Fanfic: Cidade Cinza
"Ao relampejar, ouvir o barulho é o de menos, olhe para a luz."
“Esses malditos entorpecentes”, Zeca reclamava, jogando vestígios de algo no lixo perto do computador.
O colchão no chão perto da cama de solteiro era tudo que o rapaz do Brooklin poderia oferecer para Carla dormir. Como brinde, dor nas costas e frio, a coberta era fina e possuía pequenos furos. Zeca parecia recuperado da ressaca, dormira o dia inteiro, Carla tivera a missão de entreter o pai de Zeca, o também José. Ouvira que Zeca Neto, nasceu em São Paulo, mas que após a separação de seus pais, sua mãe mudou-se para a cidade Apucarana no Paraná. O garoto passava as férias na casa da mãe, depois de um tempo morou com ela, mas como os desentendimentos eram constantes, fora mandado de volta para a cidade grande, São Paulo. Em sumo, Zeca sofrera a falta do pai, da mãe e dois avós. Passando de casa em casa, devolvido como se fosse uma mercadoria, Zeca instalou-se com o pai e a avó paterna. A convivência era boa, mas só quando estavam sóbrios. José Cordeiro Filho era um senhor acostumado a beber desde muito novo, e assim Zeca crescera. “Mamadeira com cerveja” Carla caçoara sozinha quando andava pela casa, sem que ele ouvisse.
A conversa fora interminável, Carla ouvira atentamente cada novo evento que o pai do garoto contara, mas sem dúvida o deixara Carla perplexa fora o fato de Zeca ter largado o colégio, o garoto não estava se importando com nada além de se embebedar e “curtir” a vida à sua maneira. Essa era a vida deles, regada a álcool, drogas, sexo e madrugadas a fio. A avó, Dona Emília não podia controlar nem o próprio filho, tampouco Zeca, que herdou a teimosia do pai. Zeca não tinha limites porque nunca lhe deram limites, o pai omisso, apenas com a aposentadoria de vendedor de lotérica, a avó com aposentadoria de militar supria uma grande parcela das dívidas. O dinheiro do pai era desperdiçado em bebidas... “ ao menos Zeca passa as férias com a mãe” pensava Carla, na esperança de que Zeca fosse educado por sua genitora, isso parecia mais seguro do que viver em meio a desordem.
Era deprimente, Carla não queria envolver-se naquilo, ela queria só sugar tudo que podia deles, apesar de não ter muito que aproveitar. Uns ninhos emaranhados de problemas alheios entediavam Carla.
— Chega de blá blá blá, velho. – disse Zeca ao aparecer na sala. — Vamos logo, antes que os arrombados tomem nosso lugar.
Zeca insistira tanto que Carla saísse com ele e os dois fossem ao mesmo posto de gasolina para apresentar seus amigos, Carla estava indiferente a aquilo. Para livrar-se de Jose Filho, era aliciante.
— Qual a sua idade? – perguntou e Zeca à Carla dentro do ônibus.
— Adivinha! – mandou Carla.
— Dezenove? – disparou Zeca, sem pensar.
— Mais! – disse Carla.
— Mais? Você tem cara de novinha...
— Tenho vinte e um. – revelou. Jogou seus cabelos para trás da gola da jaqueta de couro.
— Zeca, seu pai contou que você largou a escola, por que você fez isso? – perguntou Carla em tom de bronca.
— Sei lá, eu nem ia pra lá, só matava aula.
— Quantas vezes repetiu o ano?
— Umas trezentas. Parei de contar na terceira. – Zeca contava com a maior naturalidade. Pós o braço por baixo do estofado onde estavam passando-o nas costas de Carla.
— Você não tem cara que enche a lata. – disse Zeca. — Mas hoje você vai ficar louca.
— E você tem cara de ateu! – disse Carla entre risadas.
—Pior que nem sou... Mas também nem sou religioso. Só acredito que existe Deus, mas nem eu sei justificar direito o que eu penso. – respondeu Zeca ainda olhando-a.
— Entendo.
O silêncio entre eles pela primeira fez viera de uma maneia incomoda. As mãos de Zeca suavam, ele se sentia intimidado por ela. Jamais demonstraria a intimidação que ela lhe causava. Tomou coragem e passou a mão do braço estendido às cotas da mulher e dedilhou os fios lisos do cabelo da mesma.
— Mudando de assunto. Ah, já ficou com caras mais novos?
— Não com cabelos como o seu. Eles tinham cabelos cortados de homem, não de emo. – Zeca sentira as palavras como facadas. Não fechara o sorriso. — Cortar isso o deixaria, digamos... Galante.
— Prometo que pensarei com carinho em suas palavras.
Carla sem querer deixou escapar um sorriso sincero, sem o seu corriqueiro deboche.
Autor(a): malakian
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 49
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papaangu Postado em 29/01/2015 - 23:29:27
Caraca, uma coisa bem escrita! Milagre por aqui! Eu leio muita porcaria e posso dizer que vc se garante escrevendo, estou besta com sua narrativa. Continue assim, vc está entre os mínimos autores desse site que realmente sabe contar uma história e desenvolvê-la
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mari_vondy Postado em 27/01/2015 - 12:30:41
Gente pra quem lê fanfics vondy fiz uma espero que deem uma passadinha lá ;) Sussurro de um Anjo (Vondy) http://fanfics.com.br/fanfic/42469/sussurro-de-um-anjo-vondy-dyc
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luarafanfic Postado em 06/09/2014 - 00:16:33
nossa muito bom!! amei, continue por favor!!!
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mabuck Postado em 04/02/2012 - 21:05:40
Cadê cadê???
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maryprincess Postado em 31/01/2012 - 22:54:20
Ebaaaa!!! Esse cap ficou eletrizante.
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malakian Postado em 19/01/2012 - 00:27:17
postei :B
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mabuck Postado em 18/01/2012 - 23:51:52
Posta sim!!!
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mabuck Postado em 18/01/2012 - 23:51:51
Posta sim!!!
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mabuck Postado em 18/01/2012 - 23:51:50
Posta sim!!!
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malakian Postado em 18/01/2012 - 23:33:03
haha, tou pensando em postar hoje, que tal?