Fanfic: Luxúria
O carro preto cortava a forte chuva da estrada com extrema facilidade. O motorista era muito experiente e conhecia cada curva, transparecendo uma calma tremenda que refletia nos dois jovens do banco de trás. A proximidade de Newcastle só colocava um ponto final numa longa e cansativa viagem.
A garota se chamava Cherry e o garoto Mike, os irmãos gêmeos White. Observavam aquele clima chuvoso pela janela do carro e concluíram que não combinava muito com a serena Baltimore.
Chegaram a pensar que a Europa não era o lugar certo para eles. Cherry, mesmo com seu casaco rosa e de braços cruzados, tentava em vão diminuir o frio que sentia. Sua pele, que já era branca, agora estava mais pálida que nunca. Tinha cabelos castanhos que, mesmo amarrados em um rabo de cavalo, tocavam levemente seu rosto irritando-a.
Olhou para seu irmão, que estava sentado o mais distante possível, muito absorto em seu rock pesado “ WISH I HAD AN ANGEL”. Ele que antes tinha os cabelos idênticos ao dela, agora os exibia negros artificialmente, escorridos e com algumas mechas avermelhadas cobrindo frequentemente um de seus olhos.
Ela lembrava-se de como era seu irmão antes, mais vivo, elegante e alegre. Agora suas roupas, sempre negras, eram pesadas e apáticas, usando sempre algo nos braços. Embora o físico não tenha se alterado, uma vez que sempre fora atlético, diferente da magricela que ela era, não o via mais animado para os esportes.
— Vai continuar sem falar nada? Tentou mexer com ele.
Mike não moveu um músculo e continuou a ouvir sua música.
Derrotada, preferiu voltar a observar a janela e suas gotas de chuva. Foi um certo dourado distante que lhe chamou a atenção. “Luzes!” pensou.
Aquilo mais parecia um vilarejo. Exatamente como Mike imaginava, extremamente diferente de Baltimore. A cidade era repleta de monumentos antigos, becos e ruas estreitas feitas de pedra, porém com muitas casas modernas.
Ambos criaram expectativa de que a longa viagem terminara e que finalmente conheceriam o novo lar ali mesmo, mas o carro continuou e, novamente, estavam em outra estrada escura.
— Onde vamos morar afinal de contas? — falou Mike, rompendo o silêncio com sua voz grossa.
— Ah, senhor, a sua casa fica distante da cidade. Isso é muito comum por aqui! — falou o motorista.
— Ótimo! — resmungou o garoto, aumentando ainda mais o som de sua música.
Dezesseis anos era a idade dos irmãos. Mas quando Mike agia daquela maneira, Cherry tinha certeza de que a idade mental de seu irmão diminuía consideravelmente, fazendo-a parecer mais velha.
Na verdade, ela sempre se considerou a mais velha, desde as atitudes ou mesmo no modo em que ela encarava as coisas. Mike levava tudo muito a sério, sempre buscava um lado sentimental das coisas. Dramatização sempre fora com ele. Apesar de seu físico, sofreu muito nas mãos de Cherry quando eram pequenos. Ela ainda tinha saudades dos velhos tempos.
O fato de deixar sua casa e amigos para morar na Europa foi encarado da pior maneira por Mike. Ele tentou de tudo: ataques de raiva e muita discussão, mas no final não houve alternativa.
“Eu estava indo tão bem”, pensava referindo-se a tudo o que ele conseguiu conquistar nos seus dezesseis anos de vida: popularidade, sucesso no seu esporte favorito, garotas...
Tudo ficou em Baltimore.
Embora a chuva caísse com mais força, Mike podia ver que o carro atravessava uma estrada inteiramente verde. Parecia estranho. Era um enorme campo que se perdia no horizonte, havia poucas árvores e aquele era um visual típico de desastres naturais, furacões, etc. Ele fitou um borrão gigantesco à frente tentando ao máximo definir o que era.
— Chegamos, crianças! — disse o motorista parando em meio ao nada.
Cherry olhou para fora, avistou um portão e um enorme muro, mas nada de casa.
O portão se abriu automaticamente quando o motorista usou uma espécie de controle. E assim o carro entrou.
Os irmãos esperaram ver finalmente a casa, porém se depararam com uma nova estrada. O borrão crescia descomunalmente, mesmo com a chuva incessante era evidente que ali na frente existia algo enorme.
