Fanfics Brasil - 13 - Falando com um cachorro The Lightning Thief

Fanfic: The Lightning Thief | Tema: Glee


Capítulo: 13 - Falando com um cachorro

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Estávamos nos sentindo superinfelizes naquela noite.
Acampamos no bosque, a cem metros da estrada principal, em uma clareira pantanosa que as crianças do lugar obviamente vinham usando para festas. O chão estava repleto de latas de refrigerantes amassadas e embalagens de fast-food.
Tínhamos pego um pouco de comida e cobertores da tia Eme, mas não ousamos acender uma fogueira para secar nossas roupas molhadas. As Fúrias e a Medusa já haviam proporcionado animação suficiente para um dia. Não queríamos atrair mais nada.
Decidimos dormir em turnos. Prontifiquei-me a ser o primeiro a ficar de guarda.

Rachel enroscou-se sobre os cobertores e já estava roncando quando sua cabeça tocou o chão. Puck subiu com seus tênis voadores para o galho mais baixo de uma arvore, encostou-se no tronco e ficou olhando para o céu da noite.

- Vá em frente e durma - disse a ele. - Acordo você se houver problemas.

Ele assentiu, mas ainda assim não fechou os olhos.



- Isso me deixa triste, Quinn.



- O quê? Ter se juntado a essa missão estúpida?



- Não. Isso me deixa triste. - Ele apontou para todo aquele lixo no chão. - E o céu. Não dá nem para ver as estrelas. Eles poluíram o céu. Esta é uma época terrível para ser um sátiro.



- Ah, sim. Acho que você seria um ambientalista.



Ele me lançou um olhar penetrante.



- Só um ser humano não seria. Sua espécie está entulhando o mundo tão depressa que... Ora, não importa. É inútil fazer sermões para um ser humano. Do jeito que as coisas vão, nunca encontrarei Pan.



- Que Pan?



- Pan! - bradou, indignado. - P-A-N. O grande deus Pan! Acha que quero uma licença de buscador para quê?



Uma brisa estranha faz farfalhar a clareira, encobrindo por um momento o fedor de lixo e putrefação. Trazia o cheiro de frutas e flores selvagens, e de água limpa de chuva, coisas que devem ter existido algum dia naqueles bosques. De repente, senti saudades de algo que jamais conhecera.



- Fale-me sobre a busca - disse eu.



Puck olhou para mim com receio, como se temesse que eu estivesse apenas me divertindo às custas dele.

- O Deus dos Lugares Selvagens desapareceu há dois mil anos - contou. - Um marinheiro vindo da costa de Éfeso ouviu uma voz misteriosa gritando na praia: ―Conte a eles que o grande deus Pan morreu! Quando os seres humanos ouviram a notícia, acreditaram. Estão pilhando o reino de Pan desde então. Mas, para os sátiros, Pan era nosso senhor e mestre. Era nosso protetor, e também dos lugares selvagens na Terra. Não acreditamos que tenha morrido. A cada geração, os sátiros mais valentes empenham a vida para encontrar Pan. Eles esquadrinham o planeta, explorando todos os locais mais selvagens à espera de encontrar o lugar onde ele se esconder e despertá-lo de seu sono.



- E você quer ser um buscador.



- É o sonho da minha vida - disse ele.- Meu pai era um buscador. E meu tio Ferdinando... a estátua que você viu lá...



- Ah, certo, desculpe.



Puck sacudiu a cabeça.



- Tio Ferdinando sabia os riscos. Meu pai também. Mas eu terei sucesso. Serei o primeiro buscador a retornar com vida.



- Espere... o primeiro?



Puck tirou suas flautas de bambu do bolso.



- Nenhum buscador jamais voltou. Depois que partem, eles desaparecem. Nunca mais são vistos vivos de novo.



- Nem uma vez em dois mil anos?



- Não.



- E seu pai? Você não tem idéia do que aconteceu com ele?



- Nenhuma.



- Mas ainda assim quer ir - falei, admirada. - Quer dizer, você realmente acha que será você quem vai encontrar Pan?



- Preciso acreditar nisso, Quinn. Todo buscador acredita. É a única coisa que nos impede de ficar desesperados quando olharmos para o que os seres humanos fizeram com o mundo. Tenho de acreditar que Pan ainda pode estar despertado.



Olhei para o nevoeiro alaranjado do céu e tentei entender como Puck podia perseguir um sonho que parecia tão impossível.



