Fanfic: Lendo o Futuro | Tema: Harry Potter
— Talvez seja magia acidental — disse Remus.
— Estou curioso para saber o que a magia acidental fez para merecer um capítulo inteiro — completou Frank. Sirius aproveitou a deixa e começou a ler.
Quase dez anos haviam se passado desde o dia em que os Dursley acordaram e encontraram o sobrinho no batente da porta, mas a rua dos Alfeneiros não mudara praticamente nada. O sol nascia para os mesmos jardins cuidados e iluminava o número quatro de bronze à porta de entrada dos Dursley; e penetrava sorrateiro a sala de estar, que continuava quase igual ao que fora na noite em o Sr. Dursley ouvira a funesta notícia sobre as corujas.
— Se o capítulo começou com os Dursley, quer dizer que meu filho ainda está lá? — perguntou James revoltado, encarando cada um dos seus amigos como se fosse culpa deles. Todos desviaram o olhar sem entender porque não estavam lá para Harry.
Somente as fotografias sobre o console da lareira mostravam o tempo que já passara. Dez anos antes havia uma porção de fotografias de uma coisa que parecia uma grande bola de brincar na praia, usando diferentes chapéus coloridos — mas Duda Dursley não era mais bebê; e agora as fotografias mostravam um menino grande e louro na primeira bicicleta, no carrossel de uma feira, brincando com o computador do pai, recebendo um beijo e um abraço da mãe. A sala não continha nenhuma indicação de que havia, outro menino na casa.
— Isso é um bom sinal. — Disse Sirius tentando animar.
Lily negou com a cabeça; a irmã havia rasgado todas as fotografias dela, era muito improvável que tivesse fotografias do filho de Lily.
No entanto Harry Potter continuava lá, no momento adormecido, mas não por muito tempo. Sua tia Petúnia acordara e foi sua voz aguda que produziu o primeiro ruído do dia.
— Acorde! Levante-se! Agora!
— É uma maneira horrível de acordar uma criança! — reclamou Alice.
Harry acordou assustado. A tia bateu à porta outra vez.
— Acorde! – gritou. Harry ouviu-a caminhar em direção à cozinha e em seguida uma frigideira bater no fogão. Virou-se de costas e tentou se lembrar do sonho em que estava. Era um sonho gostoso. Havia uma motocicleta. Tinha a estranha sensação que já vira esse sonho antes.
— Memória impressionante — comentou Remus.
A tia voltara à porta.
— Você já se levantou? — perguntou.
— Quase — respondeu Harry.
— Bem, ande depressa, quero que você tome conta do bacon. E não se atreva a deixá-lo queimar. Quero tudo perfeito no aniversário de Duda.
— Por que meu filho tem que cozinhar? Ele tem apenas dez anos! — disse James irritado.
Lily olhou ainda mais desanimada. A vida do seu filho não parecia nada boa.
Harry gemeu.
— Que foi que você disse? — perguntou a tia com rispidez.
— Nada, nada...
— Boa Harry, sempre negue na falta de provas — comentou Sirius.
— Black, não se atreva a dar esse tipo de conselhos ao meu filho! — reclamou Lily, a voz aumentando a cada sílaba. Sirius deu seu melhor olhar de cachorro arrependido, que não teve nenhum efeito na ruiva.
O aniversário de Duda — como podia ter esquecido? Harry levantou-se devagar e começou a procurar as meias. Encontrou-as debaixo da cama e depois de retirar uma aranha de um pé, calçou-as.
Severus franziu o cenho; não era o estilo de Petúnia deixar aranhas na sua casa. Um olhar para Lily e percebeu que ela estava pensando o mesmo.
Harry estava acostumado com aranhas, porque o armário sob a escada vivia cheio delas e era ali que ele dormia.
— Meu filho dorme onde? – perguntou James, indignado.
— Tuney, você vai ter motivos para odiar os bruxos quando você estiver ao alcance da minha varinha novamente! — ameaçou Lily.
Remus conjurou uma pena, tinta e pergaminhos e começou a resmungar algo que parecia formas marotas de vingança. James ouviu e fez a mesma coisa.
Já vestido saiu para o corredor que levava à cozinha. A mesa quase desaparecera tantos eram os presentes de aniversário de Duda. Pelo que via, Duda ganhara o novo computador que queria, para não falar na segunda televisão e na bicicleta de corrida. Para o quê, exatamente, Duda queria uma bicicleta de corrida era um mistério para Harry, porque Duda era muito gordo e detestava fazer exercícios — a não ser, é claro, que envolvessem bater em alguém.
— É melhor que não seja no meu filho, seu saco de banhas!
O saco de pancadas preferido de Duda era Harry, mas nem sempre Duda conseguia pegá-lo. Harry não parecia, mas era muito rápido.
— Vou garantir pessoalmente que Válter não possa ter descendentes — ameaçou Lily, e todos os homens na sala estremeceram.
Talvez fosse porque vivia num armário escuro, mas Harry sempre fora pequeno e muito magro para a idade.
— Isso é porque você é filho do seu pai — implicou Alice. James respondeu mostrando a língua.
Parecia ainda menor e mais magro do que realmente era porque só lhe davam para vestir as roupas velhas de Duda e Duda era quatro vezes maior do que ele.
