Fanfic: Apaixonada Por Um Anjo d&c | Tema: Drama, Romance, Universo Alternativo

Podia ter sido um pequeno sorriso, mas por Deus, eu não sorria há muito tempo. Eu não entendia por que eu sorri para ele. Fazia um ano desde a última vez que eu sorri, mas nem fora um sorriso verdadeiro, naquela época... Mas agora, eu sorri.

Um sorriso tão pequeno, mas tão cheio de significados. Ele me fazia sentir segura, como eu nunca me senti antes. Aqueles olhos transmitiam a sensação de que tudo ia ficar bem, de que havia esperança para mim.

Mas não, não havia. Eu tinha que afastar aquela idéia, não ia ficar tudo bem, nunca. Eu nunca conseguiria ser eu mesma de novo, nunca conseguiria curar meu vício. Eu nunca conseguiria afastar a dor, a dor do abandono, da falta de amor, da infância roubada.

Eu voltei a me encostar-se à porta e a olhar aquele estranho de cabelos cobre e olhos verdes. Eu não conseguia achar nada de bonito em nenhum homem, não depois do que fizeram comigo. Mas com ele... Eu conseguia me perder naqueles olhos cinzentos.

Quando ele me olhava, o ar ficava escasso ao meu redor. Eu tinha a leve impressão, de que pela primeira vez na minha vida, eu queria beijar os lábios de alguém, e eram os dele.

Mas eu não podia, e eu não ia. Eu realmente não podia. Não por que era errado, não por que eu não o conhecia, mas sim por que eu não conseguia. E acho que nunca iria conseguir... Não conseguiria agir com ninguém daquele jeito, nunca conseguiria beijar alguém, nunca conseguiria me entregar de coração a alguém...

Eu nunca conseguiria amar, nunca. Tiraram-me esse poder há tanto tempo. Minha capacidade de amar, minha vontade de me envolver com qualquer homem, qualquer tipo de relação para mim, era repugnante.

Eu queria ser eu mesma, de novo. Queria sentir-me bem, feliz... Queria poder sentir de novo, sentir algo que não fosse vontade de me drogar, de beber ou de me matar. Sentir algo que não fosse aquela dor que me acompanhava há tanto tempo...

Minha mente vagou até Kate. Onde será que ela estava? Não nos víamos há cerca de um ano. Na última vez que a vi, ela me ajudou a fugir daquele inferno... Mas depois disso, não a achei mais.

E não achei mais formas de sorrir, por que estar com ela era um motivo para sorrir, apesar de não serem sorrisos tão verdadeiros. Nos poucos momentos que eu passava com ela, toda a nossa vida desaparecia.

Éramos apenas duas meninas, que tiveram a infância, os sonhos e as esperanças arrancadas de si cedo demais. Mas nós conseguíamos passar uns momentos juntas, e sorrir algumas vezes por mês.

Eu sentia falta da Kate. Nos braços dela, eu me sentia segura. Ela fora uma mão para mim, em todos esses anos.

Nossa mãe morreu quando eu tinha cinco anos, Kate tinha nove na época. Ela cuidou de mim desde então, aos nove anos ela teve que ser mãe, teve que cuidar de uma casa e desistir de brincar de boneca.

Quando eu fiz oito, comecei a ajuda - lá, e então nós tínhamos alguns momentos de criança. Apesar de ela já ter 12, e já querer se importar com as coisas de adolescente, como maquiagens, garotos, amigas... Ela se importava mais comigo, com minha infância e minhas bonecas.

Nosso pai era um viciado em heroína que fazia de tudo por mais droga. Ele nunca estava em casa, e mal sabia nossos nomes.

Aos treze anos, Kate arrumou seu primeiro namorado, o Adan. Ele tinha quinze anos e era um amor de menino. Ele tratava minha irmã bem, e a mim também. Ele estava sempre em nossa casa, ajudava-nos e amava minha irmã incondicionalmente.

Eles ficaram juntos até minha irmã ter 16 e ir embora. Ela foi arrancada dele, e eu não sei se eles se viram de novo. Eu não o vi de novo, não até hoje. Provavelmente nunca mais o veria.

Christopher se virou para mim e abriu um sorriso, levando os dois pratos de panqueca até a mesa e indicando uma cadeira do seu lado.

Eu não tinha comido nada desde que cheguei aqui, eu nunca tinha fome, efeito da droga. Mas com tanto tempo sem ela, eu tinha fome. Eu me sentei ao lado dele e começamos a comer em silêncio.

Jesus Cristo, aquilo estava uma delícia. Panquecas de maçã com calda por cima. Eu comia fazendo uma cara ótima, a última vez que comi panquecas foi quando Emm nos buscava (eu e minha irmã) para ir à escola e parávamos para tomar café da manhã.

– Por que está fazendo isso? – Eu perguntei a Christopher.

– Fazendo o que?

– Me ajudando, me tratando bem. Eu não mereço isso, eu sou ruim. Não devia ter me trazido pra cá. – Eu disse olhando pra baixo.

– Se eu te achasse ruim, ou má, não teria te ajudado. E por que eu te ajudei? Eu sabia desde o primeiro momento que havia algo bom aí dentro. Que você não pertencia á aquele mundo...

– Engano seu, aquele mundo, é minha casa. Minha moradia há quase quatro anos. O único lugar que pode haver para uma pessoa como eu.

– Não, existe isso aqui. Uma casa, um lar.

– Ah. Eu não tenho uma casa. Eu moro na rua. – Eu disse comendo minha panqueca. Eu levantei o olhar por um momento e encontrei-me com o olhar dele.

– Está sozinha? – Ele olhou para meus olhos.

– Minha mãe morreu quando eu era criança, meu pai... Ele me... Abandonou. – Concluí – Me perdi da minha irmã há um ano. Na verdade eu fugi.

– Fugiu? – Ele levantou uma sobrancelha.

– Fugi da vida que eu e ela éramos obrigada a ter. Ela não conseguiu escapar... Bem simples. – Eu dei de ombro – Não posso dizer que tive sorte, por que não tenho levado uma vida boa depois que fugi. Mas qualquer coisa é melhor que aquele lugar. – Me arrepiei só de lembrar-se da minha antiga vida. – Meu pai nos abandonou quando eu tinha treze anos. Ele era um viciado, se importava mais com drogas do que conosco. Bem, comigo não tem sido tão diferente.

– Seus braços... – Ele disse tentando encostar no meu braço, mas eu recuei. – Desculpe.

– Não tem problema... É que... Faz tempo que alguém não encosta-se a mim, de qualquer jeito. Sim, meus braços são marcados, agulhas... Nos pulsos as lembranças de minha várias tentativas falhas de suicídio.

– Você usa heroína, não é?

– Você é um garoto esperto. – Eu disse contendo as lágrimas. – Eu não queria essa vida pra mim... Não mesmo. Mas era a única forma... A única maneira de... – Eu passei a mão nos olhos tentando segurar as lágrimas.

– A única maneira de? – Ele tentou me fazer falar.

– De esquecer tudo. – Eu disse sem conter as lágrimas e corri de volta pro quarto.

"Não seja ninguém além de você mesmo,
Em um mundo que está fazendo seu melhor,
Noite e dia, para te tornar outra pessoa...
Esta prestes a lutar a batalha mais difícil que
Qualquer ser humano pode lutar...
E nunca deixe de lutar. "

One Three Hill

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