certeza de que a filha passara por tudo aquilo só para agravar-lhe a enxaqueca.


Mesmo fraca e debilitada, em seu primeiro dia de plena consciência, Dulce portou-se mais como visita do que como doente, sorrindo sempre, brincando com voz alegre e transmitindo ânimo a quem se aproximasse de sua cama.


Duas batidinhas e entrou uma atendente, trazendo mais uma dose anônima de comprimidos.


— Bom dia, querida. Que bom ver a sua carinha animada desse jeito!


— Bom dia! Isso não é animação, isso é vida! Viver é lindo. Amar é lindo. Ser amada é mais lindo ainda!


— Nossa! Como está a nossa ressuscitadinha! Se todos os nossos doentes fossem como você,este hospital seria uma festa...


— Então vamos fazer uma festa. Precisamos animar este hospital!


— Você precisa é descansar sossegadinha para sair logo daqui. Todas as festas estão esperando por você lá fora.


— Eu dei muito trabalho, é?


— Se deu! Quando você chegou aqui. disseram que era envenenamento por cianureto. Naturalmente, isso não era possível, porque o cianureto mata em poucos segundos. Tinha sido um calmante, não é? Mas os médicos demoraram a descobrir o que era.


— Puxa, eu só tomei dois comprimidos!


— É, você teve uma forte reação. Às vezes acontece. Eu nunca confio nesses remédios. Eu trabalho aqui mas, quando estou nervosa, só tomo chá de erva-cidreira.


— Vou me lembrar disso, da próxima vez... — sorriu Dulce.


— O problema mesmo foi aquela professora louca. Ela injetou o mesmo calmante em você. Só que uma dose capaz de matar um cavalo! Se não fosse aquele rapaz...


— Poncho...


— É esse o nome dele? Você tem sorte de ser tão amada por um garoto como ele. Ele arrebentou um frasco de sangue na cabeça da tal professora Virgínia, bem a tempo de...


Era a última recordação de Dulce: o sangue esguichando na cabeça da vice-diretora,escorrendo por todos os lados, empapando sua camisola.


— Deu até na televisão! Agora, aquela mulher maluca está toda costurada, lá na enfermaria da prisão. Se não fosse o seu garoto...


— Poncho... ele me salvou a vida!


— Duas vezes! Foi ele quem encontrou você em casa, caída no sofá, e chamou a ambulância. Depois, ficou o tempo todo por aqui, pressionando os médicos, perguntando por você a toda hora, chorando...


— Chorando!


— Só arredou pé do hospital quando soube que você estava fora de perigo. Acho que foi em casa se arrumar para que você o veja bem bonitinho...


— Poncho! Chorando por mim...


A atendente ajeitou os travesseiros atrás de Dulce e preparou-se para sair.


— Você é uma garota de sorte, mas vai ter um probleminha para resolver.


— Um probleminha? Qual?


— Há outro garoto, não é? Apareceu aqui várias vezes, também desesperado, dizendo a todo mundo que ama você, que não pode viver sem você...


Uma sombra passou pelos olhos de Dulce.


— Esse é Christopher. Um rapaz maravilhoso. O melhor amigo que uma garota como eu poderia ter. Ah, se não fosse Poncho...


— Então você já escolheu, é? Um dos dois vai sofrer.


A alegria da sobrevivente diminuiu um pouco. Por nada deste mundo ela gostaria que Chris sofresse. Mas ela estava amarrada para sempre pelo beijo apaixonado no jardim, pelo beijo da vida no sofá, pelo roçar da correntinha...


— Ah, Chris, você vai ter de me compreender...


 


— Ah, Christopher, que rosas lindas! Obrigada, você é mesmo um amor!


 


 


 


 


                                           ***


 


Dulce teria preferido que a primeira visita não fosse de Christopher. Mas agora o rapaz estava ali, cheio de rosas e esperança, e ela iria fazê-lo sofrer. Anny também sofreria, mas o que fazer?


"É melhor um fim trágico do que uma tragédia sem fim" pensou ela pela segunda vez.


— Senhorita Ilusão... a professora Virgínia enganou a todos nós, não foi?


— Quase que eu pago com a vida por esse engano... E o próximo seria você. Ela sabia que eu tinha falado das minhas suspeitas com você.


— Ela não pararia mais. Pobre mulher louca! A polícia já conseguiu levantar todos os dados para encerrar o caso. Falei com o investigador. Virgínia era uma mulher brilhante, mas a loucura estava tomando conta dela. Foi por isso que dona Albertina morreu. As duas eram grandes amigas, e a diretora estava percebendo os sinais de desequilíbrio mental que a professora Virgínia começava a apresentar. Primeiro, para protegê-la, encostou-a no cargo de vice-diretora,sem nenhuma função prática. Por fim, parece que ela estava cuidando da internação da amiga em uma clínica psiquiátrica. Foi aí que os delírios de perseguição da professora Virgínia transformaram a amizade por dona Albertina em ódio...


— Que horror, Chris!


— O estranho é que ela não perdeu a genialidade, apesar da loucura. Muita coisa ela falou à polícia, depois de presa. Ela imaginou que precisava de um cúmplice, se bem que poderia ter feito sozinha tudo o que fez. Brucutu só serviu para caçar você e eu no pátio, de modo que nossa presença inocente na hora da descoberta do cadáver fosse uma garantia de que dona Albertina morrera sozinha e fechada na diretoria. E para abrir a porta com a chave mestra, é claro. Por coincidência, a professora Renata apareceu também e Virgínia conseguiu uma testemunha a mais.


— Pobre Renata! E eu que cheguei a pensar.


— Mas deixe eu lhe contar o que fez Virgínia para envolver Brucutu. Ele estava com problemas de dinheiro e ela o convenceu a roubar certa quantia da gaveta de dona Albertina.Depois, disse ao coitado que a diretora descobrira o roubo e que a única forma de livrá-lo da prisão seria matando-a. Só que dona Albertina jamais descobriria esse roubo, porque o roubo praticamente não aconteceu: a própria Virgínia tinha posto o dinheiro na gaveta para Brucutu roubar. O dinheiro era dela mesma!


— Genial! Com isso, Brucutu ficou nas mãos dela como um fantoche!


— Só que ele se apavorou quando ouviu nossa conversa na pracinha e resolveu ameaçar você. Aí, Virgínia ficou com medo que ele fosse preso e acabasse falando demais e o envenenou. Foi encontrado morto no quartinho onde morava, Com um papel de bombom ao lado...


— Coitado! Ele me assustava tanto, mas era apenas uma pobre vítima, como dona Albertina...


— Ou como você. Até o investigador ficou espantado com a ousadia da professora Virgínia. Ela o procurou e o convenceu a irem juntos à sua casa, pois devia haver alguma coisa que você sabia e não dissera no interrogatório. Uma idéia brilhante: quando você aparecesse morta, quem iria desconfiar que o veneno estava em um bombom oferecido a você na frente de um policial?


— Eu não esperava aqueles dois. Eu esperava que Renata chegasse...