Severus suspirou. Nunca pensou que fosse ter algo em comum com o filho do Potter.
Harry tinha um rosto magro, joelhos ossudos, cabelos negros e olhos muito verdes. Usava óculos redondos, remendados com fita adesiva, por causa das muitas vezes que Duda socara no nariz.
James rabiscou ainda mais furiosamente no pergaminho.
A única coisa que Harry gostava em sua aparência era uma cicatriz fininha na testa que tinha a forma de um raio. Existia desde que se entendia por gente e a primeira pergunta que se lembrava de ter feito à tia Petúnia era como a arranjara.
— No desastre de carro em que seus pais morreram — respondera ela. — E não faça perguntas.
— Você mentiu sobre nossas mortes, Tuney? Lily pegou um dos pergaminhos de James e após conjurar uma pena se pôs a escrever vinganças contra a irmã.
Não faça perguntas — esta era a primeira regra para levar uma vida tranqüila com os Dursley.
— Mas como ele vai aprender algo se não fizer perguntas? — reclamou Remus. Mas ninguém tinha uma resposta.
Tio Válter entrou na cozinha quando Harry estava virando o bacon.
— Penteie o cabelo! — mandou, à guisa de bom-dia.
Mais ou menos uma vez por semana, tio Válter espiava por cima do jornal e gritava que Harry precisava cortar os cabelos. Harry deve ter feito mais cortes que o resto dos meninos de sua classe somados, mas não fazia diferença, seus cabelos simplesmente cresciam daquele jeito — para todo lado.
— Pobre criança, depois de tudo de ruim que aconteceu a ele, ainda teve que herdar o cabelo do Pontas – brincou Sirius, sendo instantaneamente atingido por uma almofada que James tinha conjurado.
Harry estava fritando os ovos na altura em que Duda chegou à cozinha com a mãe. Duda se parecia muito com o tio Válter. Tinha um rosto grande e rosado, pescoço curto, olhos azuis pequenos e aguados e cabelos louros muito espessos e assentados na cabeça enorme e densa. Tia Petúnia dizia com freqüência que Duda parecia um anjinho
— Parece que alguém lançou um feitiço capilar num porco — reclamou James
— Harry dizia com freqüência que Duda parecia um porco de peruca.
Vários risos seguiram este comentário. Lily suspirou; se seu filho tivesse o senso de humor de Potter, a vida com Tuney não seria fácil.
Harry pôs os pratos de ovos com bacon na mesa, o que foi porque não havia muito espaço. Entrementes, Duda contava os presentes. Ficou desapontado.
— Trinta e seis — disse, erguendo os olhos para o pai e a mãe. — Dois a menos do que no ano passado.
— Trinta e seis? — perguntou Sirius surpreso. — Nem mesmo James ganha tantos presentes.
Frank ficou indignado. Como alguém que dava trinta e seis presentes para uma criança fazia a outra dormir no armário embaixo das escadas?
— Querido, você não contou o presente de tia Guida, está aqui debaixo deste grandão do papai e da mamãe, está vendo?
— Está bem, então são trinta e sete — respondeu Duda ficando vermelho. Harry, percebendo que Duda estava preparando acesso de raiva, começou a engolir seu bacon o mais depressa possível, caso o primo virasse a mesa.
Severus piscou. Esta criança parecia ser ainda mais mimada que Potter, coisa que ele achava que não era possível.
Tia Petúnia obviamente também sentiu o perigo, porque na hora disse:
— E vamos comprar mais dois presentes para você hoje. Que tal, fofinho? Mais dois presentes. Está bem assim?
— Porque esta é a solução, comprar mais presentes. — Remus quase sentia pena da criança por ser criada dessa forma.
Duda pensou um instante. Pareceu um esforço enorme. Finalmente responde hesitante:
— Então vou ficar com trinta... trinta...
— O porco de peruca nem sabe contar! — exclamou Alice, indignada.
— Trinta e nove, anjinho — disse tia Petúnia.
— Ah. — Duda largou-se na cadeira e agarrou o pacote mais próximo. — Então, está bem.
Tio Válter deu uma risadinha.
— O baixinho quer tudo a que tem direito, igualzinho ao pai. É isso aí, garoto! — E arrepiou os cabelos de Duda com os dedos.
— Como se parecer com ele fosse uma coisa boa — resmungou Sirius antes de continuar a ler.
Naquele instante o telefone tocou e tia Petúnia foi atendê-lo, enquanto Harry e o Válter assistiam Duda desembrulhar a bicicleta de corrida, a câmera de filmar, um aeromodelo com controle remoto, dezesseis jogos de computador e um gravador de vídeos. Estava rasgando a embalagem de um relógio de ouro quando tia Petúnia voltou do telefone parecendo ao mesmo tempo zangada e preocupada.
— Más notícias, Válter. A Sra. Figg fraturou a perna. Não pode ficar com ele. — E indicou Harry com a cabeça.
— Meu filho tem nome, Tuney! — Lily reclamou. Ela também recebia esse tipo de tratamento da irmã.