Ao se aproximarem, constataram que não era uma casa e sim um enorme castelo repleto de luzes acesas e com a grande porta da frente aberta.
Cherry arregalou os olhos e se tivesse olhado para seu irmão, teria visto a mesma expressão. Não era um castelo qualquer, daqueles que alguns poderosos constroem aos montes. Era um castelo absurdamente gigantesco!
Mike conseguiu ver pessoas do lado de fora do castelo em duas fileiras. Todos uniformizados à frente da enorme porta do castelo: os homens de terno e as mulheres com roupas de limpeza formal.
O carro finalmente parou ao pé de uma extensa escada de mármore. Um dos homens desceu correndo com um guarda-chuva.
— Vamos, senhorita! Não queremos que fique resfriada. — falou o homem. E, em seguida, outro apareceu e fez o mesmo com Mike.
Cherry não conseguia acreditar, era um castelo de verdade! Tudo o que sabia sobre castelos vira em filmes e desenhos animados.
Seu interior, porém, não era como ela imaginara. Observava que tudo era muito moderno, desde as luzes aos eletrodomésticos, enquanto entravam mais no aconchegante castelo.
Mike escutou sussurros baixinhos vindo dos criados.
“O que houve com os pais?” — alguém perguntava.
“Foram presos”.
Antes que ele pudesse encarar quem disse aquilo, eles já haviam desaparecido, e só o homem do guarda-chuva os conduzia à frente.
Finalmente pararam em um enorme salão, onde Cherry pôde reparar que havia vários quadros com pinturas estranhas.
Alguém os esperava.
A primeira impressão dela foi de estar de cara com uma bruxa de contos de fada. A senhora a sua frente tinha cabelos acinzentados, nariz torto, muito alta e suas sobrancelhas desenhadas, que transpareciam um aspecto de desprezo, aumentavam ainda mais o “charme natural” daquela mulher.
— Olá, vovó! ― disse ela calmamente à mulher, que analisava a garota com os olhos.
— Cherry, eu suponho? — disse a voz suave.
— Sim. — respondeu a garota calmamente.
Mike estava muito desconfortável com aquilo. Suspeitava que a mulher que estava a sua frente logo falaria coisas desagradáveis.
— Eu soube de seus pais há pouquíssimo tempo. Foi lamentável! — falou.
— Eles foram injustiçados e ninguém fez nada! — soltou ele, e sua voz ecoou pelo enorme salão.
A senhora olhou para o garoto com desprezo, como se fosse um inseto esquecido por ela.
— Meu querido, receio que você não deveria ter muitas esperanças. Antes que Mike começasse um debate, ela continuou com uma voz firme.
— Vocês devem estar muito cansados. A escola de vocês não admite falta nem em seu primeiro dia de aula. Christine, a criada, mostrará seus quartos e amanhã explicará as regras. Boa noite!
— Desculpe...
— Sim? — perguntou a senhora encarando Cherry com um sorriso no rosto.
— Seu nome...
― Ana Belle.― falou se despedindo e desaparecendo em seguida pelas portas do castelo.
Christine era uma mulherzinha minúscula, porém parecia ser muito mais acolhedora do que a avó dos dois.
― Senhor, este aqui é seu quarto! Ela abriu uma porta revelando um enorme espaço. Mike, por um segundo ou dois, olhou com espanto o lugar, mas rapidamente entrou batendo a porta.
— Ele não fala muito, não é? — disse a mulher. Cherry assentiu.
Finalmente chegaram ao quarto seguinte, que parecia um tanto maior. Ela se despediu da criada e notou que suas coisas já estavam todas muito bem arrumadas. Sua cama era enorme e a cortina rubi dançava na noite.
A janela terminava no chão. Cherry sentou- se no degrau de mármore e ficou admirando a noite chuvosa. Queria estar com seu irmão agora e não tão distante, mas mesmo perto dele ainda se sentia distante. Era sua única família.
Em seu quarto, Mike já estava deitado na cama. Reto e sem vida, ele olhava para o teto. As lágrimas já haviam secado, ele sentia vontade de ir ao quarto de sua irmã e abraçá-la, mas não conseguia. Era covarde e estava destruído, pensava.
Olhou para o lado e observou um armário em que todas suas revistas e livros estavam já arrumados. Conseguiu ver dali o livro que sua irmã lhe dera de aniversário, “A cabana”. Ele havia lhe dado o último livro da serie “Harry Potter”, de que ela tanto gostava. Seus olhos finalmente ficaram exaustos e em segundos já estava em um sono pesado.