— A professora Renata chegou um pouco depois, quase junto com a ambulância que foi buscar você.


— Eu nem desconfiei quando Virgínia deixou o bombom sobre a mesa. Ela comeu todos os outros do saquinho... Quem havia de desconfiar que justo aquele último estivesse envenenado?


— Virgínia foi mesmo brilhante, Dul. O plano para matar dona Albertina era perfeito. Ela usou o regime da nossa pobre diretora. Que pessoa obesa não comeria às escondidas um bombonzinho deixado sobre a mesa?***A noite já caíra completamente quando Anahí voltou para casa. Enfiara a última carta porbaixo da porta do apartamento de Christopher. Agora, ela estava pronta.O frio do começo de noite era cortante, e a menina apertou-se dentro da malhinha levedemais, apressando o passo em meio às sombras da rua mal-iluminada.Mas uma das sombras não cedeu ao seu passo. Destacou-se, ao contrário, das outras eagarrou Anahí pelos braços.— O quê?!— Calada, menina. Não vai acontecer nada...Gelada de surpresa e pavor, Anahí reconheceu o apertão, mesmo antes de erguer os olhos edeparar com aquela carranca assustadora:— Brucutu!E não era um sonho. E não viria um cavaleiro enlatado, de espada de prata, disposto adefender-lhe a honra. Aquela era apenas a realidade. Da qual nunca se acorda.— Quietinha... Isso é só um aviso...A cara brutal abria-se num esgar que pretendia ser um sorriso, enquanto as mãos enormescravaram os dedos nos bracinhos de Anahí, no limite de quebrá-los como a um graveto.— Um aviso, mocinha: tem gente que acha que viu coisas. Mas, vai ver, não viu nada, sóquer causar confusão. E essa confusão pode prejudicar pessoas. Não é isso que você quer, é?Claro que não quer... Senão, o causador da confusão pode ficar muito mais prejudicado ainda,sabe? Pode até deixar de ver qualquer coisa... para sempre! Juízo... estou só avisando... Juízo!Senão...Um carro entrou na rua cantando os pneus e jogou a luz dos faróis sobre os dois. Anahí sentiu-se empurrada e bateu contra um muro enquanto o agressor se encolhia. Em um instante,estava novamente sozinha.***Andou calmamente até sua casa. Não estava apavorada. Mas o ataque de Brucutu tinhasignificado muito mais que uma ameaça de morte. Significava que ela era mesmo umatestemunha importante. Alguém que podia desmascarar o assassino da diretora. Alguém quesabia demais. Alguém que tinha de morrer.A mãe não estava em casa. Era a noite de jogar buraco com as amigas. Ultimamente, ela seenfeitava tanto para aquelas noites que, se Anahí não estivesse tão ocupada com o que tinha afazer, pensaria que naquele jogo havia só um parceiro.— Alfonso também corre perigo. Precisa ser avisado.O telefone tocou demais, mas Alfonso não estava em casa. Tentou a livraria. Deixou recado.— E agora? Adianta ligar para a polícia? Com quem eu falo? Vão dizer que estou louca...Olhou para a janela fechada. Por um momento, pensou perceber o vulto enorme de Brucutudo outro lado dos batentes, pronto a estraçalhar a murros a veneziana.— Pode vir, Brucutu. Eu não vou ter juízo.Nem pensou em tentar localizar a mãe. Muito menos o pai. Quem, então? Quem acreditarianela? Quem daria importância às fantasias malucas da menina sonhadora, metida a poeta?— A professora Olga! É isso!A professora de filosofia era a mais jovem da escola. Uma das poucas a quem os alunoschamavam de você. Certamente não por ser jovem, mas por ser a mais amiga dos alunos. A mais jovem, a mais amiga e uma das mais brilhantes do corpo docente. Olga acabara de defenderbrilhantemente uma tese de doutoramento em psicologia, na faculdade. Alguma coisa sobreeducação por indução subliminar. A professora até já tinha conversado com a classe de Anahí sobre suas idéias e (naturalmente!) a menina discutira essas idéias, pois não podia aceitar isso deeducar alguém por indução subliminar. Um método de enfiar idéias à força na cabeça dos alunos,  sem compreensão nem aceitação. Uma traição pura ao direito de pensar e de escolher livremente.Pura traição. Algo com que Anahí nunca concordaria. Mas Olga era maravilhosa. Era umcharme. E apoiava as discordâncias com entusiasmo. Mesmo que fossem contra ela mesma.Não foi fácil descobrir o telefone da professora mas, com um pouco de jeito, a secretária daescola cedeu e informou o número a Anahí.— Alô.— Olga? Sou eu, Anahí. Sua aluna. Lembra?— Anahí? Claro que sim. A minha contestadora predileta e a minha companheira nadescoberta de cadáveres. Oi, querida. Queria falar comigo?— Eu preciso falar com alguém, Olga. E tem de ser você.— Bom, se é sobre a prova da semana que vem...— Não é prova nenhuma, Olga. É sobre o assassinato da dona Albertina...— Assassinato? Você disse assassinato?— É isso mesmo. Desde o primeiro momento eu não acreditei que aquilo fosse suicídio. Sóque eu não ia falar nada. Mas o Brucutu...— O Brucutu? O que tem o Brucutu?— Ele me atacou, Olga. Há alguns minutos. Me ameaçou...— O Brucutu? Mas por quê?— Eu acho que sei de uma coisa, Olga. Eu acho que sou uma testemunha.— Todos nós somos, Anahí. Eu, você, o Brucutu e o Alfonso.Nós entramos juntos na diretoria, lembra?— Não é só isso. Eu acho que testemunhei outra coisa...— Fique calma, minha querida. Assim, por telefone, não dá para conversar. Onde você está?— Estou em casa. Estou sozinha. Minha mãe saiu.— Onde você mora? Pego o carro e chego aí num instante...15 — Eu nunca te amei...Brucutu poderia muito bem ter voltado. Poderia muito bem estar agora em volta da casa,pronto para cumprir as ameaças.— Juízo! — disse ele.— Juízo! — repetia o inimigo rachado, mais cruel que de costume. — Ah, o juízo de Anahí!Ah, a paixão de Anahí! Ah, o amor de Anahí! Juízo...— Esse juízo eu já perdi junto com o amor que nunca terei...— Você perdeu foi a vontade de lutar. De lutar por aquilo que você quer.— Ah, Christopher, Christopher... será que tudo que tenho feito não foi lutar por ele?— Você luta pela vitória de outro exército. O exército de Dulce.— É o único exército que tem alguma chance. O meu não pode ganhar nenhuma batalha...— O que tem o seu que os outros não têm?— Dulce é linda! E eu sou feia!— Ninguém, nunca, lhe disse isso.— E que eu sou linda? Alguém disse?— Alfonso diz isso, o tempo todo.


