Fanfics Brasil - 7 - Encontro com Santana Lopez The Lightning Thief

Fanfic: The Lightning Thief | Tema: Glee


Capítulo: 7 - Encontro com Santana Lopez

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Depois que assimilei o fato de meu professor de latim ser um cavalo, fizemos um passeio agradável, embora tivesse o cuidado de não andar atrás dele. Havia participado algumas vezes das rondas com pazinhas para recolher cocô de cachorro na Parada do Dia de Ação de Graças da loja Macy’s e, lamento dizer, não confiava na parte de trás de Quíron tanto quanto confiava na da frente.

Passamos pela quadra de vôlei. Diversos campistas se cutucavam. Um deles apontou para o chifre de minotauro que eu carregava. Um outro disse:

- É ela.

Olhei para a casa de fazenda trás de mim. Era muito maior do que eu pensara - quatro andares, azul-céu com acabamento em branco, como um hotel de veraneio de primeira classe à beira-mar. Eu estava conferindo o cata-vento de latão em forma de águia no topo quando algo me chamou a atenção, uma sombra na janela mais alta do sótão.

Alguma coisa havia mexido na cortina, só por um segundo, e tive a nítida impressão de que estava sendo observada.

- O que há lá em cima? - perguntei a Quíron.

Ele olhou para onde eu estava apontando e seu sorriso desapareceu: - Apenas o sótão.

- Mora alguém lá?

- Não - disse em tom definitivo. - Nem uma única coisa viva.

Caminhamos pelos campos de morangos, onde campistas colhiam alqueires de morangos enquanto um sátiro tocava uma melodia numa flauta de bambu.

Quíron me contou que o acampamento cultivava uma bela safra para exportar para os restaurantes de Nova York e para o Monte Olimpo. - Paga as nossas despesas - explicou. - E os morangos não exigem esforço quase nenhum.

Observei o sátiro tocando a flauta. A música fazia com que filas de insetos saíssem dos canteiros de morangos em todas as direções, como se fugissem de um incêndio. Imaginei se Puck podia fazer esse tipo mágica com música. Imaginei se ainda estava dentro da casa, levando broncas do sr. D.

-Puck não vai ter muitos problemas, vai? - perguntei a Quíron.

- Quer dizer... ele foi um bom protetor. Sem dúvida.

- Puck sonha alto , Quinn. Talvez mais alto do que seria razoável. Para atingir seu objetivo, ele precisa primeiro demonstrar uma grande coragem tendo sucesso como guardião, encontrando um novo campista e trazendo-o em segurança à Colina Meio-Sangue.

- Mas ele fez isso!

- Eu poderia concordar com você - disse Quíron. - Mas não cabe a mim julgar. Dioniso e o Conselho dos Anciãos de Casco Fendido devem decidir. Receio que possam não ver essa missão como um sucesso. Afinal, Puck perdeu você em Nova York, há o desventurado... ahn... destino da sua mãe. E o fato de que Puck estava inconsciente quando você o arrastou até os limites da propriedade. O conselho pode questionar se isso demonstra alguma coragem da parte dele. Eu quis protestar.

Nada do que acontecera havia sido por culpa do Puck. Também me sentia muito, muito culpada. Se não tivesse escapado de Puck na estação de ônibus, ele poderia não ter problemas.

- Ele vai ter uma segunda chance, não vai? Quíron retraiu-se.

- Infelizmente aquela era a segunda chance de Puck, Quinn. Além disso, o conselho não estava muito ansioso em lhe dar outra oportunidade depois do que aconteceu na primeira vez, cinco anos atrás.

- O Olimpo sabe, eu o aconselhei a esperar mais tempo antes de tentar de novo. Ele ainda é muito pequeno para a sua idade.

- Que idade ele tem?

- Ah, vinte e oito.

- O quê! E ainda está no primeiro ano?

