Fanfic: Irresistível | Tema: Twilight

Rastejando pela praia nem percebi eles se aproximando com passadas longas e leves, as patas mal encostando na areia, senti meu corpo ser amparado antes de tombar na água salgada a minha esquerda.

Eu estava realmente cansado, não tinha notado até agora que estava fora de perigo. Ainda tremia, podia sentir e ouvir meus dentes batendo como se eu sentisse frio. Uma reação um tanto humana demais pro meu gosto.

“Encontramos ele.” – Paul avisou os demais do bando por sua comunicação telepática, pois me lembrava ainda que em forma de lobo, ouviam uns os pensamentos dos outros, uma forma de comunicação muito poderosa e útil para eles.

Me deixei carregar, eu sentia meu corpo todo em frangalhos, e o sol ardia na minha pele cintilando “diamantes” pra todos os lados, o céu estava clareando novamente e logo chegariam turistas e não seria uma boa idéia bancar o durão e ficar por aqui.

“Será que ele está bem?” – Seth perguntou a Paul também por telepatia enquanto me carregavam.

“Estou me sentindo fraco, só isso” – respondi me agarrando aos pêlos dele.

Ele pareceu assustar com a minha resposta e parou bruscamente, me fazendo cair na areia – “Posso ouvir o pensamento de qualquer pessoa” – respirei aquele ar desagradável – “ou animal”. – finalizei me lembrando que os pensamentos de Bella eu não ouvia... o que era estranho.

“Oh” – ele pensou e todos ficaram quietos, em alerta.

Percebi que estavam guardando os segredos dos seus ficando em silêncio até nos pensamentos. Era bom o silêncio e bom saber o quanto eram leais. Nenhum precisou avisar o outro, todos simplesmente se calaram.

A caminhada foi curta até a vila, percebi que estávamos chegando assim que senti seu cheiro floral, carregado claro do cheiro insuportável de Jacob.

Abri meus olhos para ver Carlisle me pegando nos braços e carregando para a casa de Billy Black, um dos anciãos da tribo Quileute, ele estava visivelmente perturbado com nossa repentina visita.

“Eles aprontam... tem algo errado, posso sentir!” – ele pensava enquanto ajudava Carlisle a me colocar no sofá.

Eu não podia culpá-lo, éramos inimigos mortais! Quebramos o tratado somente porque um Alfa nos convidou a transpassar a barreira e porque não havia outra saída para nós.

“Não se preocupe tanto Billy” – sussurrei enquanto Carlisle apertava minhas costelas – “Viemos em paz... na verdade a procura de abrigo para a menina” – disse pensando em Bella, afinal os demais poderiam se cuidar.

“Bella?” – ele pareceu intrigado com a minha observação.

Carlisle é ótimo em esconder o que pensa mas me lançou um olhar reprovador.

“Bella, Edward?” – pensou encarando meus olhos.

Para ambos respondi: “Sim ela. É a única que corria perigo real ali”.

“Eu sei me cuidar” – ela passou por nós, rabugenta como da ultima vez que a vi, e ainda mais linda.

Seus cabelos pendiam molhados sobre as costas e vestia uma camiseta branca de Jacob, a única coisa errada nela, posso garantir. Até as calças desbotadas e sujas de barro lhe caiam muito bem.

Nem respondi, só sorri, seguindo-a com os olhos.

“Isso não é bom” – Billy pensou acompanhando meu olhar.

“Nossa!” – Carlisle passou algo no meu nariz, um cheiro muito forte de... não sei, mas é muito forte mesmo. Embolou meu estomago.

“Você está ótimo filho, daqui poucas horas estará 100% de novo” – explicou, guardando tudo dentro da maleta.

“Nenhum osso quebrado?” – rimos juntos.

“Não filho, nenhum” – ele bateu com a mão no meu ombro e me ajudou levantar; sabia com certeza que eu queria sair dali, o cheiro estava insuportável.

“Heidy?” – perguntei ao notar um de seus sapatos jogados no chão da sala.

