Fanfic: Cidade Cinza
"Não confie em ninguém com apenas boas intenções. O ser humano é como um cachorro adestrado, precisa de recompensas."
Um homem de trinta e poucos anos acabara de sair da exaustiva manhã de trabalho. Ele trabalhara no escritório de advocacia porém isso não garantia seu salário, que era pouco e só supria as despesas básicas. Esperar o ônibus no ponto da rua principal é rotina. Naquele dia quente de verão seus trajes formais estavam desgastados e suados, ele mal podia esperar tirá-los e ficar sem camisa em casa. Sentado no banco, ele aguardava sua condução para chegar à sua residência. Por volta de meio-dia sua solidão fora cortada pela presença de uma sujeita, que aparecera de repente ao lado; foi tão depressa que ele teve a impressão de que só olhara tarde demais, que já estivera parada ali já fazia mais de dez minutos. O homem não pode deixar de reparar na boa postura da mulher, sua indumentária impecável, camisa social branca, saia acima da cintura, salto alto e jóias finas enfeitando suas orelhas e pescoço. A moça provavelmente era empresária bem sucedida, mas o que faria num ponto de pé-rapados como aquele? "Talvez ela estivesse sem seu carro." pensou o homem olhando a mulher de cima a baixo. Ela virou-se e encarou o homem que desviou o olhar. Desse jeito ficaram alguns minutos até que a mulher cansou-se e sentou-se ao seu lado, que sem querer, corou.
— Boa tarde. - cumprimentou a mulher.
— Boa. - respondeu o homem. Ao fazer evitou olhar novamente para ela, mas ela parecia que queria que ele a encarasse nos olhos, era quase como se o chamasse sem emitir som com a boca. O homem suava frio só por pensar que aquela mulher tão refinada sentara perto dele.
— Qual está esperando? - perguntou a mulher calmamente.
— Ah, er... O que vier primeiro; minha casa não fica longe daqui. - disse ele.
— A minha fica, quero ir para longe. - ela disse alisando os longos cabelos acaju.
— Estava no trabalho? - O homem não resistiu, aquela mulher lhe parecia tão convidativa a conversar.
— Na verdade não. - disse ela olhando para um horizonte que só ela via a tua frente. — Estava na prisão, se você chama isso de trabalho...
— É, tem razão, onde eu trabalho é como uma prisão, só que tem computadores... - disse ele em meio a risos nervosos.
— Tenho certeza de que o seu é melhor que o meu. - disse a mulher. — aliás, como devo te chamar?
— Meu nome é Alvaro Bueno.
— Prazer, Carla... Bom, pode me chamar só e somente de Carla. De onde eu vim nunca me chamavam pelo nome...
Os dois apertaram as mãos e pela primeira vez se encararam.
— É um prazer conhecê-la. - Alvaro sorriu, um sorriso confuso, onde os dentes de cima colidiam com os de baixo. Carla parecia se divertir observando a expressão de Alvaro e isso o deixava mais nervoso.
— Alvaro, você não parece um homem muito realizado, estou certa? - Carla disse ao largar a mão direita dele.
— Eu não sei...
— Aposto que não tem filhos. - interrompeu a mulher impiedosa. — É solteiro, acertei? O pior é que você não está sozinho nessa, uma parcela considerável dos homens estão na mesma situação que a sua.
— Ah, hã, do que está falando?! - Alvaro sabia muito bem do que ela estava falando.
— Estou falando de você. - disse Carla. — Passa o Natal com a mãe, na qual só vê nessas épocas mesmo, se tiver irmãos mal se falam, se tiver sobrinhos eles te odeiam, ah, aposto minhas jóias que faz tempo que não sabe o que é ter uma mulher nos braços, vi o jeito que me olhou.
Carla falava como se estivesse lendo um cartaz na sua frente e sorria entre cada silaba mas nunca sorria totalmente com os lábios fazendo uma curva. Alvaro suava frio, não, não era o calor nem nada que o clima lhe fizera, era a mulher que lhe causara isso, a sensação de desconforto. Ela falava a verdade, não precisava ser uma adivinhadora para ter uma noção como a vida dele era medíocre e sem realizações.
— Ei, calma aí, posso ser pobre mas não sou inútil, eu ajudo minha família. - retrucou. Carla soltou gargalhadas de desdém e disse:
— Ajudar não significa compartilhar. Você faz só sua obrigação. Olhe, eu sei que não te conheço mas posso perceber que é infeliz.
— Não sou infeliz, ok? - mentiu Alvaro. — Se quiser não olho para você novamente, me desculpe.
