Fanfics Brasil - Prólogo Nascido das Sombras

Fanfic: Nascido das Sombras | Tema: Suspense


Capítulo: Prólogo

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Às vezes me sinto um simples anjo em meio ao apocalipse que não sabe para onde voar e nem ao menos onde pousar.


 


                Sob seus olhos, a cidade quase não tinha forma envolta pela densa névoa acoplada com a escuridão. Ela agitou os braços em movimentos abruptos a fim de dispersar a camada que dificultava sua visão.


                O ar estava gelado. O vento gélido vergastava seu cabelo no rosto, o frio que perpassava seu corpo vinha diretamente de seus ossos. Suas mãos estavam frias, os lábios e bochechas completamente entorpecidos.


                O céu de um azul-meia-noite que deixava seu rosto e suas mãos com um brilho quase branco. A lua se sobrepunha pintada em uma série de nuances cinza. Ela ainda não tinha visto nada, as ruas estavam desertas. Os prédios que outrora transmitiam a inabalável civilização humana estavam reduzidos em um cemitério de concreto, as placas anunciavam a decadência. Os grãos de pó sibilando em seus pulmões, e fazendo seus olhos lacrimejarem.


                Os olhos dela estavam mais arregalados do que nunca. Ela ponderava até o ato de buscar ar para os pulmões, com receio que seus ruídos a delatassem.


                Esse era o mundo em que nasceu aquele qual planejou fincar suas raízes. Não era um lugar perfeito, mas era o único ao qual chamar de lar. Ela se sentia uma estranha. Alguém que invadia a propriedade dos outros furtivamente, como um ladrão de galinhas.


                A certa altura, ela percebeu o medo, e se perguntava se eles a encontrariam pelo cheiro. Ela começou a rezar, e aí viu que não adiantava. Todos tinham rezado. Cada um para seu próprio Deus e salvador, e não só por si, mas para todos os seus irmãos. As linhas que separavam a todos; religião, política foram totalmente dissipadas. As inimizades, perseguições e preconceitos esquecidos por algo maior. E de que adiantou? Nada. Em vez de rezar, ela agarrou a faca que trazia na cintura do jeans, a lâmina afiada em contato com sua pele.


                Há muito tempo Deus virou as costas para o sofrimento e a destruição que seus filhos celestes infligiram. Um pai cego pelo amor.


                Ela sabia que queria voltar correndo, porém não podia quebrar o juramento.
Algum tempo depois, ouviu um barulho. Vinha de uma antiga construção de alvenaria, vários tijolos maltratados formavam um labirinto de alas mortuárias. Ela ficou sem respirar e calada, e então sua visão periférica registrou um movimento imperceptível nas sombras. O corpo inteiro ficou paralisado um segundo depois.


                Ficou pensando se estaria imaginando alguma coisa, se a força do seu medo havia projetado algo no escuro, algo que só existia na sua imaginação.


                Ela abriu a boca aspirando a maior quantidade ar, como se lhe dessa mais coragem, ou talvez só adiasse o que tinha de fazer. Uma sensação de pavor abjeto veio chegando do fundo de suas entranhas, estremecendo todo seu corpo.


                Ela deu meia-volta indo em direção à mureta que marcava o início do antigo prédio. Se realmente havia algo, ela poderia afugentar a criatura antes que a atacasse.


                "A melhor defesa é o ataque", pensou baixo. Péssima hora para ditados inúteis e táticas de sobrevivência fadadas ao fracasso.


                Com os dedos ela tocou o cabo frio que adornava a lâmina, agarrando-o com firmeza, perguntando-se se teria alguma chance de causar dano à coisa que viesse em seu encontro.


                Atrás da grande coluna de concreto preparou-se para atacar. A adrenalina pura pulsando e dilatando suas veias na sua corrente sanguínea exatamente como um estimulante, as pupilas dilatadas, os músculos dos braços e pernas pronunciados. Os dedos pálidos pela força com que segurava a bainha da faca. De repente um som altíssimo ecoou atrás de si. Era o seu fim?


                Ela agachou-se ali, com o coração aos pulos, suando frio. Tentou fingir que a criatura não a havia visto. Em menos de um minuto viu que não era esse o caso. Ouviu passos.


                Deixou escapar um grito.


                Um choramingo apavorado.


                Os passos pararam. Dava para ouvir a respiração da criatura, áspera como se alguma coisa enorme borbulhasse em seu peito. Dava para sentir seu cheiro, um aroma seco de couro, de um cutelo de metal enferrujado... Dava para ouvir seus pensamentos, sentir o que a criatura queria a ver pendurada e esfolada viva. Ela levaria horas para morrer e cada segundo seria o inferno. Um castigo e um lembrete para aqueles que se atrevessem a ultrapassar os limites novamente.
                Quando a criatura falou, e as primeiras palavras foram pronunciadas. Ela deu um grito tão alto que daria para ouvir nos subterrâneos da Terra.



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