Fanfic: Cidade Cinza

"Brincar no escuro só é vantajoso para quem já viu o lugar iluminado."

                Chegaram ao famoso e mencionado posto de gasolina abandonado. Jovens em pequenos grupos distribuíam-se aleatoriamente pelos cantos e meios do lugar. Risadas, gritos, música e muita fumaça de cigarro e outras toxinas mondavam o ar tornando-o denso. Viam-se garotos e garotas em cantos escuros perto dali fazendo atos obscenos. Bebidas sendo consumidas por aparentemente menores de idade, promiscuidade era constante. Um pequeno mundo não dormia na cidade, como uma tribo de índios vestidos de preto da cabeça aos pés e cabelos de diversas cores. Uma tribo exuberantemente bizarra aos olhos de Carla.

                 Zeca e Carla aproximaram-se de um grupo de jovens fumantes, Zeca cumprimentou os garotos um a um, com tapas nas costas e leves apertos de mão, uns abraços sem sentimentos às garotas do grupo. O garoto não demorou muito a fazer fumaça, pegou o cigarro que seu amigo magrelo lhe ofereceu e trago-o de um jeito que parecia sentir prazer com o ato. Carla olhava a todos de cima a baixo dominando a expressão de horror e pondo um sorriso teatral no rosto.

 —Nova namorada, Zeca? – perguntou uma garota ruiva de casaco amarrotado.

—Ela é uma mina que conheci na praça. – respondeu Zeca, mimoso.

                 Com um gesto com a cabeça, Carla concordava com as palavras dele. Os amigos de Zeca eram como uma versão piorada de uma vida sofrida, porém alegre, alegria na qual só era menos mórbida porque era regata a álcool e cigarros. Irônico, mas verídico. Alguns garotos corriam com garrafas de vinho na mão, provavelmente trouxeram de algum despacho da encruzilhada mais próxima. As esmeraldas escuras que eram os olhos de Carla percorriam cada garoto e garota, cada cubículo do posto e cada olhar que cruzasse com o seu, intimidando-os.

— Vamos beber aqui. – sugeriu Zeca ao chegarem perto de degraus.

— Você não bebe, Carla? – perguntou o mesmo garoto magrelo que oferecera o cigarro a Zeca.

— Não, agradecida! – respondeu Carla, seca.

                Zeca sorria à toa, assim como todas na roda, os olhos castanhos, brilhantes sob a luz do luar.

                De um canto escuro cinco garotos encapuzados surgiram caminhando em direção ao grupo de Zeca, lentamente se aproximando. Nos rostos pálidos, expressões de ironia e ódio, numa mistura confusa. Ao ver o grupo, Carla levantou-se do degrau e puxou Zeca com força para que ele levante também.

 — José, seu arrombado, cadê minha grana? – gritou o garoto alto encapuzado.

— Está no meu cu, vem buscar! – disse Zeca, sarcástico.

— Eu estou falando sério, viado. Quero meu dinheiro! – tornou a gritar o aparentemente líder do grupo dos pálidos.

— Mano, foda-se, quer que eu desenhe? – Zeca ria, o álcool entorpecera seu cérebro.

                Os amigos de Zeca abriram suas bocas, emitiram berros calorosos aos meninos pálidos, uma discussão começara.