- Os sátiros amadurecem no dobro do tempo dos seres humanos, Quinn. Puck teve idade equivalente à de um aluno de escola secundária nos últimos seis anos. - Que coisa horrível. - De fato - concordou Quíron. - De qualquer modo, Puck está atrasado, mesmo pelos padrões de sátiro, e ainda não avançou muito em magia dos bosques. O pobre estava ansioso por perseguir o seu sonho. Talvez agora encontre alguma outra carreira...

- Isso não é justo! - disse eu. - O que aconteceu na primeira vez? Foi mesmo assim tão ruim? Quíron desviou os olhos depressa.

- Vamos andando? - Quíron disse mudando de assunto.

- Quíron - disse eu. - Se os deuses, o Olimpo e tudo isso são reais...

- Sim, garota?

- Isso significa que o Mundo Inferior também é real? A expressão de Quíron se fechou.

- Sim, garota. - Ele fez uma pausa, como se estivesse escolhendo as palavras cuidadosamente. - Há um
lugar para onde vão os espíritos após a morte. Mas por ora... até que saibamos mais...eu recomendaria que tirasse isso de sua cabeça.

- O que quer dizer com "até que saibamos mais"? - Perguntei

-Venha, Quinn. Vamos ver os bosques.

Quando nos aproximamos, me dei conta de como a floresta era enorme. Tomava pelo menos um quarto do vale, com árvores tão altas e largas que a impressão era de que ninguém entrara lá desde os nativos americanos.

Quíron disse:

- Os bosques têm provisões, se você quiser tentar a sorte,

- Provisões de quê? – perguntei. - Armado com o quê?

- Você verá. O jogo Capture a Bandeira é na sexta-feira à noite. Você tem a sua própria espada e escudo?

- Minha própria...?

- Não - disse Quíron. - Não creio que tenha. Acho que o tamanho cinco vai servir. Mais tarde vou visitar o arsenal.

Quis perguntar que tipo de acampamento de verão tem um arsenal, mas havia muito mais a pensar, portanto o passeio continuou. Vimos a linha de tiro com arco-e-flecha, o lago de canoagem, os estábulos (dos quais Quíron parecia não gostar muito), a linha de lançamento de dardo, o anfiteatro para cantoria e a arena onde Quíron disse que eles realizavam lutas de espadas e lanças.

- Lutas de espadas e lanças? - perguntei.

- Desafios entre chalés e coisas assim - explicou ele. - Não são letais. Normalmente. Ah, sim, e há também o refeitório.-  Quíron apontou para um pavilhão ao ar livre emoldurado por colunas gregas brancas sobre uma colina que dava para o mar. Havia uma dúzia de mesas de piquenique de pedra. Sem telhado. Sem paredes.

- O que vocês fazem quando chove? - perguntei.

Quíron me olhou como se eu tivesse ficado meio maluco.

- Ainda assim temos de comer, não temos?

Resolvi deixar para lá.

Finalmente, ele me mostrou os chalés. Havia doze deles aninhados no bosque junto ao lago. Estavam dispostos em U, dois na frente e cinco enfileirados de cada lado. E eram, sem dúvida, o mais estranho conjunto de construções que já vi.

A não ser pelo fato de cada um ter um grande número de latão acima da porta (ímpares do lado esquerdo, pares do direito), eram totalmente diferentes um do outro. O número 9 tinha chaminés como uma minúscula fábrica. O número 4 tinha tomateiros nas paredes e uma cobertura feita de grama de verdade. O 7 parecia feito de um ouro sólido que reluzia tanto à luz do sol que era quase impossível de se olhar. Todos davam para uma área comum mais ou menos do tamanho de um campo de futebol, pontilhada de estátuas gregas, fontes, canteiros de flores e um par de cestos de basquete (o que era mais a minha praia).

No centro do campo havia uma enorme área de pedras com uma fogueira. Muito embora fosse uma tarde quente, o fogo ardia de modo lento. Uma menina com cerca de nove anos estava cuidando das chamas, cutucando os carvões com uma vara.