“Está no quarto, ficará bem” – vi a lembrança de Carlisle tendo que colocar alguns ossos no lugar.

“Desculpe não estar aqui para ajudar pai” – sussurrei enquanto sentia meu corpo cada vez melhor, pela nossa recuperação rápida – “Posso vê-la?”

“Pode... mas você saiu daquele jeito por que?” - ele me encaminhou até a porta e espiou dentro para ver se ela estava coberta, um pai e um médico preocupados, mas eu via tudo o que ele via, se ela estivesse indecente... bem... sorri para mim mesmo lembrando de quando Heidy me atacou no casarão, eu ainda humano.

“Podemos falar nisso outra hora?” – pedi.

Apesar do sentimento por Heidy ter mudado, eu ainda sentia certo calafrio e estase quando estava com ela, ou quando ouvia sua voz na minha mente.

Sentei ao lado dela na cama e fiquei observando seu sono. Assim, de olhos fechados, com os cabelos espalhados no travesseiro e um hematoma roxo enorme no ombro direito, ela parecia uma mulher frágil, doce. Ah se não fosse por esse estranho sentimento pela... Bella... suspirei amargurado, tirando uma mecha do rosto de Heidy.

Carlisle nos deixou a sós com um olhar reprovador na minha direção. Eu apenas sorri e vi a porta se fechar.

Seu sono era pesado por causa do sedativo, mas a sentia agitada, sua mente livre para ser lida, porém vazia, sem sonhos.

“Não, Sara...” – ela sussurrou de repente e abriu os olhos encarando os meus para em seguida fechá-los.

Sara? Quem é Sara?

Meus olhos vagavam por um lugar escuro, tateava uma parede fria e áspera. Ao fundo uma luz avermelhava cintilava convidativa.

Eu sabia que estava no quarto, com Heidy, mas a imagem em seu pensamento me chamava, fechei os olhos acompanhando; ela parecia começar sonhar.

“Sara?” – sussurrou sem som, somente no sonho – “Sara, não se esconda pequena...” – a voz era amorosa, quase maternal.

Os pés continuaram pelo túnel escuro até encontrarem a claridade do sol que se punha, avermelhado no horizonte.

O lugar era lindo e por segundos nos perdemos na paisagem.

Um vasto campo verde, o mesmo aroma de grama recém aparada que senti quando estava procurando pelo Conde. Um carvalho enorme e frondoso ao centro, lá havia uma pessoa, uma menina. Cabelos loiros e cacheados estavam perfeitamente presos com uma fita azul, usava um vestido infantil, florido em tons azul, vermelho, branco e verde. As pernas levemente flexionadas e sobre elas um livro que ela lia voraz.

Heidy não ouvia pensamentos ainda e por um segundo, em seu sonho, ela quis saber o que a criança pensava.

Os olhos caramelos da menina grudaram nos dela e seus lábios avermelhados lhe sorriram. Era a menina mais linda que eu já vi, e ela parecia brilhar naquela paisagem, mas não como nós, não como uma vampira, ela parecia fazer parte de uma pintura. Igualmente Heidy pensou, fitando seus cabelos loiros e lembrando-se de alguém. O rosto e o nome foram ocultos assim que ela abriu os olhos e me bloqueou.

“Principezinho, é feio vigiar o sonho alheio não sabia?” – com dificuldade e alguns gemidos, ela sentou na cama, me olhando apreensiva.

“Quem é Sara?” – perguntei visivelmente curioso, não sabia o que pensar ou imaginar.

“Ninguém, foi só um sonho” – ela disse prontamente.

“Um sonho? Ninguém sonha tão nítido assim Heidy” – retruquei.

A expressão dela era calma, mas seus olhos brilhavam excitados quase apavorados. Franzi meu cenho na tentativa de entender.

“Só um sonho Edward... você nunca sonhou?” – me perguntou descendo os olhos pela minha camisa e pousando a mão em meu peito.

Isso me fez desviar a atenção para o toque quente, meus olhos pousaram em seus lábios e por alguns segundos desejei seus braços.