Mostra


isso, o tempo todo.— Mas Christopher...— Christopher disse, na noite da festa.— Aquela noite... Ah, se aquela noite nunca tivesse acontecido! Ah, se eu nunca tivesseconhecido aquele anjo! Ah, se aquela correntinha nunca tivesse roçado o meu rosto! Ah, se asombra da noite não tivesse disfarçado a feiúra da bêbada gorducha caída na grama do jardim!Ah, se eu pudesse esquecer aquele beijo! Ah, se eu não fosse tão feia!— Ninguém, nunca, lhe disse isso também.—


Eu


digo!


Você


diz!— Ninguém diz nada para você. Não adianta. Você nunca ouve.— Eu vejo, eu sinto, eu amo!— Sim, mas o que você


faz 


consigo mesma?— O que eu tenho de fazer, eu


vou


fazer. Esta noite.


Da morte não sei o dia,mas posso saber!


Aos poucos, frase a frase, Anahí estava transtornada, como se tivesse discutido por horas coma mais teimosa das criaturas.


 


— E você... você será minha testemunha.— Eu sou sempre sua testemunha.— Primeiro tenho de testemunhar outra morte. A primeira morte real que chegou perto demim. A morte feia. A morte grotesca. O assassinato covarde de uma mulher que sabia rir. Achoque eu devo isso a ela. Alguém a empurrou para a morte. Ela não escolheu.— E você?— Ninguém escolhe por mim.— Brucutu pode escolher...Brucutu! Anahí imaginou aquelas mãos enormes agarrando, apertando, estraçalhando.Lembrou-se do sonho, do pesadelo, da dor, da nudez, da espada ensangüentada, da brutalidade.Que outro método usaria Brucutu para matar? Linamarina? Um fino pó branco colocado em umenvelope plástico? Não. Sem sangue, sem carnes dilaceradas nem ossos esmigalhados não seriauma ação de Brucutu.— Ninguém escolhe o meu caminho. Ninguém escolhe a minha hora. Aqui está a minhaescolha!Na palma da mão esquerda, o pequeno frasco de comprimidos.— Anahí...Na mão direita, a escova de cabelo começou a trabalhar. A demolir. Metodicamente, Anahí golpeou o inimigo uma, duas, dez vezes.— Adeus! Vamos embora. Vamos juntos.— Anahí! Abra!A campainha tocou com insistência. Depois, batidas frenéticas à porta da frente despertaramparte da consciência de Anahí..— Já vou, Brucutu. Já estou indo!— Sou eu, Anahí. Abra! Eu trouxe a polícia!Espalhadas pela pia e pelo chão de ladrilhos, milhões de imagens de Anahí. O inimigo semultiplicara ao infinito.***Foi uma Anahí diferente que abriu a porta. Uma mulher. Por fora, calma, adulta, controlada.A professora entrou apressada e abraçou a menina com o carinho de uma irmã mais velha.— Trouxe a polícia comigo, Anahí. Podemos entrar?Anahí hesitou. Não esperava aquela mulher com a polícia. Atrás da professora, entrou omesmo investigador nervoso que cuidara do interrogatório no colégio. Como era mesmo o nomedele?Anahí apontou o sofá da sala para os dois, como uma perfeita dona-de-casa que estivesserecebendo convidados para o chá.— Algumas perguntas eu deixei de fazer daquela vez, na diretoria, Anahí — começou oinvestigador, sem perder tempo. — E eu sei que também houve muitas respostas que vocêdeixou de dar. Você é menor de idade, e eu não posso chamá-la oficialmente para depor, se vocênão quiser. Mas, agora, que tal colocarmos essas perguntas e essas respostas em dia?Anahí hesitou novamente. Mas, depois do ataque de Brucutu, ela estava convencida de queprecisava falar tudo o que sabia. O medo do que Brucutu pudesse fazer não contava. Ela


devia


falar. E ninguém melhor para ouvir do que a polícia.A professora tirou um pacote de bombons da bolsa.— Alguém quer um bombom?— Obrigado.— Não, obrigada.— Eu é que estou nervosa por você, Anahí. Estou deixando de fumar e comendo doces paradistrair a vontade. Um pouco de açúcar é o melhor relaxante que existe. Assim, eu me livro docâncer nos pulmões e estouro de engordar!Ninguém achou graça. Ela deixou o saco de bombons na mesinha, em frente ao sofá, e ficoumordiscando um deles.Conscientemente, claramente, como se cumprisse uma missão, Anahí começou a falar.Deixou de lado o triste diálogo com Christopher, mas descreveu a visita ao laboratório naquelaprimeira manhã de aulas. Disse da penumbra, da falta de óculos, do vulto de avental, do frascode linamarina, até das lágrimas.— Você estava chorando? Por quê?— Nada, é que... eu tinha tirado um zero em redação...


 


— Você?! — sorriu a professora, que a conhecia muito bem. —


Você


tirar um zero emredação?Em seguida, Anahí falou da conversa com Alfonso na pracinha e da suspeita de que Brucutuos estivesse ouvindo às escondidas. Depois contou do ataque na rua. Da ameaça de morte. DeBrucutu.— Então tudo se ajusta — comentou a professora, lambendo a pontinha do dedo suja dechocolate. — Brucutu é o culpado. Foi ele quem você viu no laboratório.Anahí sacudiu firmemente a cabeça.— Não, não podia ser ele. Mesmo sem óculos, eu reconheceria facilmente aquela figuraenorme. Não era ele. Era alguém muito menor.— Coitadinha... Você passou por uma boa, não foi?— Você fez muito mal em não me contar tudo o que sabia, na primeira vez, Anahí —censurou o investigador.— O senhor acha que eu deveria falar tudo ali, na frente de todos, até do Brucutu?— Está bem. Talvez você tenha feito bem em não falar na frente do Brucutu. Mas vocêpoderia ter me procurado depois. Não é por você ser menor de idade que eu não daria atenção aoque você tinha a dizer. Às vezes, um pequeno detalhe é a última peça que falta para fechar oquebra-cabeça.— Estou falando agora. Disse tudo o que tinha a dizer.— De qualquer modo, a ameaça de Brucutu contra você é suficiente para envolvê-lo no casoaté o pescoço.O investigador pegou o telefone e ligou para a delegacia. Do outro lado da linha, alguémrecebeu a ordem para que se iniciasse uma caçada a Brucutu.— Suspeita de homicídio... Um elemento potencialmente violento...Desligou o telefone e voltou-se para Anahí.— O vulto que você viu estava de guarda-pó, não estava?— Estava. De avental branco.— Isso aponta para algum professor — raciocinou o investigador.— Pode ser...— Você poderia me ajudar mais, Anahí. Vamos tentar um jogo.Pense em todos os professores da escola. Um por um.— Um por um?— Sei que você estava nervosa, naquela manhã. Sei que viu pouco, por causa do escuro, daslágrimas e por estar sem óculos. Mas o pouco que você viu pode encaixar-se ou não no portefísico dos professores que você conhece muito bem. Se você se concentrar, poderá eliminarmuitos, como fez com dona Albertina e com Brucutu, por serem, ambos, grandes demais. Assim,eu poderia ter uma lista menor de suspeitos a investigar.Anahí não respondeu. Já tinha dito tudo. Da morte da diretora já tinha cuidado. O resto eracom a polícia.A professora levantou-se bruscamente.— Ah, não! Chega de atormentar a pobrezinha. Ela já passou por muitos apertos hoje. Agora,precisa descansar. É hora de irmos embora. Deixemos as tais comparações e eliminações paraamanhã. Trate de dormir, minha querida. Amanhã, tudo parecerá mais cor-de-rosa.O investigador concordou.— Está bem. Descanse sossegada, Anahí. Vou deixar um policial aqui em frente, na rua, anoite toda. Você estará perfeitamente segura.Anahí fechou a porta atrás dos dois. Agora, estava sozinha, com seu último dever cumprido.Colocou um disco na vitrola e estendeu-se no sofá, embalada por uma canção suave, que falavaem desalento, em solidão, em amores perdidos.Sobre a mesinha, o pacote de bombons tinha sido esquecido, com um último, solitário,bombom dentro dele.Anahí ainda não tinha jantado. Aliás, nem tinha almoçado naquele dia.Pegou o bombom.***O telefone precisou tocar três vezes para arrancar Anahí do agradável torpor que aos poucostomava conta de todo o seu corpo.— Alô...