Duda boquiabriu-se de horror, mas o coração de Harry deu um salto. Todo ano, no aniversário de Duda, os pais dele o levavam para passar o dia com um amiguinho em parques de aventuras, lanchonetes ou no cinema. Todo ano deixavam Harry com a Sra. Figg, uma velha maluca que morava ali perto. Harry detestava o lugar. A casa inteira cheirava a repolho e a Sra. Figg lhe mostrava fotografias de todos os gatos que já tivera.
— Pobre Harry — suspirou Sirius —, ser obrigado a ver fotografias de gatos por horas é um dos piores tipos de tortura.
— Sirius foi atacado por um gato uma vez e desde então não gosta deles — disse Remus rapidamente, antes que alguém pudesse questionar o estranho comentário.
— E agora? — perguntou tia Petúnia, olhando furiosa para Harry como se ele tivesse planejado tudo. Harry sabia que devia sentir pena da Sra. Figg que quebrara a perna, mas não era fácil quando lembrava que ia passar um ano sem ter que olhar para o Tobias, o Néris, Seu Patinhas e o Pompom outra vez.
Sirius assentiu com a cabeça em solidariedade e Frank estreitou os olhos. Parecia que Sirius tinha um ódio mortal de gatos.
— Poderíamos ligar para a Guida — sugeriu tio Válter.
— Não diga bobagem, Válter, ela detesta o menino.
Com freqüência, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele não estivesse presente — ou melhor, como se ele fosse alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.
Lily rabiscava no pergaminho com tanta raiva que fez um furo. James murmurava algo que soava como transformá-la em lesma. E Severus não sabia o que pensar — o filho do Potter tinha uma infância quase tão ruim quando a dele própria, mas ele realmente não queria simpatizar com o filho do Potter.
— E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela, Ivone?
— Está passando férias em Majorca — respondeu Petúnia, com rispidez.
— Vocês podiam me deixar aqui — arriscou Harry esperançoso (ele poderia assistir ao que quisesse na televisão para variar e, quem sabe, até dar uma voltinha no computador de Duda).
Tia Petúnia parecia que tinha engolido um limão.
— E quando voltarmos, encontrar a casa destruída? — rosnou.
— Por que eles acham que Harry explodiria a casa? — perguntou Alice.
— Talvez ela tenha conhecido James e saiba que isso é uma possibilidade — respondeu Sirius, ganhando outra almofada na cara.
— Não vou explodir a casa — prometeu Harry, mas os tios não estavam mais escutando.
— Talvez pudéssemos levá-lo ao zoológico — disse tia Petúnia lentamente — e deixá-lo no carro...
— Meu filho não é um maldito cachorro!
— Não tem nada errado com os cães, Evans — começou Sirius, mas ao ver o olhar da ruiva se corrigiu. — É um absurdo deixar Harry no carro!
— O carro é novo. Não vou deixá-lo sentado no carro sozinho...
— A única coisa que ele se importa é se o carro é novo! — disse Alice, revoltada.
Duda começou a chorar alto. Na realidade não estava chorando, fazia anos que não chorava de verdade, mas sabia que se fizesse cara de choro e gritasse a mãe lhe daria o que quisesse.
— Esta é a criança mais insuportável que eu já conheci — disse Frank.
— Mas Frank, você não o conheceu. Você está lendo sobre ele, é diferente — contestou Sirius, ganhando um tapa na cabeça de Remus e um almofada na cara de Alice.
— Dudinha, querido, não chore, mamãe não vai deixar ele estragar o seu dia! — exclamou, abraçando-o.
— Não... quero... que... ele... vá! — Duda berrou entre grandes soluços fingidos. — Ele sempre estraga tudo! — E lançou um riso maldoso por entre os braços da mãe.
Remus rosnou para o livro, fazendo todos que não sabiam seu segredo olharem estranhamente para ele.
Naquele instante a campainha tocou.
— Ah, meu Deus, são eles chegando! — disse tia Petúnia nervosa e, um minuto depois, o melhor amigo de Duda, Peter Polkins, entrou acompanhado da mãe. Peter era um menino magricela, com cara de rato. Em geral era quem segurava por trás os garotos enquanto Duda batia neles. Na mesma hora Duda parou de fingir que estava chorando.
— Claro, não quer parecer um idiota frente do amigo — comentou Frank.
— Acho que é impossível ele não parecer um idiota, não importa o que ele faça — respondeu James, fazendo a maioria da sala sorrir.
Meia hora depois, Harry, que não conseguia acreditar em sua sorte, estava sentado no banco traseiro do carro dos Dursley, com Peter e Duda a caminho do jardim zoológico, pela primeira vez na vida.
Lily e James se entreolharam e suspiraram; a infância do seu filho parecia cada vez pior.
O tio e a tia não tinham conseguido pensar no que fazer com ele, mas antes de saírem, tio Válter puxara Harry para o lado.
— Estou lhe avisando — disse, aproximando a cara grande e vermelha de Harry. — Estou lhe avisando, moleque, a primeira gracinha que fizer, a primeira, vai ficar preso naquele armário até o Natal.
— Você não pode fazer isso, monte de banha! — reclamou James, e separou um pergaminho apenas para Valter.
— Não vou fazer nada — disse Harry —, juro...