“Já...” – tentei responder, mas a mão subiu lenta pelo meu colarinho e tocou meu pescoço com precisão feminina. Senti um ardor onde ela tocava, minha respiração acelerou brevemente e me perdi em seu olhar. Mais uma vez ela me dominava – “...so...sonhei.. eu acho” – meus lábios estavam semi-abertos, aproveitando o hálito delicioso que emanava dos lábios dela.

Heidy se ajeitou pondo-se quase de joelhos a minha frente, eu fraquejei.

Me inclinei na sua direção levando minha mão a sua cintura e a puxei para mim. nossos corpos se grudaram e ouvi seu riso triunfante.

Na mesma hora despertei.

“Não ouse usar seu poder em mim Heidy” – me desvencilhei dela, ainda com meu corpo querendo voltar, meus lábios sentindo o gosto do beijo que não fora consumado.

“Não fiz nada Edward, você que quis” – ela sussurrou sem sair da posição.

“Mentira!” – me afastei ainda com maior dificuldade, vendo-a levar a mão ao colo e sentar-se novamente.

“Não, não é... eu posso desejar e você pode reagir, mas você tem escolha Edward, tem o livre arbítrio”. – sussurrou explicativa – “Eu seduzo, mas você escolhe cair ou não. O que acontece é que a maioria tem a mente fraca e não percebe o que esta fazendo” – ela riu maliciosa e encostou a cabeça no batente da cama, fechando os olhos e me fazendo gemer baixo pelo pescoço a mostra – “Vê? Eu poderia usar mais força e fazer você ficar cego de desejo, mas não é você que eu quero principezinho, que o rei”.

“Você não pode seduzir Carlisle, ele é seu pai” – sussurrei de volta.

“Não! ELE NÃO É!” – ela sibilou, a voz saiu estrondosa quase arruinando minha audição – “Se ele fosse meu pai...” – ela levantou da cama, caminhando firme na minha direção – “... ele não teria me deixado... se fosse MEU pai, não saberia que sou filha do Conde! Ahh” – ela riu irritada – “Se fosse MEU pai, não teria me tomado em seus braços e me feito mulher. Não mesmo Edward!” – ela parou com o rosto no meu, os olhos dilatados e a boca contorcida pela raiva.

“Mas ele a ama como pai...” – é, desculpe, eu não pensei antes de dizer, só senti o tapa e meu corpo voando pela janela.

Vários pensamentos invadiram minha cabeça, quando eu tentava me levantar, mas eu só procurava um. Heidy continuava me mantendo fora de sua cabeça, ninguém estava entendendo nada.

“O que houve?” – Jacob perguntou, chegando junto com Bella. Ai o que ela vê nesse moleque??!!

“Nada” – respondi e observei o rosto de Heidy questionando – “Só tivemos uma discussão e geralmente entre vampiros, leva a tapas e pequenos estragos na casa. Pagarei pelo concerto Black” – me levantei e fui na direção de Heidy novamente – “Eu ainda quero saber quem é Sara” – a encarei e falei em pensamento.

Ela rugiu e voou no meu pescoço e era exatamente o que eu esperava. Virei e pulei sobre ela, derrubando-a no chão e ficando por cima, com minhas mãos em seus punhos.

“Sai de cima de mim” – ela gritou – “Se eu estivesse 100% você não ousaria fazer isso” – gritava completamente fora de si.

“Carlisle!” – chamei e ele veio até mim – “Conhece alguma menina chamada Sara?”

“Não filho, solte a Heidy, porque essa briga?” – ele estava triste por nos ver assim.

“Dá um sedativo pra ela se acalmar e vamos conversar” – falei ainda segurando-a com firmeza, ela me chutou varias vezes entre as pernas, com sorte sem acertar.

Emmett veio dar uma forcinha e a segurou comigo enquanto Carlisle a sedava. A peguei nos braços e deitei novamente na cama, cobrindo-a com o lençol.

Ao sair me deparei com vários olhos curiosos, inclusive o de Bella. Era bom ter sua atenção.

“O que foi?” – fingi não saber, já saindo para fora da casa.

