Fanfic: Cidade Cinza

"Uma coisa leva a outra e o que te move?"

                Os pensamentos de Carla permaneciam confusos em sua mente perturbadora. Estavam numa rua desconhecida por ela de algum outro bairro vizinho. As ideias que antes pareciam a cada segundo que se passava se esfarelaram até virarem o ‘nada’. José atendeu o celular, era seu pai que o procurava:

 — Estou na rua, velho... Rua do tipo, fora de casa! – respondeu o garoto irritadiço.

                 Andando pela calçada chutando pedras, Carla estava calada e observava de vez em quando a paisagem que só ela via, lançava um olhar neutro a Zeca e depois encarava sua paisagem invisível. O garoto se questionava diversas vezes qual seria o próximo plano daquela jovem, mas logo notava que estar em sua companhia era o que o acalmava e isso o bastava.

— Devem estar me procurando em toda parte – lamentou Carla, finalmente.

                  Um poste em sua frente confirmava sua afirmação, sua foto estava colada nele, alguns furos e manchas não foram suficientes para apagar de vez sua foto do RG.

 — Nunca achei que iria tomar essas proporções... – continua agora encarando os próprios tênis.

                Ela vestia a mesma jaqueta de couro de quando saiu com Zeca pela primeira vez, as calças eram de cetim preto e a camisa branca, simples. Suas malas haviam ficado na casa de sua mãe da qual ela não voltaria tão cedo. O plano deveria ser rápido e objetivo. O dinheiro do assalto ainda estava com Zeca, nos seus bolsos, Carla se lembrou deste detalhe, mas somente depois de um café com creme ela poderia por tudo em pratica. Uma cafeteria os aguardava quase magicamente naquela mesma calçada. Abrindo a porta do estabelecimento seu piso era amarelo e lembrava uma estrada de pedras desta cor. O lugar era decorado como se fosse uma floresta encantava e o vidro que revestia toda a entrada do lugar tinha detalhes encantadores de pequenos animais e personagens do Mágico de OZ. A cafeteria era perfumada por cafés de todos os tipos e sabores, a paixão secreta de Carla era o café com creme e como tudo que a envolve, Zeca acabou descobrindo subitamente.

  — Para esclarecer as ideias preciso de café – confessa Carla depois de fazer seu pedido.

                  Zeca não pedira café, pois ele não suportava nem mesmo cheiro. Para a sua sorte, haviam outras opções.

                  Autodestruição era o lema interno de Zeca. Ele fumava, ele bebia todos os dias; os hábitos dele eram exagerados e gordurosos. Coca coca era sua amiga para relaxar e ter ideias, que, de fato, eram autodestrutivas. Quando percebeu que pode usufruir de mais um pouco do dinheiro roubado, comprou seus precisos maços de cigarro.

                  O chão do lugar ainda chamava a atenção de Carla e ela os encarava.

— Que você é maluca eu sei, mas às vezes você assusta. – disse Zeca depois de um generoso gole no seu refrigerante.

— Esse chão me deu uma ideia. – disse ela pensativa. — Se a estrada é de ouro quer dizer que tenho que permanecer nela, tem que continuar a caminhar...

                 Depois de ouvi-la e continuar a encara-la mudo, Zeca faz que não com a cabeça.

— O que foi, Zeca? Ficou mudo?

— Sei lá não tenho muitas coisas pra falar. – ele deu por encerrado o assunto e isso soa como uma ofensa a Carla, mas ela não insistiu, se preocupava demais em tomar seu cremoso café revigorante.