- Como vamos entrar no Mundo Inferior? - perguntei. - Quer dizer, que chances temos contra um deus?



- Eu não sei - admitiu ele. - Mas antes, na casa da Medusa, quando você estava vasculhando o escritório dela, Rachel me disse...



- Ah, esqueci. Rachel sempre tem um plano todo esquematizado.



- Não seja tão dura com ela, Quinn. Rachel teve uma vida difícil, mas é boa pessoa. Afinal, ela me perdoou... - ele se interrompeu.



- O que quer dizer? - perguntei. - Perdoou o quê?



De repente, Puck pareceu muito interessado em tirar notas das suas flautas.



- Espere um minuto - disse eu. - Seu primeiro trabalho de guardião foi cinco anos atrás. Rachel está no acampamento há cinco anos. Ela não era... quer dizer, a sua primeira tarefa que deu errado...



- Não posso falar sobre isso - disse Puck, e o tremor em seu lábio inferior me sugeriu que ele começaria a chorar se eu o pressionasse. - Mas como eu estava dizendo, lá na casa da Medusa Rachel e eu achamos em que há algo estranho com esta missão. Algo que não é o que parece.



- Ah, novidades. Estou sendo acusado de roubar um relâmpago que foi Hades quem pegou.



- Não me refiro a isso. As Fú... as Benevolentes pareciam estar se segurando. Como a coach Sylvesyer na Academia Yancy... por que ela esperou tanto tempo para tentar matá-la? Depois, no ônibus, elas não foram tão agressivas quanto poderiam.



- Elas me pareceram bastante agressivas.



Puck sacudiu a cabeça.



- Estavam guinchando para nós: ―Onde está? Onde?



- Perguntavam sobre mim - falei.



- Talvez... mas tanto eu como Rachel tivemos a sensação de que não estavam perguntando sobre uma pessoa. Elas perguntaram apenas ―Onde está?, e não onde ele ou ela está. Pareciam falar de um objeto.



- Isso não faz sentido.



- Eu sei. Mas, se tivermos entendido mal alguma coisa a respeito desta missão, e só temos nove dias para encontrar o raio-mestre... - Ele olhou para mim como se estivesse esperando por respostas, mas eu não tinha nenhuma.



Pensei no que a Medusa dissera: eu estava sendo usado pelos deuses. O que me aguardava era pior que a petrificação.



- Não fui sincera com você - contei a Puck. - Eu não me importo com o raio-mestre. Concordei em ir para o Mundo Inferior para poder trazer de volta a minha mãe.



Puck soprou uma nota suave nas suas flautas.



- Eu sei, Quinn. Mas você tem certeza de que esse é o único motivo?



- Não estou fazendo isso para ajudar meu pai. Ele não se importa comigo eu não me importo com ele.



- Olhe, Quinn. Não sou tão esperto quanto Rachel. Mas sou muito bom em ler emoções. Você está contente porque seu pai está vivo. Sente-se bem pelo fato de ele a ter assumido como filha, e parte de você quer que ele fique orgulhoso. Foi por isso que você despachou a cabeça da Medusa para o Olimpo. Você queria que ele visse o que você fez.



- É mesmo? Bem, talvez as emoções dos sátiros funcionem de um jeito diferente das emoções humanas. Porque você está errado. Não me importo com o que ele pensa. Além disso, não fiz nada demais para me vangloriar. Mas saímos de Nova York e já estamos aqui encalhados sem dinheiro e sem ter como ir para o oeste.


 
Puck olhou para o céu noturno, como se estivesse pensando no problema.



- Que tal eu ficar com o primeiro turno, heim? Vá dormir um pouco.


 
Eu quis protestar, mas ele começou a tocar Mozart, suava e doce, e eu me virei para o outro lado, os olhos ardendo. Depois de alguns compassos do Concerto para Piano n.12 eu estava dormindo.

Em meus sonhos, eu estava em uma caverna escura à beira de um enorme abismo. Criaturas cinzentas de névoa se revolviam à minha volta, sussurrando tiras de fumaça que eu, de algum modo, sabia que eram os espíritos dos mortos.



Eles puxavam as minhas roupas, tentando me empurrar de volta, mas eu me sentia compelida a andar para frente, para a beira.



Olhar para baixo me dava vertigens.



O abismo se abria tão voraz e tão largo, e era tão completamente negro, que eu sabia que não devia ter fundo. Contudo tinha a sensação de que algo tentava emergir dali, algo enorme e maligno.