Mas tio Válter não acreditou nele. Ninguém nunca acreditava.
O problema era que sempre aconteciam coisas estranhas à volta de Harry e simplesmente não adiantava dizer aos Dursley que não era sua culpa.
— Tuney saberia que era magia acidental — disse Severus, e todos olharam para ele como se ele tivesse dito que ia lançar sua própria marca de shampoo.
Lily, ao ver todos os olhares em direção a Severus, explicou:
— Nos conhecemos antes de Hogwarts, morávamos perto um do outro.
Sirius lhe deu um olhar de pena antes de continuar a ler.
Uma vez, tia Petúnia, cansada de ver Harry voltar do barbeiro como se não tivesse estado lá, apanhara uma tesoura de cozinha e cortara o cabelo dele tão curto que o deixara quase careca, exceto por uma franja, que ela deixou "para esconder aquela cicatriz horrorosa".
James resmungou algo como "careca" e "cara de cavalo", enquanto continuava escrevendo em seu pergaminho.
Duda morrera de rir de Harry, que passou a noite acordado imaginando como que seria a escola no dia seguinte, onde já riam dele por causa das roupas folgadas e dos óculos emendados com fita adesiva.
Severus se mexeu incomodamente no sofá. Ele sabia como era ser humilhado por causa das suas roupas, e que o filho de Lily sofresse isso era impensável. Por outro lado, ele ainda se recusava a sentir pena do filho do Potter.
Na manha seguinte, porém, quando se levantou, os cabelos estavam exatamente como eram antes de tia Petúnia cortá-los. Tinham-no deixado preso uma semana no armário por causa disso, apesar de sua tentativa de explicar que não saberia explicar como é que os cabelos tinham crescido tão depressa.
— Mas você disse que sua irmã sabia que era magia acidental — apontou James, que não conhecia o relacionamento turbulento que Lily tinha com a irmã.
— E foi justamente por isso que ele foi castigado. Ela odeia magia — respondeu Lily, tristemente. Ela sabia que sua irmã tinha inveja dela com relação à magia, mas não pensou que descontaria no filho.
Outra vez, tia Petúnia tentara obrigá-lo a vestir um macacão velho de Duda (marrom com pompons cor de laranja).
— Quer dizer que esse é o tipo de roupa que ela compra para o próprio filho? Devia parece um cruzamento de porco com palhaço quando Dudinha vestia — disse Alice venenosamente e conseguiu alguns risos.
Quanto mais tentava enfiá-lo pela cabeça dele, tanto menor o macacão ficava, até que finalmente parecia feito para um fantochinho de dedo, e com certeza não ia servir para o Harry. Tia Petúnia concluiu que devia ter encolhido na lavagem e Harry, para seu grande alívio, não foi castigado.
Lily suspirou; ao menos desta vez Tuney tinha deixado passar.
Por outro lado, ele se metera numa grande encrenca quando o encontraram no telhado da cozinha da escola. A turma de Duda o estava perseguindo, como sempre, e tanto para surpresa de Harry quanto dos outros, ele apareceu sentado na chaminé.
— Ele aparatou! Meu filho é incrível! — James exclamou animado, fazendo Severus revirar os olhos.
Os Dursley receberam uma carta muito zangada da diretora de Harry, contando que Harry andara escalando os prédios da escola. Mas só o que tentara fazer (conforme gritou para tio Válter através da porta trancada do armário) fora saltar para trás das grandes latas de lixo da porta da cozinha. Harry supunha que o vento devia tê-lo apanhado na hora em que saltou.
— Harry, você precisa trabalhar melhor nas suas desculpas. Isso não vai colar com a Prof.ª Minnie — disse Sirius.
— Sirius Black, não se atreva a ensinar meu filho a mentir! — gritou Lily.
Mas hoje nada ia dar errado. Valia até a pena estar em companhia de Duda e Peter para passar o dia em outro lugar que não fosse a escola, o armário, ou a sala com cheiro de repolho da Sra. Figg.
Enquanto dirigia, tio Válter se queixava à tia Petúnia. Ele gostava de se queixar de tudo: das pessoas no trabalho, de Harry, do conselho, de Harry, o banco e Harry eram seus dois assuntos preferidos.
— Ninguém teria imaginado — comentou Severus, em voz baixa.
Esta manhã eram as motocicletas.
— ... roncando pelas ruas como loucos, os arruaceiros — disse, quando uma moto emparelhou com eles.
— Tive um sonho com uma motocicleta — falou Harry, lembrando-se de repente — Ela voava.
— Pobre Harry — disse Remus —, fala antes de pensar, igualzinho ao pai.
Severus achou que uma sala cheia de grifinórios não era o melhor lugar para comentar que Potter não pensava.
— Ei! — reclamou James, mas o resto da sala já estava rindo.
Tio Válter quase bateu no carro da frente. Virou-se para trás e gritou com Harry, seu rosto parecendo uma beterraba gigante e bigoduda:
— MOTOCICLETAS NÃO VOAM!
Duda e Peter deram risadinhas.
— A minha voa — retrucou Sirius, displicentemente, ganhando um tapa na cabeça dado por Remus.
— Sei que não voam — respondeu Harry. — Foi só um sonho.
