Fanfic: Cidade Cinza

"Se a cura fosse o veneno, e o veneno fosse a cura, você se arriscaria para se salvar?"

                      Zeca olhou para trás, a notícia já havia terminado, confuso voltou a encarar Carla esperando alguma resposta convincente. Ela não respondeu. Num gesto repentino e casual de quem está preocupada, olhou para trás e seu olhar cruzou com do homem numa coincidência infeliz. O choque fez com que o mesmo empalidecesse. Carla levantou-se rapidamente e falou em tom de voz quase inaudível:

-Vamos sair daqui.

                       Por de trás dos óculos de armação pesada, o homem possuía olhos pequenos e preexistente ar triste.  A pele com aspecto oleoso, os cabelos encaracolados em tom de cor de mel e grisalho, combinados com a pele branca de quem não toma sol há anos, resultavam num homem pouco atraente de trinta e poucos anos.  Seu nome era Álvaro Bueno. "É ele." Disse Carla a si mesma.

                        Puxando Zeca pela mão dando passos duas vezes maiores que suas pernas eram capazes, Carla suava frio com a expressão facial inerte de quem vê pássaros voando no azul celeste. Zeca apenas andava reclamando para ouvidos surdos de Carla.

                        O desespero não encerraria na porta do Morumbi, Álvaro demorou, mas chegara a pelo menos dez passos atrás deles.

-Corre! - berrou Carla com todas as forças de sua garganta. Zeca obedeceu e juntos correram, com Álvaro logo atrás.

                        Os rostos das pessoas na rua eram manchas aos olhos dos três. Álvaro não era do tipo atlético, parecia ser sedentário e desacostumado a correr por muito tempo, diferente de Carla, seus pés lépidos mal tocavam o chão. Ao seu lado Zeca corria cambaleando.

                        Álvaro não dava trégua, mesmo exausto, corria. Carla entrou numa feira livre numa rua estreita na tentativa de despistar o homem. Andando com os ossos latejando, Carla se escondia por entre as barracas, Zeca logo atrás.

 -Quem era aquele? - perguntou Zeca com a respiração ofegante.

 -Ele ia assalta a gente, Zeca. - mentiu Carla.

- Ele não tem cara de assaltante. - comentou Zeca sem acreditar.

-Quem vê cara, não vê coração, moleque! - disse Carla apertando os olhos.

-Até que foi divertido correr contigo... - disse Zeca com um sorriso malicioso.

 -Viu ele? - Carla escondia seu rosto nas peças de roupa penduradas nos cabides da barraca.

-Vendo os preços? - perguntou a mulher que estava cuidando da barraca.

-Se a senhora vender armas... - debochou Zeca sorrindo.

-Vamos... - Carla puxou Zeca para andar junto a ela.