 


— Anahí?— Christopher... É você...— Eu preciso de você, prima.— Eu também preciso muito de você, Christopher...— Priminha, ouça: Dulce deixou uma carta aqui em casa que... sei lá! Nem sei comoexplicar. Quando eu me encontrar com ela amanhã, nem sei o que falar...— Você não gostou do poema?— Não é isso. É que... Ei, como você sabe que é um poema?— É fácil adivinhar, Christopher. Dulce sempre manda poemas para você, não é?— Só que desta vez... é um poema estranho...— Estranho...— Eu queria que você me explicasse o que Dulce quis dizer com isso. Eu não estouentendendo nada...— Ah, Christopher...— Eu vou ler para você, prima. Quem sabe, até amanhã, você me prepara uma resposta?— Até amanhã...— Ouça, Anahí.Christopher começou a ler o poema, pausadamente, com a voz insegura. Do outro lado,estendida no sofá, Anahí acompanhava cada sílaba, cada verso, de olhos fechados, sem um som,mas pronunciando tudo para dentro de si mesma.—...a cabeça o possui, manipula, e faz dele o que quer!— Bonito, Christopher...—... haja o que houver, do meu amor esse garoto foi o rei... O que ela quis dizer com


foi orei? 


— Continue, continue...—... a marca desta lágrima testemunha que eu o amei perdidamente...—... perdidamente...—... assinei com minhas lágrimas...—... com


minhas


lágrimas...—... mas a cabeça apaixonada delirou...Embalada pela voz do seu amado, Anahí agarrou seus próprios versos e declamou,esquecendo-se dos segredos e das promessas:—... foi farsante, vigarista, mascarada, foi amante, entregando-lhe outra amada, foi covardeque amando nunca amou!Durante um segundo de surpresa, Christopher emudeceu do outro lado. E foi quase com umgrito que a compreensão de todos aqueles enganos veio à tona:— Como? Como você conhece este poema? Acabei de encontrar debaixo da porta!Apesar da tontura, Anahí percebeu o que fizera. Desorientada, tentou consertar o erro:— Eu... eu não conheço...— Você sabe de cor o poema! Você...— Não, não é isso, Christopher... Dulce me mostrou. Ela...— Você sabe!— Não, Christopher, eu não sei de nada...— Essa voz... Aquela tarde, ao telefone... Anahí! Era você!— Não, não, Christopher, não era eu...— As cartas, os poemas, o tempo todo! Era você, Anahí!— Não, não...— Como eu fui ingênuo! Pedi a você que respondesse suas próprias cartas! Todo aqueleamor, toda aquela paixão, era você!— Não era eu, não era eu... era Dulce...— O tempo todo era você! O tempo todo eu a amei através das cartas, pensando que eram deDulce!— Eram de Dulce... de Dulce...— O tempo todo você me amou, Anahí! Esse tempo todo!— Não, não...— Você me amou, Anahí!— Não, meu amor, eu nunca te amei!


 


— Anahí, minha querida! Eu sempre te amei pelas tuas cartas, pelos teus poemas. Era você,Anahí!


É 


você, meu amor!As palavras de Christopher ressoavam longínquas dentro da cabeça de Anahí, que mergulhavacada vez mais num torpor de ausência, mas agora leve, gostoso, cheio de todas as palavras queela tanto ansiara ouvir.— Christopher...— Anahí!— Tarde demais... tudo tão lindo... mas tarde demais...— Anahí! Eu não consigo ouvi-la direito...— Estou tão tonta, Christopher... sono... amor... tão tonta... tão lindo... tão tarde... eu...— Anahí! Anahí! Fale comigo! Anahí! Responda! Do outro lado da linha, só o silêncio.— Anahí! Não me deixe! Anahí! Vou correndo para aí! Me espere! Meu amor, espere pormim!16 — Não há salvação!Lentamente, o fone tornou-se pesado demais para os dedos de Anahí, que se abriram,deixando rolar pelo tapete a voz desesperada de Christopher.O torpor inebriante tomou conta de todo o seu corpo. Mas a mente permaneceu lúcida.Encerrada dentro de si mesma pelos olhos que nada mais percebiam do exterior, navegandodocemente através das palavras maravilhosas que nunca esperara ouvir dos lábios de Christopher,Anahí repassou todos os acontecimentos daqueles dias de loucura."Tarde demais... Christopher, meu amor... você está vindo para cá... tarde demais. Eu espereitanto... Tudo tão lindo e tão tarde... Christopher, meus braços estiveram à sua espera todo essetempo, e agora não são mais capazes de abraçá-lo... Tarde demais..."Como se viessem do outro lado do planeta, batidas violentas na porta penetraram os ouvidosde Anahí."Tarde demais... Christopher... Como você vai me encontrar? Como a Bela Adormecida? Cemanos à espera do beijo do príncipe? Você beijaria o meu cadáver daqui a cem anos, Christopher? Deque jeito você vai me encontrar? Como a dona Albertina? Feia, grotesca, obesa, esbugalhada,arregaçada, com um envelope cheio de veneno ao lado? Ou como a Branca de Neve, numa urnade cristal, envenenada pela maçã?``Ela teria deixado a porta destrancada? Ou algum invasor a arrombara? Sentia alguém a seulado, alguém que a tocava. Falava com ela, talvez? Christopher! Lábios quentes colaram-sedelicadamente aos seus, como a soprar-lhe a vida que fugia, e uma carícia leve, metálica,arrastou-se por seu pescoço. A correntinha! Christopher... O primeiro e o último beijo, sempre comAnahí caída, largada como um fardo, sobre a grama ou sobre o sofá... como um cadáver..."Christopher... tarde demais... meu príncipe! Tarde demais... A maçã da bruxa estavaenvenenada... maçã envenenada... linamarina na maçã... linamarina no bombom... bombomenvenenado... É isso! Por que não pensei nisso antes? O veneno estava no bombom! Nobombom!