Mas desejou que não tivesse dito nada. Se havia uma coisa que os Dursley detestavam mais do que as suas perguntas, era quando falava de coisas que faziam o que não deviam, não interessava se era sonho ou desenho animado — pareciam pensar que ele poderia arranjar idéias perigosas.
— Isso é um absurdo — disse Alice. — Arrumar idéias perigosas em um sonho... O que eles acham que Harry pode fazer?
— Além disso — continuou Remus —, ele é filho de James. Só isso já basta para ter idéias perigosas por conta própria.
Lily deu um tapa na cabeça de James.
— Por que você me bateu?
— Por passar genes Potter para o meu filho — respondeu Lily, fazendo todos na sala rirem.
Era um sábado muito ensolarado e o zôo estava cheio de famílias. Os Dursley compraram grandes sorvetes de chocolate para Duda e Peter à entrada e, então, porque a mulher sorridente na carrocinha perguntara o que Harry ia querer antes que pudessem afastá-lo depressa dali, eles lhe compraram um picolé barato de limão.
— Ao menos ele ganhou alguma coisa — suspirou Lily.
Não era ruim, Harry pensou, lambendo-o enquanto observavam um gorila que coçava a cabeça e se parecia demais com Duda, exceto pelos cabelos que não eram louros.
— Eu gosto de como meu filho pensa — disse James, fazendo Sirius, Remus e Alice rirem, Frank sorrir, Lily o olhar entre divertida e exasperada e Severus revirar os olhos.
Harry passou a melhor manhã que já tivera em muito tempo. Cuidou de andar um pouco afastado dos Dursley, de modo que Duda e Peter, que ali pela hora do almoço estavam começando a se chatear com os bichos, não recaíssem no seu passatempo favorito de bater no primo.
Remus e James fizeram mais anotações vingativas no pergaminho.
Almoçaram no restaurante do zôo e quando Duda teve um acesso de raiva porque seu sorvetão não era bastante grande, tio Válter comprou-lhe outro e deixou Harry terminar o primeiro.
— Ao menos a birra do Dudoca serviu pra alguma coisa — comentou Alice.
Depois Harry achou que devia ter adivinhado que estava bom demais para durar muito tempo.
Todos olharam ansiosos, e Sirius continuou a ler.
Terminado o almoço, foram visitar o alojamento dos répteis. Era fresco e escuro ali, com quadrados iluminados ao longo das paredes. Por trás dos vidros, rastejavam e deslizavam em pedaços de pau e em pedras todos os tipos de cobras e lagartos. Duda e Peter queriam ver as enormes cobras venenosas e as grossas pitones que esmagavam um homem. Duda logo encontrou a maior cobra que havia. Poderia dar duas voltas no carro de tio Válter e amassá-lo até reduzi-lo ao tamanho de uma lata de lixo
— O que comprova que é uma cobra realmente grande!
— mas naquela hora ela não estava disposta a fazer nada. Na realidade, estava dormindo a sono solto.
Duda parou, o nariz comprimido contra o vidro, observando as espirais marrons e reluzentes.
— Faz ela se mexer — choramingou para o pai. Tio Válter bateu no vidro, mas a cobra no se mexeu.
— Faz outra vez — mandou Duda. Tio Válter bateu no vidro com os nós dos dedos, mas a cobra continuou dormindo.
— Que chato — queixou-se Duda.
— Olha quem fala... — comentou Sirius, antes de continuar a ler.
E saiu arrastando os pés.
Harry veio se postar na frente do tanque e estudou a cobra com atenção. Não se admiraria se a própria cobra morresse de tédio— não tinha companhia a não ser aquela gente idiota que batucava no vidro, tentando incomodá-la o dia inteiro. Era pior do que ter um armário por quarto, onde a única visita era a tia Petúnia esmurrando a porta para acordá-lo, mas ao menos ele podia visitar o resto da casa.
Lily suspirou tristemente. Harry era realmente infeliz.
A cobra inesperadamente abriu os olhos, que pareciam contas. Devagarinho, muito devagarinho, levantou a cabeça até seus olhos chegarem ao nível dos de Harry.
E piscou.
— Ela fez o quê? — perguntou James, confuso.
— Piscou — respondeu Remus, olhando por cima do ombro de Sirius para ver o livro.
— Cobras piscam? — perguntou Alice. E quando ninguém respondeu, Sirius continuou lendo.
Harry arregalou os olhos. E olhou depressa a toda volta para ver se havia alguém olhando. Não havia. E retribuiu o olhar da cobra, piscando também.
— Não a incentive, Harry — reclamou James.
A cobra acenou com a cabeça na direção de tio Válter e de Duda, depois levantou os olhos para o teto. Lançou um olhar a Harry que dizia com todas as letras:
— Isso é o que me acontece o tempo todo.
— Ele pode entender a cobra? — questionou Alice.
— Apenas se ele for ofidioglota — respondeu Frank.
— Mas ele não pode ser, é uma habilidade de bruxos das trevas. E é hereditária, nenhum dos meus antepassados foi ofidioglota — reclamou James.
— Talvez ele não seja seu filho, James — disse Sirius brincando. — Talvez Lily tenha pulado a cerca com alguém...
