Fanfic: Cidade Cinza

"Até onde vai a sua vontade de ser você mesmo?"

—Infelizmente isso é um assalto, mas felizmente não quero fazer mal algum, só quero o dinheiro. – Zeca disse com ares de quem pedia uma dose de vodca no bar, não muito convincente, entretanto a velha, apavorada, entregara discretamente o dinheiro nas mãos gorduchas de Zeca.

                 Vagarosamente, Carla e Zeca afastavam-se dali.   

                 Era a hora da verdade. Ou talvez de mais mentiras. A Mooca esperava por eles, principalmente pelo que tinham a dizer.  

                  Carmem Schnabel abraçou Carla quando a viu e pediu para que entrassem entrar em sua casa.

—Mãe, você me enganou direitinho. Como pode? – questionou Carla calmamente.

—Do que está falando, minha filha? – indagou Carmen derramando uma lágrima grossa.

—Fingir é tudo que sabe fazer, mãe? Já sei de toda a verdade que senhora teve tanto trabalho para esconder de mim.

—Sente-se aqui e me diga do que está falando... – pediu Carmen limpando a lágrima que dividiu sua fase esquerda em duas partes. —Espero que não esteja delirando.

—Delirar? A senhora deve saber bem o que é isso. – Carla sorriu sem emoção.

—Filha, se acalma, o que eu fiz foi para o seu bem...

—Estragar minha adolescência é fazer bem a mim.  

                  Carla deu passos ameaçadores à frente de sua mãe. Zeca acompanhava com o olhar cada gesto sem ousar piscar os olhos.

—Filha, seu estado de saúde...

—Meu? Tem certeza? Ora, ora, sempre pondo a culpa em mim dos seus problemas!

—Você precisa me escutar! – clamou Carmen.

                   A veia do pescoço de Carla pulsava denunciando seu estado de nervos que seu semblante insistia em não demonstrar. O clima tenso dava a sensação de tempo estagnado, os minutos não passam no relógio e os moveis não rangiam quando Zeca encosta com o cotovelo acidentalmente.

—Tudo que eu passei foi culpa sua, mamãe. Vim aqui para contar que a senhora não venceu dessa vez, eu descobri tudo, me enganar conseguiu, mas não por toda a vida. Eu descobri! – disse Carla sorridente em estase.

—Ai meu Deus! – exclamou Carmen. —De novo não!

—Está tendo um ataque de drama, mãe?

—Isso já aconteceu antes, minha filha, precisa tomar uma água e...

—Quem precisa se tratar é você, não entende? – interrompeu Carla, rude. —Se ainda não ficou claro, vou lhe explicar direitinho. Eu vi os resultados dos exames que a senhora tanto escondeu de mim, o diagnostico da sua esquizofrenia... E agora eu pergunto, até quando vai me prejudicar com sua doença?  

                   Carmen caiu em prantos com o rosto no estofado do sofá mais próximo. Zeca fitava Carla que, sorria de forma amargurada.