Fanfic: Cidade Cinza

"Janelas abertas não querem dizer problemas resolvidos." 

—Pelo menos emagreci... 

                           Zeca ironizava as falsas explicações de Carla ao ocorrido. O garoto não insistiu em perguntar por muito tempo, a sintonia dele funcionava de uma maneira distinta, assim como a sua curiosidade: só as coisas que trouxessem prazer a ele valiam a pena saber.  E saber as explicações de Carla quanto àquela correria não lhe traria nada, a não serem problemas. E isso ele já tinha muito. No fundo, ele sabia que Carla não era só uma mulher expulsa de casa na qual a vida fora ingrata. Carla poderia contar quando quisesse a realidade que estava passando, ele não iria força-la a isso. O que ele realmente desejava era fazer parte daquilo seja lá o que fosse. Ter pelo quê lutar sem ser por dinheiro para cigarro ou bebida.

                           Da casa de Zeca ouviam-se estrondos e gritos. Um barulho que parecia de algo de vidro espatifando-se no chão. Ligeiros, Carla e Zeca entraram na casa e depararam com a cena de José quebrando pratos. Ele havia revirado a casa inteira. Dona Fátima tentava segura-lo.

—Agora que você chega. Desgraçado! – José aos berros, olhou para Zeca, que inchou de ruíra.

—Já mandei parar de beber em casa, porra! – gritou Zeca.

—Eu perguntei para a sua avó onde você estava e ela não soube responder, filho da puta. – retrucou José.

—Devo satisfações para ela, não pra você, desculpa vó. – Zeca olhou para Fátima sorrindo.

—Seu pai estava preocupado, Zeca... – disse Fátima, tristonha.

—Preocupado? Que piada. – Zeca riu sarcasticamente. —Ele queria é me mandar ir comprar mais cerveja ou cigarro, que merda! Os cigarros que eu comprei, são meus!

—Puta que pariu Zeca, quando você fizer dezoito anos você pode sumir pelo mundo, mas enquanto morar no meu teto me deve explicações. – disse José exaltado, a boca reprimida de ódio, ficando parecido com Zeca, exceto os olhos. Os olhos de Zeca eram bem redondos e escuros, iguais os de sua mãe.

—Calma, filho. Você está bêbado, deixa o garoto! – mandou Fátima alterando-se.

—Agora vai querer dar uma de bom pai. Sempre isso. Se foder. Já estou velho para esse sermão de bêbado. Devia ter pensado antes. Vai tomar no cu logo.

                           Zeca subiu as escadas, Carla seguiu-o.