Fanfic: A ESCOLHA - AyA ( Adaptada) - FINALIZADA | Tema: Anahi e Alfonso

Capítulo V

Os ombros de Annie doíam no fim do dia. Mas o tecido estava quase do comprimento certo para fazer um vestido. Sybil e as outras mulheres tinham trabalhado bastante para produzir tecido para sua roupa de baixo. Isso era bom porque assim podia restaurar um pouco de seu recato, ainda mais por estar naqueles dias desagradáveis. Sendo assim, não compartilharia da cama com Alfonso naquela noite.

O pensamento deveria enchê-la de felicidade. Contudo, sentia o coração pesado com o desapontamento. Os sinos chamando para o jantar tocaram e ela suspirou.

Estava confusa. Não havia outra explicação para aquela melancolia toda. Deveria estar aliviada por não estar grávida, o que sacramentaria o seu casamento. Em vez disso, lamentava ter de dormir sozinha.

O que era um absurdo já que havia pouco descobrira o que era dividir a cama com outra pessoa. Ficou tão silenciosa durante a refeição que mais de uma pessoa a observou à mesa. Ainda esforçou-se para melhorar o humor, mas foi impossível, o sentimento que a corroia assemelhava-se à solidão de uma caverna escura.

Com um suspiro ela deixou a sala, cabendo a Sybil informar seu patrão que a esposa estaria dormindo sozinha naquela noite. Era Costume uma criada passar tal informação para o marido de sua patroa.

Foi ainda mais difícil entrar no quarto do casal, mas não sabia para onde mais poderia ir. Imaginou se ele dormiria em outro aposento ou se ela seria mandada para longe até que suas regras terminassem. Sua mãe jamais dividira um quarto com o marido. Franco costumava mandar uma criada saber se a mulher já estava limpa novamente para voltar para a cama do casal. Na época, Anahi não fazia ideia de que algo acontecia no quarto do senhor das terras, porque ela dormia com uma criada na cozinha.

A porta se abriu e ela virou o rosto naquela direção com cara de poucos amigos. Queria saber quem ousava interromper seu momento de desejada solidão.

— Nossa, o que,houve? Confesso que vi expressões melhores do que a sua no campo de batalha — brincou Poncho, segurando a porta para Sybil passar com uma bandeja, que foi colocada na mesinha ao lado da cama. 

— Boa noite, milady.

Poncho riu tão logo a porta se fechou.

— Sybil é uma ótima criada — comentou Annie, desviando o assunto e alisando a barra da túnica, sem jeito. — Quer que eu durma na cozinha?

— Você vai dormir comigo. — O tom de voz de Alfonso já não estava mais alegre, ao contrário, mesclava-se com autoridade. 

— Mas Sybil não lhe contou que...

Alfonso jogou a boina no gancho da parede.

— Sim, contou — ele disse de um jeito mais ameno, mas mantendo o brilho de determinação que exibira quando a raptara. — Você foi a única coisa que roubei nessa vida, isso quer dizer que preciso mantê-la por perto.

— Ah, é mesmo?— Annie se irritou, levantando o queixo para enfrentá-lo.

Poncho, porém, abriu um sorriso.

— Bem, você é a primeira coisa que eu roubei na vida, por isso imagino que esteja certo.

Ele só podia estar brincando, pensou ela, encarando-o.

— Seu pai mandava sua mãe para a cozinha?

— Eles não compartilhavam do mesmo quarto. Somente a procurava quando... — Suas palavras morreram antes de serem proferidas ao notar que estava dando informações demais àquele que era inimigo de seu senhor.

— Quando queria usá-la?

— Sim. — O rosto de Annie ficou em chamas.

— Está bem, não perguntarei nem direi mais nada, uma vez que Franco Portilla já faleceu.

— Você fala como se os casais dividissem o quarto de comum acordo.

Poncho deu de ombros e puxou uma cadeira para sentar-se mais perto de onde ela estava

— Meus pais dormiam juntos, meu irmão e Maite fazem o mesmo. Tudo indica que estejam felizes dessa forma. — Conforme ele falava, as linhas de seu rosto se suavizavam.

— Entendo — mentiu ela, ainda tensa demais.

— Sente-se, querida. Aaron nos trouxe um presente de casamento.

Poncho pegou a garrafa que estava sobre a bandeja. Tirou a rolha e serviu o líquido em uma pequena taça.

— Isto é o mel das campinas para celebrar nosso casamento.

Anahi não conseguiu evitar o sorriso que surgiu em seus lábios. Por tradição, o mel era uma bebida oferecida aos noivos. Era possível uma pessoa verificar sua popularidade entre os amigos, se ela tivesse mel suficiente para um mês.

— Bondade dele. — Ela tomou um gole e sorriu.

— Acho que com isso ele imagina que ganhará sua simpatia mesmo tendo me ajudado a raptá-la.

— Isso não é assunto para se brincar

— Não me diga que os homens Portilla são assim tão diferentes dos nossos e que são incapazes de provocarem as esposas. Vamos, admita.

Annie semicerrou os olhos, mas o que Alfonso dizia era verdade. De súbito, ele estendeu a mão e ao abri-la mostrou um par de dados. Enquanto se preparava para jogá-los, lançou-lhe um olhar de desafio.

— O que planeja fazer com isso?

— Estava pensando em conhecê-la melhor, minha linda.— Ele levantou uma das sobrancelhas de um jeito arrogante. — Com dados? — Ela riu, embora o fitasse intrigada.

— Sim, vamos a um desafio. Jogaremos para conseguir uma resposta honesta a cada vitória.

Anahi sentiu o corpo gelar. Era um desafio que trazia junto muito risco. Caso perdesse, teria de expor seus segredos mais íntimos. Contudo, a chance de descobrir novas facetas do homem com que se casara era difícil de resistir.

— A não ser que você seja medrosa demais para arriscar algumas rodadas.

Ela puxou uma cadeira e, ao sentar-se ao lado dele, bateu com a palma da mão sobre a mesa.

— Você não me assusta.

Foi então que, ao dizer aquelas palavras, Annie se deu conta de que ele nunca a tinha atemorizado. O que era uma surpresa, já que por alguma razão desconhecida ela não o temia.

— Nunca tive medo de você.