Fanfic: Cidade Cinza

"Cristais de gelo são todos diferentes, entretanto derretem da mesma maneira."

—Do que está falando, moleque?

—Nada, lê que você vai ver... – disse Zeca dando os ombros.

—Já os li, Zeca, não seja estúpido. Aqui diz toda a verdade que ela me escondeu. – Carla voltou o alhar aos exames clínicos e se deparou com palavras e nomes que não estavam escritos ali antes, não que ela tenha notado.

                     Seu rosto ficou sem cor, mais pálido que as paredes que cercavam o escritório.

—Se quer saber, eu soube antes de você! – suspirou Zeca, infeliz.

—Como? – perguntou Carla com a voz fraca. —Estava tão óbvio assim?

                      Os pensamentos de Carla de certa maneira estavam turvos antes, daquele estante, não mais.                          

                      Ela pode ver com clareza cenas que havia esquecido. Cenas que para ela eram novas e vibrantes. Viu sua mãe tirar as agulhas que ela mesma havia posto nos próprios pulsos, as agulhas eram parte de sua bagarem, faziam parte de todo o mundo fantasiado por ela. Aquele mundo desabara em sua frente, ela pode compreender do início ao fim que havia dito a sua mãe que voltaria aquele dia antes de sair “escondia” da casa. Sua mãe sabia de tudo, só estava esperando o momento certo para tê-la de volta em casa e interna-la novamente.

                       Seu pesadelo tornara realidade. Carla tinha que se conformar que só via o que queria ver, que só sentia o que queria sentir, e tinha problemas. Mas seria essa a primeira vez que ela passara por isso? Uma parte dela reconhecia tudo que criou e admitia a esquizofrenia e a outra queria desmentir e lutar contra aquilo e alegar estar certa e sã. Uma luta interior.

—Agora tudo faz sentido. – disse Carla. —Eu só vejo o que eu quero ver. Eu li que era minha mãe doente porque era isso que eu queria. Que droga, que droga...

—Filha, onde está você? – ouviu-se a voz de Carmem chamar atrás da porta.

                       Uns múrmuros dos dois doutores chamando por Carla a deixavam insegura, não sabia o que fazer, largou os exames no chão e arrastou com a ajuda de Zeca a escrivaninha até a porta do escritório impedindo a passagem de fora para dentro.

—Ai, que vamos fazer? – gemeu Carla.

                        A porta tremia com as batidas fortes de um dos médicos.

                       “Carla, deixe-nos entrar”, dizia uma voz feminina, “só queremos conversar” dizia a voz masculina.

—Saiam da minha cabeça! – berrou Carla transtornada de um jeito que Zeca jamais vira.

—Vamos pular a janela, não é tão alto... – disse Zeca pondo as pernas para fora.

                        As batidas da porta a cada minuto ficavam mais fortes e Carla teve a impressão que tentavam arromba-la.

                         Com dificuldade, Zeca e Carla pularam a janela e a aterrissassem ao chão por pular um andar não parecia tão dolorosa quando ficar entro daquela casa. De cima, os médicos e Carmem olharam os jovens embaixo deles.

                        A van deles foi utilizada para escapar, sem pensar muito, Carla pisou no acelerador.