Fanfic: Carpe Diem. - VONDY.

Helston – Cornualha, Inglaterra. Dezembro 1961.

      Por volta de uma hora da madrugada, sua respiração retomou o compasso normal, controlando-a. Ainda era possível escutar os altos gemidos ofegantes da voz aguda vinda ao seu lado, à mulher desvairada ainda não havia acordado do longo devaneio de excitação. 

      Envolvidos dentro do quarto de um hotel cinco estrelas estavam aos incêndios de prazer, apenas prazer.

Janelas e cortinas fechadas, porta trancada tornando o ambiente caloroso como uma sauna. O lençol amarrotado sobre a cama e por um descuido rasgado pelas afiadas unhas da devaneada louca de prazer que ansiava por mais. 

A calça jeans desbotada, o casaco de couro preto e a camiseta branca estavam misturadas ao chão junto ao vestido num estampado em formas geométricas. Foram arrancados numa fúria de desespero.

     Detalhes que denunciavam uma noite de orgasmo e pura satisfação.

Nu, suado e tediamente cansado ele se levantou sentando-se na cama.

Suspirou.

Elevou suas mãos a cabeceira ao lado da cama, onde na mesma havia um abajur com a sua superfície em forma de trapézio e de sua lâmpada vinha uma corda metalizada, puxou-a o que fez acender a luz e assim iluminando o quarto escuro. Pegou o charuto que se encontrava na mesma cabeceira e com o isqueiro por perto o acendeu dando a primeira tragada, para logo solta-la em fumaça entreabrindo os lábios de uma forma banal.

    E por um momento, nesse instante uma lembrança vagou em sua memória.

    Em 1948 na cidade vizinha a de Helston.

Um garoto de 12 anos cansado de passar momentos festivos familiares à só, não completamente sozinho, mas sim com a madre Rosemary e as freiras que tomavam conta daquele orfanato.

Crianças, adolescentes e jovens entravam e saíam de lá, amizades eram feitas e logo terminadas, pois esse garoto nunca fora adotado.

     Reconhecia que na sua infância tinha um aspecto de um menino peralta como todo garoto de sua idade, mas também sua inteligência como qualidade um dos mais dedicados. Com seus cabelos loiros, olhos castanhos esverdeado sempre florescentes e um sorriso de fazer qualquer mulher que queira ser mãe derreter o coração e adotá-lo, mas com tudo isso, não era feito.  Os dedos do casal sempre eram apontados para a criança ao seu lado menos para ele e isso o deixava confuso e cabreiro a cada ano de sua vida.

      Agora com certa idade colocou em sua cabeça de que não deveria mais estar ali, ninguém mais o adotaria. Quem iria querer um adolescente já crescido e sem aquele belo sorriso ao seu rosto que apagara com o entendimento de rejeição.

     Irou-se com a madre Rosemary a diretora de origem espanhola daquele orfanato. A que lhe dava mais atenção e carinho como de uma mãe.

― Niño, não fale assim! ― encarando o garoto a sua frente se levantou da poltrona acolchoada rodeando sua mesa e chegando junto a ele ― Saber que somos sua família e seremos para todo sempre é o suficiente! ― declinou suas mãos a acariciar o rosto do garoto.

― Minha família para todo o sempre? A única coisa que vocês fizeram foi cuidar de um garoto rejeitado! ― ironizou em alto tom se levantando iradamente afastando a cadeira pelo ato brusco. Impaciente ― Eu preciso saber a verdade! É necessário.

    Suplicou as ultimas palavras em diminutivo tom, demonstrando o quanto era a necessidade de saber de seu passado e o porquê de tanta rejeição.

E sempre por pensar nisso calafrios lhe consumiam o fazendo tremer e o choro chegar e fazer seus olhos arderem por um derramar de lágrima.

― Diga-me! ― ordenou em um sussurro.

    Rosemary inspirou buscando o ar que já lhe faltava por ter que finalmente falar algo que pensava em nunca o fazer. E suspirou ao senti-lo de novo voltando aos pulmões. Dando início a uma breve e marcante história.

― Certa vez uma jovem freira do nosso convento estava em disciplina por ter traído as regras cristãs a qual ela se impôs a cumprir... ― pausou ao se encostar a mesa para se equilibrar e conseguir continuar, mas fora interrompida.

― E o que ela teria feito pra receber disciplina e o que isso tem haver com a minha história? ― perguntou confuso e impaciente como um garoto de quatro anos quando quer descobrir o nome e as coisas ao seu redor.

― Verás... ― lhe assegurou e o garoto sentou novamente a cadeira para escutá-la continuar ― Ela tinha dado início a um romance proibido com um mundano, e o seu caso com ele já estavam às alturas. ― suspirou ― Então resolveram a disciplinar, mas logo depois de dois meses descobrimos que ela estava... ― engoliu a seco como se as próximas palavras fossem difíceis de decifrar para uma mulher e venerada como ela. Tentou ― ...grávida de um garotinho.