O par de chalés à cabeceira do campo, números 1 e 2, pareciam mausoléus casadinhos, grandes caixas de mármore branco com colunas pesadas na frente. O chalé 1 era o maior e mais magnífico dos doze.

As portas de bronze polido cintilavam como um holograma, de tal modo que, vistas de ângulos diferentes, raios pareciam atravessá-las. O chalé 2 era de certo modo mais gracioso, com colunas mais finas encimadas com romãs e flores. As paredes eram entalhadas com imagens de pavões.

- Zeus e Hera? - adivinhei.

- Correto - disse Quíron.

- Os chalés parecem vazios.

- Diversos chalés estão vazios. è verdade. Ninguém jamais fica no 1 ou 2.

Certo. Então cada chalé tinha um deus diferente como mascote e chalés para os doze olimpianos. Mas por que alguns estariam vazios?

Parei na frente do primeiro chalé da esquerda, o número 3.

Não era alto e imponente como o chalé 1, mas comprido, baixo e sólido. As paredes externas eram de pedras cinzentas rústicas salpicadas de pedaços de conchas e coral, como se as pedras tivessem sido cortadas diretamente do fundo do oceano.

Espiei para dentro da porta aberta e Quíron disse:

- Ih, eu não faria isso!

Antes que ele pudesse me puxar de volta, senti o odor salgado do interior, como o vento na praia de Montauk. As paredes internas brilhavam como madrepérola. Havia seis beliches vazios com lençóis de seda virados para baixo. Mas não havia indício de que alguém já tivesse dormido lá. O lugar parecia tão triste e solitário que fiquei contente quando Quíron pôs a mão no meu ombro.

- Vamos, Quinn.

A maioria dos outros chalés estava abarrotada de campistas.
O numero 5 era vermelho vivo - uma pintura muito malfeita, como se a cor tivesse sido jogada a esmo com baldes e mãos. O telhado era forrado de arame farpado. Uma cabeça de javali empalhada estava pendurada acima da porta e seus olhos pareciam me seguir. Dentro pude ver um bando de meninos e meninas mal-encarados, disputando queda-de-braço e discutindo enquanto o rock tocava às alturas. A mais barulhenta era uma menina de talvez 15 ou 16 anos. Usava uma camiseta do ACAMAPMENTO MEIO-SANGUE embaixo de um casaco camuflado. Ela mirou em mim e lançou um maldoso olhar de desprezo. Fez lembrar Lauren Zizes, só que a menina do acampamento era muito maior e de aparência mais cruel, seu cabelo era comprido, esticado e castanho.

Continuei andando, tentando ficar longe dos cascos de Quíron.

- Ainda não vimos os centauros – observei.

- Não - disse Quíron chateado. - Infelizmente, meus parentes são uma gente selvagem e bárbara. Você pode encontrá-los no mato ou em eventos desportivos importantes. Mas não verá nenhum aqui.

- Você disse que seu nome é Quíron. Você é mesmo...

Ele sorriu para mim.

- O Quíron das histórias? Instrutor de Hércules e tudo aquilo? Sim, Quinn, eu sou.

- Mas você não devia estar morto?

Quíron fez uma pausa, como se a pergunta o intrigasse.

- Honestamente, não sei nada sobre devia. A verdade é que eu não posso estar morto. Entenda, há muitas eras os deuses concederam meu desejo. Pude continuar o trabalho que adorava. Pude ser um mestre de heróis enquanto a humanidade precisasse de mim. Ganhei muito com aquele desejo... e renunciei a muito. Mais ainda estou aqui, portanto só posso presumir que ainda sou necessário.

Pensei sobre ser um professor de três mil anos. Isso não estaria na minha lista das Dez Coisas Mais Desejadas.

- Isso nunca fica chato?

- Não, não - disse ele. - Horrivelmente deprimente às vezes, mas nunca chato.

- Por que deprimente?

Quíron pareceu ficar com alguma deficiência auditiva de novo.

- Ah, olhe - disse ele. - Rachel está esperando por nós.

