Fanfic: Cidade Cinza

"Se todas as pessoas que você conhece sumissem, quem faria falta de verdade?"

                José Filho, estava deitado no sofá como de costume, assistindo o jornal matinal, com os olhos entre abertos, mal ouvia o noticiário. O retrato da identidade de Carla Schanabel aparecera na tela junto com as informações de que ela era uma pessoa perigosa que precisa voltar para Santa Maria para ser tratada e que quem tivesse a visto, ligasse para um número de telefone, e os dados do mesmo não seriam divulgados. José poderia jurar que conhecia a moça da foto, embora a ressaca o consumisse, mas não, preferiu tirar uma soneca ao invés de olhar e ouvir o restante da notícia do desaparecimento da mulher.

-Já vão sair? - perguntou Fátima a Zeca e Carla, quando os dois saiam discretamente pela porta da sala, ignorando o ronco de urso de José.

 O shopping Morumbi ficava próprio da casa de Zeca, e era lá onde ele costumava ir para encontrar amigos, ou para se encontrar.

-Que inferno! - ele reclamou a Carla quando estavam na praça de alimentação.

-Não reclama, aja, Zeca. - aconselhou Carla calmamente.

-Não aguento mais esse inferno em que vivo.  - exasperou o garoto. -às vezes eu fico pensando se eu tivesse uma família normal, se eu tivesse pais normais que morassem juntos que fossem presentes. Fico pensando se eu tivesse terminado a escola...

-Até agora você não disse qual é o seu sonho de vida. - lembrou Carla.

-Você vai rir de mim. - disse Zeca desviando o olhar.

-Eu juro que não vou. - prometeu Carla com a voz como se fosse de um bebê.

-Ah, quero ser artista, ter uma banda e tocar. - disse Zeca sem o ânimo que a frase pedia.

-Você já teve uma banda? - perguntou Carla fingindo interesse.

-Já tive várias, mas nenhuma deu certo...

-Talvez você se esforçasse pouco para dar certo, já pensou nessa hipótese? - disse Carla.

-Sei lá, eu ando tão `foda-se` para tudo ultimamente que nem a falta eu sinto das pessoas... - Zeca começou a encarar a mesa em sua frente.

-Quais pessoas? É parece que você tem penado... - começou Carla, mas foi interrompida por Zeca.

-Acho que todas as pessoas saíram quando tinham que sair da minha vida, correr atrás está fora de cogitação... Sinto falta da minha mãe, apenas...

                  A atenção de Carla mudou drasticamente. Logo atrás de Zeca, na televisão presa a parede o jornal noticiava o desaparecimento de sua pessoa, sua primeira reação foi se esconder com o cardápio da mesa.

-O que é agora? - perguntou Zeca.

-Estou escolhendo o que vou comer...

-Você trouxe dinheiro, por que não disse logo? - ironizou Zeca.

                 No jornal a repórter dizia que já haviam dado a nova informação de que ela estaria no Brooklin . "O bairro deve estar sendo vasculhado..." pensava Carla.

                 Um homem atrás da mesa de Carla e Zeca observa o noticiário atentamente sem piscar os olhos, ele espremeu o lábio com raiva ao ver a foto da jovem, ele conhecia Carla Schanabel, ela lhe marcara a vida de uma maneira que deixou uma cicatriz que o tempo não seria capaz de apagar, e sobre tudo, a mulher que agora era desaparecida, levou o pouco da esperança que ele guardava no peito.