Fanfic: Cidade Cinza

"Um laço pode se tornar uma forca mortal."

                   As estrelas, a cada minuto com o brilho mais intenso sobre as cabeças deles. A cidade nunca dormia totalmente, sempre tinha um carro, moto, grito, assobio no meio da madrugada cortando o silêncio. Carla e Zeca, juntos caminhando pela rua paulistana. O dinheiro do ônibus fora gasto em bebidas e mais cigarros, porque Zeca não se satisfazia com um maço, jamais. Ainda tragava um quando disse com o filtro entre os lábios:

—Você é insana!

—Hum. – gemeu Carla. —Não sei se sou.

—Mas é óbvio que é. – contrapôs Zeca numa mescla de braveza e excitação.

—Estão sou. – Carla sorriu radiante.

—Vamos na Rua Augusta amanhã? – disse Zeca soltando fumaça pelo nariz.

—Essa rua? Lá é promiscuo... – disse Carla.

—Me dê motivo para deixar de ir lá! – exclamou Zeca.

                  Pelo caminho a pé até a casa, as conversas foram repletas de altos e baixos. A cada palavra que Carla dizia sua cabeça pulsava de dor, uma dor que ela não entendera a razão, pois no fundo, fazer aquela cena não requeria esforço algum. Era fácil para ela interpretar qualquer personagem; uma dramática, uma suicida, uma ladra, uma... Louca, talvez?

                   A voz de Zeca martelava na mente exausta de Carla, seus pensamentos já não eram claros e calculados como antes. Num ponto da conversa, ela começara a concordar com tudo, torcendo para que chegassem logo, implorando para deitar-se no colchão surrado que Zeca lhe emprestou horas atrás. O garoto não percebera a dor e luta de Carla para manter-se de pé, afinal, ele não notara nada, nem mesmo que seu nariz havia sido quebrado, a bebida agira como anestesia.   

                 Um lado na mente de Carla, ela não conseguia compreender o porquê de ter feito aquilo, fora um ato suicida, apesar de serem ameaças vãs.  

                  Dores de cabeça da noite anterior perduraram na manhã do dia seguinte em Carla. Não saíra do colchão velho. Tomou café deitada, gentilmente a vó de Zeca, Dona Fátima lhe servira.

                  A avó de Zeca era muito amada por ele e pelo seu filho. Os homens da casa respeitavam muito aquela senhora. Noites de bebedeira e ressaca constantes e, Dona Fátima cuidava de filho e neto como se fossem crianças, ela tinha muita paciência com os surtos de humor constantes de Zeca. Naquela manhã fora um dia desses.  O garoto saiu do quarto batendo a porta.

                  “Por quanto tempo ficarei aqui?”, Carla se perguntava a cada gole de café que tomava. Um dia marcado no seu calendário cerebral.

 Zeca reaparecera no quarto com o nariz roxo, mas menos enxado que horas atrás.

—Não vai descer hoje, Carla?

—Dor de cabeça que não passa... – disse Carla coçando a cabeça. — sua avó me deu uns comprimidos...

—Essa Dona Fátima é demais! – disse Zeca sorridente. —Eu não sei o que seria de mim e do pai sem ela, sério.

                  O garoto se atirou na cama com um pedaço de pizza na mão. Pegou o controle remoto que estava em cima da mesma e ligou a TV. Carla, nunca havia notado que o quarto do adolescente parecia mais com um estúdio de tatuagem, no qual tatuaram as paredes. Cada mínimo canto era coberto por diversos desenhos de pessoas, objetos, símbolos que ela desconhecia e mensagens, incontáveis pessoas picharam as paredes como se fossem tatuagens, talvez até mais coloridas e confusas que as tatuagens que Zeca tinha no braço esquerdo.