A menina morena que eu conhecera na Casa Grande estava lendo um livro na frente do último chalé da esquerda, o número 11.

Quando nos aproximamos, ela olhou para mim com um ar crítico, como se ainda estivesse pensando em como eu babava.

Tentei ver o que ela estava lendo, mas não consegui distinguir o título. Achei que fosse minha dislexia em ação. Então me dei conta de que o título não era sequer em inglês. As letras pareciam grego para mim. Quer dizer, literalmente grego. Havia figuras de templos e estátuas e diferentes tipos de colunas, como em um livro de arquitetura.

-Rachel - disse Quíron - eu tenho aula de arco-e-flecha para mestres ao meio-dia. Você cuidaria da Quinn a partir daqui?

- Sim, senhor – Respondeu Rachel.

- Chalé 11 - disse Quíron para mim, fazendo um gesto em direção à porta. - Sinta-se em casa.

Entre todos os chalés, o 11 era o que mais parecia um velho chalé comum de acampamento de verão, com ênfase no velho. A soleira estava desgastada, a pintura marrom, descascando. Acima do vão da porta havia um daqueles símbolos de médico, um bastão alado com duas serpentes enroscadas nele. Como é mesmo que chamavam aquilo...? Um caduceu.

Dentro, estava abarrotado de gente, meninos e meninas, em muito maior número que os beliches. Sacos de dormir estavam espalhados por todo piso. Parecia um ginásio onde a Cruz Vermelha estabelecera um centro de refugiados.

Quíron não entrou. A porta era muito baixa para ele. Mas quando os campistas o viram, todos se puseram em pé e fizeram uma reverência respeitosa.

- Então tudo bem - disse Quíron. - Boa sorte, Quinn. Vejo você no jantar.

Ele partiu a galope ruma à linha de arco-e-flecha.

Fiquei em pé no vão da porta, olhando aquele bando de adolescentes. Não estavam mais se curvando. Olhavam para mim, medindo-me com os olhos. Conheço essa rotina. Havia passado por ela em muitas escolas.

- Tudo bem? - instigou Rachel. - Vá em frente.

Então, naturalmente, tropecei ao passar pela porta e fiz um completo papel de boba.

Houve algumas risadinhas dos campistas, mas nenhum deles disse nada.

Rachel anunciou:

- Quinn Fabray, apresento-lhe o chalé 11.

- Normal ou indeterminado? - perguntou alguém.

Eu não sabia o que dizer, mas Annabeth disse:

- Indeterminado.

Todos gemeram.

Um cara que era um pouco mais velho que o restante chegou para frente.

- Vamos, vamos, campistas. É para isso que estamos aqui. Bem-vinda, Quinn. Você pode ficar com aquele ponto no chão logo ali.

- Obrigada!

O cara tinha cerca de dezenove anos e parecia muito legal. Era alto e musculoso, com cabelo preto aparado curto e um sorriso amigável. Usava uma camiseta regata laranja, calças cortadas, sandálias e um colar de couro com cinco contas de argila em cores diferentes. A única coisa perturbadora na sua aparência era uma grossa cicatriz branca que corria desde logo abaixo do olho direito até o queixo, como um antigo corte de faca.

- Este é Finn - disse Rachel, e sua voz pareceu mudar um pouco. Dei uma olhada nela e poderia ter jurado que estava ficando vermelha. Ela me viu olhando e sua expressão endureceu de novo. - Ele é seu conselheiro por enquanto.

- Por enquanto? - perguntei.

- Você é indeterminada - explicou Luke pacientemente. - Eles não sabem em que chalé acomodá-la, então você está aqui. O chalé 11 recebe todos os recém-chegados, todos os visitantes. Naturalmente Hermes, nosso patrono, é o deus dos viajantes.

Olhei para o minúsculo espaço de chão que eles me deram. Eu não tinha nada para pôr ali e marcá-lo como meu, nenhuma bagagem, nenhuma roupa, nenhum saco de dormir. Apenas o chifre do Minotauro. Pensei em colocá-lo ali, mas então lembrei que Hermes era também o deus dos ladrões.

