Fanfic: O Amor é Cego.

— Obrigado, Frederick, mas não será necessário. Como disse, só quero que fiquem atentos.
    — Muito bem, milorde, vamos tomar conta dela — completou Kibble, para encerrar o assunto. — Se é tudo, acho que já podemos voltar ao trabalho.
    — Podem, sim — Christopher confirmou e foi se instalar em uma poltrona perto da lareira. Depois do burburinho das pessoas deixando o salão, ele voltou-se surpreso ao ouvir o tinir de vidro vindo da mesinha de canto onde estava o brandy. Kibble havia permanecido no salão e enchia dois copos com a bebida.
    Após tampar a garrafa, o mordomo dirigiu-se a Christopher com os dois copos na mão e estendeu-lhe um, sentando-se depois na poltrona ao lado dele.
    Christopher não se surpreendeu com esse comportamento. Era habitual quando Kibble queria lhe falar. Só se perguntava o que ele poderia querer lhe dizer.
    — Ela não viu seu rosto. — Não se tratava de uma pergunta.
    Christopher apertou os lábios e olhou para a lareira, recusando-se a responder.
    — Você disse que os óculos se quebraram. Por que não lhe comprou um novo par antes de vir para Mowbray?
    Christopher deu de ombros com raiva e tomou um grande gole do brandy.
    — Teme que ela sinta repulsa por seu rosto. — Novamente não foi uma pergunta.
    — Planejo comprar os óculos dentro de uma semana — Christopher respondeu por entre os dentes, ficando bravo de se sentir culpado.
    Kibble ficou em silêncio por um momento, com ar pensativo, depois perguntou:
    — Ela não tem recurso algum?
    — O quê? Claro que tem. — Ele sabia que Dulce tinha dinheiro. Sua mãe havia lhe contado, na volta de uma das provas, que ela havia comprado um pequeno frasco de perfume. Depois disso, ele ficara sabendo que Dulce recebia regularmente uma pequena quantia de sua herança desde que completara vinte anos. Naturalmente, ela tomara posse do restante com o casamento. Eles haviam assinado alguns papéis naquele dia para transferir uma parte do dinheiro para uma conta que ela tivesse acesso. O resto deveria ser investido.
    — Qual a razão de sua pergunta, Kibble?
    — Mera curiosidade, milorde.
    Levantando-se, o mordomo tomou o último gole do brandy e deixou o copo usado na mesa antes de sair.
    — Você não pode mantê-la sem enxergar para sempre. — Foram suas últimas palavras antes de fechar a porta.
    Christopher já estava ficando farto desse tipo de comentário. Ele bebeu o último gole do brandy, depois levantou-se, foi até a mesa e se serviu de uma nova dose. Não precisava de sermão do mordomo. Já bastava sua própria consciência, lembrando-o de que Dulce estaria mais segura se pudesse enxergar e evitar qualquer perigo. Mas, para mantê-la em segurança, havia recomendado que toda a criadagem ficasse atenta; vários olhos certamente eram muito melhor do que apenas os dela, ele argumentou consigo mesmo para aplacar sua consciência.
    Quanto a ela mesma estar mais alerta sobre os riscos a que estava sujeita, talvez isso a deixasse mais ansiosa, e ele desejava que a esposa vivesse tranqüila. Dulce começava a desabrochar agora que estava longe da tirania da madrasta. Definitivamente ele não queria que nada interferisse no comportamento dela, tornando-a tímida e amedrontada.
    Ao dirigir-se novamente à poltrona com o brandy na mão, Christopher disse a si mesmo que todos esses argumentos eram perfeitamente válidos, mas no íntimo sentia-se incomodado por saber a verdadeira razão pela qual não queria que Dulce usasse os óculos.