Esse comentário rendeu um sorriso mínimo de Severus e, surpreendentemente, um feitiço de Lily, impedindo Sirius de falar.
— Vou retirar o feitiço daqui a pouco, Black. Pense duas vezes antes de falar besteira novamente. — E virando para encarar James continuou. — Uma habilidade não é boa ou má por si só, é o uso que é dado a ela que a torna má. E você pode ter tido algum antepassado que não souberam que tinham esta habilidade ou resolveram esconder.
James discordava de ambas as afirmações, mas depois dela ter enfeitiçado Sirius achou melhor não discutir.
— Eu sei — murmurou Harry pelo vidro, embora não tivesse muita certeza se a cobra poderia ouvi-lo —, deve ser bem chato.
A cobra concordou com um aceno de cabeça enfático.
James suspirou. Seu filho era realmente ofidioglota.
— Mas de onde é que você veio? — perguntou Harry.
A cobra apontou com o rabo uma placa próxima ao vidro. Harry espiou.
Boa Constrictor, Brasil.
— Era bom lá?
A jibóia apontou novamente a placa com o rabo e Harry leu: Este espécime nasceu em cativeiro.
— Ah, entendo, então você nunca esteve no Brasil?
— Só mesmo um filho de Lily poderia conversar educadamente com uma cobra — brincou Alice.
— Sim, o único ser vivo que ela não poderia conversar educadamente era James — completou Remus. James fez bico em resposta e Lily deu um sorriso tímido.
A cobra sacudiu a cabeça, mas um grito ensurdecedor atrás de Harry fez os dois pularem:
— DUDA! SR. DURSLEY! VENHAM VER ESSA COBRA! VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR O QUE ESTÁ FAZENDO!
Duda veio bamboleando até onde o amigo estava o mais depressa que pôde.
— Cai fora — falou dando um soco nas costelas de Harry. Apanhado de surpresa, Harry caiu com força no chão de concreto.
— Se você encostar as patas no meu filho novamente, transformarei você num porco! — gritou James, com tanta raiva que ninguém se atreveu a dizer que ele estava ameaçando um livro.
O que se passou em seguida aconteceu tão depressa que ninguém viu como foi: num segundo, Peter e Duda estavam encostados no vidro, no segundo seguinte, estavam saltando para trás soltando uivos de terror.
— Boa, Harry, você é definitivamente meu filho! — parabenizou James.
— Ele vai se meter em encrencas com Tuney!
— Vamos lá, diga que o garoto não merecia uma lição — argumentou James. E Lily não podia mais que concordar.
Harry sentou-se e parou de respirar: o vidro da frente do tanque da jibóia tinha sumido. A grande cobra se desenrolou depressa e escorregou pelo chão — as pessoas no alojamento dos répteis gritaram e começaram a correr para as saídas.
Quando a cobra passou rápido por ele, Harry poderia jurar que uma voz baixa e sibilante tinha dito: "Brasil, aqui vou eu... Obrigada, amigo."
Remus e Sirius se entreolharam. Não havia dúvidas agora que Harry era ofidioglota.
O zelador do alojamento dos répteis ficou em estado de choque.
— Mas o vidro — ele não parava de repetir —, para onde foi o vidro?
O diretor do zôo em pessoa preparou uma xícara de chá forte para tia Petúnia enquanto se desculpava mil vezes. Peter e Duda só conseguiam balbuciar. Pelo que Harry vira, a cobra não fizera nada a não ser fingir abocanhar os calcanhares deles quando passou, mas quando chegaram finalmente ao carro do tio Válter, Duda estava contando que a cobra quase lhe arrancara a perna a dentadas, enquanto Peter jurava que a cobra tentara apertá-lo até matar. Mas o pior de tudo, pelo menos para Harry, foi Peter ter se acalmado o suficiente para perguntar:
— Harry estava conversando com ela, não estava, Harry?
— Oh, garoto estúpido! Garanto que só disse isso para manter Harry em problemas — afirmou Alice.
— O que você esperava de alguém que é amigo do Duda? — respondeu Remus.
Tio Válter esperou até Peter estar longe da casa para brigar com Harry. Estava tão zangado que mal podia falar. Conseguiu apenas dizer:
— Vá... armário... Harry... sem comida — antes de desmontar em uma cadeira e tia Petúnia ter que correr para lhe servir uma boa dose de conhaque.
Sirius abria e fechava a boca, revoltado. Ficar sem comida era pior que um castigo... Era tortura!
— Tuney, é melhor você alimentá-lo, ou vai se arrepender — ameaçou Lily.
Muito mais tarde, deitado no seu armário, Harry desejou ter um relógio. Não sabia que horas eram e não tinha certeza se os Dursley já estariam dormindo. Até que estivessem, ele não poderia se arriscar a ir escondido até a cozinha buscar alguma coisa para comer.
Lily suspirou.
— Ele é inegavelmente seu filho — disse olhando para James. Ele sorriu orgulhosamente como resposta.
