Fanfic: O Amor é Cego.

— Bem, devo dizer que você se saiu muito melhor do que eu esperava.
    Tirando os olhos das costas de Dulce e de sua madrasta que se afastavam, Christopher deu com o primo uma vez mais a seu lado.
    — Será? — perguntou, distraído.
    Christian sorriu irônico e encolheu os ombros.
    — Acho que sim. Afinal, ela não pisou em seus pés, não o fez cair, nem queimou nenhuma de suas partes. Diria que é um bom começo.
    — É — replicou Christopher com um sorriso amarelo. — Só fui perseguido pela pista por uma velha matrona que gesticulava freneticamente como uma galinha batendo as asas.
    Christian riu da descrição precisa do primo e completou:
    — Pois é, a pobre lady Dulce parece destinada a terminar cada dia com uma nova humilhação. Tornou-se o assunto da cidade.
    — Não é Dulce a causa do problema. E a madrasta.
    — Concordo que a cena de hoje possa ter sido responsabilidade da madrasta. A garota estava se saindo muito bem em seus braços, porém não dá para culpar Alma por todos os fiascos que contribuíram para a reputação da enteada.
    — Por que não? — Christopher perguntou, levantando a sobrancelha.
    — Porque Alma nem estava presente quando Dulce derrubou o chá em minhas pernas e queimou minhas...
    — Mas isso não teria acontecido se ela estivesse de óculos, e a culpada disso é a madrasta — interrompeu Christopher.
    — O quê?
    — Dulce não usa óculos. Não porque seja fútil, mas porque a madrasta os tirou dela e os quebrou. Ela se nega a deixar a garota usar óculos.
    Christian não conseguiu disfarçar o espanto diante dessa revelação.
    — Por que diabos alguém faria isso?
    — Lady Saviñón aparentemente acha que os óculos poderiam ser um obstáculo para a enteada arrumar um marido.
    —Ah... entendo. — Christian ficou pensativo, e Christopher não conteve a curiosidade.
    — Ela me disse algo sobre um passado comprometedor. Você sabe do que se trata?
    — O quê? — Christian o fitou de maneira penetrante e depois desviou os olhos, demonstrando um certo desconforto. — Sei alguma coisa... de ouvir dizer, claro; de fato, uma infelicidade. E nem foi culpa dela. O homem foi preso. Ainda assim, pelo que me lembro, foi um escândalo na época. Causou um grande falatório.
    — O que causou o falatório? — Quando Christian o encarou indeciso, Christopher insistiu impaciente. — Que escândalo foi esse?
    — Certamente você se recorda do caso, Christopher? Foi na temporada depois da batalha de Malplaquet... — Christian baixou o tom de voz ao dizer isso, e seu olhar deteve-se por um instante na cicatriz do rosto do primo, desviando-se em seguida ao sentir um certo, desconforto. — É verdade, você deixou Londres e retornou ao campo naquele ano.
    Christopher teve uma expressão jocosa diante da frase polida. Ele havia retornado ao campo mal chegando à cidade. O motivo, naturalmente, fora o ferimento que deixara a cicatriz em seu rosto. Uma longa cicatriz irregular que descia em ziguezague do canto de seu olho esquerdo até o queixo ao lado da boca. Era seu suvenir da Guerra da Sucessão Espanhola e o ponto final em sua promissora carreira militar.