Cherry não tinha certeza absoluta se amanhecera. O céu estava escuro ainda, mas a criada Christine chamava pelo seu nome com carinho.
— Senhorita, já está na hora de levantar!
Ainda estava muito sonolenta e sentiu uma leve vontade de dar umas boas “travesseiradas” na pequena mulher a sua frente.
Levantou-se e tomou um banho muito rápido, demorando apenas para secar seu cabelo, até ficar decente. “Primeiro dia de aula, vou ser comida viva”.
De cabelo seco, tinha de pensar em que roupa usaria. Alguém bateu à porta.
— Senhorita, seu uniforme! — disse a criada entregando um conjunto de uniforme composto de uma blusinha formal, jaqueta e uma saia xadrez.
— Uniforme? — perguntou Cherry, horrorizada com o tamanho da saia. Pequena demais.
— Sim. O Sant’ Marrie é muito exigente na uniformização dos alunos!
“É um colégio católico. Não acredito!”.
Vestiu-se rapidamente e procurou algo em sua mala que pudesse colocar em seu cabelo, pois não queria ficar igual a um robô uniformizado. Finalmente encontrou um laço vermelho que sua mãe lhe dera.
Um tempo depois, Christine voltou a bater em sua porta para informar que o café estava à mesa. Desceu as escadarias e encontrou Mike.
Seu cabelo meio bagunçado e as mangas de sua roupa estavam claramente puxadas, exibindo seus braços por completo.
— Assim você vai arrasar os corações das menininhas!
― Cala a boca! ― disse ele, finalmente rindo.
Cherry desejou ver mais aquele sorriso, mas Mike novamente se fechou. Deixando-a angustiada por vê-lo assim.
Desfez-se daquele desejo e olhou para a mesa que estava incrivelmente arrumada, repleta de frutas e bolos, juntamente com sucos de diversos sabores.
Mike não fez nenhuma cerimônia e abocanhou um pouco de tudo, mas Cherry ficou intrigada com algo.
— Christine!
— Sim, senhora? — respondeu imediatamente a criada preocupada.
— Onde está a vovó?
— Ah, sua avó já saiu...Ela me pediu para orientar vocês sobre os horários.
A porta dos fundos se abriu e uma garota morena entrou na sala, aparentava ter uns quinze anos, tinha uma linda pele caramelada e cabelos negros maravilhosos ,usava um laço parecido com o de Cherry na cabeça e também estava uniformizada.
— Ah sim, essa é minha filha, Lara! — disse Christine animada, chamando a garota.
— Ela também estuda na mesma escola de vocês. Se precisarem de alguma coisa, ela poderá ajudar.
Mike olhou brevemente para garota e voltou para seu bolo, a irmã deu um sorriso amistoso, a criada olhou para o relógio e disse apressada:
— O motorista já deve estar esperando lá fora. Por favor, se apressem!
Lara saiu da sala educadamente e se dirigiu para fora do castelo, Cherry engoliu o café e se apressou em segui-la.
A razão de terem acordado tão cedo foi imediatamente esclarecida depois de um tempo que os irmãos gastaram dentro do carro. O sol foi mostrando o seu brilho aos poucos, e o carro ainda estava na deserta estrada. Agora, com luz, Mike pôde ver como eram os arredores de onde iriam morar. Basicamente tudo se resumia a um imenso campo verde que se perdia no horizonte, havia lá algumas árvores secas e vacas pastando.
“Meu Deus! Estou no fim do mundo”. Pensou ele.
Exatamente duas horas depois, o carro chegou à civilização. A cidade, que antes tinha se revelado um vilarejo, agora mostrava suas lojas de luxo entre outras coisas modernas.
“Cidade pequena de nariz empinado”. Pensou Cherry, referindo-se à qualidade das lojas, muitas de marcas famosas. Quando o motorista diminuiu a velocidade, os irmãos se inclinaram para janela tentando focalizar a escola. Lara, que não abrira a boca durante toda a “viagem”, finalmente falou:
— Vocês vão gostar daqui. Sant Marrie é uma escola muito boa!
— Me preocupo é com os alunos — disse Cherry, realmente se esforçando para ver a escola e algum aluno.
— Não precisa se preocupar, nossa escola seleciona a dedo seus alunos. Você vai entender quando chegar.