Não havia


nenhum envelope plástico ao lado da mão da diretora quando eu encontrei ocadáver.


Não havia,


eu me lembro! Eu vi aquela mão gorda, foi a primeira coisa que vi. Nãohavia envelope nenhum! Mas havia o papel de bombom, em cima da mesa... Depois, o papel debombom desapareceu e surgiu um envelope com veneno ao lado do corpo. Quem pôs? Quemtirou? Brucutu! Não! Brucutu, não. Alfonso mesmo disse que Brucutu ficou agarrado no braçodele, na entrada da sala, o tempo todo. Brucutu só nos arrastou para a diretoria para que houvesseduas testemunhas inocentes, insuspeitas, na hora da descoberta do cadáver. É claro! Por que eleestava com a chave mestra? Coincidência? Ele era apenas o cúmplice, encarregado dos trabalhosde apoio. Então... o ator principal era... era a professora Olga! Olga! Ah, por que eu não


vi 


issoantes? Estava tudo na minha frente. Não vi porque não mais nada na minha cabeça, além dele.DELE! De você, meu amor! Você está aí? Está me ouvindo? Ai, eu não consigo falar! Masalguém tem de me ouvir. Era Olga. No laboratório, a figura de avental. Era Olga! Meu amor,tente me ouvir, eu não tenho forças para falar... Tarde demais... Educação por induçãosubliminar... Educação forçada! Usar os próprios anseios de alguém para levá-lo a fazer até o quenão quer. É isso. O bombom envenenado! Foi só deixar um bombom envenenado em cima damesa onde dona Albertina passaria a noite trabalhando. Fechada naquela sala, sozinha, com suanecessidade de emagrecer, com sua fome que aumentava a cada minuto, e com um bombom...Qual dos dois lados de sua vontade venceria? A decisão de emagrecer? Ou a gulodice de toda asua vida? A professora Olga... Olga sabia qual o lado vencedor. O crime perfeito! O crime a


 


portas fechadas! Depois, foi só sumir com o papel de bombom e deixar cair o envelope comveneno ao lado do corpo. Tudo perfeito... na minha frente! Alguém! Procure me entender! Eusei! Foi Olga!"Como em um disco fora de rotação, Anahí conseguia distinguir vozes e movimentos agitadosa sua volta, mãos que a seguravam, agulhas que a espetavam...— Tragam a maça!— Segurem com cuidado...— É melhor apertar a correia...— Salvem-na, por favor! Ela é tudo para mim!"Foi Olga! Estão ouvindo? Ai, eu não consigo falar... Foi Olga! O bombom envenenado, alinamarina, foi Olga! Foi...



O entorpecimento tomara conta de todo o seu corpo e as peças todas daquele quebra-cabeçaimenso espalhavam-se desordenadamente por entre as células de seu cérebro. Apesar da tontura,tudo agora parecia fazer sentido, parecia encaixar-se. Mas, subitamente, a forma de montar oquebra-cabeça mudou, e uma nova consciência, terrível, macabra, surgiu como um pesadelo queantecede a morte:"Não! Não é nada disso! Não! Não


foi 


nada disso... As impressões digitais! Quem teve achance de colocar as impressões digitais de dona Albertina no envelope de veneno? Foi ela! Sóela! Meu Deus! O bombom envenenado! Não é um só. São dois! O bombom! O bombomdeixado sobre a mesinha... um bombom só, preparado para


eu


comer! Preparado com linamarina!Um bombom para a menina gorda, que não havia almoçado nem jantado... Ela disse que comiabom-bons porque estava deixando de fumar... Comeu os bombons normais e deixou um só nosaquinho. Envenenado! Com linamarina! Com cianureto!"Sentiu-se sacudir, carregada. Quase nada mais percebia do exterior. Um toldo negro cada vezmais a envolvia corpo uma mortalha.Bem perto dela, alguém falava nervoso e baixinho, mas as palavras perdiam-se no precipícioda inconsciência que chegava.—... não sei... intoxicação... envenenamento... se foi cianureto... não há salvação...A mente de Anahí desligou-se do mundo.***— Calma, rapaz, estamos fazendo o possível...— Faça o impossível, doutor! Salve Anahí!— Me disseram que essa menina é um gênio...— Não me importa o gênio, doutor. Eu quero essa menina! Eu quero essa menina viva!***Sou professora da menina, doutor. Qual o diagnóstico? Ainda não sabemos qual a substânciatóxica... E qual o prognóstico? Ela viverá? Confie em nós, professora Olga...***— Doutor, esse rapaz se recusa a sair do hospital. Disse que vai ficar aqui a noite toda. Nasala de espera. Acordado...— Deixe-o ficar, enfermeira. Deixe-o ficar...— Mas o regulamento...— Então faça de conta que não viu. Eu também já fui jovem, enfermeira. Eu também já meapaixonei. Como esse rapaz. Sei o que ele está sentindo...***"Eu estou no laboratório? Está escuro, como no laboratório... eu estou sem óculos... como nolaboratório... Christopher virá? Vai dizer que ama Dulce? Não! Ele disse que ama a mim! Anahí!Eu não quero morrer... Não me deixem morrer... Agora não! Christopher, me ajude! Você disse queme ama, disse que ama o que eu escrevi... Então venha me buscar... Me tire do laboratório, metire do escuro... Eu já morri, Christopher? Já estou na urna de cristal? Onde está o meu beijo, meupríncipe? O beijo da grama, o beijo do sofá. o beijo da vida... Me devolva a vida, meu amor, paraque eu possa dá-la de volta, inteirinha, a você..."O horário de visitas no hospital já havia terminado, mas a mulher conseguiu esgueirar-se semser percebida e entrou na sala dos médicos.Havia apenas um deles, dormindo como um santo e roncando como um porco, perfeitamentepreparado para o plantão da noite.A mulher apanhou um avental de médico, vestiu-o, retirou cuidadosamente o estetoscópio