Vivia com os Dursley havia quase dez anos, dez infelizes anos, desde que se lembrava, desde que era bebê e seus pais tinham morrido naquele acidente de carro. Não conseguia se lembrar de ter estado no carro quando os pais morreram. Às vezes, quando forçava a memória durante longas horas em seu armário, lembrava-se de uma estranha visão: um lampejo ofuscante de luz verde e uma queimadura na testa.
— Ele sobreviveu à maldição da morte? — perguntou Frank, surpreso. James e Lily pareciam muitos chocados para comentar. A resposta veio surpreendentemente de Severus.
— É impossível sobreviver à maldição da morte, Longbottom. Provavelmente foi outra maldição com luz verde.
— Aposto que você conhece todas. — James atacou.
Lily abriu a boca para defender Severus, mas não conseguiu falar nada. Ela sabia que Severus se interessava pela Arte das Trevas e esse foi um dos motivos que sua amizade tinha acabado.
Isto, supunha ele, era o acidente, embora não conseguisse lembrar de onde vinha toda aquela luz verde. Não conseguia lembrar nada dos pais. A tia e o tio nunca falavam neles e naturalmente tinham lhe proibido de fazer perguntas. E não havia fotografias deles na casa.
Todos suspiraram tristemente, menos Severus, que já imaginava que Tuney não guardaria uma fotografia de Lily.
Quando era mais novo, Harry sonhara muitas vezes com um parente desconhecido que vinha levá-lo embora, mas isto nunca acontecera; os Dursley eram sua única família.
Sirius e Remus se entreolharam. Onde eles estavam quando Harry passava por isso?
Ainda assim, ele achava (ou talvez fosse só uma esperança) que estranhos na rua o conheciam. E eram estranhos muito estranhos. Um homenzinho de cartola roxa se curvara para ele uma vez quando estava fazendo compras com tia Petúnia e Duda. Depois de perguntar a Harry, furiosa, se ele conhecia o homem, tia Petúnia tinha empurrado os meninos depressa para fora da loja sem comprar nada. Uma velha amalucada toda vestida de verde uma vez acenara alegremente para ele no ônibus. Um careca com um longo casaco púrpura chegara a apertar sua mão na rua um dia desses e em seguida se afastara sem dizer nada. A coisa mais estranha nessas pessoas era a maneira com que pareciam desaparecer no instante em que Harry tentava vê-los melhor.
Na escola Harry não tinha ninguém. Todos sabiam que a turma de Duda odiava aquele estranho Harry Potter com suas roupas velhas e folgadas e os óculos remendados, e ninguém gostava de contrariar a turma do Duda.
— Ele não tem nenhum amigo isso, isso é tão triste... — comentou Alice, quando Sirius disse que tinha terminado o capítulo.
— Harry vai compensar este tempo perdido fazendo os melhores amigos possíveis em Hogwarts, assim como eu fiz — respondeu James.
— Você não tinha amigos antes de Hogwarts? — Lily perguntou. Ela não sabia muito sobre a vida de James, só que ele era filho único e razoavelmente rico.
Severus levou as mãos ao rosto. Não gostava do interesse de Lily na vida de Potter.
— Meus pais me tiveram em idade avançada — começou James. — Eles não esperavam ter filhos, então viram meu nascimento como um milagre. — James deu os ombros. Embora sua infância não tivesse sido ruim como a do Harry, também não fora perfeita. — Então, quando eu era mais novo, eles meio que me protegiam, tinham medo que algo acontecesse comigo... Não saíamos muito de casa. — Lily o encarou seriamente. Ela lembrara a primeira vez que viu James no trem. James parecia ter sido adorado e agora ela podia entender parte da razão. — E os amigos dos meus pais são velhos também e não tinham crianças para trazer junto nas visitas. E as poucas vezes que nós saímos eram para festas dos amigos deles, que eram velhos também. Meu melhor amigo até Hogwarts foi nosso elfo doméstico.
Snape bufou. Comparada à sua própria infância, a de Potter fora maravilhosa.
Lily não sabia o que dizer. Por algum motivo ela sempre imaginou a nfância de James cercada de perfeição, porém parecia triste ter tudo que o dinheiro pode comprar e não ter com quem compartilhar. Como ele ainda estava olhando para ela, decidiu contar a própria história.
— Antes de eu saber que era uma bruxa, Tuney era minha melhor amiga. — Todos, menos Severus, olharam incrédulos para a ruiva. Não podiam imaginar aquela pessoa descrita no livro sendo amiga de Lily. — Sim, é difícil de acreditar, mas minha amizade com Tuney começou a enfraquecer quando comecei a fazer magia acidental. Ela queria saber como eu fazia e eu não sabia explicar, então ela achou que eu não queria contar. — Lily piscou rapidamente. Mesmo depois de anos, lembrar isso ainda doía. — Então Severus veio e me contou que era uma bruxa e Tuney não conseguiu aceitar nisso. Daí por diante, meu relacionamento com a minha irmã só piorou. Sev era meu único amigo até Hogwarts.
Alice piscou com raiva. Mesmo tendo sido amigo de Lily desde criança, Snape tivera a ousadia de chamá-la por aquele nome nojento.
A voz de Lily tinha ficado cada vez mais fraca enquanto falava sobre sua história. James olhou para Sirius com um olhar de "faça alguma coisa". Sirius pigarreou e começou a contar sua própria história; não que ele gostasse, mas quase não importava mais. Quase.
