Fanfic: Um sonho de Amante AyA | Tema: Traumada Hots
Alfonso levantou uma sobrancelha ante a crua e inesperada analogia. Mas mais que as palavras, o que lhe surpreendeu foi o tom amargo de sua voz. Alguém já fez isso no passado. Não era de se admirar que se assustasse.
Uma imagem de Penélope lhe passou pela mente e sentiu uma pontada de dor no peito, tão feroz que teve que recorrer a seu firme treinamento militar para não cambalear-se.
Tinha muitos pecados que expiar. Alguns tinham sido tão grandes que dois mil anos de cativeiro não eram mais que o princípio de sua condenação.
Não é que fosse um bastardo de nascimento, é que, depois de uma vida brutal, infestada de desespero e traições, tinha acabado convertendo-se em um.
Fechou os olhos e se obrigou a afastar esses pensamentos. Isso era, melhor dizendo, história antiga e isto era o presente. Anahí era o presente.
E estava nele por ela.
Agora entendia o que Dulce queria dizer quando lhe falou sobre Anahí. Por isso lhe convocaram. Para lhe mostrar a Anahí que o sexo podia ser divertido.
Nunca antes se encontrou em uma situação semelhante.
Enquanto a observava, seus lábios desenharam um lento sorriso. Esta seria a primeira vez que teria que perseguir uma mulher para que o aceitasse. Anteriormente, nenhuma tinha rechaçado seu corpo.
Com a inteligência de Anahí e sua teimosia, sabia que levar-lhe à cama seria uma provocação comparável ao de uma emboscada ao exército romano.
Sim, ia saborear cada momento.
Igual acabaria saboreando-a a ela. Cada doce e sardento centímetro de seu corpo.
Anahí engoliu em seco ante o primeiro sorriso genuíno de Alfonso. O sorriso suavizava sua expressão e o fazia ainda mais devastador.
Que demônios estaria pensando para sorrir assim?
Por enésima vez, sentiu que lhe subiam as cores ao pensar em seu cru discurso. Não o tinha feito de propósito, em realidade não gostava de despir seus sentimentos ante ninguém, especialmente ante um desconhecido.
Mas havia algo fascinante neste homem. Algo que ela era percebia de forma perturbadora. Possivelmente fosse a dissimulado dor que refletiam de vez em quando esses celestiais olhos azuis, quando o pegava com a guarda baixa. Ou talvez fossem seus anos como psicóloga, que lhe impediam de ter uma alma atormentada em sua casa e não lhe emprestar ajuda.
Não sabia.
O relógio de parede do saguão da escada deu uma.
— meu deus! —disse assombrada pela hora— Tenho que me levantar às seis da manhã.
— Vai à cama? Dormir?
Se o humor de Alfonso não tivesse sido tão anti-social, o espanto que mostrou seu rosto teria feito rir a Anahí de boa vontade.
— Tenho que ir.
Ele franziu o cenho…
Dolorido?
— Ocorre algo? —perguntou ela.
Alfonso negou com a cabeça.
— Bom, então vou mostrar o lugar onde vais dormir e…
— Não tenho sonho.
A Anahí sobressaltaram suas palavras.
— O que?
Alfonso a olhou, incapaz de encontrar as palavras exatas para lhe descrever o que sentia. Tinha ficado preso tanto tempo no livro, que o único que queria fazer era correr ou saltar. Fazer algo para celebrar sua repentina liberdade de movimentos.
Não queria ir à cama. A idéia de permanecer deitado na escuridão um só minuto mais…
Esforçou-se por voltar a respirar.
— estive descansando desde 1895 —lhe explicou— Não estou muito seguro dos anos que transcorreram, mas pelo que vejo, deveram ser alguns.
— Estamos no ano 2002 —lhe informou Anahí— estiveste «dormindo» durante cento e sete anos. —Não, corrigiu-se ela mesma. Não tinha estado dormindo.
Havia-lhe dito que podia escutar qualquer conversação que tivesse lugar perto do livro, o que significava que tinha permanecido acordado durante seu fechamento. Isolado. Sozinho.
Ela era a primeira pessoa com a que tinha falado, ou estado perto, depois de cem anos.
Fez-lhe um nó no estômago ao pensar no que devia ter suportado. Embora a prisão de seu acanhamento nunca tinha sido tangível para ela, sabia o que era escutar as pessoas e não ser parte deles. Permanecer como uma simples espectadora.
— Eu gostaria de poder ficar desperta - disse, reprimindo um bocejo— De verdade, mas se não dormir o suficiente, meu cérebro se converte em gelatina e fica sem bateria.
— Entendo-te. Ao menos entendo o essencial, embora não sei que são a gelatina nem a bateria.
Anahí ainda percebia sua desilusão.
— Pode ver a televisão.
— Televisão?
Segurou a terrina vazia e o limpou antes de retornar com o Alfonso à sala de estar. Ligou o televisor e o ensinou a mudar os canais com controle remoto.