 


pendurado no médico adormecido, colocou-o no próprio pescoço e saiu sem um ruído.***"Está frio... eu estou no laboratório? Christopher não virá... eu não vou chorar... eu não possochorar... o vulto de branco vem aí... vai mexer na linamarina... quer me dar o bombom envenenado...eu preciso saber quem é... preciso enxergar através das lágrimas... a lágrima pingousobre a carta para Christopher... marcou a carta... Christopher vai descobrir que sou eu... Não,Christopher, não diga que ama Dulce... não me faça chorar, senão eu não vou reconhecer o vultode branco... Está frio no laboratório... a aranha está com frio... Onde está a aranha? Onde está acobra? Estão presas! Na urna de cristal! Junto com o cadáver de Anahí! Estão mortas, comAnahí! Socorro, Christopher..."***— Onde está a ficha da paciente do 412?— Está aqui, doutora...— Quero ver.A encarregada do andar entregou a prancheta à mulher. Estava tudo anotado. A substânciatóxica já havia sido descoberta. Ela leu o que precisava e jogou a prancheta sobre o balcão.Pegou o elevador até o subsolo, onde ficava a farmácia do hospital.— Boa noite, doutora... — cumprimentou o sonolento atendente.A.mulher perguntou de um medicamento, um nome inventado na hora, algo bem complicado.— Hum... não sei, doutora. Posso verificar na lista.— Pois verifique.— Deixe ver... não, não temos esse medicamento em estoque, doutora.— Veja na administração se há algum pedido de compra. Preciso do medicamento atéamanhã.— Um instante, doutora. Vou telefonar para a administração. Talvez o plantonista possainformar alguma coisa.Enquanto o atendente discava, a mulher, às suas costas, percorreu as prateleiras. Foi rápidoencontrar o que precisava. Quando o homem desligou, ela já pusera um pequeno frasco e umaseringa de injeção no bolso do avental.— Desculpe, doutora, mas não há pedido de compra para esse medicamento.— Droga de hospital! Está bem, eu me viro de outro jeito. Obrigada, assim mesmo.— Às ordens, doutora.***"Christopher me ama... me ama! Não quero morrer... não quero morrer... não sou donaAlbertina... tenho só quatorze anos... não sou obesa...


tanto


assim eu não sou... Você me achagorda, Christopher? Você me acha feia? Esse frio... Meus pés estão frios... Estou na beira do lago?Do lago do sonho? Estou nua? Estou nua... O gigante! Estou vendo! O gigante voltou! Eu nãotive juízo... Ele voltou para se vingar! Estou vendo! Ê Brucutu!"***Na porta do quarto 412 havia uma tabuletinha onde estava escrito VISITAS PROIBIDASPOR ORDEM MÉDICA. Mas, àquela hora da noite, ninguém ficava de plantão pelos corredorespara fazer cumprir as ordens das tabuletinhas. Assim, a mulher de avental deslizou semproblemas pelo corredor e abriu a porta silenciosamente.***"Brucutu? Não, não é Brucutu... Onde estou? Aqui não é o laboratório da escola... Onde estáa aranha? Onde está a cobra? Onde está o vulto de branco? O vulto de branco! Você!"— Boa noite, Anahí. Como é? Está melhorzinha?Apesar da escuridão quase total, Anahí reconheceu o vulto da professora, recortado contra oteto do quarto.— Oh, vejo que você ainda está fraca! Mas isso vai passar. Sabe? Eu fiquei preocupada coma história do bombom. É... você me deixou preocupada. Ninguém sobrevive à linamarina.Ninguém sobrevive ao cianureto. Mas você não comeu o bombom, não é? É pena... Você poderiater evitado tanta preocupação, tanto sofrimento...Anahí tentou gritar, e a língua se enrolou, os músculos não responderam. Mas ela ouvia tudo,e enxergava o suficiente para aumentar o próprio terror.— Você tem de admitir que foi uma grande idéia, não foi? Hein? Levar a polícia junto, nahora de cometer um crime! Hein? Oferecer o bombom envenenado nas barbas da polícia! Um


 


lance de gênio, você tem de admitir. Mas você não comeu o bombom...Naquele momento, quando Anahí havia recuperado todas as razões para viver, naquelemomento em que ela havia finalmente conquistado o amor de Christopher, a morte estava ali, deavental branco, falando suavemente, com ternura até.— Você não comeu o bombom. E confundiu a todos, a mim e aos médicos, porque tomoualguma outra coisa. Que falta de juízo! Sabe que foi difícil tratá-la até se saber com certeza o quevocê tinha tomado? Por que você tomou o calmante da mamãe? Você queria morrer? Por quê,queridinha? Se queria morrer, devia ter comido o meu bombom. Eu o preparei com tantocarinho... Ou devia ter tomado mais do remédio da mamãe. Pelo jeito, você tomou tão pouco...Só serviu mesmo para deixar você tontinha desse jeito. E para deixar todos nós preocupados.Menina má!Anahí tentava conseguir forças para alguma reação. Se conseguisse um grito, um só, nosilêncio noturno daquele hospital, alguém viria socorrê-la. Mas todo o seu corpo permaneciaparalisado, como um quase-morto, capaz apenas de ouvir... e de sentir medo.— Você está me ouvindo, queridinha? É claro que está! Eu vejo pelo seu olhar que você estáme ouvindo. Está com medo? Medo de quem? Do Brucutu? Não precisa mais ter medo doBrucutu. Ele está morto. Meu ajudante, meu único amigo de verdade naquela escola, e você meobrigou a matá-lo. É... foi você, não sabia? Pobre Brucutu! Foi ouvir seus mexericos comAlfonso e me procurou, todo alvoroçado. Eu o aconselhei a ficar quieto, mas o pobrezinhoresolveu ameaçar você. Aí, quando você falou da ameaça para mim e para o investigador, vocême forçou a matá-lo. Ele acabaria facilmente preso e ia complicar ainda mais as coisas. Brucuturaciocinava pouco, mas sabia demais. Foi uma pena. Uma pena mesmo...Calmamente, a professora rasgou a embalagem da seringa de injeção. Espetou a agulha naborrachinha do frasco e fez a seringa aspirar o líquido.— Os médicos já descobriram que tipo de calmante você tomou. Você está recebendo otratamento certo. Que ótimo, não? Eu também acabei de saber o que você tomou. Foi


isto


aqui.Agora, tudo o que você precisa é da dose certa. Eu poderia injetar o remedinho nesse tubo queestá levando soro aí, para as suas veias. Mas esse é um risco que você não quer que eu corra, nãoé? Alguém podia ter a infeliz idéia de analisar o tubo, e ia acabar encontrando traços do nossoremedinho, não é? Também não será bom deixar marcas deinjeção na sua pele. Por isso, vamos dar uma espetadinha no seu couro cabeludo. Mas não sepreocupe. Não vai doer nada. E


quem


vai descobrir uma espetadinha no couro cabeludo? Tudocerto. Como este é o remedinho que você tomou, amanhã todos pensarão que o tratamento nãofoi aplicado a tempo, e tudo sairá bem. Chega de preocupações, você não acha?Sentou-se à beira da cama, sorrindo como uma enfermeira dedicada. Na mão direita, trazia aseringa com a agulha voltada para cima. Com a esquerda, começou a acariciar docemente oscabelos de Anahí.— Queridinha... Você será a terceira. Mas não vai me querer mal, vai? Acho que vocêtambém quer acabar logo com todos esses problemas, não é? A primeira foi dona Albertina.Tudo tão bem feito, tudo quase perfeito, se não fosse certa garotinha que gosta de causarconfusões...As carícias aumentavam de intensidade, feitas com as pontas dos dedos, como se a professoraprocurasse o ponto certo para a agulha.— Dona Albertina... Eu tinha de matá-la. A grande diretora, a grande educadora, querida portodos! E eu? Sempre à sombra dela. A ela, todos admirando. De mim, todos rindo. De mim,todos sempre riram, desde o tempo em que fui professora de química. Você sabia que eu fuiprofessora de química? A melhor de todas, mas os alunos riam de mim. Por causa dela. Agora,ninguém mais vai rir, porque ela está morta!A mão parou de acariciar a cabeça de Anahí e afastou-lhe os cabelos, descobrindo o localescolhido.— Ora, não é que eu esqueci o algodão com álcool? Mas não fique assustada. Eu sei aplicarinjeção muito bem. Não há perigo de infeccionar. Morra, queridinha. Assim... quieta.A espetada doeu pouco e, em um segundo, o torpor que Anahí conhecia tão bem voltou acircular em cada uma de suas veias. Aos poucos, o quarto ficou ainda mais escuro.— Assim... menina boazinha...A voz e o comportamento daquela mulher davam àquela cena macabra o clima respeitoso deuma missa negra.