— Eu tenho um irmão e minha casa era muito freqüentada pelas minhas primas. — O tom que Sirius falava indicava que nada disso era uma coisa boa. — E todas as crianças Black sentavam-se na sala e ouviam minha mãe falar como a família Black era superior, como nosso sangue era puro e devia ser mantido assim. — Sirius fez uma careta. — Quando Regulus era mais novo, agíamos como irmãos, mas ele cresceu e começou a ouvir minha mãe. — Sirius respirou fundo. Pensar em Regulus doía. Ele queria salvar o irmão, mas Regulus não queria ser salvo.
— E você não tinha um elfo doméstico para ficar com você? — perguntou Lily, ingenuamente. A infância de Potter tinha sido ruim de ouvir, mas a de Black era ainda pior. Ela nunca imaginaria que os dois maiores bagunceiros da escola tiveram infâncias solitárias.
Alice e Frank se entreolharam. A garota conhecia a infância de James por alto, mas a de Sirius era novidade para eles. Era de conhecimento comum que a família Black era uma das famílias da elite purista, mas conhecendo o Maroto, era difícil acreditar que a infância dele tinha sido assim.
Snape não estava interessado na história; ele tinha ouvido várias dessas dos companheiros de classe da Sonserina. Parecia que a maioria das famílias antigas criava seus filhos da mesma forma.
— Oh, eu tenho um elfo doméstico. — O tom de Sirius era baixo agora. — Nós passamos muito tempo juntos, e tenho certeza que Monstro se divertiu cada minuto cumprindo as ordens da minha mãe.
Ninguém soube como interpretar esse comentário, exceto James, que conhecia a história, e deu um sorriso fraco de encorajamento que Sirius tentou retornar, mas não conseguiu. Remus, após dar um tapinha no ombro de Almofadinhas, decidiu contar uma versão editada da própria infância para tirar a atenção do amigo.
— A minha infância não teve nada demais — começou Remus. — Eu tinha a saúde frágil e passava a maior parte do tempo lendo. Não brincava com as outras crianças porque, devido aos meus problemas de saúde, meus pais tinham medo do que aconteceria se eu me misturasse com eles.
Snape bufou. Saúde frágil... Claro, afinal lobisomens não são nada resistentes a doenças. E ele devia ficar isolado das outras crianças, pois era um perigo para todos os outros.
Frank viu o olhar de Snape na direção de Remus e decidiu intervir antes que Severus fizesse algum comentário.
— Eu tive algumas amizades durante a infância — contou Frank —, contudo elas não duraram muito. A maioria das crianças parecia achar minha mãe assustadora. — Os Marotos, que conheciam a mãe de Frank, acenaram com a cabeça, concordando. — Minha mãe tem padrões altos e sempre reclamava muito quando eu não atingia alguma de suas metas, mas ela é uma boa pessoa no fundo.
Alice lhe deu um olhar incrédulo. Ela conhecia a mãe de Frank e esse discurso era suavizar a verdade, entretanto não iria contradizê-lo.
— Agora eu me sinto mal por não ter uma história triste de infância para contar. — Todos riram, aliviando um pouco o clima. — Foi normal, eu acho. A infância comum para bruxos, cresci em Ottery St. Catchpole e nada demais aconteceu lá. É isso. — Ela fez uma pausa. — Nossa, minha infância parece realmente chata agora que parei para pensar.
Todos riram novamente. Quando o riso parou, Lily percebeu que todos olhavam para Severus, esperando provavelmente algum comentário sobre a sua infância, afinal todos tinham compartilhado as histórias. Snape estava com a cabeça abaixada e parecia realmente incomodado. Lily pensou no que ela poderia fazer que não fosse uma tentativa óbvia de mudar de assunto. Sabia que a infância de Severus era provavelmente a pior de todas – talvez empatando com a de Black – e que ele consideraria um castigo pior que a morte compartilhá-la com os Marotos e Alice.
Mexendo as mãos nervosamente, ela olhou para James como se procurasse uma idéia do que fazer. Ele deve ter sentido seu nervosismo, porque pegou o livro da mão de Sirius e falou que era sua vez de ler.
Lily deu um sorriso de agradecimento, sabendo que Potter tinha feito isso por ela e não por Severus, mas ainda assim tinha ajudado.
James retribuiu o sorriso, abriu o livro e leu:
Autor(a): biapotter
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
— Deve ser a carta de Hogwarts — disse Sirius — Só não entendo porque chamaram "cartas de ninguém". — Eu não acho que será tão simples para o Harry receber a carta — ponderou Remus —, já que parece ter um capítulo inteiro dedicado a isso. — Tuney deve tentar impedir Harry de ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 4
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lilian_alice_black Postado em 02/10/2015 - 16:13:13
Ok né
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lilian_alice_black Postado em 02/10/2015 - 16:08:02
Que top Amei
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e7potter Postado em 02/05/2015 - 23:18:55
Continua, tá otimo, uma das melhores até agora que já li. c:
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arcenildes Postado em 17/03/2012 - 10:20:08
Achei super legal, gostaria de acompanhar ate o fim. Sua criatividade é nota 10