— Incrível - sussurrou ele enquanto fazia zapping pela primeira vez.
— Sim, é algo muito útil.
Isso o manteria ocupado. Depois de tudo, os homens só necessitavam três coisas para ser felizes: comida, sexo e um controle remoto. Dois de três deveriam mantê-lo satisfeito um momento.
— Bom - disse enquanto se dirigia às escadas— boa noite.
Ao passar a seu lado, Alfonso lhe tocou o braço. E, embora seu roçar foi muito ligeiro, Anahí sentiu uma descarga elétrica.
Com o rosto inexpressivo, seus olhos deixavam ver todas as emoções que o invadiam. Anahí percebeu seu sofrimento e sua necessidade, mas sobre tudo, captou sua solidão.
Não queria ficar sozinho.
Umedecendo-os lábios - lhe tinham secado de forma repentina—, disse algo incrível.
— Tenho outro televisor em meu quarto. Por que não vê ali o que queira, enquanto eu durmo?
Alfonso lhe dedicou um sorriso tímido.
Foi atrás dela enquanto subiam as escadas, totalmente surpreso pelo fato de que Anahí o tivesse compreendido sem palavras. Tinha tido em conta sua necessidade de companhia, sem preocupar-se de seus próprios temores.
Isso lhe fez sentir algo estranho para ela. Uma estranha sensação no estômago.
Ternura?
Não estava seguro.
Anahí o levou até uma enorme habitação dominada por uma cama com dossel, situada na parede oposta à porta de entrada. Em frente da cama havia uma cômoda e, sobre ela, uma coisa, como o tinha chamado Anahí? Televisão?
Observou como Alfonso passeava por seu dormitório, olhando as fotografias que havia nas paredes e sobre os móveis, fotografias de seus pais e de seus avós, da Dulce e ela na faculdade, e do cão que teve quando era pequena.
— Vive sozinha? —perguntou-lhe.
— Sim - disse, aproximando-se da cadeira de balanço que estava junto à cama. Sua camisola estava sobre o respaldo. Segurou-o e depois olhou a Alfonso e à toalha verde que ainda levava ao redor de seus esbeltos quadris. Não podia deixar que se metesse na cama com ela daquele jeito.
Seguro que pode.
Não, não posso.
Por favor?
Shh! Parte irracional de mim te cale e me deixe pensar.
Ainda guardava os pijamas de seu pai no dormitório que tinha pertencido a seus progenitores, ali estavam todas seus pertences e para Anahí, era um lugar sagrado. Tendo em conta a largura dos ombros de Alfonso, estava segura de que as camisas não lhe serviriam, mas as calças tinham cinturas adaptáveis e, embora ficassem curtos, ao menos não lhe cairiam.
— Espera aqui —lhe disse— Não demorarei nada.
Depois de vê-la partir como uma exalação, Alfonso se aproximou das janelas e afastou as cortinas de renda branca. Observou as estranhas caixas metálicas - que deviam ser automóveis— enquanto passavam por diante da casa com aquele zumbido tão estranho que não cessava um instante, semelhante ao ruído do mar. As luzes iluminavam as ruas e todos os edifícios, pareciam-se com as tochas que havia em sua terra natal.
Que insólito era este mundo. Estranhamente parecido ao dele e, mesmo assim, tão diferente.
Tentou associar os objetos que via com as palavras que tinha escutado ao longo das décadas, palavras que não compreendia. Como televisão e lâmpada.
E pela primeira vez desde que era menino, sentiu medo. Não gostava das mudanças que percebia a rapidez com a que as coisas tinham evoluído no mundo.
Como seria a seguinte vez que o convocassem?
Poderiam as coisas mudar muito?
Ou o que era mais aterrador, e se jamais voltavam a invocá-lo?
Engoliu em seco ante aquela idéia. E se acabava preso durante toda a eternidade? Só e acordado. Alerta. Sentindo a opressiva escuridão em torno dele, deixando-o sem ar nos pulmões enquanto seu corpo se rasgava de dor.
E se não voltava a caminhar de novo como um homem? Ou a falar com outro ser humano, ou a tocar a outra pessoa?
Estas pessoas tinha coisas chamadas computadores. Tinha escutado ao dono da livraria falar sobre eles com os clientes. E alguns lhe haviam dito que, provavelmente, os computadores substituiriam um dia aos livros.
O que seria dele então?
Autor(a): annytha
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 146
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:37
Pooooooooooxaaaaaaaaaa, lí o último capítulo e gostei, mas a senhorita autora sumiu... E agora, #comofas???
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:37
Pooooooooooxaaaaaaaaaa, lí o último capítulo e gostei, mas a senhorita autora sumiu... E agora, #comofas???
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:36
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:36
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:36
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:36
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:35
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:35
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:35
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camillatutty Postado em 20/01/2013 - 23:31:35
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