 


De repente, como um sacrilégio, um ruído invadiu o quarto.Já quase mergulhada no esquecimento, Anahí viu o rosto da professora, ainda sorrindo. Masviu sangue. Sangue que brotava da cabeça da mulher, escorria por seu rosto e vinha empapar acamisola de Anahí.E Anahí sentiu cair pesadamente sobre seu corpo o corpo inanimado da professora Virgínia, avice-diretora da escola.III — Paixão que ressuscita17 — Eu sei que ele me ama...Anahí estava muito fraca por fora, mas tinha a primavera por dentro, como todos os seuspássaros e borboletas azuis. A batalha dos médicos tinha sido terrível. Inconsciente, ela nãopercebera aquela batalha. Ela só vivera aquela batalha. E, por fim, sobrevivera a ela.Sobrevivera como se tivesse acabado de nascer, com o humor e a alegria de alguém que, acusto, foi arrancado da morte. De alguém que, à frente, só vê felicidade sem barreiras.O pai veio e, dessa vez, trouxe Helena (Ou seria Lúcia? Ou Cristina?). A mãe, agora queAnahí estava fora de perigo, tinha deixado o hospital para buscar algumas roupas, sempre com acerteza de que a filha passara por tudo aquilo só para agravar-lhe a enxaqueca.Mesmo fraca e debilitada, em seu primeiro dia de plena consciência, Anahí portou-se maiscomo visita do que como doente, sorrindo sempre, brincando com voz alegre e transmitindoânimo a quem se aproximasse de sua cama.Duas batidinhas e entrou uma atendente, trazendo mais uma dose anônima de comprimidos.— Bom dia, querida. Que bom ver a sua carinha animada desse jeito!— Bom dia! Isso não é animação, isso é vida! Viver é lindo. Amar é lindo. Ser amada é maislindo ainda!— Nossa! Como está a nossa ressuscitadinha! Se todos os nossos doentes fossem como você,este hospital seria uma festa...— Então vamos fazer uma festa. Precisamos animar este hospital!— Você precisa é descansar sossegadinha para sair logo daqui. Todas as festas estãoesperando por você lá fora.— Eu dei muito trabalho, é?— Se deu! Quando você chegou aqui. disseram que era envenenamento por cianureto.Naturalmente, isso não era possível, porque o cianureto mata em poucos segundos. Tinha sidoum calmante, não é? Mas os médicos demoraram a descobrir o que era.— Puxa, eu só tomei dois comprimidos!— É, você teve uma forte reação. Às vezes acontece. Eu nunca confio nesses remédios. Eutrabalho aqui mas, quando estou nervosa, só tomo chá de erva-cidreira.— Vou me lembrar disso, da próxima vez... — sorriu Anahí.— O problema mesmo foi aquela professora louca. Ela injetou o mesmo calmante em você.Só que uma dose capaz de matar um cavalo! Se não fosse aquele rapaz...— Christopher...— É esse o nome dele? Você tem sorte de ser tão amada por um garoto como ele. Elearrebentou um frasco de sangue na cabeça da tal professora Virgínia, bem a tempo de...Era a última recordação de Anahí: o sangue esguichando na cabeça da vice-diretora,escorrendo por todos os lados, empapando sua camisola.— Deu até na televisão! Agora, aquela mulher maluca está toda costurada, lá na enfermariada prisão. Se não fosse o seu garoto...— Christopher... ele me salvou a vida!— Duas vezes! Foi ele quem encontrou você em casa, caída no sofá, e chamou a ambulância.Depois, ficou o tempo todo por aqui, pressionando os médicos, perguntando por você a todahora, chorando...— Chorando!— Só arredou pé do hospital quando soube que você estava fora de perigo. Acho que foi emcasa se arrumar para que você o veja bem bonitinho...— Christopher! Chorando por mim...A atendente ajeitou os travesseiros atrás de Anahí e preparou-se para sair.— Você é uma garota de sorte, mas vai ter um probleminha para resolver.— Um probleminha? Qual?— Há outro garoto, não é? Apareceu aqui várias vezes, também desesperado, dizendo a todo


 


mundo que ama você, que não pode viver sem você...Uma sombra passou pelos olhos de Anahí.— Esse é Alfonso. Um rapaz maravilhoso. O melhor amigo que uma garota como eupoderia ter. Ah, se não fosse Christopher...— Então você já escolheu, é? Um dos dois vai sofrer.A alegria da sobrevivente diminuiu um pouco. Por nada deste mundo ela gostaria queAlfonso sofresse. Mas ela estava amarrada para sempre pelo beijo apaixonado no jardim, pelobeijo da vida no sofá, pelo roçar da correntinha...— Ah, Alfonso, você vai ter de me compreender...— Ah, Alfonso, que rosas lindas! Obrigada, você é mesmo um amor!***Anahí teria preferido que a primeira visita não fosse de Alfonso. Mas agora o rapaz estavaali, cheio de rosas e esperança, e ela iria fazê-lo sofrer. Dulce também sofreria, mas o quefazer?"É melhor um fim trágico do que uma tragédia sem fim", pensou ela pela segunda vez..— Senhorita Ilusão... a professora Virgínia enganou a todos nós, não foi?— Quase que eu pago com a vida por esse engano... E o próximo seria você. Ela sabia que eutinha falado das minhas suspeitas com você.— Ela não pararia mais. Pobre mulher louca! A polícia já conseguiu levantar todos os dadospara encerrar o caso. Falei com o investigador. Virgínia era uma mulher brilhante, mas a loucuraestava tomando conta dela. Foi por isso que dona Albertina morreu. As duas eram grandesamigas, e a diretora estava percebendo os sinais de desequilíbrio mental que a professoraVirgínia começava a apresentar. Primeiro, para protegê-la, encostou-a no cargo de vice-diretora,sem nenhuma função prática. Por fim, parece que ela estava cuidando da internação da amiga emuma clínica psiquiátrica. Foi aí que os delírios de perseguição da professora Virgínia transformarama amizade por dona Albertina em ódio...— Que horror, Alfonso!— O estranho é que ela não perdeu a genialidade, apesar da loucura. Muita coisa ela falou àpolícia, depois de presa. Ela imaginou que precisava de um cúmplice, se bem que poderia terfeito sozinha tudo o que fez. Brucutu só serviu para caçar você e eu no pátio, de modo que nossapresença inocente na hora da descoberta do cadáver fosse uma garantia de que dona Albertinamorrera sozinha e fechada na diretoria. E para abrir a porta com a chave mestra, é claro. Porcoincidência, a professora Olga apareceu também e Virgínia conseguiu uma testemunha a mais.— Pobre Olga! E eu que cheguei a pensar.— Mas deixe eu lhe contar o que fez Virgínia para envolver Brucutu. Ele estava comproblemas de dinheiro e ela o convenceu a roubar certa quantia da gaveta de dona Albertina.Depois, disse a^ coitado que a diretora descobrira o roubo e que a única forma de livrá-lo daprisão seria matando-a. Só que dona Albertina jamais descobriria esse roubo, porque o roubopraticamente não aconteceu: a própria Virgínia tinha posto o dinheiro na gaveta para Brucuturoubar. O dinheiro era dela mesma!— Genial! Com isso, Brucutu ficou nas mãos dela como um fantoche!— Só que ele se apavorou quando ouviu nossa conversa na pracinha e resolveu ameaçarvocê. Aí, Virgínia ficou com medo que ele fosse preso e acabasse falando demais e o envenenou.Foi encontrado morto no quartinho onde morava, Com um papel de bombom ao lado...— Coitado! Ele me assustava tanto, mas era apenas uma pobre vítima, como donaAlbertina...— Ou como você. Até o investigador ficou espantado com a ousadia da professora Virgínia.Ela o procurou e o convenceu a irem juntos à sua casa, pois