“O que foi isso?” – Carlisle questionou.

“Eu fui ver como ela estava e ela estava tendo um sonho, quando acordou não gostou que eu vi seu sonho” – simplifiquei, não querendo revelar meu desejo por ela.

“Qual sonho?” – Alice chegou mais perto, curiosa.

“Com uma garota chamada Sara. Ela era humana, mas não foi muita coisa, ela estava lendo sentada a sombra de um carvalho” – expliquei, buscando o olhar de Bella. Seu perfume estava todo em mim agora, apagando completamente a ilusão de Heidy.

“Sara?...” – Carlisle estava confuso – “Filho esse carvalho que você disse, fica num bosque muito verde?”

“Fica, muito grande e o sol se põe no horizonte a frente” – falei me lembrando da luz avermelhada que havia no túnel – “Ah e Heidy parecia sair de um túnel.”

“Nossa antiga casa” – ele revelou. Nem todos sabiam de sua história.

“Vocês moravam juntos?” – perguntou Seth inocente.

Carlisle colocou a mão na cabeça do garoto e fez um sim silencioso.

“Mais alguma coisa Edward?” – perguntou.

“Ela quis proteger essa menina, porque quando acordou, perguntei e ela logo...” – mordi meu lábio, eu estava contando, idiota!

“Logo?” – foi Bella. Sempre atenta essa garota.

“Bem... ela tentou me distrair do assunto”. – respondi evazivo.

“O que ela fez?” – Bella de novo.

“Anmm bem... Bella...” – pausei tentando achar as palavras. Bella fez uma careta e abaixou os olhos envergonhada.

“Ela te distraiu, entendi”. – ela ameaçou sair de perto e eu a segurei pelo braço.

“Mas eu não cedi... por isso brigamos”. – sussurrei e vi um sorriso brotar em seus lábios.

“Aee Edward!” – Alice berrou em seus pensamentos, eu quase joguei a vassoura que estava perto de nós nela.

“Hum...” – Bella balbuciou e seguiu para os braços de Jacob, que sorriu malicioso para mim.

“Viu? Minha namorada branquelo” – jogou seus pensamentos em mim. Minha vontade era fazer ele engolir cada palavras.

Mas se eram mesmo namorados, eu não podia fazer nada.

Todos voltaram aos seus afazeres e eu fiquei ali, sem saber o que eu tinha que fazer.

Algumas horas depois Heidy acordou e veio me procurar, eu estava com Carlisle e Jacob discutindo o que faríamos caso o Conde retornasse e falando sobre minhas suspeitas que o tornado fosse ele.

“Era ele” – ela respondeu e se sentou do meu lado.

“Então ele não foi embora...” – Jacob afirmou.

“Não, ele quer vingança agora que sabe que sou filha dele. A ira aumentou” – seu olhar pedia desculpas a Carlisle, mas a voz era dura.

“Ira pelo que Heidy?” – Carlisle perguntou.

Ela encarou meus olhos e por um momento pareceu pedir ajuda.

“Antes de virmos para cá eu queria te encontrar Carl...” – ela voltou a olhar para ele – “... quando cheguei e vi sua família eu fiquei muito enciumada e disse a ele que você estava criando outra família, que tinha me abandonado mesmo. Por muitos anos nós alimentamos juntos um desejo de vingança. Ele me encontrou largada no cemitério, sangrando por causa das pedradas. Eu tinha conseguido fugir do tumulo antes que me enterrassem... ele cuidou de mim e me amou como mulher...” – nesse momento Heidy colocou as mãos no rosto e escondeu o pranto.

Carlisle se levantou e a amparou em seus braços, Heidy chorava copiosamente e aos poucos baixava o muro em sua mente.

“Meu pai... me amou como mulher...” – ela dizia em minha mente e eu repetia para todos – “sem saber... ele se sente terrivelmente culpado por me amar... assim como eu por...”

Heidy levantou os olhos úmidos e encarou Carlisle.

“Eu por amar você” – terminou em voz alta, voltando a chorar mais ainda.