— Espero que esteja certa. Não quero confusão com nenhuma garota logo no primeiro dia.
— Vejo muito disso nos seus filmes adolescentes. — disse a filha da criada.
— Na vida real é pior ainda. — falou Cherry.
Mike revirou os olhos, talvez fosse uma pitada de ciúmes ou inveja pela irmã já estar fazendo sua primeira amizade, mas simplesmente não acreditava nessa de “nossa escola escolhe a dedo seus alunos”.
Quando o carro parou, os dois concluíram que a enorme catedral que viram a tempos na verdade era a escola.
“Tenho a ligeira impressão de que vou sair daqui freira.” Pensou ela. Mas, olhando para sua pequena saia, concluiu seu pensamento: “Uma freira bem safada”.
Quando deixaram o carro, Lara rapidamente se juntou a um bocado de garotas, deixando os dois irmãos sozinhos. Não estavam na mesma sala, o que era comum pois a maioria das escolas tem a tradição de separar irmãos gêmeos. Mike deu alguns passos para frente e a princípio não achou nada de anormal na escola.
Ninguém deu a mínima para os dois, eram alunos extremamente bem arrumados e talvez o anormal foi que não eram iguais aos alunos que havia em sua velha escola. Não estavam ali os alunos que riam exageradamente alto, na verdade todos conversavam tranquilamente em seus respectivos grupinhos.
Ninguém chegava de bicicleta ou skate. Todos chegavam de carros importados. Chegaram, assim, à conclusão do nível de pessoal que estudava ali: ricaços.
Assim que entraram na escola, dois homens bem arrumados e com crachás em suas roupas vieram ao encontro de Cherry e Mike.
— Cherry, eu suponho? — falou o careca. Ela concordou tentando parecer educada o bastante para responder a uma pessoa tão culta. — Venha comigo, por favor. Vou lhe mostrar a sua sala.
Ela reparou que ali se separaria de seu irmão Mike. Não seria uma separação eterna e sim questões de horas, mas algo metafórico em seu coração, algo inexplicável, dizia que aquilo significaria uma separação verdadeira, algo que deixaria os dois mais distantes do que já estavam.
— Boa sorte, Mike! ― disse Cherry olhando para o irmão enquanto se distanciava, esperando uma resposta dele.
— Pra você também. — respondeu com um sorriso lateral. Uma energia positiva invadiu o seu ser “talvez não seja tão ruim...” pensou.
O homem que ficara com o garoto era bem estranho, parecia uma espécie de mordomo escolar.
— Vamos então, senhor White! — disse chamando Mike pelo outro nome.
Ele respirou fundo.
— Vamos!
Cherry já estava cansada de tantas escadas e corredores, e seu nervosismo quanto a isso era evidente. Tinha uma certa apreensão de como seria a recepção da sala, provavelmente cheia e já em aula, quando ela entrasse pela porta. O homem careca finalmente parou.
— Sua grade de horários — disse, entregando uma pequena tabela.
— Nós, do Sant Marrie, lhe desejamos um ótimo ano de estudos.
Cherry encarou a porta a sua frente por um segundo e entrou.
Foi inesperado, mas a turma sequer olhou para garota que entrou na sala. Todos estavam muito distraídos cochichando alegres. O professor estava sentado a sua mesa, digitava em seu Notebook enquanto a turma conversava.
A sala estava bastante cheia. Os olhos de Cherry percorreram rapidamente a sala à procura de uma cadeira. Havia uma sobrando logo na frente da sala, ao lado de uma menina loira de rabo de cavalo.
― Olá! Sou Francine Caramelize! — disse a loira com sotaque francês, antes mesmo que Cherry pudesse respirar.
— Cherry White!— respondeu, tentando ao máximo causar uma boa impressão.
— Adorei seu laço!— disse a garota simpática, e em seguida voltou a conversar com outras garotas que estavam ao seu lado. Era tudo tão sincronizado de um jeito engraçado, como se todos estivessem se conhecendo naquele exato momento.
Geralmente nas escolas, ainda mais no segundo ano, a maioria dos alunos já se conhecem há décadas e quando um novato entra no ambiente, ele rapidamente sente que seu lugar não é ali. É claro que depois descobre que precisa se infiltrar para sobreviver.
Mas naquela sala não era assim. Ninguém parecia se conhecer há tanto tempo, era uma grande sala de alunos novatos.
