Fanfic: Cedo demais para amar{adaptado vondy} | Tema: vondy

- Pois então beije-me. Isso dissiparia qualquer boato sobre você e Chris.

Dulce sentiu-se tentada mas, com a palma da mão, impediu sua aproximação.

- Não, Simon - disse calmamente, sacudindo a cabeça. - Você é bom demais para ser usado.

    Quase no fim da festa o reverendo Evans veio até eles. Sorriu para Dulce e voltando-se para Simon disse:
- Simon, você não gostaria de mostrar os slides que tirou de Devon e Cornualha para o Clube de Mães da paróquia? O diretor de sua escola contou-me que você fez uma palestra para os alunos das classes mais adiantadas e ele ficou muito bem impressionado. É exatamente este tipo de coisa de que
precisamos e é tão difícil conseguir conferencistas interessan­tes... A sra. Tarrant colaborou antes de viajar para a Grécia, mas o outono vai chegar e não temos nada a oferecer. Simon olhou bem-humorado para Dulce.

- Bem... - hesitou. - Acho que... sim. Mas não sou um conferencista profissional.

- Sra. Tarrant? - Era Dulce quem falava. - Está falando de Harriet Tarrant, a historiadora?
O vigário assentiu.

- Sim. Você a conhece, Dulce? -Dulce sacudiu a cabeça.

- Oh, não. É que li um artigo a seu respeito no jornal e fiquei muito interessada. Estudei grego no segundo ciclo e acho seus livros fascinantes.

- Gostaria de conhecê-la? - O vigário estava nitidamente desarmado diante de seu entusiasmo.

- Gostaria demais.

- Pois então venha comigo, Dulce. Ela está por aí. Sempre que se encontra na região ela participa de minhas reuniões.

             Dulce lançou um olhar significativo para Simon e ele se­guiu-a e ao vigário através do salão em direção a um grupo de pessoas mais velhas. Dulce conhecia a maior parte delas de vista, devido à profissão de seu pai, mas aquela figura re­chonchuda, de cabelos grisalhos, não lhe era familiar.

- Harriet - disse o vigário -, trago alguém que gostaria de conhecê-la, Dulce Maria . É a filha do dr. Kemble.

A senhora levantou-se e, pedindo licença a seus companhei­ros, aproximou-se do pequeno grupo.
- Mas que bom - exclamou, depois das apresentações - encontrar alguém jovem, que compreende grego. Hoje a moci­dade parece sentir-se atraída por línguas mais simples, francês, alemão e não se importa com o latim e o grego.

- Confesso que não sou muito boa em latim - disse Dulce, rindo.

- Mas você gosta de grego. E está interessada em mitologia, não é? - Harriet olhou o vigário e voltou a encarar Dulce. - Você por acaso estaria procurando um emprego?

Dulce ficou muito surpreendida e Simon respondeu por ela.
- Dulce vai para a universidade no próximo ano.

- É mesmo? De verdade? - Harriet fitou-a com seus olhos azuis e penetrantes. - E o que planeja fazer até lá?

Dulce deu de ombros, sem saber muito o que dizer.
- Eu... para dizer a verdade, não pensei muito no assunto.

- Pois deveria pensar. Posso lhe oferecer um emprego. Pre­ciso de uma tradutora, alguém que saiba um pouco mais do que palavras tais como kalimera e parakalo.

Dulce olhou para Simon com ar de interrogação e ele disse:

- Não sei se meu... quero dizer, se o pai de Dulce concordará com que ela aceite um emprego, sra. Tarrant.

- Por que não? Ela precisa do dinheiro, não?

Dulce interferiu:
- É muita gentileza de sua parte...

- Que bobagem, não se trata de gentileza. - Harriet Tar­rant endireitou-se. - Preciso de alguém que me faça traduções.

Dulce umedeceu os lábios.
- E... que tipo de compromisso seria, sra. Tarrant? Harriet enfiou as mãos no bolso do casaco, inflamando-se com o assunto.

- Bem, para início de conversa, teríamos de passar meio ano na Grécia. Prefiro trabalhar lá. Deixo-me envolver pela atmosfera. Tenho dois pesquisadores trabalhando comigo, am­bos gregos, e eles ficam coletando material enquanto estou aqui fazendo conferências ou ensinando. Quando voltar para lá terei uma pilha de material a minha espera para ler e avaliar, além de artigos para traduzir, correspondência, etc.

- Não sei escrever à máquina, sra. Tarrant.

- Que bobagem, qualquer pessoa sabe. - Harriet deu de ombros, não fazendo caso de seu protesto. - Não quero uma secretária, Dulce. O que eu preciso é de alguém que saiba as lendas, que possa apreciar o equilíbrio precário entre o fato e a fantasia e, acima de tudo, alguém que saiba ler e falar a língua.

       Dulce sentia uma grande tentação, mesmo sabendo que se aceitasse colocaria milhares de quilómetros entre ela e Christopher. Mas mais cedo ou mais tarde, ele aceitaria um contrato no estrangeiro e até lá ele e Anahi estariam casados... Aquela perspectiva deixou-a toda arrepiada. Como poderia aceitar o fato de que eles iam viver juntos, dormir juntos...?

Notando quanto Dulce empalidecera, Simon disse:
- Acho que está na hora de ir embora, Dulce.

A preocupação que ele demonstrava era inequívoca e Harriet Tarrant comprimiu os lábios.
- E então, Dulce? - indagou, em tom de desafio. - Você pensará na oferta? Esperarei alguns dias, se você quiser dis­cutir o assunto com seus pais. Dulce hesitou.

- Eu... gostaria de pensar nisso tudo. Posso lhe telefonar, assim que tomar uma decisão?

- Claro.

          Enquanto Harriet anotava seu endereço e número de tele­fone, o vigário distraía Simon, dizendo o quanto o Clube de Mães ficaria contente com a notícia de que o primeiro confe­rencista já fora contatado. No entanto, assim que se afastaram, Simon voltou-se para Dulce, indignado.

-O que você quis dizer, ao falar para aquela mulher que pensaria em sua proposta? Você não pode aceitar e sabe muito bem disso!

Dulce encarou-o de frente.
- Por que não?

- Porque não quero. Já bastou saber que Chris tinha... Não quero que nenhum grego seboso ponha as mãos em você!