Fanfic: Cidade Cinza

"Temos que desconfiar primeiro para depois confiar."

           A casa de Zeca ficava próximo ao shopping Morumbi ao lado, não era muito visível, a não ser pela pichação, lia-se “Zeca” no portão de sua residência. As casas ao lado da dele pareciam abandonadas, muros escurecidos com limo na calçada. O traço de vida era a pequena árvore em frente à casa humilde de Zeca, porém bem conversada se comparada às outras.

           Havia plantas no quintal e penduradas nas paredes por ganchos em vasos pequenos.  O quintal parecia maior que a própria casa. O chão coberto de azulejos de cores diferentes, mesclando com a cor bege na casa toranava tudo estranhamente descombinado.

— Valeu mesmo, achei que não seria tão útil – disse Zeca corado.

— Moleque, quando quiser um tapa meu é só avisar, não precisa falar gracinhas. – disse Carla sorrindo.

— Agora me deixa tomar um banho e comer algo. – Zeca abriu o portão. —Você me espera, eu volto aqui... Aliás, por que você não entra? Meu velho deve está bêbado demais para se importar. A minha vó saiu.

— É mesmo? Não quero incomodar, sou uma pessoa educada, sabe? – Carla mentiu, ela queria muito entrar lá dentro, tomar café da manhã, aproveitar tudo que tivesse lá.

— Você está ocupada, vai trabalhar? Se não, a casa é sua...

            Após a insistência do garoto, Carla cedera aos pedidos do garoto. Entrara em sua casa com um ligeiro ar de desconfiança no olhar.

            Vi-o correr até a porta sem espera-la. Correu atrás do garoto e fechou a porta. Zeca entrou no banheiro e de lá saíra trinta minutos depois.

 — Fica a vontade mina, pega um rango na cozinha logo – dizia ele jogando a toalha molhada num canto do sofá onde seu pai roncava sonoramente. A jovem apresou-se e comera as guloseimas que Zeca distribuíra.

           O garoto não comera nada, bebia água gelada estirado no sofá que dividia a cozinha da sala. Contou o que estava fazendo deitado no posto enferrujado sem detalhes, sua mente cansada não permitira tais esforços.  Ele mencionara loucuras que havia feito a todo instante, estórias de amigos e bebedeira, a cada dez palavras que diria, onze eram gírias que Carla nunca ouvira falarem. E palavrões, muitos, dos mais escabrosos.

            Era um mundo novo para ela, aquele adolescente, a casa, o cheio, a vida dele, tudo era apetitoso aos ouvidos de Carla, ela sabia que ele não era rico, todavia, lhe servia como bode expiatório, já que o dinheiro para pagar hotel fora consumido por completo. Aquele maloqueiro mal-educado era a chave para conseguir abrigo por algum tempo, mesmo que isso seja uma saída incerta. Nada garantia sua estadia na casa, a não ser que ela pusesse seu encanto em evidência.

— Agora fala de você, mano.  – pediu.

— Bem, estou mais perdida na vida que você...

— Não parece. – Zeca riu.

— Mas estou Zeca. – Carla mudou o tom de voz drasticamente de alegre, tornou-se chorosa. — Fui expulsa de casa.

— Jura?

— É sério. Resumindo, não tenho para onde ir... – disse ela olhando para as próprias mãos em cima da mesa de mármore. — Zeca, sabe como é.  Você me deve um favor e... Zeca?

             Dormia pesadamente no sofá, copo de água derramado sobre o peito nu.

 — Você é um idiota mesmo... – disse Carla olhando-o com desprezo.

             Os dois homens da casa estavam adormecidos, os planos de Carla poderiam ser postos em prática. Rouba-los. Tudo tão fácil.  Isso não estimulara em nada Carla, ela gostava de ação, perigo e pitadas de manipulação.  O senhor de uns cinquenta anos despertou, espreguiçou-se e falou:

  — Zeca, acorda e dá atenção a sua amiga.

— Ah, bom dia senhor. – cumprimentou Carla surpresa.

—Zeca, seu filha da puta, acorda! – berrou novamente. — Ah, bom dia, filha.