Corri os olhos pelos rostos dos campistas, alguns mal-humorados e desconfiados, outros com um sorriso idiota, alguns me olhando como se esperassem uma oportunidade de limpar os meus bolsos.

- Quanto tempo vou ficar aqui? - perguntei.

- Boa pergunta - disse Finn. - Até você ser determinado.

- Quanto tempo isso vai levar?

Todos os campistas riram.

- Venha - disse Rachel. - Vou lhe mostrar o pátio de vôlei.

- Eu já vi.

- Venha.

Que menina mais irritante.

Ela agarrou meu pulso e me arrastou para fora. Pude ouvir o pessoal do chalé dando risadas atrás de mim.

Quando estávamos a poucos metros de distancia, Rachel disse:
- Fabray, voce precisa fazer melhor do que isso.

- O quê?

Ela revirou os olhos e murmurou baixinho:

- Não posso acreditar que achei que você fosse a garota.

- Qual é o seu problema? - Eu agora estava ficando zangada. - Tudo o que sei é que matei um sujeito-touro...

- Não fale assim! - disse Rachel. - Você sabe quantos neste acampamento gostariam de ter tido a sua chance?

- De ser mortos?

- De enfrentar o Minotauro! Para que voce acha que nós somos treinados?

Eu sacudi a cabeça.

- Olhe, se a coisa contra a qual eu lutei era realmente o Minotauro, o mesmo das histórias...

- Sim.

- Então só existe um.

- Sim.

- E ele morreu, tipo um tempão de anos atrás, certo? Teseu o matou no labirinto. Portanto...

- Monstros não morrem, Quinn. Eles podem ser mortos. Mas eles não morrem – Ela falou como se fosse óbvio.

- Ah, obrigado. Agora entendi tudo.

- Eles não têm alma, como você e eu. Você pode bani-los por algum tempo, talvez até por todo uma vida, se tiver sorte. Mas eles são forças primitivas. Quíron os chama de arquétipos. No fim, eles se reconstituem.

Pensei na coach Sylvester.

- Você quer dizer que se eu matei um, acidentalmente, com uma espada....

- A Fúr... Quer dizer, a sua professora de matemática. Está certo. Ela ainda está lá fora. Você apenas a deixou muito, muito zangada.

- Como você sabe da coach Sylvester?

- Você fala dormindo.

- Você quase a chamou de alguma coisa. Uma Fúria? Elas são torturadoras de Hades, certo?

Rachel olhou nervosamente para o chão, como se esperasse que ele se abrisse e a engolisse.
- Você não deve chamá-las pelo nome, mesmo aqui. Se acabamos tendo de falar nelas, nós as achamos de as Benevolentes.

- Puxa, existe alguma coisa que se possa dizer sem que haja trovões? - Eu disse reclamona, até para mim mesma, mas naquele momento não me importei. - Por que tenho de ficar no chalé 11, afinal? Por que fica todo mundo amontoado? Há uma porção de beliches vazios logo ali.

Apontei para os primeiros chalés e Rachel empalideceu.
- A gente não escolhe simplesmente um chalé, Quinn. Depende de quem são seus progenitores. Ou... o seu progenitor.

Ela olhou fixamente para mim, esperando que eu entendesse.

- Minha mãe é Judy Fabray - disse eu. - Trabalha na doceria da Grande Estação Central. Pelo menos trabalhava.

- Sinto muito pela sua mãe,Quinn. Mas não é isso que eu quis dizer. Estou falando sobre seu outro progenitor. Seu pai.

- Ele está morto. Não cheguei a conhecê-lo.

Rachel suspirou. Era claro que já tivera aquela conversa com outras crianças:

- Seu pai não está morto, Quinn.

- Como pode dizer isso? Você o conhece?

- Não, é claro que não.

- Então como você pode dizer...

- Porque eu conheço você. Você não estaria aqui se não fosse um de nós.