O professor fechou seu computador e começou a falar sem parar, deixando Cherry sem a menor ideia de qual matéria se tratava. Se deu conta de que era história e se distraiu por um segundo olhando para a sala. Eram alunos muito bem arrumados.
Quase todos tinham seu computador sobre a mesa, porém sua atenção se ateve a um jovem no final da classe. Ele era alto, forte e conversava descontraído com seu amigo à frente. Tinha o cabelo perfeitamente ondulado e castanho dourado .“Nossa e que sorriso!” pensou ela, se referindo a um sorriso quase aberto, extremamente angelical.
O celular vibrou em seu bolso e ela acordou para vida, dando conta de que tinha um celular.
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Mensagem:
O NOME DELE É DAVID! GOSTOU?
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Seu coração quase saltou pela boca. Escutou um risinho vindo de trás. Francine estava com um celular na mão.
“Bluetooth”. — sussurrou a garota em risos.
“Maldita tecnologia!”, pensou Cherry.
Passaram-se três aulas exaustivas e puxadas para um primeiro dia de aula. Cherry estava desesperada para ver como seu irmão se saíra até agora.
No intervalo todos os alunos foram para parte externa da escola, que ficava na parte de trás.
— Cherry, aqui! — gritou Lara. Ela estava com um bocado de amigas sentadas perto de uma árvore e reparou que o espaço externo da escola parecia um enorme jardim.
— Como foram as aulas? — perguntou ela entre risos.
― Um tédio. Não entendi um terço do que os professores falaram.
― Essa escola é muito puxada. Eu me mato de estudar para as provas. Se não fosse pela sua avó, eu nunca estaria aqui!
— Como assim? ― perguntou Cherry.
Lara falou baixinho.
— Ela é que paga meus estudos. ― falou a garota meio envergonhada. Cherry agora tinha uma imagem um pouco diferente da avó.
Depois do silêncio que se fez, as duas observaram os alunos passarem conversando, todos descontraídos, mas ainda com a atitude calma e estranha que não era nada comum nos colégios normais.
— Eles são tão...
― Calmos? Comportados? Irritantemente educados?— perguntou Lara sarcástica.
― É... não consigo entender.
— Você só precisa entender que são todos alunos de famílias ricas, a maioria tem etiqueta.
― Eu tive a impressão de que muita gente estava se conhecendo hoje.
— Isso é extremamente comum por aqui. Os alunos de Sant’ Marrie são filhos de pais que viajam pelo mundo inteiro a negócios. Alunos se matriculam e saem com muita frequência, são poucos que assim como eu estão aqui desde pequena.
Cherry havia encontrado o motivo para o total desinteresse dos alunos quando a viram entrar na sala. É claro que ela ignorou o fato de alguns garotos a olharem e fazerem um barulho estranho.
Mas antes que abrisse a boca para fazer mais perguntas a Lara, ela viu...
Estavam em sete e andavam juntos, jovens extremamente bem arrumados. Os alunos da escola podem não ter se importado quando Cherry aterrissou na escola, mas esses jovens, sem sombra de dúvida, chamaram a atenção de todos.
Eles pararam no meio do jardim e olharam para os lados. Ela achou aquilo muito engraçado: “São palhaços ou algo do tipo?”. Quando avistaram alguns conhecidos, separam-se.
Ela não pôde deixar de notar em um dos jovens. Era um pouco alto e tinha um cabelo negro e comprido, de forma que uma parte ficava atrás da orelha e a outra ficava livre para, às vezes, cobrir seu rosto. Tinha uma cor levemente bronzeada, e ela concluiu que deveria ser claro igual a ela, mas os benefícios do sol fizeram melhor a ele. “Bronzeamento artificial?” Olhos negros que cintilavam de longe e seu sorriso era cheio de dentes. Algo provocante demais e muito desconfortável. Se fosse possível, interpretaria aquele sorriso como algo que representasse desejo. Nunca vira na vida alguém tão atraente, mas que lhe causasse também uma estranha repulsa.
Autor(a): Ju Barone
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Horas antes, Mike precisou subir várias escadas até chegar à sua sala. O homem velho lhe entregou um papel com a grade de horários e abriu a porta para ele entrar. Foi a pior experiência que ele já teve. Assim que ele pisou dentro da sala, todos pararam de conversar para olhar aquele excêntrico garoto de cabelos esquis ...
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