devia


haver alguma coisa que vocêsabia e não dissera no interrogatório. Uma idéia brilhante: quando você aparecesse morta, quemiria desconfiar que o veneno estava em um bombom oferecido a você na frente de um policial?— Eu não esperava aqueles dois. Eu esperava que Olga chegasse...— A professora Olga chegou um pouco depois, quase junto com a ambulância que foi buscarvocê.— Eu nem desconfiei quando Virgínia deixou o bombom sobre a mesa. Ela comeu todos osoutros do saquinho... Quem havia de desconfiar que justo aquele último estivesse envenenado?— Virgínia foi mesmo brilhante, Anahí. O plano para matar dona Albertina era perfeito. Elausou o regime da nossa pobre diretora. Que pessoa obesa não comeria às escondidas um


Depois que nós descobrimos o corpo, ela ficou fazendo aquele papel de histérica até entrar sozinha na diretoria, pegar o papel de bombom e deixar o envelope com veneno ao lado do corpo, depois de pressionar os dedos de dona Albertina contra o envelope para marcar as impressões digitais. Sua única falha foi deixar o frasco do laboratório limpo de impressões, mas este era um risco a enfrentar, pois não seria possível trazer o frasco até à diretoria, pressionar os dedos da diretora contra ele e depois colocá-lo de volta no laboratório.


— Isso tudo eu descobri, Chris. Um pouco tarde, mas acabei descobrindo. No começo, pensei que a culpada fosse Renata, por causa das teorias dela sobre educação por indução subliminar. Mas depois eu percebi que Renata poderia ter apanhado o papel de bombom e deixado cair o envelope com veneno, mas não teria a oportunidade de pressionar os dedos da diretora contra o envelope, na minha frente. A única que ficou a sós com a morta e teve essa oportunidade foi a professora Virgínia. Eu pensei nisso tudo enquanto estava desmaiando naquele sofá. Tentei desesperadamente falar, contar tudo, mas a voz não saía!


— Como não saía? Você falou pelos cotovelos. Não calou a boca um só minuto. Você deu todos, os detalhes necessários à compreensão exata do crime. O investigador ficou admiradíssimo com a sua capacidade de dedução. Disse que você é um gênio. Graças a você, a polícia já estava atrás da professora Virgínia antes que a ambulância chegasse ao hospital. Você falou do bombom, do regime, de tudo! Eu ouvi tudinho!


— Como? Você também estava lá?


— É claro que eu estava, meu amor. Recebi seu recado na livraria e fui correndo para a sua casa. Aliás, a professora Renata também estava ao seu lado enquanto você a acusava de assassina...


— Ai, que besteira que eu fiz!


— Ela estava cuidando de você. O policial que guardava a sua casa quase chegou a prendê-la. Mas aí você virou o jogo e começou a acusar Virgínia.


— Mas Poncho...


— Poncho? — cortou Chris com um tom de voz bem mais seco. — Sim, ele também estava lá.


Levantou-se e ficou olhando pela janela do quarto, que dava para o jardim do hospital. Dulce decidiu aproveitar a deixa e dizer o que tinha de ser dito, do modo mais rápido possível.


— Sabe,Chris? Você é um grande amigo e eu quero que você saiba de uma coisa maravilhosa...


— Não sei se quero saber dessa coisa maravilhosa, Dulce...


— Eu quero que você saiba Chris. Eu estou apaixonada por Poncho e agora eu sei que ele me ama...


— Eu sou a pessoa menos indicada para você dizer que ama outro, Dulce. Porque você sabe que eu te amo...


— Oh, Chris, compreenda...


O rapaz ainda olhava para fora.


— Eu sei, Dulce. Você falou o nome dele o tempo todo, durante o seu delírio. Em sua casa e aqui, no hospital. Mas, se você quer dizer que ama Poncho, diga a ele mesmo. Ele vem aí, acabou de atravessar o jardim.


— Chris, eu...


— Não se preocupe comigo, minha querida. Acho que chegou a hora de eu parar de insistir. Fique boa logo e seja muito feliz, meu amor...


Caminhou até à porta e voltou-se para Dulce, sorrindo, como se as palavras da menina não o tivessem ferido como punhais.


— Uma última pergunta, Dulce: por que você não comeu o bombom que a professora Virgínia deixou sobre a mesinha?


— Bombons engordam, Chris. E eu estou de regime!


— Quer dizer... quer dizer que você não queria morrer?


— É claro que não! Pensa que eu sou idiota?


 


 


Bjimmmm



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Autor(a): megvondy

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Ali, à sua frente, estava o garoto da sua vida. O garoto lindo como um deus, o garoto que ela havia ajudado a conquistar para a sua melhor amiga. O garoto por quem ela sofrerá mais do que imaginava poder agüentar. O garoto por quem derramara mais lágrimas do que pensava ser capaz de produzir.Todo o sofrimento acabara, finalmente. Agora ele estava al ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 151



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  • analima2000live Postado em 16/01/2012 - 11:43:27

    http://www.fanfics.com.br/?q=fanfic&id=14188

  • lucas2280 Postado em 09/01/2012 - 00:13:16

    Esperando os próximos capítulos.... POSTA MAIS!!!

  • lucas2280 Postado em 09/01/2012 - 00:13:06

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  • lucas2280 Postado em 09/01/2012 - 00:13:00

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  • lucas2280 Postado em 09/01/2012 - 00:12:52

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  • lucas2280 Postado em 09/01/2012 - 00:12:09

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