- Você não sabe nada a meu respeito.

- Não? - Ela ergueu uma sobrancelha. - Aposto que você ficou passando de escola em escola. Aposto que foi expulsa de uma porção delas.

- Como...

- Teve diagnóstico de dislexia. Provavelmente transtorno do déficit de atenção também.

Tentei engolir meu constrangimento.

- O que isso tem a ver?

- Tudo junto, é quase um sinal certo. As letras flutuam para fora da página quando você lê, certo? Isso é porque a sua mente está fisicamente programada para o grego antigo. E o transtorno do déficit de atenção... você é impulsiva, não consegue ficar quieta na classe. Isso são os seus reflexos de campo de batalha. Numa luta real, eles a manterão viva. Quanto aos problemas de atenção, isso é porque enxerga demais, Quinn, e não de menos. Seus sentidos são mais aprimorados que os de um mortal comum. É claro que os professores querem que você seja medicada. Eles são em maioria monstros. Não querem que você os veja como são.

- Você parece... você passou pelas mesmas coisas?

- A maioria dos adolescentes daqui passou. Se você não fosse um de nós, não poderia ter sobrevivido ao Minotauro, e muito menos à ambrosia e ao néctar.

- Ambrosia e néctar – Eu disse bobamente.

- A comida e a bebida que estávamos dando a você para curá-la. Aquilo teria matado uma garota normal. Teria transformado seu sangue em fogo e seus ossos em areia e você estaria morta. Encare os fatos.

Você é uma meio-sangue.
Uma meio-sangue.
Minha cabeça estava girando com tantas perguntas que eu não sabia por onde começar.

- Ora, ora! Uma novata!

Eu dei uma olhada. A menina do chalé feio e vermelho vinha andando lentamente em nossa direção. Havia três outras meninas atrás dela, todas eu diria que até bonitas e de aparência malvada como ela, todas usando casacos camuflados.

- Santana - suspirou Rachel -, por que você não vai polir sua lança ou coisa assim?

- Claro, Srta. Princesa - disse a menina. - Para poder atravessar você com ela na sexta-feira à noite.

- Erre es korakas! - disse Rachel, o que eu de algum modo entendi que era ―Vá para os corvos! em grego, embora tivesse a sensação de que devia ser uma praga pior do que parecia. - Você não tem chance.

- Vamos transformá-la em pó - disse Santana, mas seu olho se crispou. Talvez ela não tivesse certeza de poder cumprir a ameaça. Voltou-se para mim. - Quem é esse menina?

- Quinn Fabray - disse Rachel -, esta é Santana Lopez, filha de Ares.

Eu pisquei.

- Tipo... o deus da guerra?

- Claro sua idiota! –- Santana sorriu desdenhosa.- Você tem algum problema com isso?

- Não - disse eu, recobrando minha presença de espírito. - Isso explica o mau cheiro.

Santana rosnou.

- Nós temos uma cerimônia de iniciação para novatos, Quinniana.

- Quinn. – Disse Rachel me olhando com pena.

- Venha, vou lhe mostrar.

- Santana... - Rachel tentou dizer.

- Fique fora disso, espertinha.

 Rachel pareceu ofendida, mas ficou de fora, e eu realmente não queria a ajuda dela.

Eu era o novata. Tinha de construir minha própria reputação.

Entreguei a Rachel meu chifre de minotauro e me preparei para a luta, mas antes que eu percebesse Santana tinha me segurado pelo pescoço e me arrastava na direção de um edifício de blocos de concreto que percebi imediatamente que era o banheiro.

Eu chutava e dava murros no ar. Já tinha estado em muitas brigas antes, mas aquela Santana tinha mãos de ferro. Arrastou-me para dentro do banheiro das meninas.

Havia uma fileira de vasos sanitários de um lado e uma fileira de chuveiros do outro.

Cheirava como qualquer banheiro público, e eu estava pensando - tanto quanto podia pensar com Santana me arrancando os cabelos - que se aquele lugar pertencia aos deuses, eles deviam poder comprar privadas melhores.