— Não é isso! - Carla chegou mais perto dele. — Pode me olhar, mas pode fazer algo bem melhor que apenas olhar. O que eu quero dizer é, aproveite as oportunidades que a vida lhe dá. Não estou aqui por acaso.
— Está aqui para me julgar? - ele alfinetou.
— Sim, e também para lhe ajudar. - Carla apoiou delicadamente sua mão na coxa de Alvaro fazendo-o estremecer e afundar na cadeira.
— Deve aproveitar sua vida, Alvaro. Deve largar esse emprego que tanto odeia, achar a mulher da sua vida e largar essa cidade imunda.
Enquanto ela falava, Alvaro engolia seco porque ela dizia tudo que ele sentia quanto ao seu trabalho e sua pseudo-vida, que era só servir café e atender telefonemas. Ela parecia tão sábia, de vivência e competência exemplares. Ela falava com tanta propriedade que ao mesmo tempo que Alvaro se sentia ofendido, ele também se sentia liberto pela mulher como se ela fosse a liberdade da qual ele tanto precisava personificada.
— Eu quero sair dessa vida estúpida, mas a questão é que não é tão simples fugir do sistema. - ele disse.
— Um sistema falho onde os ricos ficam mais ricos e os pobres continuam pobres? - disse ela com segurança.
— É esse o mundo em que vivemos. Eu não posso simplesmente fazer o que quero, não adianta nada ser inteligente e não nascer em boa família, não adianta estudar e não conseguir droga nenhuma. Essa é a realidade. - Alvaro acariciou a mão de Carla num gesto de súplica para que ela falasse algo que o surpreendesse, uma luz no fim do túnel.
— Fuja! - essa era a ideia dela. — Sei que, como a maioria você não ama sua família e só quer ter dinheiro e mulheres, não me faça rir dizendo que não é verdade. Todos somos egoístas, não sejamos hipócritas. - ao terminar de falar, Carla pois-se de pé junto a Alvaro e o abraçou, ele abriu um sorriso enorme. Era isso que ele tanto precisava.
Contudo, um ônibus para o centro da cidade parara com o sinal que Carla fez as costas de Alvaro. A mulher o largou e foi se afastando lentamente.
— Adeus, Alvaro! - a mulher entrou aos saltos no ônibus sem dar ouvidos aos pedidos de Alvaro para ficar mais.
Desolado, o homem sentou-se no banco do ponto mais uma vez, perplexo pela ida da mulher, com a impressão de que jamais a veria novamente. Isso o deixou pior do que a cinco minutos atrás, sentia-se sozinho e estúpido. Quando finalmente voltou a realidade viu que seu ônibus se aproximava, levantou-se e correndo entrou dentro do veículo, passando pelo cobrador enfiou as mãos nos bolsos procurando o dinheiro da passagem e para sua surpresa ele não estava lá. Enfiou as duas mãos nos bolsos novamente, abriu sua pasta procurou lá dentro e nada além de papéis encontrara. O cobrador perdeu a paciência e disse para ele se retirar do ônibus porque a fila de pessoas que queriam entrar no mesmo crescia. Aos tropeços, Alvaro desceu do ônibus.
Autor(a): malakian
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"Palavras significam muito, mas perdem todo o seu valor diante de ações contraditórias." Aproximadamente às três da tarde, Carla descera do ônibus e encontrava-se caminhando pelo centro da cidade de S&ati ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 49
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papaangu Postado em 29/01/2015 - 23:29:27
Caraca, uma coisa bem escrita! Milagre por aqui! Eu leio muita porcaria e posso dizer que vc se garante escrevendo, estou besta com sua narrativa. Continue assim, vc está entre os mínimos autores desse site que realmente sabe contar uma história e desenvolvê-la
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mari_vondy Postado em 27/01/2015 - 12:30:41
Gente pra quem lê fanfics vondy fiz uma espero que deem uma passadinha lá ;) Sussurro de um Anjo (Vondy) http://fanfics.com.br/fanfic/42469/sussurro-de-um-anjo-vondy-dyc
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luarafanfic Postado em 06/09/2014 - 00:16:33
nossa muito bom!! amei, continue por favor!!!
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mabuck Postado em 04/02/2012 - 21:05:40
Cadê cadê???
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maryprincess Postado em 31/01/2012 - 22:54:20
Ebaaaa!!! Esse cap ficou eletrizante.
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malakian Postado em 19/01/2012 - 00:27:17
postei :B
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mabuck Postado em 18/01/2012 - 23:51:52
Posta sim!!!
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mabuck Postado em 18/01/2012 - 23:51:51
Posta sim!!!
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mabuck Postado em 18/01/2012 - 23:51:50
Posta sim!!!
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malakian Postado em 18/01/2012 - 23:33:03
haha, tou pensando em postar hoje, que tal?