Fanfic: Apaixonada Por Um Anjo d&c | Tema: Drama, Romance, Universo Alternativo

– Olá querida. - Uma médica disse entrando na sala onde a enfermeira tinha me feito entrar. – Vamos ver essa mão. – Eu estendi minha mão e ela deu uma olhada rápida e foi pegar algumas coisas para suturar. – É um corte bem feito, como conseguiu?

– Soquei o espelho. – Dei de ombros e observei enquanto ela voltava até mim.

– Estique o braço querida... – Eu a obedeci. Ela aplicou uma anestesia na minha mão e começou a suturar.

– Posso saber o motivo de a garotinha ter socado um espelho? - ela riu e eu sorri de leve.

– Já ouviu falar de que uma dor te faz esquecer a outra? – Ela arqueou uma sombrancelha para mim – Eu estava com muita dor em outro lugar, então meio que soquei o espelho pra sentir outra dor que abafasse a outra. E também por que eu estava com raiva.

– E será que isso tem alguma coisa relacionada com seu braço marcado por agulhas? – Ela passou os dedos pelo meu braço, onde várias marcas de agulha se encontravam.

Ela me olhava intensamente, mas não um olhar crítico ao mal. Um olhar bom, compreensivo. Ela não parecia me julgar, como todos os outros... Quer dizer, todos os outros menos Christopher.

– Qual delas? – Ela perguntou enquanto se concentrava na minha mão.

– Heroína. – Eu sussurrei.

– Quanto tempo?

– Pouco mais de um ano. – ela ficou em silêncio por algum tempo – Deve estar com medo agora que tem a certeza de que sou uma drogada, não é? Deve estar doida pra acabar logo de costurar isso aí pra sair de perto e...

– Não. – ela me interrompeu – Não tenho medo de você. É apenas uma garotinha de dezessete anos assustada... – Ela me olhou compreensiva por alguns segundos e desviou o olhar.

– Você... Você não tem medo, nem repulsa? – Eu balbuciei.

– Nem um pouco. Está óbvio que você quer sair dessa. Está meio que escrito na sua testa que você só está com medo e sozinha... Só precisa de compreensão e ajuda... – Ela acabou de suturar e foi até o armário, ficando de costas pra mim.

– Quem? – Eu perguntei baixinho.

– Meu irmão. Morreu há dois anos... Mas ele lutou até...

– Até?

– A dor vencer ele e ele se jogar do telhado do nosso prédio. – Ela se virou novamente para mim com uma faixa.

– Me desculpe.

– Esqueça. – ela sorriu e começou a enfaixar minha mão com delicadeza – Não sei por que estou falando da minha vida com uma paciente.

– Tudo bem. Não vou a contar a ninguém... Na verdade, nem há ninguém a quem eu posso contar.

– E o rapaz que te trouxe aqui? É seu irmão?– Ela indicou a porta.

– Ah, o Christopher... Não, ele não é meu irmão, ele é... – refleti por um momento – Nada. Ele me achou há alguns dias desmaiada depois de me drogar muito. Ele me levou pra casa e está cuidando de mim. Eu não entendo por que muito bem... Mas acho que ele é meio que um anjo da guarda. – Ela fechou os olhos e sorriu.

– É tão bom saber que ainda há pessoas boas nesse mundo... Não sei como alguém pode olhar nesses seus olhos chocolate e não ver a inocência deles... O medo, a tristeza, a dor... – Eu ri incrédula quando ela disse isso.

– Christopher disse isso também... Disse que foram meus olhos que fizeram ele me salvar...

– É como dizem, os olhos são a janela da alma. Você pode tentar esconder quem é, mas seus olhos sempre dirão. Não quero dar um de intrometida, mas e sua família?

– Minha mãe morreu de câncer quando eu tinha cinco anos... Meu pai me abandonou juntamente com minha irmã mais velha quando eu tinha treze anos e minha irmã dezesseis.

– E sua irmã, por que não está com você?

– Eu não vejo ela há mais de um ano. Ela me ajudou a fugir... Mas não conseguiu sair de lá. – Eu disse com frieza as palavras. – Sinto falta dela.

– Quem sabe se reencontrem. O destino é misterioso. – Eu assenti e ela pegou algo no bolso.

– Meu cartão. Ligue se precisar de algo. Tenho um consultório não muito longe daqui e... Conheço boas clínicas de reabilitação, se quiser eu...

– Eu não quero ir a nenhum lugar assim. – eu interrompi. – Quero tentar vencer isso sozinha...

– Ninguém consegue passar por isso sozinha querida... Dulce Maria. – Ela leu em minha ficha. – Eu sei que pensa que pode, mas acredite, não pode. As dores vão te consumir aos poucos...

– Eu consigo. Christopher vai me ajudar, ele... – Eu não sabia o que falar e minha frase morreu ali.

– Toma. – Ela atirou um frasco de remédio pra mim. – Um de manhã e um a noite. – Eu olhei para ela confusa - Vai controlar as dores... Não por tanto tempo, talvez um mês. Depois disso vai ter que ou suportá-las por mais de um ano, que é o período de “desentoxicação” ou terá que ir para uma clínica.

– Por que exatamente está me ajudando? – Perguntei guardando o vidro no bolso.

– Se ná época eu pudesse, gostaria de ter ajudado meu irmão... Mas acho que no fundo são seus olhos... – Ela sorriu e eu me levantei.

– Obrigada.

– Por nada. E eu acho que você deveria ir a uma psicóloga... Você parece estar com depressão.

– Quem sabe um dia. – Eu respondi e saí da sala, acenando para a médica e combatendo uma tristeza esmagadora.