A pequena heroina
, ressoou uma voz em deleite, vinda lá de baixo, das trevas. Fraca demais, jovem demais, mas talvez você sirva.



A voz parecia ancestral - fria e pesada. Envolveu-me como lençóis de chumbo.



Eles a enganaram, menina, disse a voz. Faça comigo uma troca. Eu lhe darei o que quer.



Uma imagem tremeluzente pairou acima do vazio: minha mãe, congelada no momento em que se dissolveu em uma chuva de ouro. Seu rosto estava distorcido de dor, como se o Minotauro ainda apertasse seu pescoço. Os olhos me encaravam, implorando: Vá!



Tentei gritar, mas minha voz não saiu.



De dentro do abismo, um riso frio ecoou.



Uma força invisível me puxou para frente. Ia me arrastar para o precipício se eu não agüentasse firme.



Ajude-me a subir, menina.
A voz ficou mais ávida. Traga-me o raio. Desfira um golpe contra os deuses traiçoeiros!



Os espíritos dos mortos sussurravam à minha volta: Não! Acorde!



A imagem da minha mãe começou a sumir. A coisa no abismo apertou sua garra invisível em volta de mim.



Percebi que ela não queria me puxar para dentro. Estava me usando para erguer a si mesma para fora.



Bom
, a coisa murmurou. Bom.



Acorde!
sussurraram os mortos. Acorde!

---



Alguém estava me sacudindo.



Meus olhos se abriram, e era dia.



- Ah! - disse Rachel. - A zumbi volta à vida.



Eu tremia por causa do sonho. Ainda podia sentir o aperto do monstro do abismo em volta do meu peito.



- Quanto tempo estive dormindo?



- O suficiente para eu preparar o café-da-manhã - Rachel me jogou um saco de flocos de milho sabor nacho, da lanchonete da tia Eme. - E para Puck sair e explorar. Olhe, ele encontrou um amigo.



Tive dificuldades em focalizar o olhar.

Puck estava sentado de pernas cruzadas em um cobertor com alguma coisa felpuda no colo, um bicho de pelúcia sujo e de um cor-de-rosa artificial.

Não. Não era um animal de pelúcia. Era um poodle cor-de-rosa.



O poodle latiu para mim, desconfiado. Puck disse:



- Não, ele não é.

Eu pisquei.

- Você está... falando com essa coisa?

O poodle rosnou.



- Esta coisa - avisou Puck - é nossa passagem para o oeste. Seja simpática com ele.

- Você pode falar com animais?



Puck ignorou a pergunta.



- Quinn, apresento-lhe Gladiola. Gladiola, Quinn.

Ok, já era hilário ver o Puck segurando um poodle rosa e mais hilário ainda era ver Puck conversando com o animal.

Olhei para Rachel, calculando que ela fosse rir da peça que eles estavam me pregando, mas ela pareceu extremamente séria.



- Não vou dizer olá para um poodle cor-de-rosa - falei. - Esqueça.

- Quinn - disse Rachel -, eu disse olá para o poodle. Diga olá para o poodle.

O poodle rosnou.



Eu disse olá para o poodle.



Puck explicou que havia encontrado Gladiola no bosque e que começaram a conversar. O poodle tinha fugido de uma família endinheirada do lugar, que oferecera duzentos dólares de recompensa para quem o devolvesse. Gladiola na verdade não queriaqueria voltar para a família, mas estava disposto a fazê-lo, se isso fosse ajudar Puckerman.



- Como Gladiola sabe da recompensa? - perguntei.



- Ele leu os avisos - disse Puck. - Óbvio...



- É claro - retruquei. - Que bobagem a minha.



- Então nós entregamos Gladiola - explicou Rachel, em seu melhor tom de estrategista -, recebemos o dinheiro e compramos passagens para Los Angeles. Simples.

Pensei no sonho - as vozes sussurrantes dos mortos, a coisa no abismo e o rosto de minha mãe, tremeluzindo enquanto se dissolvia em dourado. Tudo aquilo podia estar esperando por mim no oeste.

- Não em outro ônibus - disse, cautelosa.

- Não - concordou Rachel.



Ela apontou colina abaixo, para os trilhos de trem que eu não conseguira ver na noite anterior, no escuro.


 
- Há uma estação da Amtrack a um quilômetro naquela direção. De acordo com Gladiola, o trem para o oeste parte ao meio-dia.


 



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Autor(a): brubs

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