As amigas de Santana estavam todas rindo, e eu tentava encontrar a força que usara para enfrentar o Minotauro, mas ela simplesmente não estava lá.

- Como se ela fosse uma dos Três Grandes - disse Santana, me empurrando em direção a um dos vasos.

- Certo. O Minotauro provavelmente caiu na risada, de tão boba que ela parecia.

As amigas abafaram o riso.

Rachel ficou no canto, observando através dos dedos.

Santana me forçou sobre os joelhos e começou a empurrar minha cabeça para dentro do vaso sanitário, que fedia a canos enferrujados e, bem, ao que vai para dentro de vasos sanitários. Fiz esforço para manter a cabeça erguida. Estava olhando para a água imunda e pensando: eu não vou enfiar a cabeça naquilo. Não vou.

Então algo aconteceu. Senti uma pressão violenta na boca do estômago. Ouvi os encanamentos roncando, os canos estremeceram. A mão de Santana no meu cabelo afrouxou. A água pulou para fora do vaso, formando um arco por cima da minha cabeça, e em seguida me vi estatelado sobre os ladrilhos do piso do banheiro com Santana berrando atrás de mim.

Eu me virei bem no momento em que a água explodiu para fora do vaso outra vez, atingindo Santana bem no rosto com tanta força que a fez cair de traseiro no chão. A água continuou jorrando em cima dela como o jato de uma mangueira de incêndio, empurrando-a para trás, para dentro de um boxe de chuveiro.

Ela se debateu, esbaforida, e as amigas começaram a ir em sua direção. Mas então os outros vasos também explodiram, e mais seis jorros de água de privada as empurravam de volta. Os chuveiros também entraram em ação e, em conjunto, todos os dispositivos lançaram as meninas camufladas para fora do banheiro, fazendo-as rodopiar como pedaços de lixo sendo removidos com jatos d’água.

Assim que elas foram postas porta afora, sentia a pressão nas minhas entranhas se aliviar, e a água parou de jorrar tão depressa quanto começara.

O banheiro inteiro estava inundado. Rachel não tinha sido poupada. Estava toda molhada e pingando, mas não fora empurrada para fora. Estava de pé exatamente no mesmo lugar me olhando em estado de choque.

Olhei para baixo e me dei conta de que estava sentada no único ponto seco em todo o recinto. Havia um círculo de piso seco em volta de mim. Não havia nem uma gota d’água nas minhas roupas. Nada.

Levantei com as pernas trêmulas.

Rachel disse:

- Como você...

- Eu não sei.

Caminhamos até a porta. Do lado de fora, Santana e as amigas estavam prostadas na lama e um bando de outros campistas se reunira em volta para olhar, perplexos. O cabelo de Santana estava colado no rosto. O casaco camuflado estava encharcado e ela cheirava a esgoto. Ela me lançou um olhar de ódio absoluto.

- Você está morta, novata. Está totalmente morta.

Talvez eu devesse ter deixado pra lá, mas disse:

- Quer gargarejar com água da privada de novo, Santana? Cale essa boca.

As amigas tiveram de segurá-la. Arrastaram-na para o chalé 5, enquanto os outros campistas abriam caminho para evitar seus membros que esperneavam.

Rachel olhou para mim. Eu nãos abia dizer se ela estava apenas enjoada ou zangada comigo por encharcá-la.

- O que foi? - perguntei. - O que está pensando?

- Estou pensando - disse ela - que quero você no meu time para capturar a bandeira.




 



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Autor(a): brubs

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Prévia do próximo capítulo

A notícia do incidente no banheiro se espalhou na mesma hora. Aonde quer que eu fosse, os campistas apontavam para mim e murmuravam algo sobre água de vaso sanitário. Ou talvez apenas olhassem para Rachel, que ainda estava bastante encharcada.Ela me mostrou mais alguns lugares: a oficina de metais (onde as crianças forjavam as próprias ...


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