Christopher me esperava sentado exatamente no lugar onde eu havia o deixado. Ele apenas sorriu e nós voltamos para casa dele em silêncio.

Aquela felicidade de mais cedo já tinha passado... Agora eu só sentia uma tristeza, uma dor. Apenas isso... Christopher me olhava pelo canto do olho uma vez ou outra, mas não chegou a dizer nada.

Eu comecei a prestar atenção nas casas, já que Christopher dirigia bem devagar. Havia algo familiar naquelas casas, naquela rua... Tudo tão familiar. Foi então que o carrou passou devagar por aquela casinha amarela e eu senti meu corpo latejar.

– PARA! – Eu gritei e Christopher parou o carro de uma vez assustado. Eu abri a porta sem dizer nada e caminhei até a porta daquela casa.

Christopher apenas me seguiu confuso e tentando me fazer parar. Eu fiquei parada, cara a cara com aquela porta, sem saber o que fazer. Aquelas lembranças que eu reprimi por tanto tempo vieram como um Flash e eu apenas respirei fundo.

Eu não iria chorar de novo na frente de Christopher.

Eu caminhei até um vaso em uma janela e tirei a chave de lá dentro, destrancando devagar a porta. Eu não consegui abrir, apenas fiquei encarando com as pernas trêmulas.

– Minha casa. – Eu sussurrei para ele, que estava do meu lado observando tudo.

– Quer entrar? – Ele sussurrou no meu ouvido docemente e eu assenti.

Ele empurrou a porta e eu entrei na casa, passo após passo. Eu mal me aguentava em pé, e estremeci. Christopher percebeu isso e colocou o braço em minha cintura, me apoiando.

– Obrigada. – Sussurrei baixinho.

Eu comecei a andar pela sala, percebendo que estava tudo exatamente como eu deixei há quatro anos. Passei a mão pelos porta-retratos em cima da lareira. Algumas daquelas fotos eram simplesmente as melhores recordações da minha infância.

Parei na frente da minha preferida, eu, Kate e minha mãe, um pouco antes de ela ficar doente. Nós três estávamos sorrindo em frente à montanha russa, o brinquedo preferido da Kate.

Era o aniversário de nove anos dela, e ela decidiu que queria comemorar no parque, comigo a mamãe e nosso... Pai. Ele não foi... Mas foi um ótimo aniversário, acho que o melhor de todos... E o último que comemoramos ao lado da mamãe.

– Sua mãe e sua irmã? – Christopher perguntou segurando a fotografia.

– Uhum. Tiramos essa foto há... Doze anos. Eu tinha cinco anos... Era o aniversário de nove anos da minha irmã... Fomos comemorar no parque.

– Essa foto é especial para você, certo? – Eu assenti.

– É a última foto que tirei com a mamãe antes de ela... Antes de ela morrer. – Expliquei.

– Devia levá-la com você. - Ele me entregou e eu segurei a foto com os dedos trêmulos. – Certas lembranças não são tão ruins quanto você pensa.

– Tem razão. Eu deveria levar isso comigo. – Segurei o porta retrato e peguei mais um, uma foto minha e de Kate, eu com treze e ela com dezesseis, no dia do meu aniversário de treze anos. – Essa aqui foi no meu aniversário de treze anos. Comemorei apenas com a Kate em uma sorveteria aqui perto... – Eu peguei o porta retrato e coloquei junto com o outro, no bolso da minha jaqueta.

– Sua irmã se parece muito com você. – Kate disse reparando em outras fotos.

– É o que diziam sempre para nós. Vamos embora, eu não... Não quero ficar mais. – Ele assentiu e continuou me segurando. Quando passamos pela porta eu tranquei ela e fiquei escorada lá por um tempo, de olhos fechados.

Eu ainda sentia Christopher do meu lado, mas continuei lá, parada. Joguei a chave dentro do vaso na janela e olhei para ele do meu lado.

– Nem todas as lembranças relacionadas a sua família são ruins... Ás vezes é bom lembrar... Faz-nos feliz.

– Eu tenho medo de lembrar. Eu sinto muita falta delas. – Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e ele a enxugou com o dedão.

Ele ficou lá, me olhando. Nossos rostos a centímetros de distância. Aqueles olhos Cinzentos olhavam dentro dos meus e tudo o que eu queria era que ele me beijasse. Nossos rostos foram se aproximando de vagar...

Mas por mais que eu quisesse, eu não podia. Eu recuei um pouco e ele percebeu, virando o rosto e envolvendo minha cintura protetoramente.

– Vem, vamos para casa. – Fomos até o carro e ele abriu a porta para mim e disse. – Você é mais forte do que pensa Dulce, você ás vezes só se esquece de acreditar nisso.

Eu fiquei pensando no que ele disse. Olhava minha foto com minha mãe e irmã e me lembrei de como era ser feliz... Lembrei-me da minha mãe e de sua eterna luta para permanecer mais do nosso lado.

Minha mãe passou quase um ano lutando contra o câncer... Eu queria seguir o exemplo dela e conseguir lutar... Eu podia.

Olhei para o lado e vi Christopher concentrado em dirigir. Então foi aí que eu percebi que enquando eu tivesse ele ao meu lado eu podia fazer tudo, eu podia conseguir tudo... Ele me dava forças.

A maioria das pessoas são mais fortes do que pensam. 
Elas só esquecem de acreditar algumas vezes.

(One Three Hill)

Lu_webs muito obrigado por coméntar e por tá dando sempre força pra eu continua bjs

vc tem msn se tiver me mandar