Fanfic: O Amor é Cego.

— Está bem — resmungou, caçoando do primo: — Tudo em nome do amor e do romance... Mas espero que você se lembre disso quando eu precisar de ajuda.
    — Lembrarei — Christopher assegurou aliviado e sentou-se na poltrona oposta à do primo.
    — Bravo, meu velho. Então pego lady Dulce amanhã e a levo para onde?
    Christopher hesitou para responder, sabendo que essa seria a parte mais delicada.
    — Podemos pensar a respeito em um minuto, mas antes preciso lhe falar sobre um pequeno detalhe.
    De sobreaviso pelo tom de voz do primo, Christian arqueou a sobrancelha.
    — E qual é ele?
    — É difícil abordar o assunto, mas a madrasta de Dulce não gosta de... homens mundanos. — Observando a reação do primo, Christopher extravasou seu desconforto mexendo-se na poltrona. — Pensei que talvez você possa usar com lady Saviñón a mesma tática de abordagem que usou com lady Strummond para convencê-la a deixar que saísse com a filha.
    — Que é isso, Mowbray, com efeito!
    Christopher esmoreceu diante da expressão do primo:
    — Bem, funcionou com lady Strummond.
    — Sim, funcionou, mas...
    — Poderá funcionar novamente — insistiu. — Tenho certeza. Só você tem talento para isso.
    — Primo — disse Christian de cara amarrada —, uma coisa é bancar o almofadinha para se conquistar alguém para si mesmo, e outra bem diferente é para...
    — Por favor — Christopher interrompeu.
    Christian arregalou os olhos, incrédulo. Christopher Uckermann, conde de Mowbray, nunca dizia “por favor”. Jamais. Sentindo-se sem saída, voltou os olhos, com ar pensativo, para as cinzas da lareira e suspirou resignado.
    — Está bem.

    — Um tal de lorde Chavez está à porta e quer saber se as ladies Saviñón estão em casa, para visitá-las.
    Dulce ergueu a cabeça do encosto do sofá em que estava sentada e, piscando várias vezes, tentou ver por cima da figura do mordomo quem estava à porta.
    — Quem você disse que está aí, Foulkes? — perguntou Alma.
    — Lorde Chavez — o mordomo repetiu, com ar entediado.
    Dulce mordeu os lábios e se controlou para não parecer eufórica demais. Mowbray estava cumprindo o que prometera. O primo viera em seu lugar. De dedos cruzados, ela começou, intimamente, a rezar para que a madrasta não o dispensasse e estragasse tudo.      Pela voz, Alma parecia estar confusa:
    — Pensei que você conhecesse lorde Chavez.
    Dulce entendeu a intenção. Se ela já tivera um primeiro encontro com ele, por que cargas d’água ele a procuraria novamente?
    — Conheço. Ele é um homem muito agradável.
    — Sei! — Alma não pareceu muito convencida. — Poderia jurar que ouvi dizer que ele...
    Assim que fez uma pausa, lady Havard que fora tomar chá com elas e acabara ficando para bisbilhotar um pouco, aparteou:
    — Também ouvi comentários de que ele é meio farrista, Alma, mas acho que é pura maldade. Inveja, muito provavelmente. Ele provém de ótima família e é bastante amigo do rei.
    Dulce entendia muito bem a razão de lady Havard encorajar Alma a permitir as atenções de Chavez. Não havia dúvida de que era por causa do ciúme que sentia de Prudhomme. Mas para ela isso pouco importava. Só podia agradecer a interferência da amiga da madrasta e, de respiração suspensa, ficou aguardando o veredicto.
    — Muito bem, Foulkes, faça-o entrar.